segunda-feira, 14 de julho de 2025

Paixão. Maria Teresa Horta

 

Quem foi?
Quem urdiu e enganou
o mundo
à minha volta?

Cravou o punhal
no meu coração?
Desencadeou em mim
a dor gelada
a envenenar-me a vida

com a sua mão?

Quem matou
me apagou a felicidade?

Ao despertar
o deserto
na maior solidão?

 

“IV – Solidão”, in Paixão. Maria Teresa Horta. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2021

 


 

«É um livro de poesia. O meu marido morreu repentinamente há um ano, foi uma violência muito grande para mim. Ele é a minha paixão, ao final de 56 anos juntos. No dia seguinte ao funeral, disse para mim “vou escrever um livro e o título vai ser Paixão”. Este livro é para ele, como todos os outros que escrevi. É um livro de poesia de amor dividido em seis partes. Nunca pensei ser capaz de fazer isto. Inicialmente, a escrita deste livro ajudou-me muito. Todos os dias escrevia, escrevia e escrevia… a poesia salva. A poesia salva-me. Salvou-me várias vezes na minha vida. Mais uma vez. Nesta fase, o processo tornou-se muito mais difícil, porque eu escrevo à mão e estou a ter dificuldade em passar para a máquina porque é o tema que é… É perturbante.

Luís de Barros e Maria Teresa Horta


Foi um livro que me deixou viver e sobreviver à morte e que agora, neste momento, faz-me reviver diversos aspetos da minha vida e da perda. Não estou a reagir mal ao livro, estou a reagir mal ao assunto. Tenho hesitado muito. Sinto-me desassossegada com este livro. Escrever o livro fez-me aguentar, mas agora ter de olhar para este espelho inquieta-me.»

Maria Teresa Horta, https://ami.org.pt/blog/entrevista-a-maria-teresa-horta/, 02-12-2020

 


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