Apagou o disco
deitou o café na chávena
a manteiga no pão
compôs o sono com um biscoito ou dois
arrastou o pequeno almoço no pijama
demasiado comprido
pousou a bandeja prudente
aos pés da cama fingiu não ver o retrato
(não era obrigado a cumprimentar os mortos)
a mulher dormia galgando o espaço
o que seria melhor para o seu cansaço?
Paulo Pais, Gravador de
Chamadas. Porto, Campo das Letras – Editores, S. A., 1997, p. 37 (Coleção “O
Aprendiz de Feiticeiro” dirigida por José Cruz Santos)
* * *
As nuvens varriam restos do sol
para lá dos montes
o azul da noite acordava o frenesim dos bichos
sacudiram as finas pregas da chuva
chamaram o gato que bebia o último sol do dia
por entre as frinchas da água
entraram em casa secaram as roupas
lembrados ainda da visita dos pássaros
nada está dito
resta um fio de vidro no seio dos dedos
Paulo Pais, Gravador de
Chamadas. Porto, Campo das Letras – Editores, S. A., 1997, p. 50 (Coleção “O
Aprendiz de Feiticeiro” dirigida por José Cruz Santos)
CARREIRO, José. “Gravador
de Chamadas, Paulo Pais”. Portugal, Folha de Poesia, 20-08-2021.
Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2021/08/gravador-de-chamadas-paulo-pais.html
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