Banksy, "A cicatriz de Belém", Cisjordânia, 2019 |
Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num
presídio,
no prédio que amanhã for
demolido...
Entremos, inseguros, mas
entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer
sítio,
porque esta noite chama-se
Dezembro,
porque sofremos, porque temos
frio.
Entremos, dois a dois: somos
duzentos,
duzentos mil, doze milhões de
nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma
nave...
Entremos, despojados, mas
entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo
nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira, Cancioneiro
de Natal, 1971
Banksy, Birmingham, 2019 |
CARREIRO, José. “Cancioneiro
de Natal, David Mourão-Ferreira”.
Portugal, Folha de Poesia, 25-12-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2019/12/cancioneiro-de-natal-david-mourao.html
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