Shamsia Hassani, https://www.shamsiahassani.net/ |
O Landay é uma forma poética afegã tradicional composta por um dístico (com nove sílabas no primeiro verso e treze sílabas no segundo) que aborda temas de amor, tristeza, pátria, guerra e separação.
Em segredo ardo, em segredo choro
Sou a mulher patshun que não pode revelar o seu
amor
* * *
Beija-me ao esplendor vivo da lua
Nos nossos costumes é em plena luz que damos a
boca
* * *
Que Deus te proíba todo o prazer em viagem
Já que me deixaste adormecida, insatisfeita
* * *
Poisa a tua boca na minha
Mas deixa a minha língua livre para te falar de
amor
* * *
Meu Deus, que fizeste de mim?
As outras são flores desabrochadas e tu
deixas-me em botão
* * *
Ó Primavera, as romãzeiras do meu jardim estão
em flor
Guardarei para o meu amor ausente as romãs dos
meus seios
* * *
Aperta-me com força em teus braços
Já sofri tempo de mais a prisão das saudades
* * *
A noite passada dormias nos meus braços
Esta noite, longe de mim, como terás descanso?
* * *
Num instante serias um monte de cinzas
Se sobre ti lançasse o meu olhar inebriante
* * *
Estás ébrio porque eu te sorri
Ficarias louco furioso se te oferecesse a minha
boca
* * *
O meu amor prefere as flores sensatas dos
jardins
Mas eu, tulipa selvagem, desfolho-me na planície
sem fim
* * *
Poisa a tua boca na minha
Mas deixa a minha língua livre para te falar de
amor
* * *
Ó alaúde quero ver-te em cacos:
Sou eu quem ama e és tu quem geme nos seus
braços!
* * *
Bem amado, vem sentar-te um instante ao pé de
mim
a vida é breve como o crepusculo de uma noite de
Inverno
* * *
Mete docemente a tua mão pelas minhas mangas
acima
As romãs de Kandahar floresceram e já estão
maduras
* * *
É Primavera, aqui as folhas crescem nos ramos
Mas no meu país as árvores perderam as ramagens
sob o granizo das balas inimigas
* * *
Como vieste assim em plena lua cheia?
Tu, alto como um plátano, onde te esconderei?
* * *
Esta mulher exilada não pára de morrer
Voltai-lhe o rosto para a terra natal, para que
ela exale o seu último suspiro.
* * *
O meu amante prefere os olhos cor do céu;
não sei como mudar os meus, cor da noite
* * *
O teu amor é de água, é de fogo
As chamas consomem-me, as ondas engolem-me
* * *
Vai combater a Kabul, meu amor
Para ti guardarei intactos o meu corpo e a minha
boca
* * *
Se dormes, só terás poeira
Eu pertenço aos que, por mim, não dormem a noite
inteira
* * *
Os heróis permanecem vivos
só os traidores perecem para sempre
A voz secreta das mulheres
afegãs : o suicídio e o canto / Sayd Bahodine Majrouh ; trad. Ana
Hatherly. – 1.ª ed. - Lisboa : Cavalo de Ferro, 2005. - 88, [6] p. ; 24 cm. -
Tít. orig.: Le suicide et le chant. - ISBN 972-8791-76-3
Amor
e desespero nos gritos líricos das mulheres afegãs
Considerado
por muitos o mais importante poeta que o Afeganistão viu nascer no séc. XX,
Sayd Bahodine Majrouh, um intelectual de percurso singular e biografia trágica,
sempre se interessou pela literatura oral de língua pashtun. Ao contrário da
poesia persa, cheia de aspirações místicas e achados metafóricos, a lírica popular
afegã renega a tradição livresca e nasce de improvisações que captam, com uma
extraordinária leveza, a essência de vidas marcadas pelo nomadismo e pela
dificuldade de subsistir numa terra seca e agreste. Nas palavras de Majrouh,
este é "o canto de um ser terrestre, com as suas preocupações, as suas
inquietações, as suas alegrias e os seus prazeres; um canto que celebra a
natureza, as montanhas, os vales, as florestas, os ribeiros, a aurora, o
crepúsculo e o espaço magnético da noite; um canto que se alimenta de guerra e
de honra, de vergonha e de amor, de beleza e de morte".
O género
poético que melhor reflecte este canto - e de canções se trata, literalmente -
é o landay, um poema muito breve, de dois versos livres de nove e treze
sílabas, sem rimas obrigatórias. Entoado de forma diferente conforme as
regiões, o landay nasce quase sempre anónimo, sem aviso, fruto de acasos e
inspirações súbitas, perpetuando-se através da memória colectiva. Há landay de
todos os tipos eruditos e licenciosos, prosaicos e alcorânicos, dependendo da
origem social ou cultural dos seus autores. Mas os melhores, os mais intensos,
os mais inesperados, são os landay que revelam a condição feminina.
Em A Voz
Secreta das Mulheres Afegãs - O suicídio e o canto (um livro em boa hora
traduzido por Ana Hatherly, a partir da edição francesa), são justamente esses
poemas ousados, curtíssimos e brutais, que Majrouh apresenta, explica e
antologia. Um exemplo "Dá-me a tua mão, amor, vamos para os campos/ Para
nos amarmos ou cairmos juntos apunhalados." Outro: "Meu amor, para lá
das montanhas, contempla a lua / E verás que te espero, de pé, sobre o
telhado."
Mais do
que a esmagadora força telúrica destes fragmentos, o que surpreende nos landay
é o retrato que permitem traçar da mulher afegã. Subjugada pelo poder masculino
e por uma vida de escrava, ela só pode expressar a revolta de duas formas
suicidando-se - com veneno; por afogamento - ou transformando as canções
gritadas no palco de um amor louco, impossível.
Além de
sonharem com o verdadeiro amante (que não pode ser cobarde) e de vituperarem os
maridos impostos (velhos ou "pirralhos horríveis"), evocam a terra
natal e lamentam exílios forçados. As ameaças, essas, são terríveis o castigo
implacável dos clãs, o opróbrio, a morte. Mas elas, apesar dos riscos, cantam o
desespero, a paixão, o despeito. E raras vezes nos deparámos com um canto tão
puro e tão belo.
José Mário Silva, https://www.dn.pt/arquivo/2005/amor-e-desespero-nos-gritos-liricos-das-mulheres-afegas-595599.html,
2005-04-14
Foto: Mulheres de Cabul antes do Talibã. Fonte: LOGAN (2006) |
O
contemporâneo e o medievo no feminino
A partir de uma herança deixada pelas trobairitz
na história da poesia de autoria feminina, observamos na contemporaneidade
um movimento interligado que resgata essas autoras, seja pela forma
estético-literária e sua marca na história, ou seja pelos temas tratados em
suas composições, que transparecem muitos anseios femininos que protagonizaram
lutas de mulheres em suas sociedades, mas que ainda se perduram tardiamente em
contextos atuais.
A primeira obra que faremos essa
aproximação com a poesia das trobairitz será o livro intitulado A voz
secreta das mulheres afegãs: o suicídio e o canto, organizado pelo escritor
Sayd Bahodine Majrouth, que teve sua primeira publicação em 1994 e que
posteriormente foi traduzido para o português pela poeta portuguesa Ana
Hatherly. Majrouth nesse livro buscou resgatar as vozes interditadas das
mulheres afegãs, que através de um canto, os landays, originário da
tradição oral conseguem ter espaço de voz assim como podem ouvir e registrar na
história as vozes das outras mulheres que as rodeiam. Os cantos são
apresentados em afazeres realizados coletivamente entre mulheres, em que uma
repete e divulga o canto das outras, a partir de uma relação de identificação
subjetiva.
Os landays são textos poéticos
curtos de apenas dois versos que podem ser escritos por homens ou mulheres,
sendo em sua maioria de autoria feminina. Como diz Sayd Majrouh, só raramente
essas melodias proferidas por homens e clérigos “atingem a sobriedade profunda
e pura dos landays femininos” (2005, p. 12). Na introdução do livro,
Majrouh aponta que:
todos os landays apresentados neste estudo
são provenientes do florilégio feminino, revelando-se incomparável a
autenticidade das suas sonoridades, porque é um rosto fascinante o que emerge
destes textos onde a mulher canta e fala de si própria, do homem e do mundo que
a rodeia: um rosto orgulhoso, impiedoso e revoltado (ibidem, p. 12-13).
De acordo com Majrouh (2005, p. 11), os landays
femininos apresentam muitas distinções da poesia persa: não há nesses
textos nenhuma aspiração a serem declamados; não apresentam uma exaltação ao
Senhor ou aos céus, nem mesmo ao amor místico. Além disso, a linguagem não
apresenta um requinte ou jogos de palavras, como pode ser
encontrado na poesia tradicional. Os landays femininos apresentam uma
simplicidade única, porém de intensa profundidade subjetiva. A voz que exala
desses textos são vozes que gritam para serem escutadas, que desejam externizar
uma subjetividade impedida e interditada pela tradição e pelos costumes
políticos e sociais. Como aponta Majrouh (2005):
a grande originalidade dessa poesia popular
é a presença activa da mulher. Se, como em toda parte, ela é o suporte da
inspiração dos estribilhos masculinos, aqui ela impõe-se sobretudo como
criadora, como autora e sujeito de numerosos cantos (p. 11).
Essas mulheres que pertencem a comunidade
pashtun têm uma condição de vida bastante dura, além de inseridas desde o berço
em uma inferioridade clãnica, que posiciona os homens, desde que nascem, ao
lugar de superioridade e privilégio à subserviência feminina. Apesar dessa
condição de trabalho e servidão tão intensa e cruel para as mulheres, nos landays
produzidos por elas o discurso mais presente é aquele que reclama o
posicionamento moral que é ocupado e destinado ao feminino. Segundo Majrouh
(2005), “A menina torna-se moeda de troca entre as famílias do clã sem jamais
ser consultada. Passa a vida inteira num estado de inferioridade, de
subordinação e humilhação. O seu próprio marido não se digna partilhar as
refeições com ela” (p. 13-14).
Assim, podemos observar tais evocações nos
seguintes landays:
O destino deu-me por esposo uma criança que
eu educo
Mas quando ele for grande e forte, eu já
serei velha e fraca
Gente cruel eu vedes um velho me levar para
a sua cama
E perguntais-me porque choro e me arranco
os cabelos!
Ó Deus, envias-me de novo a sombria noite
E de novo tremo da cabeça aos pés porque
tenho de entrar no leito
que odeio
(ibidem, p. 17).
Esses primeiros três landays que iniciam
o livro apresentam um forte retrato da condição feminina nesse território. O
ódio e o repúdio ao marido e ao casamento são explicitados acima. Para as
mulheres é vedado o direito ao amor e à sua sexualidade, tendo muitas vezes que
se casar com homens muito mais velhos do que ela, ou mesmo com meninos ainda
crianças, não lhe cabendo nunca o direito à oposição. A traição é punida com
morte para a mulher e seu assassinato é visto como punição educativa para todo
o clã.
Contudo, mesmo diante de todas as
repressões vividas as mulheres afegãs conseguem desejar um amado e externizar
isso na arte. A literatura passa a ser, então, um locus de atuação
enquanto sujeito, se deslocando do lugar objetificado da tradição.
Toma-me
em teus braços e aperta-me
Depois
volta-me a face e beija um a um todos os sinais do meu rosto
Vem
junto a mim, meu amor
Se
o pudor te impede de me tocar, eu te atrairei a meus braços!
Já
se ouve o galo maldito e o seu triste canto de despedida
O
meu amante vai-se embora como um pássaro ferido...
(ibidem, p. 17).
A presença marcante do discurso de desejo e
valorização do amante, assim como a denúncia ao casamento infeliz constrói um
elo de ligação com as cantigas escritas por mulheres transgressoras da Idade
Média. Como aponta Rocha (2015), os landays femininos se aproximam, em
seu conteúdo, das “Cantigas de Malmaridadas” que expressam: O marido ruim,
feio, velho, ciumento, que maltrata a mulher; a mulher, geralmente mais jovem;
o namorado/amante escolhido com o qual ela sonha. Além da aproximação com as
“Malmaridadas”, o próprio discurso transgressor e de denúncia a uma condição
feminina, muitas vezes insalubre, e de externização dos desejos silenciados de
outros tipos de Cantigas, também constrói uma ponte com os landays femininos
da tradição secular afegã. As obras que ganharam luz em nossa contemporaneidade
são permeadas com elementos que buscam, dentre outras coisas, uma
auto-representação feminina e enfatizam relações de gênero (DEPLAGNE, 2016).
No período
da Idade Média muitos homens assumiram, invasivamente, a autoria de textos que,
posteriormente na contemporaneidade, teve essas autorias dadas às mulheres
medievais. Não obstante, apesar da dificuldade de obter educação, as mulheres
produziram cantigas que tiveram muita dificuldade de reconhecimento de sua
autoria, o que causou por muito tempo na história a falsa ideia de que as
mulheres não produziam literatura no medievo. Como destaca Lemaire,
Para a Idade Média o questionamento se
centra tanto na ausência da mulher como agente/criadora cultural e literária,
escamoteada e silenciada pela historiografia oficial, como no questionamento
das práticas de edição textual e da tradição interpretativa dos textos (2015, p. 8).
No caso apresentado das mulheres afegãs
temos uma situação oposta. Devido a impossibilidade de atuação na sociedade da
voz feminina, um homem enfrentou a oposição social e conseguiu resgatar esses
registros para serem publicados em outros países. A consequência dessa postura
resultou para Sayd Majrouh seu assassinato quando fora exilado no Paquistão no
final do século XX. Assim como nos diz Ria Lemaire em seu texto, o roubo da
autoria feminina e a invenção de uma tradição de um imaginário feminino triste
e repleto de lamentações e choros, segundo os poetas trovadores que diziam
assumir uma inspiração na “alma feminina”, fizeram com que o ensino de
literatura e a tradição literária dos séculos posteriores construíssem uma
imagem das vozes femininas distorcidas e cristalizadas. (2015, p. 9). Como é
visto na introdução do livro doas landays femininos, as mulheres
cantavam prioritariamente sobre seus desejos, sobre a liberdade de sua
sexualidade, mesmo vivendo sob condições de extremas dificuldades domésticas e
sociais. A referência nítida ao tema pode ser conferida numa cantiga de
“Malmaridada”, ou “Mal casada”, anônima, que ressalta a esperança de felicidade
longe do casamento e do marido ruim, ciumento, e a realização do desejo sexual
no amante que é cobiçado:
Quan lo gilós èr fora,
Bels amí venetz vos a mi.
Balada cointa e gaia
Fatz, cui pes ne cui plaia
Pel dolz cant que m’apaia
Que’us audi seir e de matin
(LUCENA;
DEPLAGNE, 2009, p. 153).5
“Hilda Hilst e os 'landays' femininos afegãs: um diálogo com a
poesia medieval de autoria feminina”, Bruno Rafael de Lima Vieira, Ana
Ximenes Gomes de Oliveira. Revista Garrafa, vol. 17, n.º 50,
outubro-dezembro 2019. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/garrafa/article/view/30943
"O Desaparecimento da Mulher" Shadi Ghadirian (fotógrafa iraniana a viver em Teerão) |
Landays:
a voz secreta das mulheres afegãs
“Fomos esquecidas e precisamos ter o direito de falar.
Se ninguém escutar o que dissermos, nada mudará.”
(Mulheres de Cabul)
Resumo: Neste
trabalho queremos apresentar a poesia oral das mulheres afegãs, - os landays
– recolhidos e traduzidos para o francês pelo poeta afegão Sayd Bahodine
Majrouh e vertidos para o português pela poetisa lusitana Ana Hatherly. Na
nossa abordagem, seguiremos os passos da pesquisadora Ria Lemaire no seu estudo
“A canção de Malmaridada”, que, igualmente aos landays afegãos, retrata
a infelicidade da mulher mal casada em situação de desigualdade e opressão.
Constatamos através da leitura desses testemunhos poéticos que,
independentemente do espaço geográfico e da distância no tempo, situações de opressão
sempre encontram válvulas de catarse através da literatura, mesmo que seja de uma
forma secreta ou abafada.
Palavras-chave: landays,
malmaridada, opressão, catarse
O Oriente sempre representou um mundo de sonho,
riqueza, erotismo e fantasia para os povos do Ocidente. Inicialmente, por ser o
lugar de onde vinham as especiarias, sedas, perfumes, tudo que o Ocidente
consumia (e não produzia) com avidez e encantamento. A literatura foi a grande
responsável pela disseminação dos costumes, lendas e tradições orientais. E
nenhum outro livro despertou mais a curiosidade ocidental do que As mil e
uma noites, também conhecido como Arabian Nights, uma coleção de contos
que reúne cultura, aventura, e fantasia, hoje, definitivamente entronizado no
panteão da literatura universal como um dos clássicos da humanidade. O fio
condutor que dá unidade à narrativa provém da voz da princesa Xerazade, a filha
do vizir. Este fio condutor é de origem indiana e chegou aos árabes através dos
persas. Os contos que compõem a coletânea têm elementos diversos: árabes,
persas e indostânicos. Embora de autoria desconhecida, supõe-se que tenha
aparecido pela primeira vez em língua árabe no século VII. Em 1853 foi impressa
na forma árabe definitiva. Entre 1704 e 1712 apareceu na Europa, na tradução francesa
de Antoine Galland (Les mille et une nuits). Na metade do século XIX foi
publicada no Cairo uma versão que serviu de base para edições posteriores,
inclusive a inglesa, Thousand and One Nights (1885-1888) de Sir Richard
Burton. Sem finalidade moralizadora, religiosa ou didática, que predomina na
literatura oriental, contém no seu cerne um elemento que perdura até os nossos
dias: a xenofobia, o repúdio ao feminino, considerado traiçoeiro e subversivo,
merecendo, portanto, as mais duras penas. Embora Xerazade sobreviva à ameaça de
morte que pesa sobre sua cabeça, através de sua inteligência e criatividade, o mesmo
não acontece com a maioria das mulheres que hoje ousam subverter a ordem estabelecida
pelos textos corânicos e os editos que dali se originam. É isto que nos mostra
aliteratura contemporânea que nos chega dos países que adotam o islamismo de
uma forma fundamentalista, como religião e modo de viver, dentre estes, o
Afeganistão, objeto de nosso olhar neste trabalho.
Antes do 11 de setembro de 2001, o Afeganistão
representava pouco mais do que um país escondido nas regiões montanhosas da
Ásia Meridional, limitando-se com países como o Paquistão, o Irã, e a China,
dentre outros.
Poucos sabem, por exemplo, que entre 2000 e 1500
A.C. aquele país já fazia parte da rota de passagem das tribos indo-européias;
que do século V ao IV A.C. o Afeganistão fez parte do império persa; que em 329
A.C. Alexandre conquistou várias cidades que podem ter originado as que hoje
são conhecidas como Kandahar e Cabul; que de 250 até 125 A.C. ali instalou-se
um reinado culturalmente florescente, a afirmação de uma civilização
greco-búdica, resultado de influências helênicas e indianas. Os árabes conquistaram
a região no século VII e encontraram alguma resistência à implantação do islamismo
que será imposto definitivamente a partir da primeira metade do século VIII. Ainda
foram invadidos pelos turcos e pelos mongóis. Com a descoberta do caminho marítimo
para a Índia, a rota da seda deixou de ter a importância que tinha até então e desde
aí o grupo étnico dos pashtun começou a ganhar ascendência sobre as outras
etnias.
No século XIX, são os ingleses que ocupam a região,
de (1830 a 1919), tendo que disputar a soberania sobre aquele vasto território
com o Império Russo.
Em 1964 o Afeganistão adotou a sua constituição e
estabeleceu o regime parlamentar. Desde 1970, vem enfrentando uma guerra civil
contínua e brutal sempre com intervenções estrangeiras; em 1973, dando
sequência a uma grande crise econômica, um golpe militar é armado e a república
é proclamada. Adota uma política de aproximação dos países muçulmanos,
principalmente da Arábia Saudita, o que não agrada à União Soviética, que
invade o país em 1979, tomando o controle das principais cidades. Os soviéticos
são forçados a retirar-se 10 anos mais tarde e os mujahidins, que são supridos
de armas e treinados pelos Estados Unidos, Arábia Saudita, Paquistão, China e
outros países da região assumem o poder. Em 1996, o Taliban (milícia sunita de
etnia patane, a mais numerosa do país) assume o poder, instaurando um regime
fundamentalista islâmico. Depois do ataque às Torres Gêmeas, (World Trade
Center) os Estados Unidos e as forças aliadas deram início a uma campanha
militar que tem por objetivo dizimar os Talibans e o saudita Osama bin Laden, supostamente
refugiado nas montanhas afegãs.
Este breve e lacunoso registro tem apenas o
objetivo de chamar a atenção para o fato de que muita coisa aconteceu, muitas
vidas foram sacrificadas no Afeganistão, antes dos atentados às Torres Gêmeas
de New York em 11 de setembro de 2001. Mas, a partir de então, o ocidente foi
forçado a voltar os olhos para aquele povo longínquo, assolado por invasões e
guerras fratricidas, através da enxurrada de best-sellers que, de uma forma ou de
outra, nos atualizou a respeito da tragédia permanente que tem sido o cotidiano
do povo afegão, nos últimos 50 anos. Apenas para citar alguns desses best-sellers,
selecionei os títulos que figuraram (alguns ainda figuram) nas nossas listas
dos mais vendidos por semanas e meses consecutivos. Inicialmente, tivemos O
livreiro de Cabul, da jornalista norueguesa Asne Seierstad, publicado
originalmente em 2002, com edição brasileira de 2006. Na esteira deste livro,
em 2002, veio Mulheres de Cabul, uma seleção de fotos e depoimentos
sobre a vida das mulheres do Afeganistão, publicado no Brasil em 2006. Em seguida
tivemos O caçador de pipas de Khaled Hosseini, que arrancou lágrimas de multidões
de leitores e, mais tarde, de cinéfilos enternecidos com o drama dos dois
meninos pashtun e hazara, originalmente publicado em 2003 e, aqui no Brasil em
2006. Ainda de Khaled Hosseini, A cidade do sol, publicado no mesmo ano
(2007) nos Estados Unidos e no Brasil, o que comprova a popularidade do autor e
do gênero literário. Desta feita o foco é concentrado na opressão que sofrem as
mulheres afegãs sob o regime dos Talibans.
Mais recentemente, Atiq Rahimi, escritor
franco-afegão, foi premiado com o Goncourt em 2008 pela publicação do livro Syngué
Sabour, lançado no Brasil em 2009, com o subtítulo Pedra-de-paciência.
Rahimi declara que “esta narrativa foi escrita em memória de N.A. (Nadia
Anjuman) – a poetisa afegã barbaramente assassinada por seu marido”. Este é o
terceiro livro de Rahimi editado no Brasil. Sua narradora sem nome é uma
antítese da princesa Xerazade: ao narrar sua história, ao invés de conquistar o
direito de viver, é assassinada pelo marido, que estivera ferido, imóvel,
semimorto durante toda a sua narrativa. Tal qual um Lázaro, recobra a vida, mas
“vinga-se” da mulher que o mantivera limpo e alimentado através de seus
cuidados por longos dias, cujo pecado maior fora submetê-lo a ouvir sua
história pessoal; ele que nunca se dignara a escutá-la, ouve um relato que a
condena irremediavelmente, pelo que contém de verdadeiro e subversivo. Os dois
primeiros livros de Rahimi aqui publicados são Terra e cinzas (2002), As
mil casas do sonho e do terror (2003).
Podemos observar através desta pequena amostra o
quanto as questões referentes ao Afeganistão passaram a figurar de forma
proeminente no mercado editorial ocidental.
Last, but not least,
um último livro (objeto deste estudo) A voz secreta das mulheres afegãs:
o suicídio e o canto, do poeta afegão Sayd Bahodine Majrouh, que
nos chega através da tradução inspirada da poetisa portuguesa Ana Hatherly. Foi
originalmente publicado em francês em 1994 pela Gallimard e, em 2005, pela
Editora Cavalo de Ferro de Lisboa. Bahodine coletou os poemas, nos vales
pashtun, acompanhado pela sua irmã, conforme revelou a uma numerosa e ao mesmo
tempo amistosa audiência, da qual fazia parte André Velter (2005, p.76). Alguns
destes poemas estão incluídos no pequeno volume de apenas 88 páginas, para a
qual Bahodine também escreveu a introdução e os capítulos de apresentação às
quatro partes que compõem este formoso livro.
Graduado em Universidades européias, ao voltar para
seu país, ocupou vários cargos e funções: professor universitário, chefe de
departamento, governador de província, embaixador, dentre outros. Era
particularmente ligado na “violência da vida, nas dívidas de honra, nas vendettas
e no calvário das mulheres” (VELTER, ibid). Pouco tempo após esse encontro
de amigos, aos quais Bahodine apresentou os landays, deu-se o golpe de
estado comunista que forçou-o a se exilar em Peshawar, no Paquistão, onde foi
assassinado, em 11 de fevereiro de 1988. Nas palavras emocionadas de Velter, Bahodine
“Morreu por ter falado
abertamente. Morreu sobretudo por ter escutado e ter emprestado a sua voz aos
sem-voz. Majrouh não se assemelhava em nada a um intelectual do antigo regime.
Mais propenso a escutar as narrativas e os cantos de um nómada, de um pastor de
uma camponesa, de um louco de Deus, que as perorações de um ministro ou de um
teólogo, aplicava a sua erudição sem preconceito ao questionamento tácito da
suaprópria tradição” (ibid, p.81)
Landay significa
literalmente “o breve”. Um landay, Bahodine nos explica, (ibid, p. 12) é
exatamente isso: um poema curto de dois versos livres de nove e treze sílabas,
sem rimas, mas com escansões internas. É vocalizado de formas diferentes,
dependendo da região de onde se origina e é usado para pontuar discussões, como
um aforismo, um ditado.
São inseparáveis do canto e têm grande ritmo
melódico. Sendo curtos, são facilmente memorizados. Fazendo parte da tradição
oral, são também anônimos.
Quanto ao conteúdo, não exaltam o amor místico nem
o louvor a Deus. Também não contém referências ao efebo, objeto do amor
homossexual. É mais um canto de amor terrestre, suas belezas, prazeres,
alegrias; celebra a natureza, seus rios, cascatas, montanhas, vales, flores, o
nascer e o por do sol e também a morte, a honra, a guerra, a vergonha.
O grande diferencial desta poesia é a presença
ativa da mulher, não como na poesia lírica ocidental, desempenhando o papel de
musa, mas como criadora ativa, como sujeito do seu canto.
Há também os landays eruditos compostos pelos
clérigos e os letrados, mas esses raramente atingem a vitalidade dos landays
femininos. O que emerge destes é um rosto, um corpo feminino que se rebela
e debate contra a opressão constringente. É sabido que a estrutura tribal da
comunidade pashtun é particularmente dura e virilizada. Dentro deste contexto,
a mulher sofre duplamente: tanto física como moralmente.
Sua carga doméstica é particularmente pesada,
trabalha de manhã à noite, vai buscar água na fonte ou no rio, cuida dos
filhos, cozinha, cuida dos animais, cose a roupa da família, irriga as
culturas, mas não é disso que ela se queixa. Esta rotina, por sinal, não difere
muito daquela de outras camponesas ao redor do planeta, como, por exemplo, da rotina
daquelas que labutam no campo no nordeste brasileiro.
Porém, a sua servidão moral é que mais a maltrata.
Desde o nascimento é humilhada, injuriada e rejeitada pelo fato de ser mulher.
Torna-se moeda de troca entre as famílias do clã, sem jamais ser consultada
sobre suas preferências. Quando casa, o marido não se digna sequer a partilhar
com ela das refeições que prepara.
Os filhos homens, geralmente produto de um
casamento forçado, assistem à humilhação a que é submetida a mãe e muito cedo
começam também a humilha-la e agredi-la fisicamente, até. Este comportamento é
uma espécie de iniciação à vida adulta. A tudo isso o pai assiste complacente.
(ibid, p. 25)
É dentro deste contexto de aparente submissão e
revolta permanente que os landays femininos são compostos e é isso mesmo
que esta poesia retrata. Como é tolhida na sua escolha de um marido, a mulher
afegã expressa nos landays seu desprezo e ódio pelo marido que lhe é
imputado, invariavelmente uma criança imberbe ou um velho. Estas duas injustas
opções estão bem claras nos poemas abaixo:
O destino deu-me por
esposo uma criança que eu educo
Mas quando ele for
grande e forte, eu já serei velha e fraca
Ó meu Deus, de novo ela
está aí, a noite longa e triste
E de novo ele está aí,
o meu “pirralho horrível” e dorme...
Dizem-me que os
“horríveis pirralhos” fugiram da face da terra
O meu está bem vivo e
atormenta-me sempre
E
Gente cruel que vedes
um velho me levar para a sua cama
E perguntais-me porque
choro e me arranco os cabelos
Contudo,
nem toda a opressão consegue calar a “voz secreta” da mulher afegã, quem mesmo correndo
riscos, revela seu desprezo e ódio pelos maridos que lhe são impostos:
Ó “horrível pirralho”
um sono eterno!
Qualquer gatito o
desperta e espia-me sem parar
Ó Deus, leva este velho
esposo
Que à noite me vigia e
de dia dorme
Que este rochedo me
esmague com seu peso
Mas que jamais me toque
a mão de um marido velho
A
situação de permanente insatisfação e opressão gera uma atitude totalmente surpreendente:
nos landays, a mulher afegã não revela qualquer tipo de culpa por tomar
um amante que satisfaz seus desejos e com quem desfruta os prazeres do amor.
Pelo contrário, o adultério é para ela uma compensação, uma catarse pelos
sofrimentos que lhe são imputados:
Apressa-te, meu amor,
se quiseres admirar-me
O “horrível pirralho”
já prepara o barro para tapar o muro
Como vieste assim em
plena lua cheia?
Tu, alto como um
plátano, onde te esconderei?
Vem, amor, deixa-me
abraçar-te
Eu sou a frágil hera
que o Outono em breve levará
Oxalá ele seja
convidado para a nossa casa
Eu lhe darei a provar a
ponta dos meus lábios cor-de-rosa
Meu amor, vem depressa
contentá-lo
O alazão do meu coração
rompeu todos os freios.
O meu amante é um colar
ao meu pescoço
Posso andar nua, mas
sem colar, nunca!
Ó Deus, então é pecado?
Criaste o jardim deste
mundo e eu colhi a flor de que mais gostei
Após
a invasão soviética e, posteriormente, com a instalação do regime fundamentalista
islâmico, grande parte da população afegã teve de se exilar, dentre estes, o próprio
Bahodine. A experiência cruel do exílio e da guerra passa então a figurar como
tema dos landays:
Ó grande Deus dos
exilados
Quanto durará a vida
nestas planícies áridas?
Pelo meu rosto rolam
lágrimas
Não posso esquecer as
montanhas de Kabul com seus cimos nevados
Tenho na mão uma flor
que murcha
Não sei a quem a dar
nesta terra estrangeira
Ó Deus, não deixes
morrer uma mulher no exílio!
Com o derradeiro sopro
poderá esquecer o teu nome mas a sua terra natal, não
Contudo, mesmo em meio às agruras do exílio, as
inquietações amorosas não cessam:
Pus-me bonita com os
meus vestidos usados
Como um jardim florido
numa aldeia em ruínas
O meu amante é hindu e
eu maometana
Em nome do amor, varro
os degraus do templo interdito
Pulseiras nos meus
braços, um colar no pescoço
Parto com o meu
bem-amado, regressamos à nossa terra.
É interessante observar que imagens eternas da
poesia ocidental também podem ser ecoadas pelos landays das mulheres
afegãs. Refiro-me aqui à inquietação dos amantes diante das vozes dos pássaros
que anunciam a manhã, que chega para separá-los. Leitores de Shakespeare não
deixarão de evocar a famosa cena de Romeu e Julieta que faz alusão ao
rouxinol e à cotovia. Não desejo aqui sugerir qualquer influência do poeta
inglês sobre as poetisas afegãs, apenas sublinhar a universalidade de alguns
temas poéticos:
Já o galo canta a alba
Quando havia ainda
tanto para dizer, tantos desejos a saciar
Ó galo maldito, queria
degolar-te!
Se não tivesses
cantado, o meu amante estaria ainda nos meus braços
Além desses temas existe anda a preocupação com a
morte iminente, com a perda do amado ou do filho em combate, mas pairando acima
da dor por essas perdas, está a preocupação com o heroísmo e com a honra:
Que poderás tu fazer
senão bater-te?
Submisso não serias
mais que escravo de um escravo
Um mártir é como um
relâmpago que brilha e depois se extingue
O que morre em casa só
estraga as camas
Para ti, a poeira, mas
nunca mais a minha boca:
Escondeste-te quando os
homens partiram para o combate
Vai combater a Kabul
meu amor
Para ti guardarei
intactos o meu corpo e a minha boca
Filho, se desertares da
nossa guerra
Eu amaldiçoarei até o
leite dos meus peitos
Os heróis permanecem
vivos
Só os traidores perecem
para sempre
Para ti, a minha boca
inteira
Só a darei ao guerreiro
vencedor!
E
este poema hamletiano:
Se a hora não chegou, a
morte não virá.
Mesmo que o mundo arda,
amor, não tenhas medo
Através destes poemas podemos então discernir as
atitudes das mulheres afegãs de ontem e de hoje perante os dramas eternos que
afligem o seu gênero e, também, o seu povo através dos tempos. Nisto, estes
poemas não são muito diferentes daqueles sobre os quais se debruça Ria Lemaire
(1990. pp13-26), no seu ensaio intitulado “A canção de Malmaridada”, no qual
ela analisa a representação do casamento na poesia popular (grifo da
autora), ao mesmo tempo em que demonstra como se desenvolveram os novos códigos
de comportamento amoroso entre homens e mulheres, através dos séculos, e consequentemente,
as relações de poder entre os sexos, no decorrer dos séculos, na Europa, até a
chegada do casamento moderno monogâmico a partir do século XI. Antes disso,
diz a autora, “vários tipos de casamento coexistiram no mundo indo-europeu”
(p.15).
“O tema da canção da malmaridada é o da
infelicidade da mulher malcasada e das emoções provocadas por essa situação
triste.” (p.16) Ria Lemaire distingue 4 tipos de cantigas:
1. as cantigas cantadas pelas próprias malcasadas,
predominantemente líricas;
2. as canções cantadas por homens:
predominantemente narrativas;
3. canções religiosas;
4. cantigas de ninar.
Este gênero literário, ainda segundo Ria, que pode
ser encontrado desde os primeiros manuscritos medievais, desapareceu com o fim
da Idade Média e só sobreviveu na tradição oral.
Para efeito de comparação com os landays afegãos
ressaltaremos apenas o primeiro tipo dessas canções medievais. “a malmaridada
anônima cantada por mulheres”.
Predominantemente lírica, cantada por voz solo
dialogando com um coro de mulheres. São canções de dança, compostas
originalmente por mulheres, para serem cantadas para e com outras mulheres.
Nessas canções há três actantes:
1. o marido ruim, feio, velho, ciumento, que maltrata
a mulher
2. a mulher, geralmente mais jovem
3. o namorado/amante escolhido com o qual ela
sonha.
O comportamento da malmaridada expresso nas canções
do primeiro tipo é sempre assim: se você for malmaridada, não fique em casa
chorando, revolte-se contra o marido ruim. Fale, cante com as outras mulheres,
vá ao ar livre, escolha um amante e seja ativa, como ele, no amor. (p.18)
Nos exemplos que se seguem, podemos constatar a
semelhança de atitude entre as malmaridadas e as afegãs, ambas vítimas de
casamentos desiguais, forçados e sem amor:
1.
I hope God will not give me the desire
To love my husband
As long as I have a
lover
As I have chosen him
Gallant, brave and
handsome
Sociable, courteous and
wise
But my husband enrages
Knowing his damage
And he wants to know
To whom I have promised
my love
I have answered:
You villain, with your
foolish face
You will not know today
Whose lover I am.
2.
That’s how a married woman must go to her lover
That’s how a handsome
married woman goes to her friend
3.
It’s very annoying, my dear sister
When the jealous
husband assaults me in bed
Then I would prefer to
be outside
In the meadow, the wood
or the forest
With the man who always
Served me and loved me.
1. Espero
que Deus não me dê o desejo
De amar meu marido
Enquanto eu tiver um
amante
Que eu escolhi
Galante, corajoso e
belo
Sociável, cortês e
sábio
Mas meu marido se
enfurece
Sabendo de suas perdas
E ele quer saber
A quem eu prometi meu
amor
Eu respondi
Seu vilão, com sua cara
boba
Você não ficará sabendo
hoje
De quem sou amante.
2. É
assim que uma mulher casada deve se encontrar com seu amante
É assim que uma bela
mulher casada vai se encontrar com seu amigo
3. É
muito aborrecido, minha querida irmã
Quando o marido
ciumento me assedia na cama
Então eu preferiria
sair
Para os prados, bosques
ou para a floresta
Com o homem que sempre
Me serviu e amou.
Embora não encontremos nesses poemas o mesmo tom
trágico, nem a urgência presente nos landays, há alguns elementos como a
impaciência e o desprezo pelo marido (ciumento e tolo) e a mesma preferência
pelo amante, (sempre belo, cortês e sábio), que podem ser igualmente
encontrados nas malmaridadas e nos landays.
Este breve estudo nos mostra elementos de
confluência entre mulheres de tempos e regiões distantes e distintas no tempo,
espaço e momento histórico, o que nos leva a concluir que a opressão sempre conduz
à revolta e à subversão. Quanto maior a tirania, maior é o desejo de
compensação e vingança e isto é igualmente verdadeiro em se tratando de gêneros
ou de povos. No entanto, mesmo lamentando que seres humanos sejam submetidos a
condições tão injustas, temos a celebrar o legado artístico que tais situações
invariavelmente nos legam.
REFERÊNCIAS:
HOSSEINI,
Khaled. A cidade do sol. Trad. Maria Helena Rouanet. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2007.
________________
. O caçador de pipas. Trad. Maria Helena Rouanet. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006, 2006.
LEMAIRE,
Ria. “A canção de Malmaridada” in A mulher na Literatura vol II, org.
Nádia Battella Gotlib, Belo Horizonte, Imprensa da Universidade Federal de
Minas Gerais, 1990.
LOGAN,
Harriet. Mulheres de Cabul. Trad. Celeste Marcondes. Rio de Janeiro: Ediouro,
2006.
MAJROUH,
Sayd Bahodine. A voz secreta das mulheres afegãs: o suicídio e o canto. Versão
de Ana Hatherly. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2005.
RAHIMI,
Atiq. Syngué sabour. Pedra-de-paciência. Trad. Flávia Nascimento. São Paulo:
Estação Liberdade, 2009.
SEIERSTAD,
Asne. O livreiro de Cabul. Trad. Grete Skevik. Rio de Janeiro: Record, 2006.
VELTER,
André. “O explorador da meia-noite” Posfácio in A voz secreta das mulheres afegãs
O suicídio e o canto. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2006, pp. 72-88.
WEB
SITES:
http://pt.shvoong.com/books/1765799-mil-uma-noites/
Acesso em 17/7/2009.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Afeganist%C3%A3º
Acesso em 17/7/2009.
http://pt.wikipedia.org/wiki/HistC3%B3ria_do_Afeganist%C3%A3º
Acesso em 8/7/2009.
Maria das Vitórias de Lima Rocha, “Landays: a voz secreta das mulheres
afegãs”. In: XIII Seminário Nacional e IV Seminário
Internacional Mulher e Literatura – Memórias, Representações, Trajetórias. Natal/RN-Brasil, 2, 3 e
4 de setembro de 2009. Disponível em: https://www.academia.edu/45316287/Anais_do_XIII_Semin%C3%A1rio_Nacional_e_IV_Semin%C3%A1rio_Internacional_MULHER_E_LITERATURA_Mem%C3%B3rias_Representa%C3%A7%C3%B5es_Trajet%C3%B3rias_SESS%C3%95ES_DE_COMUNICA%C3%87%C3%83O
https://www.shamsiahassani.net/ |
CARREIRO, José. “Landays
- A voz secreta das mulheres afegãs”. Portugal, Folha de Poesia, 17-08-2021.
Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2021/08/landays-voz-secreta-das-mulheres-afegas.html