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O RECREIO
Na minh’Alma há um balouço Que está sempre a balouçar – Balouço à beira dum poço, Bem difícil de montar... – E um menino de bibe Sobre ele sempre a brincar... Se a corda se parte um dia (E já vai estando esgarçada), Era uma vez a folia: Morre a criança afogada... – Cá por mim não mudo a corda Seria grande estopada... Se o indez morre, deixá-lo... Mais vale morrer de bibe Que de casaca... Deixá-lo Balouçar-se enquanto vive... – Mudar a corda era fácil... Tal ideia nunca tive... Mário de Sá-Carneiro Indícios de Oiro, 1937 |
Os versos 3 e 4 correspondem à primeira fala, em discurso direto, da criança. Portanto, o travessão no final do segundo verso e o travessão no início do quinto verso demarcam o início e o fim da fala do menino de bibe. Esgarçada – desfeita. Folia – alegria, festa, dança, farra. vv. 11-12 - segunda fala do menino. Estopada – maçada. Indez -criança. vv. 17-18 - terceira fala do menino. |
AUDIÇÃO
DO POEMA:
Produção e
voz de Luís Gaspar, Estúdio Raposa - audiocast, 30-01-2015
ANÁLISE FORMAL DO POEMA:
O poema é composto por seis estrofes,
seguindo o esquema quadra + dístico. A rima é cruzada na quadras (abab) e em
cada dístico há sempre um primeiro verso branco (versos 5, 11 e 17) e um outro
que rima com os segundo e quarto da quadra imediatamente precedente, seguindo,
pois, um esquema do tipo cb. Todos os versos têm sete sílabas métricas
(heptassílabo ou redondilha maior).
PROPOSTA DE COMENTÁRIO DE TEXTO:
Elabore um comentário global do texto que acabou de ler, focando os
seguintes tópicos:
- significados da imagem que o poema desenvolve e sua ligação com o título
- presença de elementos narrativos
- registo de língua
- recursos estilísticos e sua expressividade
- ritmo e composição formal
CENÁRIO DE RESPOSTA:
Integrados no comentário global do texto, devem ser focados os
seguintes tópicos:
- Significado do “balouço” como imagem desenvolvida no poema e sua relação com o título
A visualização da Alma,·como sede·de um "balouço"
(instabilidade), "à beira·dum poço" (situação de risco), com a corda “esgarçada”
(perigo iminente) e utilizado por uma “criança” (inconsciência do perigo),
compõe uma imagem que significa uma maneira insensata, insegura, ‘louca’ de
estar na vida e a descrença na validade de uma atitude ponderada.
O título aponta para uma dupla dimensão: descritiva (o balouço, o
menino a brincar) e irónica (a recusa da vida adulta, a aceitação da morte
prematura).
- Presença de elementos narrativos
A imagem nuclear do poema é desenvolvida como quem conta uma história,
com as categorias próprias da narratividade: espaço – a “Alma” com seu “poço” e
seu “balouço”; tempo – “sempre”, “um dia”; ação – “a balouçar”, “a brincar”;
personagens – o “menino de bibe”; narrador.
Este caráter narrativo do desenvolvimento da imagem cria distanciação,
sugerindo o desdobramento do “eu”.
- Registo de língua
Marcas de oralidade e de registo familiar: frases interrogativas,
inacabadas, e o uso do presente do indicativo, simulando a instabilidade do
discurso oral; expressões típicas da linguagem familiar – “Era uma vez”; “Cá
por mim”; “Grande estopada”.
O uso deste registo de língua coaduna-se com o tom de narração oral que
o poema tem.
- Recursos estilísticos e sua expressividade
- imagem
- aliteração e assonância
- reiteração
………….
(Deve ser comentado o efeito de intensificação expressiva dos recursos
apontados.)
- O ritmo e a composição formal
A alternância regular de três quadras e três dísticos gera um movimento
rítmico, tradutor do movimento balanceado da imagem poética e, ao mesmo tempo,
do desdobramento temático em duas instâncias: o narrador e a personagem (o “menino”).
Exame Nacional do Ensino Secundário nº
138. Prova Escrita de Português A, 12º Ano
(plano curricular correspondente ao Dec.-Lei nº
286/89, de 29 de Agosto).
Curso de Carácter Geral – Agrupamento 4. 1997,
2ª fase.
QUESTIONÁRIO DE LEITURA:
1. Responde,
no teu caderno, às alíneas seguintes, selecionando as opções corretas.
1.1. Ao
afirmar que na sua alma "há um balouço/Que está sempre a balouçar" (vv.
1-2), o sujeito poético chama a atenção para…
a. o seu
temperamento instável.
b. a sua
incapacidade de crescer.
c. a sua
mente infantil.
1.2. Embora
seja difícil subir para o "balouço", há um menino de bibe que brinca
sempre nele. Isto revela, face ao perigo iminente, a sua...
a. maturidade. b. coragem. c. inconsciência.
2. Foca a
tua atenção nas primeiras três estrofes.
2.1. Por que
motivo se pode considerar perigosa a atitude do menino? Fundamenta a tua
resposta com elementos textuais.
2.2. Como
reage o sujeito poético perante a possibilidade de afogamento?
3.
Apresentam-se, abaixo, os assuntos abordados nas três últimas estrofes. Ordena-os,
respeitando a progressão temática do poema.
A. O sujeito
poético conclui que mudar a corda era, afinal, fácil, mas admite não ter tido
essa ideia.
B. O sujeito
poético afirma que não vale a pena mudar a corda, pois tal mudança exigiria um
grande esforço da sua parte.
C. O sujeito
poético considera que o menino deve baloiçar, ou seja, divertir-se enquanto
está vivo.
D. O sujeito
poético coloca a hipótese de o menino morrer afogado, mas não encara o facto
como grave.
4. O
sentimento que perpassa neste texto poético é facilmente captado pelo leitor, a
partir da pontuação e outros sinais auxiliares de escrita e da sua estrutura estrófica.
4.1. Que
sinais de pontuação mais contribuem para a sua expressividade?
4.1.1.
Indica os valores discursivos que transmitem.
4.2.
Descreve a estrutura estrófica do poema.
4.2.1. Que
ideia poderá transmitir essa disposição estrófica? (Assinala, no teu caderno, a
opção correta.)
a. O ritmo
inquieto e frenético do baloiço.
b. O ritmo
agitado e irregular do baloiço.
c. O ritmo
monótono e regular do baloiço.
5. O poema
intitula-se "O recreio". Embora,
no início do poema, o título transmita uma conotação positiva, a noção de
recreio vai, progressivamente, adquirindo uma conotação negativa. Justifica.
(Para)Textos 9, Ana Paiva et alii. Porto Ed., 2013
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