domingo, 25 de maio de 2014

O CONDICIONADO









    
Desgraçado do homem que se abandona.

Estas seis palavras acima indicam que, por pior que seja a situação, nunca, nunca o homem deve considerá-la perdida porque ninguém pode dar garantia que adversidade seja invulnerável.

Raimundo Arruda Sobrinho, 04/11/2012


          

          


Raimundo nasceu no dia 1 de agosto de 1938, na zona rural de Goiás. Chegou a São Paulo com 23 anos. Foi jardineiro e vendedor de livros. É morador de rua desde 1979, no mesmo local desde 1996. Um verdadeiro poeta! Tem um diário e escreve suas “mini páginas”, que distribui para quem passa por ele. Todas têm data de nascimento e um número de série. Assina suas obras como “O condicionado”.
                     
            
           
           
Raimundo Arruda Sobrinho, presumíveis 67 anos, nascido provavelmente em Goiânia, é um dos 12 mil sem-teto da cidade. Tem problemas mentais e fez sua casa sob lonas e plásticos na ilha que separa as duas vias da movimentada avenida Pedroso de Morais. Não incomoda ninguém. Não quer ser incomodado. "Prefiro que ninguém me veja", costuma dizer. O que o diferencia são os textos de ficção, que assina como "O Condicionado". Raimundo Arruda Sobrinho é escritor. Ele está ali, no mesmo lugar, há pelo menos uma década.
FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, 25 dez. 2005
          
                      

Raimundo Arruda Sobrinho escreve enquanto há luz natural, com o auxílio de uma régua de 30 cm para manter as linhas retas no papel não pautado. Monta os livros, os quais distribui para as pessoas que o ajudam, com recortes de folhas de papel sulfite. Usa uma moldura de madeira de 11 cm por 16 cm para manter o espaço das margens. Assina como "O Condicionado", um pseudônimo que usa "há muitos anos". Cada exemplar doado é numerado e datado.
TERRA Notícias, Brasil. Morador de rua escreve livros em São Paulo. 13 jul. 2007.
       
            
Seria ingênuo imaginar que o fácil acesso ao material escrito garantiria o gosto pela leitura/escrita como o que possui Raimundo, personagem citada na Folha de São Paulo. É preciso considerar o desejo e a necessidade do próprio indivíduo, os quais o levam a participar efetivamente de situações interativas com esses materiais, reflita sobre seus usos e busque estratégias para lidar com situações que envolvem esses gêneros e suportes.
Magna Luzia Diniz Matos dos Santos, Vozes na rua: práticas de leitura e escrita e construção de uma nova imagem do morador em situação de ruaBelo Horizonte, Faculdade de Letras da UFMG, 2009, p. 4.
                      
            
  
                          
Veja como uma jovem brasileira usou o Facebook para dar voz a um poeta morador de rua e o ajudou a reencontrar a família depois de 50 anos.

                     
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material. Higiene mental. 

Aqui, não sei qual a mais 

difícil de praticar. 

Ass "O Condicionado"
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O
Ideal, além de ser o maior peso
que o homem pode carregar, 

é a desgraça do Idealista. 


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Missão

Andar pelo sem fim interior
Catar da geometria todas as tintas que ela consumiu e esmaecêram
Depois, a matéria de tudo que a Natureza modela
Restam as formas vazias

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cujos membros 
funcionem com a 
perfeição de todas
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refinado engenho. 

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Ponte 2
Que é o interesse do leitor,
Pela vida do autor que ele leu?
E dos demais consumidores de tudo
Que o homem fez?

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Preço
da eternidade.
Tão barato ou tão caro e precioso, 
para que o Criador do Universo 
haja preferido arrematar-lhe,
para com ela enriquecer as galerias de sua obra? 

Ass “O Condicionado”
SP 4-11-1999 + 10 (c )
        
           
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“Mulher, 


Mãe do Homem. 

Homem, Pai da Mulher. 
Obra que a Mulher fez e renegou, o homem.
Obra que o Homem fez e refegou, a Mulher.

Ass. O Condicionado”
SP 29-11-1999 + 13 (c)
        

         
                   
Poderá também gostar de:
         
          
“Imagens que revelam o invisível”, Camila Pereira. Veja. São Paulo, ed. 1933, 30 nov. 2005. Disponível em: http://veja.abril.com.br/301105/p_074.html
         
“Ex-mendigo poeta emociona famosos e recebe propostas para editar livro”
           
“Mendigo poeta reencontra família”, #SBT BRASIL, exibido: 10/05/2013
             
Morador de rua de SP reencontra família após perfil criado no Facebook”, Laura Brentano, São Paulo, G1.
           
             


[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/05/25/condicionado.aspx]

quarta-feira, 16 de abril de 2014

CANÇÕES POPULARES AÇORIANAS



          
          
OS BRAÇOS (Terceira)
    
És Linda, és linda, és engraçada 
És engraçada, és uma bonita amante 
Bonita amante, viva o meu bem

Tudo, tudo o que é bom, tens contigo 
Ai tens contigo, só te falta ser constante, 
Ai ser constante, viva o meu bem

Ser pastor, ser pastor, lidar na serra 
Lidar na Serra, braços nus, faces vermelhas 
Faces vermelhas, viva o meu bem

Comendo, comendo os frutos da terra 
Frutos da terra, vestindo a lã das ovelhas 
Ai das ovelhas, viva o meu bem
          
            
CHAMARRITA (S. MigueI)
         
A senhora Chamarrita 
é uma santa mulher 
sai de manhã de casa 
entra à noite quando quer 

Vira e volta a Chamarrita
quem manda voltar sou eu 
Você aqui está 
É gosto e regalo meu
            
Canções Populares AçoreanasHarmonizado para coro misto por Manuel Emílio Porto
Ponta Delgada, Signo, 1994
                
           
Poderá também gostar de:
             
 Música tradicional açoriana – a questão históricaJ. M. Bettencourt da Câmara, Lisboa, ICALP – Coleção Biblioteca Breve, 1980.
 Para a sociologia da música tradicional açorianaJ. M. Bettencourt da Câmara, Lisboa, ICALP – Coleção Biblioteca Breve, 1984
 Música nos Açores”, Enciclopédia Açoriana, Ana Gaipo, Isabel Albergaria Sousa. © 2011 Direção Regional da Cultura, Centro de Conhecimento dos Açores.
 “Música Tradicional Açoriana”, Açoriano Oriental, Wellington Nascimento, 2012-06-03.
 2: Sagrado e ProfanoExperimentar Na M'Incomoda, 2012   (sonoro)
            
              


[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/04/16/cancoes.populares.acorianas.aspx]

quinta-feira, 10 de abril de 2014

29 MANEIRAS DE SER MAIS CRIATIVO


  
     29 WAYS TO STAY CREATIVE from TO-FU on Vimeo.

 
 
 
 
A criatividade é algo que você pode exercitar. Para além do vídeo acima indicado, a "Revista Vip" também separou algumas técnicas práticas para sua criatividade fluir e transbordar. Olha só: http://abr.ai/R3iboE 


quarta-feira, 9 de abril de 2014

CAMILO PESSANHA (1867-1926)


 



Leitura orientada de Clepsidra

e outros poemas

de Camilo Pessanha

 

POEMAS

INCIPIT

Água morrente

Meus olhos apagados,

Ao longe os barcos de flores

Só, incessante, um som de flauta chora,

Branco e vermelho

A dor, forte e imprevista,

Caminho

I - Tenho sonhos cruéis: n'alma doente
II - Encontraste-me um dia no caminho
III - Fez-nos bem, muito bem, esta demora:

Canção da partida

Ao meu coração um peso de ferro

Castelo de Óbidos

Quando se erguerão as seteiras?

Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,

Depois da luta e depois da conquista

Depois da luta e depois da conquista

Desce em folhedos tenros a colina

Desce em folhedos tenros a colina

Em um retrato

De sob o cômoro quadrangular

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:

Esvelta surge!

Esvelta surge! Vem das águas, nua,

Floriram por engano as rosas bravas

Floriram por engano as rosas bravas

Foi um dia de inúteis agonias

Foi um dia de inúteis agonias

Fonógrafo

Vai declamando um cómico defunto.

Imagens que passais pela retina

Imagens que passais pela retina

Inscrição

Eu vi a luz em um país perdido.

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,

Madalena

Ó Madalena, ó cabelos de rastos,

Na cadeia

Na cadeia os bandidos presos!

No claustro de Celas

Eis quanto resta do idílio acabado,

O meu coração desce

O meu coração desce

Olvido

Desce por fim sobre o meu coração

Paisagens de inverno

I - Ó meu coração, torna para trás.
II - Passou o outono já, já torna o frio...

Poema final

Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,

Porque o melhor, enfim.

Porque o melhor, enfim,

Quando voltei encontrei os meus passos

Quando voltei encontrei os meus passos

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho

Roteiro da vida

I – Enfim, levantou ferro.
II – Nesgas agudas do areal
III – Cristalizações salinas,

San Gabriel

I – Inútil! Calmaria. Já colheram
II ‑ Vem conduzir as naus, as caravelas,

Soneto de gelo

Ingénuo sonhador — as crenças d'oiro

Vénus

I À flor da vaga, o seu cabelo verde,
II
Singra o navio. Sob a água clara

Viola chinesa

Ao longo da viola morosa

Violoncelo

Chorai arcadas

Voz débil que passas

Voz débil que passas

 

 

 



Ser em Português 12 A. Coord. A. Veríssimo. Porto, Areal Editores, 1999



A poesia de Camilo Pessanha


Linhas temáticas:

- O afastamento do confessionalismo romântico

- A efemeridade de tudo

- A perda, a inutilidade do esforço, de tudo o que se faz ou vive

- A conceção do tempo como ilusão

- A poesia de desfibramento pessoal em agonia

- O receio ou a náusea pela consumação dos desejos

- A apatia contemplativa

- A abulia da indecisão

- O tom de pessimismo e resignação

- A perspetivação da realidade como ambígua (imagens, miragens, sonhos)

- O cruzamento de traços de significação

- A dicotomia existencial marcada pelo desejo de fruir e pela saudade antecipada do que se perde

- A intensidade da sugestão

- As imagens fugidias e multívocas

- As associações subtis de sentimentos e sensações

- O ambiente dispersivo e a atmosfera misteriosa, onírica

- A omnipresença do símbolo da água, metáfora do passar do tempo

 

O estilo e a linguagem:

- Arte meticulosa no tratamento musical e evocativo do verso

- Influência da música e da musicalidade

- Ausência de inflexões previsíveis da expressão sentimental

- Jogos de palavras destinados a produzir evocações

- Equilíbrio fonético do verso

- Recurso a imagens e símbolos subtis e fugidios

- Diluição da sintaxe-padrão, centrada no verbo

- Forma meticulosa, equilibrada e rigorosa 

(Fonte: Escola Virtual)






Fonte:

LUSOFONIA - PLATAFORMA DE APOIO AO ESTUDO A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO.

Projeto concebido por José Carreiro

1.ª edição: http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/pessanha.htm, 2014.

2.ª edição: http://lusofonia.x10.mx/literatura_portuguesa/pessanha.htm, 2016-2018.

3.ª edição:  https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/Camilo_Pessanha, 2021.