C'est les fleurs que j'ai vues
Ce n'est pas moi qui rit
C'est le vin que j'ai bu
Ce n'est pas moi qui pleure
C'est mon amour perdu
artes, ideias e o sentimento de si
Szomorú Vasárnap száz fehér virággal,
Vártalak, kedvesem, templomi imával, Álmokat kergető vasárnap délelőtt, Bánatom hintaja nélküled visszajött.
Azóta szomorú mindig a vasárnap,
Könny csak az italom, kenyerem a bánat... Szomorú vasárnap.
Utolsó vasárnap, kedvesem, gyere el;
Pap is lesz, koporsó, ravatal, gyászlepel, Akkor is virág vár, virág és - koporsó, Virágos fák alatt utam az utolsó.
Nyitva lesz szemem, hogy még egyszer lássalak,
Ne félj a szememtől, holtan is áldalak... Utolsó vasárnap. |
On a sad Sunday with a hundred white flowers,
I was waiting for you, my dear, with a church prayer, That dream-chasing Sunday morning, The chariot of my sadness returned without you.
Ever since then, Sundays are always sad,
tears are my drink, and sorrow is my bread... Sad Sunday.
Last Sunday, my dear, please come along,
There will even be priest, coffin, catafalque, hearse-cloth. Even then flowers will be awaiting you, flowers and coffin. Under blossoming (flowering in Hungarian) trees my journey shall be the last.
My eyes will be open, so that I can see you
one more time,
Do not be afraid of my eyes as I am blessing you even in my death... Last Sunday. |
|
© Portishead (Wikicommons: José Goulão). |
|
© Sarah McLachlan (Wikicommons: Stephen Samuel). |
|
© Billie Holiday (Wikicommons) |
|
© Bjõrk (Wikicommons: Cristiano Del Riccio). |
|
© Emilie Autumn (Wikicommons: Jan Blok). |
|
© Sarah Brightman (Wikicommons: Sherry Main). |
Não obstante o
reconhecimento do Fado como a expressão da sentimentalidade lusitana, da
sua angústia coletiva, foi considerado, inicialmente, como marginal e ligado à prostituição,
principalmente durante a Primeira República, com referências explícitas à fadista
Severa. Nascido nos bairros mais pobres da Lisboa do século XIX, entre os escravos
e criados, marinheiros e operários, marialvas e vadios, dentro e fora dos prostíbulos
dos arredores da capital, o Fado foi ascendendo socialmente, deixando de se identificar
com o lado marginal da sociedade e passando a frequentar os salões da burguesia
e da aristocracia, até chegar à canção nacional, adotada pelo Estado Novo, a partir
de 1937. Essa imagem imoral do Fado só terminaria nessa altura, em que também o
fadista passou a ser encarado como artista e porta-voz do Fado, símbolo
nacional. Esta situação tornou-se mais célere, graças à carreira em ascensão,
inclusivamente a nível internacional, de Amália Rodrigues, a qual se
converteria, por excelência, não só na mais famosa representante do Fado, como
também na cantora nacional de Portugal.
Com Amália, as letras do
Fado abandonam a dimensão de narrativa cantada e, progressivamente, os poemas
passaram a existir enquanto criação estética, individualizada. Por seu turno,
as músicas eram feitas para acompanharem determinados poemas. Exemplo disso foi
o compositor francês Alain Oulman, que compôs inúmeros trechos musicais para musicar
os poemas de Camões – v. g. “Erros meus,
má fortuna, amor ardente” – para serem
cantados por Amália. No entanto, Amália também cantou muitos poemas feitos propositadamente
para si, nomeadamente por Alberto Janes, tendo este abordado, nos seus versos,
o tema da saudade, tão característico do idioma fadista, como se exemplifica:
Tenho
a janela do meu peito
Aberta
para o passado
Todo
feito de fadistas e de fado!
Espreita
a alma na janela,
Vai
o Passado a passar,
Ao
ver-se nela, a alma fica a chorar.
Ler mais em: O fado e a questão
da identidade, Vilma Silvestre. Lisboa, Universidade Aberta, 2015, 2
volumes.
A biografia do Fado,
embora dúbia, constitui motivo de orgulho para o povo português e, desde que
começou a ser interpretado como porta-voz da nossa nação, vários têm sido os
autores e compositores que honram esta canção nacional, graças às letras de
Fado por eles criadas. As tradições podem eventualmente sofrer adaptações e reinvenções
para as gerações mais jovens, as quais se encarregam de as transmitir como
legado cultural.
Será que o Fado se
reinventou entre as várias gerações de uma nação que vivenciou inúmeras
vicissitudes sociopolíticas, nos últimos duzentos anos?
Pelo conhecimento que
temos da história do Fado, é indubitável que este sofreu um enorme salto qualitativo,
estimulado essencialmente pela união desta forma de expressão artística,
genuinamente portuguesa, à poesia que os nossos poetas maiores produziam. Como
porta-bandeira desta caminhada, encontramos Amália Rodrigues, cujas voz
e performance souberam corporizar o
espírito nacional, integrando os poetas eruditos. Amália sempre teve ao seu
lado os grandes poetas nacionais; ainda na década de 50, interpretou o Fado “Primavera”,
com o poema de David Mourão Ferreira. A partir da década de 60, partilhou essa
vocação com Alain Oulman. O facto de Amália editar um álbum com poesia
camoniana intitulado “Amália Canta Camões” gerou bastante controvérsia,
sobretudo na imprensa escrita e até em debates televisivos, provavelmente
porque era inusitada esta associação, e porque o público não acede facilmente
às mudanças. Em Camões, um dos mais fortes símbolos de identidade da nossa
pátria, a presença do fado como destino é mais evidente e constitui,
inclusivamente, uma das temáticas da sua poesia lírica. Amália deu voz a um dos
sonetos camonianos onde o Fado é o tema abordado: “Com que voz”, numa
interpretação reveladora do sentimento que o Fado tradicionalmente expressa, como
uma música triste, versando geralmente, uma temática taciturna, nostálgica e fatalista.
Efetivamente, o fatum (Destino) era o tema em
evidência, na sua aceção etimológica. Logo, a avaliar pelas letras dos fados,
percebemos uma mensagem de sofrimento que perpassa essa alma dolorosa e
plangente dos fadistas. A capacidade que Amália demonstrava na interpretação
dos poemas era notável e conferia-lhe uma excecional densidade dramática, o que
fez com que todos os tabus criados em seu redor se dissipassem, levando à
criação de uma época ímpar na música ligeira portuguesa. Amália corporizava os
sentimentos mais dolentes da alma portuguesa, numa vivência muito subjetiva, o
que lhe conferiu o título de musa do Fado.
Ler mais em: “O fado e a
questão da identidade”, Vilma Silvestre. In: Atas
das I Jornadas de Estudos Portugueses [Em linha], Ana Piedade e
Paulo Silva. Lisboa, Universidade Aberta, 2021. 185 p. (eUAb. Ciência e
Cultura; 12). ISBN 978-972-674-890-8