Na Hora da Poesia (2018-02-14),
Conceição Lima, Duarte Luz e Rui Diniz dão voz a poemas de Chuva de Época, de José Maria de
Aguiar Carreiro:
Conceição Lima entrevista José Maria de Aguiar Carreiro:
ENTREVISTA
Conceição Lima - Curta biografia. Desde quando a
Poesia? A poesia foi fruto de influência de algo ou alguém ou impôs-se? O que o
empurra para a escrita poética? Acha que a poesia é inerte ou traz missão? Quais
os poetas que poderão ter influenciado os seus gostos na escrita poética?
José
Carreiro - Nasci numa freguesia do concelho de Nordeste da
ilha de São Miguel.
Aos 15 anos, sem pedir
autorização aos meus pais, preenchi a pré-inscrição para o ingresso no ensino
secundário na cidade situada na outra ponta da ilha. O meu pai acedeu à
determinação e passei a viver durante a semana num quarto alugado em Ponta
Delgada, numa casa partilhada. Os fins-de-semana passava-os em família.
Depois veio o ensino superior na
Universidade de Lisboa. Conto com uma bolsa de estudo do governo regional e com
o apoio possível do meu pai. Poderia cursar na ilha, mas queria ampliar os
horizontes.
O Fernando Pessoa estudado no
12.º ano é determinante na descoberta da poesia. Enquanto adolescente,
identificava-me com a dualidade interior do poeta.
É no décimo segundo ano que
começo a escrever um diário, onde incluía alguns versos entre os derrames e
reflexões sobre o dia. Os cadernos foram-se acumulando. Em 1990, já na Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, faço uma pequena seleção de poemas, a
maior parte abandonada na nova seleção de 1992.
No início dos anos 90, participo,
em Lisboa, num I Encontro de Jovens Escritores, promovido pela Sociedade
Portuguesa de Autores. Creio que, dos presentes, poucos tinham publicado alguma
coisa, talvez uns três ou quatro, se tanto. Nas jornadas deram-nos conselhos,
um dos quais foi não termos pressa em publicarmos.
Nesse Encontro, tivemos
oportunidade de conviver com alguns autores: lembro-me de jantar com a Natália
Correia e de irmos à discoteca com o Al Berto. Belos momentos.
Entretanto, a seleção de 1992 foi
sendo ampliada, cortada e recortada, trabalhada até à data da publicação, em
2005, já em Ponta Delgada, para onde fui lecionar após ter terminado o curso.
Quanto a
leituras, sou “um sensível e agradecido leitor”, como disse uma vez Jorge Luis
Borges. Outros poetas formaram o meu
gosto pela poesia: Camilo Pessanha, Sophia Andresen, Jorge de Sena, Herberto
Helder, Joaquim Manuel Magalhães são alguns dos nomes.
Chuva de Época faz parte do pasmo inicial perante a vida.
Move-me para a escrita a
estilização do real: uma frase, uma sonoridade, uma
pintura, uma escultura, um elemento arquitetónico, uma cena ou uma coreografia, enfim, o mundo mediado pela arte. Por exemplo, uma fotografia de Sebastião Salgado pode funcionar,
para mim, como uma arte de desbloqueio.
Aprecio o apontamento
caricatural, o alegórico, a metáfora. E o nonsense.
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