Leitura orientada de Clepsidra
e outros poemas
de Camilo Pessanha
POEMAS |
INCIPIT |
Meus olhos apagados, |
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Só, incessante, um som de flauta chora, |
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A dor, forte e imprevista, |
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I - Tenho sonhos cruéis: n'alma doente |
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Ao meu coração um peso de ferro |
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Quando se erguerão as seteiras? |
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Há no ambiente um murmúrio de queixume, |
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Depois da luta e depois da
conquista |
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Desce em folhedos tenros a colina |
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De sob o cômoro quadrangular |
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Cansei-me de tentar o teu segredo: |
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Esvelta surge! Vem das águas, nua, |
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Floriram por engano as rosas bravas |
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Foi um dia de inúteis agonias |
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Vai declamando um cómico defunto. |
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Imagens que passais pela retina |
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Eu vi a luz em um país perdido. |
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Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, |
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Ó Madalena, ó cabelos de rastos, |
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Na cadeia os bandidos presos! |
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Eis quanto resta do idílio acabado, |
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O meu coração desce |
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Desce por fim sobre o meu coração |
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Paisagens de inverno |
I - Ó meu coração, torna para trás. |
Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas, |
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Porque o melhor, enfim, |
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Quando voltei encontrei os meus
passos |
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Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho |
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I – Enfim, levantou ferro. |
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I – Inútil! Calmaria. Já colheram |
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Ingénuo sonhador — as crenças d'oiro |
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I ‑ À flor da vaga, o seu cabelo verde, |
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Ao longo da viola morosa |
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Chorai arcadas |
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Voz
débil que passas |
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Ser em Português 12 A. Coord. A. Veríssimo. Porto, Areal Editores, 1999 |
A poesia de Camilo Pessanha
Linhas
temáticas:
- O afastamento do
confessionalismo romântico
- A efemeridade de
tudo
- A perda, a
inutilidade do esforço, de tudo o que se faz ou vive
- A conceção do
tempo como ilusão
- A poesia de
desfibramento pessoal em agonia
- O receio ou a náusea
pela consumação dos desejos
- A apatia
contemplativa
- A abulia da
indecisão
- O tom de
pessimismo e resignação
- A perspetivação
da realidade como ambígua (imagens, miragens, sonhos)
- O cruzamento de
traços de significação
- A dicotomia
existencial marcada pelo desejo de fruir e pela saudade antecipada do que se
perde
- A intensidade da
sugestão
- As imagens
fugidias e multívocas
- As associações
subtis de sentimentos e sensações
- O ambiente
dispersivo e a atmosfera misteriosa, onírica
- A omnipresença
do símbolo da água, metáfora do passar do tempo
O estilo e a
linguagem:
- Arte meticulosa
no tratamento musical e evocativo do verso
- Influência da
música e da musicalidade
- Ausência de
inflexões previsíveis da expressão sentimental
- Jogos de
palavras destinados a produzir evocações
- Equilíbrio
fonético do verso
- Recurso a
imagens e símbolos subtis e fugidios
- Diluição da
sintaxe-padrão, centrada no verbo
- Forma meticulosa, equilibrada e rigorosa
(Fonte: Escola Virtual)
Fonte:
LUSOFONIA - PLATAFORMA DE APOIO
AO ESTUDO A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO.
Projeto concebido por José
Carreiro
1.ª edição:
http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/pessanha.htm, 2014.
2.ª edição: http://lusofonia.x10.mx/literatura_portuguesa/pessanha.htm,
2016-2018.
3.ª edição: https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/Camilo_Pessanha, 2021.
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