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| María Gómez Lara © Daniel Mordzinski https://www.blogfundacionloewe.es/2015/04/maria-gomez-lara-poetry-playing/ |
AMANHÃ
terás tempo de recuperar a cara que te pões
recolherás do chão os gestos cordiais bom dia obrigada
podias ser amável e passar-me o sal
e acomodá-los-ás onde sempre
por favor com muito gosto deixa-me ajudar-te está pesado
hoje esquecê-los-ás
sem ter para onde correr carregas contigo com a tua sombra
dobram-se-te os joelhos
as tuas costas torcem-se
fogem-te as palavras
e é melhor calar fechar a porta
já amanhã
aprenderás de novo a falar
primeiro tartamudeando depois sílabas frases
bons dias muito obrigado que tal a noite
e outra vez
irás moldando as feições com as mãos
caminharás quase gatinhando se fosses tão amável não te apresses
irás sobrevivendo
hoje podes enrolar-te aninhar-te
falar sozinha com ele que já amanhã
María
Gómez Lara, “I – Nó de sombras”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
MUDANÇA
Raras as vezes em que ajuda
nas tarefas pesadas
como mudar os móveis,
carregar as malas,
ou percorrer caminhos com sapatos apertados
WISLAWA SZYMBORSKA, «Algo sobre a alma»
Diz Szymborska que a alma
se aborrece com as azáfamas
não percorre armários
não empurra caixas
Oxalá seja esta vez a rara vez
Agora
que mudei cidades
e livros
e maletas
e atravessei a terra
carregada de bagagem
e cheguei a este país de estrangeiros
não seria demais
uma alma
que me deitasse uma mão
levando algumas coisas
A minha alma
se a tenho
se a tive
está perdida nestes ossos fracos
que não levantam
nem uma mesa nem uma cadeira
está atolada neste corpo adoentado e distraído
que pouco sabe
pouco entende
pouco carrega
e até se leva a si mesmo com duras penas:
um dia
por exemplo
sobram-lhe as mãos
não vê onde pô-las
outro
em troca
tem uns pés
que acordam
estranhos à terra
crêem-se asas
mas não voam
tentam e tropeçam
e no outro
as costas deslocam-se
embora não levem nada
talvez
lhes pese o ar
talvez nesses dias
a alma apareça:
endireita-lhe as costas
cruza-lhe as mãos
empurra-lhe os pés para que avancem
Conviria
então
mudar-me
num dia desses
(não antes
nem depois)
quando possa caminhar
com os sapatos apertados
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
FUGAS
para correr
escolhes ser de vento ser uma árvore talvez
fixar raízes
no ar
decides ancorar-te precisamente
longe da areia ao mar sem fundo a umas ondas que não deixem
de cair
não se detêm
vejo no ar as tuas raízes
enquanto foges imóvel ainda
e invento uma maneira de ficar
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
***
EMILY
DICKINSON
Nasci no mesmo dia que Emily Dickinson
quase dois séculos depois
e as coisas mudaram um pouco
desde então
não tive
a sua integridade perante a dor
nem o seu ouvido subtil para as revelações
vivo num prédio alto
onde não chegam os pássaros
só um ruído de sirenes
que não canta
é uma cidade imensa
aqui todos somos Ninguém
mas não aprendemos
a guardar o segredo:
ao caminhar regamos
o nosso nada nas esquinas
Nasci com a pele escura
de um país do trópico
e vim procurá-la neste tumulto
tão distante da sua voz
que se enredava nos prados
imagino-a calando-se nos ladrilhos
vejo os seus manuscritos de letras estreitas
como ramos de tinta negra
que se quebram
em qualquer capa
na lista das compras
e se voltam a enlaçar
para inventar o mundo
Nasci num dez de dezembro como ela
e não trouxe esse silêncio
não obstante
graças ao esconjuro
de repetir os seus versos
enquanto mudam os semáforos
estou a flutuar
ainda
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
***
PREOCUPAÇÕES
preocupa-me sempre a matéria:
a poesia que se completa aos pedacinhos
golpeando pedras
agarrando-se à terra
escrita com os ossos com o sangue
preocupam-me os cotovelos os joelhos
os lugares onde nos vamos quebrar
onde estamos
frágeis
e inteiros
preocupa-me a dor e os calcanhares
caminhar em bicos dos pés não fazer ruído
e tapar a cabeça
ou desandar
preocupam-me os dedos sobretudo
quando ficam dormentes com o frio
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
***
TRANSFORMAÇÕES
e a dor mudou-me outra vez
fiz-me forte pus velas rearmei a casa
a dor foi-me empurrando para a frente
agora cozinho verduras arrumo em prioridade os papéis
urgente apura-te apura-te pode esperar ainda mas corre
importante
importante foi curar-me com palavras
importante foi fugir de ti
ir ganhando com a pena as batalhas
ser logo pontual
entregar a tempo os ensaios ir ao banco
fazer café pela manhã
esquecer num passo hesitante com as mãos como se gatinhasse
trabalhar na biblioteca
sair tão tarde que vamos fechar menina
e não me deter a chorar
comer lentilhas cenouras reinventar-me
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
***
LEMBRAS
COMO ERAS QUANDO
TE
PARECIAS COM O FOGO
então levava-te empurrava-te fazia-te cair
uma força
enorme que não entendias como nem porquê nem até quando nem onde desembocava o
precipício
logo aprendeste:
pouco a pouco estudaste as minúcias de como lançar raízes
para que não te tirassem da terra
ensinaste os teus ossos a converterem-se em ramos
fizeste-te sentir madeira
e que a pele remendada de tantas cicatrizes
se estirasse se alargasse se dobrasse mas não
nunca quebrar-te outra vez
agarrar-te à tua casca
não te desdizer não ter
que afastar os teus passos não gritar
melhor
ficar-te quieta
e lembrar agora
quase de longe
quase olhando a outra
e não obstante tu
que estás a salvo no fim
embora arrastes ainda
o fogo nas cinzas
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
***
AGORA A
TEMPO
ia chorar
por ele e por mim e por todos os que andamos perdidos sem retorno
mas desta
vez não me· vou abaixo estou a tempo
desta vez
já sei e ainda não é tarde embora pareça que ele vai correr que não está que
nunca esteve que os seus passos são pegadas que foi que não pode ficar
porque
não porque não porque não quer
embora
sim queira embora às vezes mo diga e me olhe de certa maneira
como se
eu carregasse o mundo para o ajudar por um instante com o seu peso com a sua
própria sombra
como se
eu também fosse um pouco tonta como da outra vez como antes com o outro ele que
não era ele mas o mesmo sentido de estar a fugir perpetuamente a fugir como quem
fica e não há quem possa perseguir atalhar rastrear semelhante vontade de fuga
volto a
ele que me olha às vezes como o outro ele como se eu fosse um pouco tonta outra
vez retrocedendo sem ter aprendido nada da última queda de ter que derrubar-me
e reerguer-me com cinzas e gritar e procurar-me entre o nada e reconstruir-me
como pude enquanto o tempo lá fora não passava
como se
eu fosse outra vez suspender-me para querer ficar nos seus braços para sempre
mas mas
mas
aqui há
um mas e três e quatro aqui salvo-me porque desta vez embora não pareça embora
queira chorar por ele e por mim e por todos os que andamos perdidos sem retorno
desta vez
não
quebro não me engano estou alerta que se vá e não volte nunca mais
que se vá
que se vá antes de me quebrar desta vez não quebro que se vá se a história é
igual e já sabemos algo se aprende dos golpes já sabemos desde antes que não
vai abrir a porta não me vai deixar chegar
María
Gómez Lara, “II – Mover cidades”. Nó das sombras, Lisboa, Glaciar, 2015.
Tradução: Nuno Júdice.
Las
formas de lo que no es amor
FRONTERIZOS (4)
Néstor Mendoza
El
lugar de las palabras asume una postura discursiva, la segunda persona, para
señalar un mal que se ensaña, o se ensañó, contra la autora: «tú que conociste
todas las formas de lo que no es amor». Un diagnóstico médico, el menos favorable
posible, es usado como insumo para escribir estos textos deliberadamente
descarnados. Un proyecto de escritura en el que el motivo es la persona y su
fragilidad. Pero no es una fragilidad alegórica: quien escribe padece y ve su
vida amenazada por una patología real y no imaginada. La imaginación llega como
testimonio creador (al recrear el peligro en el poema), o como una manera de
dar fe de aquel proceso. Allí está la radiografía y la descripción que hace
María Gómez Lara (Bogotá, 1989). El lugar de las palabras es un epíteto para no
decir el lugar del cerebro donde se procesa (¿se produce?) el lenguaje. El
lugar de las palabras, como nombre, quiere sugerir o encubrir. Quiere ser
elíptico. Pudiéramos decir también: El hogar de las palabras. Lo que se propone
la poeta bogotana es uno de los tantos esfuerzos por nombrar de nuevo, nombrar
después de la batalla; en este caso, la estrategia para suprimir el corazón que
crece en una parte de su cerebro. La poeta descubre que la acción de los verbos
(la conjugación), y no el simple nombrar, es el recurso que puede salvarla:
«qué curioso que el lenguaje se mida con acciones / que hacer sea más fuerte
que nombrar / yo pensaba que las palabras más palabras / eran los nombres de
las cosas». El lugar de las palabras se construye con poemas sin puntuación, la
sintaxis facilita la enumeración de frases asociadas al dolor y al miedo. El
decir de María Gómez Lara es terso, líquido, con vocación de cascada. En
algunos casos aparece el relato sencillo de lo que ocurre o va a ocurrir en la
sala de operaciones. La poeta intenta comprender qué sucede en su cerebro, en
esa cicatriz con forma de corazón, y qué sucederá luego del tejido cerebral
inflamado y la anestesia. Ella teme por sus palabras. No quiere perder ninguna.
Perder las palabras como si se perdiera la propia vida. «También la verdad se
inventa», escribe Antonio Machado, y pareciera la misma motivación que se
plantea María Gómez Lara. La verdad no en un sentido de objetividad
periodística. Una verdad que sólo compete a la autora y su entorno familiar,
pero que al salir de los informes médicos y tratamientos e intervenciones
quirúrgicas, pasa al ámbito de lo público. La literatura nace cuando escribimos
y convertimos los prejuicios en tema. Cuando se convierten los dolores en tema.
Volver al cuerpo: esto lo hace María. Vuelve con elegancia pero sin concesiones
a su cuerpo, al mal que le diagnostican. Un tumor. Brain tumor unit.
EL LUGAR DE LAS PALABRAS
Para el Doctor Javier
Romero
que me encontró el lugar
de las palabras
I
nunca había pensado
que las palabras
ocupan un espacio en el cerebro
un rincón preciso
justo irremplazable
hay un lugar en donde están almacenadas
tampoco había entendido
que todos los cerebros son distintos
que cada uno guarda el lenguaje donde puede
tú por ejemplo
dice el médico
lo debes tener en todas partes
vamos a buscar
exactamente
dónde aparece tu lenguaje dónde es que lo guardas
vamos a dar con el lugar de las palabras
para ver si está comprometido
el examen es una resonancia
(ya me han hecho tantas reconozco la cápsula cerrada y aún me
aturden los ruidos)
pero esta vez vas a pensar palabras piénsalas no las digas en
voz
alta
vas a ver en la pantalla una palabra por ejemplo bicicleta
y piensas bicicleta pedales timón cadena
para rastrear tu lenguaje
lo más importante
es la generación de verbos
ves por ejemplo la palabra puerta
y piensas todos los verbos que puedas mientras más mejor
pienso abrir cerrar derrumbar deshacer levantar empujar jalar
portazo (no es un verbo pero es linda la palabra portazo
concéntrate maría piensa un verbo)
door
open close that’s about it
no olvides no mezclar los idiomas si ves la palabra en inglés
piensa en inglés mantenlos separados
vamos a hacerte un examen bilingüe
primero en español luego en inglés
you are going to see the first words in Spanish
en español se me ocurren más verbos
(puedo actuar con más ímpetu con más precisión
qué curioso que el lenguaje se mida con acciones
que hacer sea más fuerte que nombrar
yo pensaba que las palabras más palabras
eran los nombres de las cosas)
en todo caso el examen bilingüe
es porque tampoco sabía
que el cerebro guarda en un lugar la lengua materna
y en otro distinto los idiomas aprendidos
depende de la edad en que se aprendieron
(yo por ejemplo aprendí tarde y tengo acento en todos los
idiomas)
el cerebro además procesa de manera diferente la información
que sabe y la que no sabe
(yo por ejemplo no sé cuántos jugadores tiene un equipo de
basketball: no sé en español no sé en inglés y quieren que
responda que piense algo que piense ahora la respuesta
pienso entonces
cualquier número
supongo que no me estarán midiendo lo que sepa de deportes
porque la verdad es que no sé nada así que al menos en eso
estoy tranquila: ahí no hay nada que perder)
quieren encontrar todas mis palabras
incluso las que uso para traducirme en esta tierra helada
can I think in Spanish?
le pregunto a la enfermera
me dice que sí afortunadamente
primero porque en inglés no conozco
el vocabulario específico de las bicicletas
ni sé nombrar las partes de una puerta
y sobre todo porque si hay que escoger
me quedo con mis palabras en español
de eso no cabe duda
prefiero salvarlas mil veces
II
por alguna razón
siempre pensé que las palabras
sólo sufrían de amenazas metafóricas
a diferencia del cuerpo o incluso el corazón
(porque ambos empezaban a romperse con el mundo)
y los oía quebrarse
sentía los huesos rotos
sentía la vida hecha polvo se anunciaba el dolor desde antes
cuando oía el golpe el estruendo el portazo la caída
por ejemplo
cuando llegaste tú
las palabras eran otra cosa
las palabras eran mías
y si se rompían yo podía repararlas
por ejemplo cuando no sabía
cómo nombrar la herida que dejaste
para empezar a cerrarla
escribí y escribí y escribí
tantos poemas
que no se parecían a tu nombre
que no eran suficientes
que no trazaban la forma de tu hueco
palabras y palabras y palabras que no bastaban para borrarte
pero ocupaban un espacio en la página
y al verlas dibujadas
comenzaba a sanar
al rodearte con ellas
empezaba a convertirte en cicatriz
III
en cambio ahora
hay una bomba de tiempo en mi cerebro
que quién sabe cuándo explota
quién sabe cuándo se transforma
puede ser nunca o mañana o en un año
quién sabe
cuándo
empieza
a crecer
y a invadir
el territorio
donde viven
mis palabras
a desplazarlas
a acorralarlas
a doblegarlas
a arrinconarlas
¿dónde las voy a poner
si están comprometidas?
¿existirá algún lugar en donde pueda guardarlas?
¿cómo las protejo
cómo las escondo?
¿en dónde me resguardo
si he perdido mi refugio?
¿dónde vivo yo si las palabras son mi casa?
https://www.revistaaltazor.cl/maria-gomez-lara-2/
ISSN 2452-5332, 1
ÉPOCA / AÑO 5 / JUNIO / 2025
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| María Gómez Lara, por Nuria Mendoza |
María Gómez Lara: la poeta colombiana que da voz a los
personajes de “Don Quijote”
Una de las poetas nacionales más reconocidas
a nivel internacional, doctora en poesía y maestra de escritores en Madrid,
habla de su nuevo libro “Don Quijote a voces”, publicado en España por la
editorial Pre-Textos.
31 de marzo
de 2024 - 03:00 p. m.
¿Por qué Milán, Italia, para presentar tu
nuevo libro, “Don Quijote a voces”?
Porque me invitaron al Instituto Cervantes
de Milán, justamente para un seminario especializado en la literatura española
del Siglo de Oro con perspectiva de género. También me invitaron a dar una
clase y a hacer una lectura. Me pareció que era el escenario perfecto para
hacer la primera presentación del libro.
Soy testigo de que te gozas la lectura de
“Don Quijote de la Mancha”. En mi caso lo sufrí en el colegio como una tarea
impuesta y solo en la universidad pude disfrutarlo. Explícame ese amor por la
obra de Miguel de Cervantes y tu decisión de rendirle un homenaje poético.
El Quijote es uno de mis
libros preferidos y me parece muy divertido. Es más, me echan de las
bibliotecas porque no me puedo parar de reír mientras lo leo. Hay toda una
literatura que nos imponen en el colegio o en las instituciones y nos dejan esa
concepción de que puede ser algo difícil, antiguo, complicado. Pero a mí me
parece muy divertido y también muy profundo, porque nos habla de cosas que
todavía son vigentes, como el amor a los libros, la amistad, el poder de la
literatura y, desde el contexto de los libros de caballerías, siglos después
nos habla de la condición humana. Así la poesía y la literatura nos remueven
valores universales. (Recomendamos: Videoentrevista de Nelson Fredy Padilla a Piedad
Bonnett, sobre los diez años del libro a raíz del suicidio de su hijo).
Lo que me llamó la atención de este nuevo
poemario es que le das vida poética a los personajes de “Don Quijote”, caso de
Dulcinea.
Lo que pasa es que Don Quijote ya
tiene mucha poesía adentro. Hice muchos seminarios sobre Cervantes y en uno de
estos empecé a pensar en la función de la poesía en Don Quijote. Me
interesó sacar las voces, poner a los personajes en situaciones en donde ya
estaban, pero que eran poéticamente interesantes y convertirlas en voces
poéticas. En el caso de Dulcinea, fue la que más me tuve que inventar, porque
aunque sea la protagonista, no dice casi nada en el libro, no tiene voz.
Entonces es un intento de pensar qué habría dicho ella.
Lee ese poema, por favor.
Se llama “Dulcinea encantada” y está basado
en el episodio de la cueva de Montesinos, en que Don Quijote dice que vio a
Dulcinea encantada y la iba a desencantar:
dice que me vio en una cueva
yo no sé de encantamientos dulcinea me
grita al verme dulcinea del toboso
y habría que buscar un nombre
aldonza lorenzo me pusieron aldonza aldonza
me llamaban mis padres como un eco de ellos: lorenzo corchuelo y aldonza
nogales porque se aferraban a sus nombres de árboles y desde niña me inventaron
un nombre para que fuera su extensión y no mi matiz exacto de follaje mi grosor
de las ramas mi textura en la corteza y yo quiero galopar seguir andando subir
rápido al burro y avanzar hacia adelante
él en cambio me dice la fermosa la soberana
la excelentísima señora de mis pensamientos no se ha fijado en mi cara no me ha
oído
y jura que unos gigantes van a venir a
buscarme para contarme no sé qué de unas batallas de unos vencidos de unas
armaduras
dice que me vio en una cueva
con una multitud de encantados errantes
que vivíamos todos en vigilia
que no era sueño ni era duermevela sino
estar con los ojos siempre abiertos
y la mirada en otra parte
la mirada perdida
atascada en un lugar en donde al fin
olvidáramos los nombres repetidos
ni aldonza lorenzo ni dulcinea del toboso
ni la señora de nadie ni la labradora simple
un lugar en donde yo fuera yo
sin la fantasía prestada
sin salir de un libro ajeno (todo el mundo
me nombra y no aparezco cuándo se vio nunca escrita una protagonista tan
volátil tan enclenque de relato así de impuesto)
ni de la vida prosaica esta vez
escribir mi historia
reconciliar mis realidades
construirlas más allá al otro lado
de las sílabas de mi nombre
ni el que escogieron mis padres
ni el que inventó él
sino yo abrir los ojos al fin abrirlos y no
volver a cerrarlos
abrir la boca para gritar déjeme en paz
señor para gritar soy yo o para convertirme en esa mujer que él inventaba esa
que amaba tanto y defendía con su vida con su honra con la fuerza de su brazo
esa por la que se estrellaba y se golpeaba y se daba a trancazos contra el
mundo
o convertirme mejor en quien a mí me
parezca
dibujarme a mí misma
imaginarme nombrarme
elegir mis palabras
ser mi propia narradora
yo en primera persona y no en tercera
ausente en tercera silenciada
mirar para allá
hacia donde tenga voz
dice que me vio en una cueva y no sé si
quedarme en esa cueva o si él estaba dormido
loco dentro de su locura
dice que me vio en una cueva y no sé de encantamientos
pero quiero desencantarme sola
que se vaya que se vaya él con su escudero
llama ahora a sancho panza que se vaya con sus nombres y apodos y pronombres
con sus frases enrevesadas que se busque otra señora que les busque a sus desvelos
otra dueña que atraviese otro lugar que no me quiebre el camino para seguir
andando
al fin descantarme que se vaya o escoger mi
encantamiento
ir justamente a donde me lleve yo
que me guíe el mapa exacto que tracen mis
palabras
Me gusta el ritmo y la musicalidad. Hablas
de la importancia de buscar las palabras. Duro reto encontrar las precisas para
un homenaje a “Don Quijote”. ¿Fue difícil?
Complicadísimo. Como ves, en el poema hay
algunos arcaísmos. Hay palabras de Don Quijote como fermosa,
que ya no se dice así y luego debía buscar la musicalidad del poema a través de
la mía, del español bogotano que hablo yo. Tenía que encontrar un equilibrio
que mostrara esa relación con el universo de Cervantes, pero al mismo tiempo
que el poema estuviera vivo, claro, y para que el poema pueda estar vivo, hay
que darle la musicalidad, que es más natural para mí. Si trataba de escribir un
poema totalmente con el lenguaje de Cervantes, iba a salir como una cosa falsa,
impostada.
¿Tu proceso creativo incluye escribir pensando
en que el texto será declamado?
Para mí es fundamental la musicalidad,
entonces toda la poesía que escribo tiene de fondo la voz. Cuando escribo un
poema lo leo muchas veces en voz alta y mientras lo voy reescribiendo lo sigo
leyendo en voz alta para asegurarme de que la musicalidad salga como yo quiero.
En esta en particular era muy importante porque quería crear voces de distintos
personajes. Eso viene de manera intuitiva, más cuando uno escribe un poema en
verso libre. Cada poema encuentra su música y esa música solo existe para ese
poema. Todos los poemas que escribimos son el primero que hemos hecho, en la
medida en que en que hay que encontrarle la música.
¿En plena era multimedia, de muchos sonidos
y de ruidos, por qué insistes en que las personas vuelvan a oír poesía
declamada?
Justamente por eso, porque la poesía es el
género literario que más se acerca a la voz. De hecho, la poesía empezó siendo
cantada. La poesía es muy musical. La voz poética es lo que define a un autor o
autora. Creo que en este momento en que hay tanto ruido en el mundo, la poesía
puede ser un sonido que va más allá del ruido.
Desde que te conocí de niña, porque eres la
hija de Patricia Lara, mi colega periodista y escritora, me llamó la atención
tu pasión por la poesía. En tu colegio recitabas con propiedad y luego de
graduaste en Literatura en la Universidad de los Andes. ¿Por qué estudiar
literatura y ser poeta en el siglo XXI?
Mi mamá me cuenta que, Desde antes de tener
memoria, yo estaba obsesionada con la poesía. Es decir, no me acuerdo de quién
era yo o de quién podría ser yo sin la poesía. En eso también tuve mucha
suerte, porque ella me estimuló desde chiquita y siempre estuve escribiendo,
leyendo poesía. La poesía tiene que ver con lo que yo soy. Entonces, cuando escogí
una carrera para estudiar, pues ni siquiera me lo pensé. Para mí no había otra
posibilidad, porque la literatura es lo que más me hace feliz en el mundo y es
lo que lo que sé hacer: leer y escribir. Y no sé hacer muchas otras cosas. En
el siglo XXI o en cualquier otro siglo donde yo viviera me dedicaría a la
literatura, no me imagino otra manera de estar en el mundo. Ahora, en este
siglo, la literatura es muy importante porque la pandemia nos demostró que lo
que nos salvó fue el arte. Qué habría hecho toda la humanidad encerrada en sus
casas sin libros, películas, sin música. El arte nos hace humanos y la poesía
representa el poder del lenguaje convertido en creación artística.
Cuando dices “estar en el mundo”, recuerdo
un verso del poeta venezolano Eugenio Montejo (1938-2008) en “Terredad”, que
fue un punto de referencia importante en la búsqueda de tu camino literario.
Sí. En mi tesis de doctorado en poesía uno
de los capítulos es sobre Eugenio Montejo y escribí como 30 páginas sobre lo
que podría ser ese estar en la tierra, nuestra condición de estar hechos a la a
la vez de cuerpo y de tiempo, entre lo efímero y permanente, reconociendo
nuestra finitud. Para mí, Eugenio Montejo fue importantísimo y sigue siendo
importantísimo. En Pre-Textos, la editorial española que me publica el libro,
acaban de sacar su obra completa. Te recuerdo que en Los Andes yo iba a hacer
mi tesis de pregrado sobre la poesía en Don Quijote y me la
iba a dirigir Amalia Iriarte, una gran profesora experta en Cervantes (mi libro
está dedicado a ella y a Mary Gaylord, que fue la profesora que me dio
Cervantes en la Universidad de Harvard), pero un día entré a una librería y me
encontré con la obra de este poeta que no sabía que existía y me conmovió
profundamente. Fui donde Amalia y le dije: sé que habíamos quedado en esto,
pero ahora quiero escribir sobre un venezolano. ¿Me la diriges? Y Amalia me
dijo que sí. Amo a Montejo, pero de todas maneras me quedé con la idea de
trabajar la poesía en Don Quijote y en vez de hacerlo en forma
de tesis o de ensayo académico, lo acabé haciendo en forma de libro de poemas.
Me haces acordar del escritor italiano
Antonio Tabucchi, a quien le cambió la vida el día que descubrió la poesía de
Fernando Pessoa, a través de “Tabaquería”, y terminó viviendo y muriendo en
Portugal, hasta pidió ser sepultado cerca a él.
Yo también adoro “Tabaquería”. Me encanta,
me gusta mucho Pessoa. Escribí un poema que se llama “Lisboa”, que es una
especie de homenaje a “Tabaquería” y a Pessoa, porque a mí me pasa que cuando
escribo lo hago sobre cosas que me importan mucho y me conmueven mucho. Cuando
a mí la literatura me emociona, me siento en la necesidad de escribir también.
Aparte de esa pasión que te mueve, has
tenido una gran perseverancia para aprender del oficio, porque después de
estudiar literatura en los Andes hiciste maestrías en la Universidad de Nueva
York y en Harvard y de esta última eres doctora en poesía. Por eso ahora
también te dedicas a enseñar en la Escuela de Escritores de Madrid, donde estás
radicada luego de trabajar en la Universidad Complutense. O sea, ¿se puede
vivir de la poesía?
Vivir es un poco amplio. No sé si vivir,
pero me dedico a eso porque es lo que más me gusta, lo que más tiene sentido
para mí. La otra cosa que me gusta mucho es enseñar. Me encanta ser profesora,
lo disfruto mucho, me llevo muy bien con los estudiantes y con las estudiantes
y siento que aprendo un montón al dar clases.
¿En tu travesía fue clave el Premio
Internacional Loewe de Poesía a la Creación Joven, que ganaste en 2015 por el
poemario “Contratono”?
Por supuesto. Estoy muy muy agradecida con
las personas de la Fundación Loewe. Haber ganado ese premio me abrió las
posibilidades para seguir escribiendo. Precisamente a Manuel Borrás, de la
editorial Pre-Textos, le interesó ese libro que salió publicado aquí en España
en Visor y fue una manera de empezar a dedicarme del todo a esto.
¿En qué ha cambiado tu método de trabajo,
tu mirada poética, desde ese primer poemario “Preguntas para el azar”, de 2007?
Bueno, ese tiendo a negarlo porque estaba
tan chiquita, jajaja, pero fuera de chiste, el trabajo de hacer un libro es
algo que se va aprendiendo haciendo libros, entonces va cambiando el método
porque también cada libro es distinto.
Otra gran la influencia fue la poesía de la
estadounidense Emily Dickinson (1830-1886), a quien le dedicaste un poema.
Es un poema corto sobre la casualidad de la
vida de que yo nací el mismo día que Emily Dickinson, mi poeta preferida, un 10
de diciembre. Te lo leo:
Nací el mismo día que Emily Dickinson casi
dos siglos después y las cosas han cambiado un poco desde entonces
no tuve su entereza ante el dolor ni su
oído sutil para las revelaciones
vivo en un edificio alto donde no llegan
los pájaros sólo un ruido de sirenas que no canta
es una ciudad inmensa aquí todos somos
Nadie pero no hemos aprendido a guardar el secreto:
al caminar regamos nuestra nada en las
esquinas
Nací con la piel oscura en un país del
trópico
y vine a buscarla a este estruendo tan
lejano de su voz que se enredaba en las praderas la imagino callando en los
ladrillos veo sus manuscritos de letras apretadas
como ramas de tinta negra que se quiebran
en cualquier envoltura en la lista de mercado y se enlazan otra vez para
inventar el mundo
Nací un diez de diciembre como ella y no
traje ese silencio
sin embargo
gracias al conjuro de repetir sus versos
mientras cambian los semáforos
estoy a flote
todavía. (…)
Con Pre-Textos publicaste en 2020 “El lugar
de las palabras”, donde convertiste en poesía esa experiencia durísima que
tuviste con el tratamiento de un tumor cerebral, que describes como “mancha en
forma de corazón perfecto, bien delimitada… lesión indeterminada en el lóbulo
frontal izquierdo”. ¿Por qué llevar al verso ese tipo de temas?
Pasar por una cosa de esas hizo que me
resultara inevitable escribir. Cada uno tiene su manera de lidiar con las
heridas y lidiar con el miedo, y en mi caso es la escritura. Ahí me refiero al
espacio físico del cerebro, donde está el lenguaje. Cuando estaba escribiendo
los poemas no tenía ni idea de que iba a hacer un libro, simplemente necesitaba
escribirlos en ese momento y volví sobre ellos después de mucho tiempo y distancia,
cuando ya había pasado todo y no era un drama, porque mientras estás pasando
por un trauma no lo puedes ver con perspectiva y no lo puedes transformar en
arte. Volví a editar los poemas y me di cuenta de que ahí había un libro que
representa que para mí escribir es una forma de vivir y una forma de
sobrevivir, independientemente de que publique o no publique.
En Milán y en Madrid te invitan a hablar de
literatura con perspectiva de género. ¿Cómo ha influido esa mirada en tu poesía
y cómo la incorporas a tu metodología como maestra?
Es importantísima, sobre todo porque yo soy
la que está mirando. Y también me importa mucho esta idea de darle voz a las
mujeres, que por una historia infinitamente larga de patriarcado aún no han
tenido suficiente derecho a la voz. La poesía entonces, que es fundamentalmente
voz, es una herramienta poderosísima para oír a quienes no han sido oídas. Mi yo
poético se parece a mí y yo soy muy feminista.
Qué opinas de la voz de las poetas
colombianas actuales. Recomiéndame a algunas de ellas.
Es que hay muchísimas. A mí me parece que
las poetas colombianas están haciendo cosas súper interesantes desde distintas
generaciones: por ejemplo, Piedad Bonnett, que fue mi profesora en la
universidad, pero también las poetas de mi generación, como Tania Ganitsky y
Amalia Moreno, María Paz Guerrero, Eliana Hernández, Andrea Cote. Me da mucho
miedo dar nombres y no decir el de todas las que están haciendo cosas
maravillosas. Me disculpo de antemano por los nombres que se me han olvidado.
Para terminar, dale voz a Marcela, esa otra
protagonista que en “Don Quijote” es de las voces más poderosas.
En el episodio que recreo de
Marcela ella habla de defender su libertad, su derecho a corresponder o no, a
escoger lo que quiere hacer con su vida. Ella no ha hecho nada y
están hablando de ella y juzgándola. Es una pastora de la que otro pastor se
enamora y ella no le corresponde y él se suicida, entonces la acusan de
asesina. Por eso ella da ese discurso diciendo que tiene derecho a su libertad,
que ella no lo mató, que simplemente no le correspondía y estaba en su derecho.
Lo más bonito es que convence a Don Quijote y él se pone de su lado y la
defiende. Este poema se llama “Marcela desamorada”:
a mí no me digan desdeñosa no me digan
cruel no me digan ingrata ni basilisco ni fiera
yo nací libre y libre soy
pues no he prometido nada a los pastores
que me siguen
ninguna falsa nunca les di esperanzas les
dije la verdad:
el amor no se fuerza el deseo es peregrino
y sólo llega cuando llega si es que un día aparece y coincidimos
nada me amarra a corresponder porque dicen
que me aman que se lleven sus cadenas
yo tengo mi voz yo tengo mi palabra yo
puedo pasear tranquila por los bosques solitarios conversar con los zagales con
las cabras
no estaré enferma de ausencia ni de celos
ni perderé el ritmo exacto de mis pasos
cuando no me persiguen ni me cantan cuando
camino en paz por la colina
si se quieren matar que se maten si se
quieren morir de amor que se mueran
yo no hice nada yo no escogí esta hermosura
que me pesa así ahora por tanto que me buscan tanto que me asustan me agobian
me asedian
no puedo respirar
y ellos no saben quién soy yo:
marcela
marcela libre de este cuerpo que tanto se
disputan
marcela libre de este cuerpo que los hace
creerse dueños de mi forma de andar sin seguirles el rastro
yo habría sido marcela sin esta cara tan
fermosa que persiguen
yo habría sido marcela sin rizos para
comparar con el sol o con el oro
sin dientes de perlas
sin ojos como estrellas
apagadas
yo habría encendido mi fuego
por las palabras que traigo para salvarme
para decir libre soy y libre seré siempre
yo no maté a grisóstomo él se mató solito y
que vaya a cantar si quiere a repetir sus versos de acento espantable decía en
su poema
a repetir sus versos tristes que no saben
de mí ni resuenan conmigo
ni fui yo la causante de esa herida
yo soy marcela por la voz
y las heridas las abren ellos al sólo querer
apropiarse de esta piel que me cubre
sin detenerse
un momento
a mirar
mis cicatrices




