Cancioneiro Popular Portuguez, Theophilo Braga, 1911 (2.ª ed. ampliada). |
Propostas de atividades para o ensino da literatura popular na sala de aula
Por: Anamarija Marinovic
Esta série de quadras foi escolhida aleatoriamente e estruturada assim para ter uma história. Organizei-as desta forma para tentar ver de que maneiras poderia ser explorada a literatura popular na sala de aula.
Estas quadras poderiam ser dadas no [ensino básico] para as crianças conhecerem um pouco da sua literatura oral, mas também na escola secundária para se ver que alguns autores cultos recorriam ao uso de motivos e temas folclóricos nas suas obras. Devido ao facto de não conhecer bem o sistema escolar português, não sei dizer para que anos estes conteúdos seriam adequados. A introdução da literatura popular na sala de aula pode ajudar a que os alunos se lembrem de alguns provérbios e dos valores que ensinam. Pode também ser útil para desenvolver a criatividade e imaginação dos alunos, e para ser um primeiro passo que os conduza às obras de autores eruditos. Proponho algumas atividades para esta matéria ser tratada na sala de aula.
Lê atentamente as cantigas que se seguem e depois responde às perguntas:
Pus-me a chorar saudades
Ao pé de uma sepultura
Uma voz me respondeu:
“Mal de amores não tem cura!”
Mal de amores não tem cura?
Mal de amores cura tem!
Juntem-se dois amores
E o mal de amores cura-se bem.
A ausência tem uma filha
Que se chama Saudade,
Eu sustento uma e outra
Bem contra a minha vontade
Se as saudades matassem
Muita gente morreria
Mas as saudades não matam
Se não no primeiro dia.
Amei, fui desgraçado,
Jurei nunca mais amar,
Fizeram-me esses teus olhos
As minhas juras quebrar.
Amar e saber amar
Amar e saber a quem
Amar a luz dos teus olhos
E não amar mais ninguém.
Amar e escolher amores
Ensinou-me quem podia
Amar foi a natureza
Escolher foi a simpatia.
Palavra de Deus não mente
Ouve o que digo eu
Ouvi uma voz do céu:
“José, tu has-de ser meu!”
Ana quero, Ana amo,
Ana trago no sentido,
Quando me falam em Ana
Falam-me no meu alívio
José quero, José amo,
José trago no sentido,
Por causa de ti José
Eu trago o sono perdido.
Quem tem amores não dorme
Se não com olhos abertos,
Eu durmo com os meus fechados,
Que os meus amores estão certos.
Esta noite sonhei eu
Contigo, minha beleza,
Acordei, achei-me só:
Nos sonhos não há firmeza.
O açúcar para ser doce
Deve ser de além-mar,
A mulher para ser boa
Ana se há-de chamar.
A rosa para ser rosa
Deve ter folha e pé,
O amor para ser firme
Há-de se chamar José.
Amor com amor se paga
Nunca vi coisa mais justa.
Paga-me contigo mesma,
Meu amor, pouco te custa.
Amor com amor se paga,
Tem cuidado, meu amor,
Olha que Deus não perdoa
A quem é mau pagador!
Meu amor, anda daí
À igreja dar a mão
Calar as bocas do mundo,
Descansar o coração.
Tu és peixe mais lindo
Que anda na funda lancha,
Só quando contigo casar
É que meu coração descansa.
1) Darias algum título a esta série de cantigas?
Justifica.
2) Quais são os elementos que fazem com que esta
história tenha um fio condutor e uma estrutura narrativa?
3) Em que se assemelham estas quadras às cantigas de
desafio?
4) Qual é a imagem habitual que a literatura
tradicional dá sobre os papéis do homem e da mulher na sociedade e sobre os
seus comportamentos amorosos? Nestas cantigas a imagem corresponde ao
estereótipo? Por que razão?
5) Encontra provérbios nestas cantigas.
6) Qual é o tema dominante desses provérbios? Em que
situações se aplicam?
7) Encontra outras frases com o tom moralizador no
texto.
8) Quando é que os protagonistas das cantigas ganham
uma identidade? Por que razão?
9) Quais são as características
que o José e a Ana têm em comum?
10) Caracteriza o José e a Ana
separados, ao longo das cantigas.
11) Qual é a posição do José e da
Ana em relação à saudade?
12) Qual é a posição do José e da
Ana em relação ao dormir/sonhar e dormir/estar acordado?
13) Tenta organizar estas quadras
por outra ordem. Qual seria então o desenvolvimento desta história: acrescenta
mais personagens, mais nomes e mais cantigas.
14) Escreve esta história como se
fosse um conto.
15) Em que esta história se
assemelha a um conto tradicional?
16) Nem todas destas cantigas
foram recolhidas por Teófilo Braga. Nos cancioneiros que conheces procura
outras quadras e faz uma história organizando-as pela ordem que te parecer
melhor.
17) Escreve um poema ou um conto
que tenha por título um dos provérbios citados nas cantigas.
18) Encontra contrastes,
comparações e metáforas nas cantigas aqui transcritas.
19) Encontra paralelismos que se
referem ao José e à Ana.
20) Qual é a função das vozes do
além que os protagonistas ouvem?
21) Que sabes sobre Teófilo Braga?
22) Faz um desenho que tenha por
tema a Primeira República Portuguesa.
23) O que sabes sobre este
acontecimento?
24) Encontra nos cancioneiros de Teófilo
Braga três provérbios que falam sobre ciúmes?
25) Qual é a visão que as cantigas
políticas oferecem sobre algumas figuras da história portuguesa? Por que?
26) Explica com as tuas palavras o
provérbio “quem desdenha quer comprar?”
27) Faz um desenho em que ilustres o
provérbio “quem desdenha quer comprar?”
28) Explica o provérbio
“Cantigas-leva as o vento”. Qual é o papel dos jovens para o vento do
esquecimento não levar as vossas lindas cantigas, contos e provérbios?
29) Que santo popular se menciona
mais nas cantigas do cancioneiro? Sabes explicar por que?
30) Encontra nos cancioneiros de
Braga provérbios que tenham esta estrutura:
QBQ SP___________________________
QCSME, __________________________
OHF HF___________________________
31) Escreve um conto ou poema
inspirado na seguinte cantiga:
“Foste pedir-me ao meu pai
Sem saber o querer meu
O pai em tudo governa
Mas nisso governo eu”
32) Escreve um conto ou poema
inspirado num dos seguintes provérbios:
a) Só não muda a amizade que se
funda na virtude
b) quem nesta vida não ama noutra
não se salvou
c) Deus do céu é que nos conhece
33) Conheces um provérbio parecido
com “tanto dá a água na pedra que a faz amolecer”? Explica o seu significado.
34) Depois de teres lido várias
cantigas, escreve uma
35) As cantigas amorosas são as mais
bonitas da poesia popular portuguesa. Aprende de cor e declama pelo menos três.
36) Dedica uma cantiga a alguém
muito especial para ti.
37) Qual é a opinião que a sabedoria
popular exprime sobre o “amor primeiro”? Conheces alguma cantiga ou provérbio
que falem sobre isso. Qual é a tua opinião?
38) Conheces alguma cantiga ou
provérbio com os meses do ano?
39) Desenha um provérbio sobre os
meses.
40) Conheces alguma cantiga do
cancioneiro sagrado? O que te ensina?
41) Qual é a visão que o povo tem de
Deus nos seus provérbios? Conheces alguns?
42) Escreve um conto ou poema sobre
“madrasta-o nome lhe basta”. A madrasta é mesmo sempre má? Pensa nisso.
43) Informa-te um pouco com a ajuda
dos teus pais, avós ou livros sobre Teófilo Braga e escreve algumas frases
sobre ele.
44) Conheces alguma expressão
idiomática ou frase feita em português? Consegues explicá-la?
45) Encontra nos cancioneiros de
Teófilo Braga algumas cantigas sobre a saudade. Escreve um conto ou poema com
este tema
46) Completa os provérbios com as
palavras que faltam:
O amor
que é entendido__________________________
Quem___________sempre_________________________
Não há__________que por_______________não
venha
47) O primeiro provérbio faz-te
lembrar um outro mais conhecido? Explica-º
48) Completa a cantiga: “Não há sol
como o de Maio....”
49) com que flor se igualam as
raparigas e com que os rapazes nas cantigas populares portuguesas?
50) O provérbio “correcto” é “quem
tem amores não dorme“. O que significa? Qual seria o seu significado se fosse
conhecido como: “Quem tem amores dorme bem e sonha melhor”?
51) No cancioneiro de Teófilo Braga
há cantigas com erros gramaticais. Lê com atenção e corrige-os.
Fonte: Teófilo Braga e a Poesia Popular. Análise linguística, estilística, literária e proverbial do Cancioneiro Popular Portuguez e dos Cantos Populares do Arquipélago Açoriano, Anamarija Marinović. Portugal, Edição de Autor, 2015. ISBN: 978-989-20-6109-2
Esta obra pretende focar os aspectos políticos, literário, etnográfico e paremiográfico do trabalho de Teófilo Braga, com um olhar especial para a poesia popular, reunida no Cancioneiro Popular Portuguez e nos Cantos populares do Arquipélago Açoriano.
A figura de Teófilo Braga é importante em Portugal não apenas como um dos Presidente da República Portuguesa, mas também como pessoa que se dedicou à recolha e preservação de uma parte do património imaterial português.
Através da análise de questões relativas ao estilo, linguagem e material fraseológico e proverbial, pretendemos aproximar os públicos (o académico e o mais geral) do tesouro da língua portuguesa e sua cultura popular e fazê-los reflectir sobre os valores universais que nelas se encontram e que através dela são transmitidos.
CARREIRO, José. “Cancioneiro
Popular Português, Teófilo Braga”. Portugal, Folha de Poesia,
11-09-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/09/cancioneiro-popular-portugues-teofilo.html
Sem comentários:
Enviar um comentário