O meu olhar azul
como o céu
É calmo como a
água ao sol.
É assim, azul e
calmo,
Porque não
interroga nem se espanta...
Se eu
interrogasse e me espantasse
Não nasciam
flores novas nos prados
Nem mudaria
qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo.
(Mesmo se
nascessem flores novas no prado
E se o sol
mudasse para mais belo,
Eu sentiria
menos flores no prado
E achava mais
feio o sol...
Porque tudo é
como é e assim é que é,
E eu aceito, e
nem agradeço,
Para não parecer
que penso nisso...)
Alberto Caeiro, Poesia, edição de Fernando Cabral Martins e
Richard Zenith, 3.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2009, p. 57.
QUESTIONÁRIO
1. Relacione as comparações presentes nos
dois primeiros versos com o sentido do quarto verso.
2. Selecione a opção de resposta adequada
para completar a afirmação abaixo apresentada.
No âmbito da argumentação desenvolvida ao
longo da segunda e da terceira estrofes, o recurso à …, nos versos de 8 a 11, evidencia a ideia
de que é pela visão que se pode ...
(A) metonímia … alterar a perceção da
natureza
(B) antítese … conhecer a beleza objetiva
da natureza
(C) metonímia … conhecer a beleza objetiva
da natureza
(D) antítese … alterar a perceção da
natureza
3. Explique a aparente contradição presente
nos versos de 12 a 14.
CENÁRIOS DE RESPOSTA
1. Devem ser abordados os tópicos
seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒ nos dois primeiros versos, o sujeito
poético compara o seu olhar ao «céu» e à «água ao sol», sugerindo a ideia de
tranquilidade;
‒ no quarto verso, o sujeito poético exprime
a razão pela qual o seu olhar é «azul e calmo», afirmando que não questiona nem
reage emocionalmente ao mundo tal como ele existe/afirmando que se limita a
aceitar o que vê.
2. (B).
3. Devem ser abordados os
tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒ no verso
12, o sujeito poético começa por descrever a sua visão do real como objetiva e
despida de pensamentos e emoções/o sujeito poético começa por expressar a ideia
de que a natureza é constituída apenas por aquilo que os sentidos captam/o
sujeito poético começa por expressar a aceitação serena do mundo, sem o
questionar;
‒ nos versos
13 e 14, o sujeito poético põe, no entanto, em evidência o facto de essa visão
ser resultado de uma opção consciente (logo, pensada), admitindo que faz de
conta que não pensa.
Fonte: Exame Final Nacional de Português, Prova 639, 1.ª Fase, Ensino Secundário - 12.º Ano de Escolaridade, 2021. Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho. Prova disponível em https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/07/EX-Port639-F1-2021-V1_net.pdf e Critérios de classificação em https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/07/EX-Port639-F1-2021-CC-VD_net.pdf
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Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
CARREIRO, José. “O meu
olhar azul como o céu, Alberto Caeiro”. Portugal, Folha de Poesia,
15-07-2021. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2021/07/o-meu-olhar-azul-como-o-ceu-alberto.html
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