Magritte, Call of peaks (1943) |
CARREGO O QUADRO
Carrego o quadro, o trabalho no mar
respirado
a casa que deixei logo que o dia clareou
ou mesmo o regresso à paixão do verbo.
Sigo o voo do milhafre.
Para lá do vão indisponível da porta
apenas raízes ou teias a expressar o tempo
inquietas máscaras perfazendo o espaço apertado
onde ainda volteias.
José Maria de Aguiar Carreiro
Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005
Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005
NESU GLEZNU
Nesu gleznu, uzgleznotu jūrā,
kas izelpo
māju, ko atstāju pēc tam, kad diena noskaidrojās,
vai visdrīzāk paša vārda kaislības atgriešanos.
Sekoju klijas lidojumam.
Viņpus ostas bezjēdzīgā tukšuma
tik tikko samanāmas saknes vai laika izpausmes gaismekļi;
satrauktas maskas, kas piepilda šauro telpu,
kurp tu vēl joprojām atgriezies.
“Carrego o quadro”, José Maria de Aguiar Carreiro
tradução: Leons Briedis (Letónia)
Azoru Salu. Dzejas antoloģija. Rīga, Minerva, 2009
tradução: Leons Briedis (Letónia)
Azoru Salu. Dzejas antoloģija. Rīga, Minerva, 2009
NO
POEMA
Transferir o quadro o
muro a brisa
A flor o
copo o brilho da madeira
E a fria e virgem limpidez da água
Para o mundo do poema limpo e rigoroso;
Preservar de decadência morte e ruína
O instante real de aparição e da surpresa
Guardar num mundo claro
O gesto claro da mão tocando a mesa.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Livro Sexto 1962
Livro Sexto 1962
Não está em causa «descrever» um mundo que há-de ser o mundo do «poema limpo e rigoroso», mas o acto de o nomear.
É a sobrecarga de nomes concretos (ligados à ideia de visualidade e de clareza – quadro, muro, brisa, flor, copo...) que, sobretudo, se associa ao acto de nomear. Este aproxima e implica o Eu no mundo nomeado (= criado), aspecto que o emprego do artigo definido reforça.
(Note que nomes abstractos como «limpidez», «instante» «gesto», o não são assim tanto, porque pertencem ao mesmo mundo concreto dos nomes presentes nos dois primeiros versos e são precedidos de artigos definidos que os tornam mais palpáveis.)
O poema fixa o mundo nomeado num tempo fora do tempo, isto é, não sujeito à sua acção corrosiva, como se explicita no verso “Preservar de decadência morte e ruína”
Veríssimo, 2003: 309
René Magritte (1898-1967) "A Vitória" |
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E
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Nuno Júdice, A
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A complexidade da escrita.
No poema de Nuno Júdice, descreve-se o processo de escrita e se enunciam as dificuldades por que passa o poeta para escrever o poema, simbolizadas em versos como «e o pássaro foge-lhe do verso» (verso 2), «e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou» (verso 4), «e a flor murcha no jarro da estrofe» (verso 6).
O percurso de um poema.
No poema, representam-se fases do processo de criação poética, uma vez que se enunciam decisões tomadas pelo poeta, o que delas resulta, a interrupção do acto de escrita, o regresso à escrita e o momento em que se dá o poema por terminado.
(adaptado de: Exame Nacional do Ensino Básico. Prova 22/1ª chamada, GAVE, 2010)
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2010/08/13/poema.aspx}