terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Noite (Mensagem, Fernando Pessoa)

Mensagem, Fernando Pessoa

Terceira Parte - O Encoberto

Pax in excelsis

III – Os Tempos

 

Para a terceira subdivisão da Terceira Parte, Pessoa escolheu o título “Os Tempos”.

Não nos parece de todo inocente esta decisão. De facto, e após cuidada análise, vemos que Fernando Pessoa usara já esta expressão “Tempos”, anteriormente, no poema “Quinto Império” em “Os Símbolos”. Na 4.ª estrofe do referido poema ele diz-nos: “passados os quatro / Tempos do ser que sonhou”.

São pois, segundo a nossa opinião, “Os Tempos”, os Impérios, os quatro passados e o quinto, futuro, ainda por acontecer, mas já anunciado em profecia. Confirma-se também, pelo menos em parte, esta opinião pela simples razão de os “Tempos” serem cinco, como os Impérios.

Poderá não se encontrar sempre uma correlação direta entre os cinco Impérios e o conteúdo de cada um dos poemas dos “Tempos”, mas é clara a simbologia, sobretudo no Quinto Império (Quinto Tempo) a que corresponde o poema “Nevoeiro”.

Nuno Hipólito, As Mensagens da Mensagem: O Desvendar dos Mistérios: edição anotada e comentada. Lisboa, Parceria A. M. Pereira Livraria Editora, 2007

 



Primeiro

NOITE

 





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30

A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.

Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os ir buscar, e El-Rei negou.

Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.

Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
O Poder e o Renome –
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.

Mas Deus não dá licença que partamos.

 

 

Este poema, também dividido em três momentos, toma por base a história mitificada de três irmãos navegadores, os Corte-Real, dois dos quais (Gaspar e Miguel) se perderam no mar em busca um do outro, tendo, segundo Pessoa, o terceiro ficado impedido de ir em busca dos outros dois.

Pessoa conta a história nos dois primeiros momentos do poema e extrai a conclusão no último: os dois irmãos são agora os irmãos - símbolos do nosso nome: o Poder e o Renome que são, já, passado. Compete-nos a nós ir buscá-los, libertando-nos «desta vil /Nossa prisão servil.» Só que, tal como outrora o rei não dera licença de partir ao terceiro dos irmãos, também agora «Deus não dá licença que partamos.»

É assim, com esta amarga reflexão sobre o presente, que vai terminar Mensagem. - com Nevoeiro.

Amélia Pinto Pais, Para compreender Fernando Pessoa: uma aproximação a Fernando Pessoa e heterónimos: ensino secundário - [1.ª ed., 9.ª reimp.]. - Porto: Areal Editores, 2011

 

A Mensagem de Fernando Pessoa, anotada e comentada

 

Análise estilística do poema “Noite”, de Fernando Pessoa

Métrica: 5 sextilhas (o último verso da última sextilha está destacado). O primeiro, terceiro e sexto versos de cada estrofe são decassilábicos, o segundo e o quarto são hexassilábicos e o quinto é octossilábico. Há uma exceção: o quinto verso da última estrofe é hexassilábico.

 

Esquema rímico: Rima emparelhada, de ritmo irregular.

 

Observações: Cada estrofe tem dois versos agudos; poema mais longo da Mensagem; forma narrativa nas duas primeiras estrofes e invocativa nas restantes; uso abundante de encavalgamentos (ausência de pontuação que sugere confusão e pendor trágico do discurso); uso de transferência (num sentido psicológico e poético); uso de alegorias; uso de redundâncias e duplicações (por ex. “mar indefinido”, “mar sem fim”), que complementam o sentido de angústia e dificuldade da viagem (num sentido genérico).

 

Análise do título: “Noite” é a primeira fase do que será o desenvolvimento do Quinto Império. É na noite que se começa a desenhar a luz que virá a surgir mais tarde.

Pessoa escolhe para início um drama trágico-marítimo que vitimou os irmãos Corte Real. Gaspar Corte Real e Miguel Corte Real morreram em expedições marítimas na América. Eram filhos de João Vaz Corte Real, que em 1472 descobriu a Terra Nova. Vasco Anes Corte Real, o irmão que restou, quis ir em socorro dos outros, mas o rei não o permitiu. Fala-nos Pessoa portanto de uma espécie de morte tripartida (dois mortos + 1 morto em vida).

 

Análise linha a linha da primeira estrofe:

     A nau de um deles tinha-se perdido
A nau de Gaspar, primeiro filho, perdeu-se.

     No mar indefinido.
No mar das Américas.

     O segundo pediu licença ao Rei
Miguel, o segundo filho pediu permissão ao rei para procurar o irmão.

     De, na fé e na lei
Confiando na sua fé e conhecimentos.

     Da descoberta, ir em procura
E partiu então na sua procura.

     Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Nos mares ainda mal conhecidos da América do Norte.

 

Análise contextual da primeira estrofe:

Em 1501 Gaspar Corte Real partiu para o Continente Americano, na direção da Terra Nova (New Found Land) e nunca mais foi visto. O seu irmão Miguel, partiu em 1502, em busca do seu irmão, mas foi também dado como perdido.

A primeira estrofe relata assim a morte do primeiro irmão e o início da busca pelo segundo: “A nau de um deles tinha-se perdido / No mar indefinido. / O segundo pediu licença ao Rei / na lei / Da descoberta, ir em procura / Do irmão”.

Não é claro por que Pessoa escolhe este episódio da história trágico-marítima portuguesa para ilustrar o que ele pensa ser a “Noite”. Pensamos que Pessoa terá ficado impressionado mais pela história do irmão que fica (abandonado e sozinho com a sua dor como o próprio Pessoa), do que propriamente com a morte dos outros dois. Veremos de seguida se é esse o caso.


 

Análise linha a linha da segunda estrofe:

     Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Tempo passou, não aparecendo nenhum dos irmãos.

     Volveu do fim profundo
Nenhum regressando do fim dos mares.

     Do mar ignoto à pátria por quem dera
Esse mar inconsciente da existência de Portugal.

     O enigma que fizera.

E de ter dado a Portugal um enigma, no desaparecimento dos irmãos.

     Então o terceiro a El-Rei rogou
Vasco, o terceiro irmão, pediu ao rei que o deixasse ir também.

     Licença de os buscar, e El-Rei negou.
Queria ir buscar os irmãos, mas o rei não lhe deu as naus para essa empresa.

 

Análise contextual da segunda estrofe:

A história completa-se. Pessoa conta como depois de algum tempo (“tempo foi”), “nem primeiro nem segundo” dos irmãos aparecendo “do fim profundo”, “o terceiro a El-Rei rogou / Licença de os buscar, e El-Rei negou”. Em princípios de 1500 é rei D. Manuel I.

O desaparecimento dos irmãos, classifica-o Pessoa, como um “enigma”. Ou seja, um mistério, futuro por se cumprir. Não é por isso só um desaparecimento, mas mortes por explicar, que eventualmente se enredam num Destino maior, que ainda não se conhece. A frase complexa “mar ignoto à pátria por quem dera / O enigma que fizera”, pode traduzir-se como “o próprio mar era inconsciente da existência de Portugal, quando faz o mistério do desaparecimento dos seus navegadores”. O mar é também ele um instrumento de Deus, que opera pelos mistérios no Destino dos homens.

O enigma, porém, não é a única parte importante desta história. Isto porque o irmão Vasco fica sozinho e sem poder resgatar os seus irmãos. Ele passa a sofrer na solidão o seu Destino (como antes o Infante D. Fernando o fizera – ver poema “D. Fernando Infante de Portugal” em “As Quinas”). É também o poeta que sofre, por transferência. O símbolo serve para todos os sofrimentos, quiçá mesmo o de Portugal enquanto nação.


 

Análise linha a linha da terceira estrofe:

     Como a um cativo, o ouvem a passar
Como um preso – que caminha na sua cela – ouvem-no passar.

     Os servos do solar.

Os criados no seu solar de capitão-donatário de Angra.

     E, quando o veem, veem a figura
Quando olham para a figura dele.

     Da febre e da amargura,
Veem doença e amargura.

     Com fixos olhos rasos de ânsia
Os olhos perdidos e ansiosos.

     Fitando a proibida azul distância.
Fitam o mar, em busca ainda dos seus irmãos perdidos.

 

Análise contextual da terceira estrofe:

Vasco, agora sozinho, é eleito sucessor de seu pai, ganha o seu alto cargo (capitão donatário) e passa a residir na "Casa do Capitão" em Angra do Heroísmo. É uma grande casa, senhorial, de pedra, fria, ainda mais agora que a ocupa o coração vazio do novo capitão.

Casa do Capitão Donatário - Cerca de 1474, João Vaz Corte-Real, Capitão do Donatário, mandou construir em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, do arquipélago dos Açores, as suas casas, estrategicamente colocadas na base do morro da Memória, onde edificara um castelo, e no topo da Rua Direita, em ligação rápida com o Porto. O edifício ainda conserva estruturas dessa época. https://angradoheroismo.pt/casa-do-capitao-donatario/


“Como (…) um cativo, o ouvem a passar / Os servos do solar”. Ele percorre o espaço do seu grande solar. Como um cativo porque tem certamente um passo preocupado, como um cativo porque percorre de um lado ao outro salas e corredores, sem ter para onde ir, perturbado com as suas memórias, a sua culpa. Está febril, amargurado e ainda fixa, doentio, “com olhos (…) rasos de ânsia / (…) a proibida azul distância”, na esperança infantil de ver regressar os seus irmãos.


 

Análise linha a linha da quarta estrofe:

     Senhor, os dois irmãos do nosso Nome –
Pessoa fala a Deus dos irmãos, mas já mitos.

     O Poder e o Renome –
Chama-lhes poder e renome.

     Ambos se foram pelo mar da idade
Diz-Lhe que ambos se perderam no mar.

     À tua eternidade;
Em direção da morte – eternidade.

     E com eles de nós se foi
E levaram com eles.

     O que faz a alma poder ser de herói.
A coragem.

 

Análise contextual da quarta estrofe:

Na fase final do poema, Pessoa vai aproveitar para elaborar uma metáfora. Pegando na matéria-prima que foi a morte dos dois irmãos, e que depois de morte, foi feita um mistério, um enigma, o poeta vai incorporar no mistério os elementos da revelação.

“Senhor, os dois irmãos do nosso Nome / – O Poder e o Renome –“. Note-se como Pessoa torna a tragédia pessoal de uma família – os Corte Real – na tragédia Universal de uma nação. Como se a morte que os atingiu, fosse – pelo mistério – passível de uma interpretação superior, reveladora do Destino. Gaspar e Miguel deixam de ter nome humano, para serem “O Poder e o Renome”. Mais uma vez Pessoa aniquila o indivíduo em favor da humanidade.

A comparação segue-se, logicamente: “Ambos se foram pelo mar da idade / E com eles de nós se foi / O que faz a alma poder ser de herói”. Ou seja, como eles morreram, também morreu o poder de Portugal e o nosso renome, a nossa fama esmoreceu, em mistério.


 

Análise linha a linha da quinta estrofe:

     Queremos ir buscá-los, desta vil
Há um desejo de os ir socorrer.

     Nossa prisão servil:
De ir com eles na procura, na viagem.

     É a busca de quem somos, na distância
Essa busca é imaterial, sempre na distância, mas de nós mesmos.

De nós; e, em febre de ânsia,
Nessa busca impossível, febril.

     A Deus as mãos alçamos.
Nessa busca é que também alcançamos Deus.

 

     Mas Deus não dá licença que partamos.

Mas a procura tem de ser iniciada em Deus, pela sua permissão e caminho.

 

Análise contextual da quinta estrofe:

“Queremos ir buscá-los, desta vil / Nossa prisão servil: / É a busca de quem somos, na distância / De nós”. Pessoa aqui transfere por completo o drama para a Nação, e não para o indivíduo. Isto embora Vasco, na sua solidão, na sua angústia e intranquilidade, represente todos os portugueses. O que Pessoa deseja, o que pensa ser a salvação, uma saída para o marasmo do país, que se lamenta na saudade, é empreender “a busca”, sair da “prisão servil” em que nos encontramos. A busca, no entanto, não é material, mas pessoal, espiritual: é “de nós”.

Só assim, na “febre de ânsia, / A Deus as mãos alçamos”. Isto porque na procura da verdade pessoal, vamos encontrar a verdade Universal que é Deus.

“Em febre de ânsia, / A Deus as mãos alçamos. / Mas Deus não dá licença que partamos”. Veja-se com que beleza Pessoa conclui o poema “Noite”. Beleza triste, é certo, mas aqui chora o coração do poeta, vendo na sua inteira dimensão a dificuldade de cumprir o sonho da conquista pessoal, sem ter a ajuda de Deus.

Poder-se-ia perguntar porque não pode a procura pessoal existir sem Deus. Mas essa pergunta não faz sentido, porque Pessoa sabe que o acesso à Verdade tem de passar pelo infinito. Uma procura pessoal sem essa Verdade seria diminuída, insignificante. Por isso mesmo não basta a morte, o sofrimento, tem de haver a revelação, a via crucis do conhecimento oculto. Para além de Deus há o significado de Deus e do homem.

É pois a “Noite” um poema de morte, mas de início de compreensão. Se quisermos do surgir da inteligência, comparável ao Império Grego.

 

Nuno Hipólito, As Mensagens da Mensagem: O Desvendar dos Mistérios: edição anotada e comentada. Lisboa, Parceria A. M. Pereira Livraria Editora, Lda, 2007. Ed. impressa e em CD-ROM. ISBN: 978-972-8645-38-0

 

 

Questionário sobre o poema “Noite”, de Fernando Pessoa:

1. Identifique o tema da composição poética.

2. Indique as dimensões temporais que o poeta salienta no poema. Justifique a resposta com citações.

3. Faça corresponder as características do povo português a cada uma dessas dimensões temporais. Comprove as suas afirmações com exemplos textuais.

4. Comente a invocação feita a Deus.

5. Estabeleça uma relação significativa entre a «vil nossa prisão servil» (vv.25-26) e a «busca de quem somos» (v. 27).

6. Interprete o último verso do poema, revelando os sentimentos expressos pelo sujeito poético.

7. Justifique a integração deste poema na terceira parte da Mensagem, atendendo ao significado do título do poema.

 

Proposta de resolução do questionário sobre o poema “Noite”, de Fernando Pessoa:

1. A temática do poema é sobre o sofrimento e a mágoa, porque falta cumprir-se Portugal.

2. Duas dimensões temporais sobressaem no poema:

Passado: «tinha», «pediu», «tempo foi».

Presente: «ouvem», «vêem», «alçamos»

3. Cada uma das dimensões temporais do poema correspondem a características específicas do povo português, a saber:

Passado – aventura, realização heróica: no texto personificada pelo «Poder» e «Renome» (fama); «A nau de um deles tinha-se perdido no mar indefinido» (vv.1-2).

Presente – longo período de letargia/decadência: «mar da idade» que seguiu momentos heróicos; dor, «Portugal a entristecer»: «amargura»; grandeza de alma insatisfeita e febre de navegar dos eleitos (ânsia da distância): «Com os olhos fixos rasos de ânsia / Fitando a proibida azul distância» (vv. 17-18).

[Um passado de heroicidade, de coragem de um povo (o português) tornou-se, pelos obstáculos que foram aparecendo, num presente de decadência, mas de permanente ânsia do desconhecido, que o Futuro não promete satisfazer.]

4. A invocação feita a Deus significa:

- lamentação da perda de heroicidade (4.ª estrofe);

- súplica com palavras e gestos, pedindo permissão para ir de novo em busca de heroicidade.

[A invocação feita a Deus é um pedido de ajuda/licença divina para que o povo português recupere o Nome e o Poder de outros tempos desgastados e “mortos” pelo tempo (“Ambos se foram pelo mar da idade / À tua eternidade”). É, no fundo, um pedido de permissão e iluminação do caminho que leva à recuperação dos feitos heroicos e identidade portuguesas.]

5. A expressão «vil nossa prisão servil» (vv.24-25) diz respeito ao corpo; à sensação elementar de existir; ao país em decadência.

Por sua vez, a expressão «busca de quem somos» (v. 27) tem a ver com a  convicção de que toda a viagem em busca da Verdade (identidade coletiva, a alma portuguesa ou a arte de ser português) é uma peregrinação interior que nos liberta da «prisão servil» em que vivemos.

 

6. No último verso do poema estão revelados os sentimentos de resignação/conformismo do sujeito poético à vontade divina, contendo em si a voluntariedade de heroicidade, porque reconhece que não é ainda a Hora. Terá, portanto, de esperar pela hora astrologicamente determinada para resgatar os irmãos, libertando-nos também da «prisão servil» em que vivemos.

7. Justificação da integração deste poema na terceira parte da Mensagem, atendendo ao significado do título do poema:

- Na noite como no nevoeiro está o encoberto que pulsa à espera do momento da revelação. É na noite que o dia claro do Quinto Império se começa a desenhar, muito embora não seja ainda a Hora. Estado intervalar.

 -Terceira Parte – O Encoberto (a imagem do Império moribundo, a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição, capaz de provocar o nascimento do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada. A esperança do Quinto Império).

Na 3.ª parte aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e de mágoa, pois «falta cumprir-se Portugal». É preciso acontecer a regeneração que será anunciada por símbolos e avisos

  

Poderá também gostar de:

Fernando Pessoa - Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da obra de Fernando Pessoa, por José Carreiro.



“Noite (Mensagem, Fernando Pessoa)” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 03-01-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/01/noite-mensagem-fernando-pessoa.html



segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Escrevo meu livro à beira-mágoa - Terceiro aviso na Mensagem, de Fernando Pessoa


Mensagem, Fernando Pessoa
Terceira Parte - O Encoberto
II - Os Avisos



 

TERCEIRO

 






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Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

 

10-12-1928

Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934

Edição utilizada: Mensagem, Fernando Pessoa, edição de Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, pp. 81-82.

 

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

1. Caracterize o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos.

2. Justifique o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do poema.

3. Explique, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser considerado um profeta.

4. Identifique duas características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema e transcreva um exemplo significativo para cada uma delas.

 

 

Explicitação de cenários de resposta:

1. Para caracterizar o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos, devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

a dor/mágoa/tristeza/amargura manifestada pelo sujeito poético;

a desilusão/frustração sentida relativamente à pátria do presente;

a esperança na vinda do «Senhor», a qual preenche o seu vazio interior.

2. Para justificar o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

expressão da ansiedade de quem deseja saber quando virá o «Senhor»;

expressão da incerteza quanto ao momento em que o regresso do «Senhor» acontecerá (mas também da certeza da sua vinda);

apelo insistente para que o «Encoberto» volte (para pôr fim ao «mal» e criar «A Nova Terra e os Novos Céus» – vv. 11 e 12).

3. Para explicar a razão pela qual o sujeito poético pode ser considerado um profeta, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

anuncia a vinda do «Encoberto» (D. Sebastião)/a construção do Quinto Império;

deseja a realização do «Sonho das eras português» (v. 14);

espera cumprir o «grande anseio que Deus fez» (v. 16);

é o porta-voz de um desejo/sonho coletivo.

4. Na resposta, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

recurso à primeira pessoa do singular em formas verbais, como «Screvo» (v. 1) ou «Tenho» (v. 3)/em determinantes possessivos, como «meu» (vv. 1 e 2)/em pronomes pessoais, como «me» (v. 4);

expressão da subjetividade/do mundo interior/dos sentimentos do sujeito poético, patente, por exemplo, no verso «Meu coração não tem que ter.» (v. 2);

visão subjetiva do destino nacional, evidenciada, por exemplo, nos versos «Quando virás, ó Encoberto,/ Sonho das eras português,/ Tornar-me mais que o sopro incerto/ De um grande anseio que Deus fez?» (vv. 13-16);

recurso à interjeição para expressar ansiedade ou desejo em «Ah, quando quererás, voltando, / Fazer minha esperança amor?» (vv. 17-18).

 

Fonte: Exame Final Nacional de Português n.º 639 - 12.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). Portugal, IAVE– Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2018, 1.ª Fase

 

***

 

Texto de apoio

     Aviso

     São três os avisos na obra (pp. 91-94), veiculados pelo Bandarra, pelo Pe. António Vieira e pelo eu da Mensagem, apresentados de forma gradativa: sinal - prenúncio - ansiedade (a interpretação profética tem sempre três feições, recorde-se).

     Da importância que Pessoa (1988: 245) atribui às trovas do sapateiro de Trancoso, não deixam dúvidas estas palavras:

     O Quinto Império. O Futuro de Portugal - que não calculo mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro é sermos tudo.

     António Vieira, por seu turno, é o grande defensor da ideia de um Quinto Império português e assíduo intérprete das Trovas do Bandarra.

     Assim sendo:

1. O sonho desse império divino pelo «anónimo» Bandarra é o primeiro aviso. Um sonho «confuso como o Universo» (M, 91) mas vivido com a certeza de quem cumpre humildemente uma missão que o transcende («Plebeu como Jesus Cristo) - ibid.). As profecias do Bandarra, «cujo coração foi / Não português mas Portugal» (ibid.), funcionam, deste modo, como um «sinal» do Portugal a haver.

2. É esse «sinal» que Vieira, «Imperador da língua portuguesa» («Minha pátria é a língua portuguesa» - diz-nos Pessoa-Bernardo Soares), interpreta e transforma em regresso iminente de D. Sebastião e visão do Quinto Império que, como «prenúncio», «Doira [já] as margens do Tejo» (M, 92).

3. O terceiro aviso é a ânsia da espera com que o eu poético pressente o regresso do «Rei» e, com ele, do Quinto Império, entrevisto já na esperança e na sua impaciência: «Quando é o Rei? Quando é hora?» (M,93).

     Todavia, antes de ser a «hora», há que passar os quatro «Tempos», que, na Mensagem, vêm a seguir.

Bibl.: Fernando Pessoa, Sobre Portugal. Introdução ao Problema Nacional, Lisboa, Ática, 1978, p. 136; Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, «Um imperialismo de Poetas. Fernando Pessoa c o imaginário do Império», in Penélope. Fazer e Desfazer a História, n.º 15, Lisboa. 1995, pp. 73-74. 

Fonte: Dicionário da Mensagem, Artur Veríssimo. Porto, Areal Editores, 2000

 

***

 

O texto é marcadamente sebastianista:

- a nação encontra-se em estado de degradação, vazia de sentido, tal como o poeta;

- a frustração do presente faz germinar a ânsia de um salvador;

- o salvador e a sua vinda revestem-se de mistério;

- o salvador virá da névoa e da saudade (ecos da lenda do Rei Artur do ciclo Graal).

 

     É verdadeiramente simbólico o vazio resultante da ausência de nome do terceiro profeta. O texto, escrito na primeira pessoa, sugere que Fernando Pessoa se identifica com o superpoeta do super-Portugal, cuja vinda anunciara para breve nos célebres artigos publicados na revista A Águia em 1912:

«Criar um novo Portugal, ou melhor, ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancando-a do túmulo onde a sepultaram alguns séculos de obscuridade física e moral, em que os corpos definharam e as almas amorteceram. [] E isto leva a crer que deve estar para muito breve o inevitável aparecimento do poeta ou poetas supremos, desta corrente, e da nossa terra, porque fatalmente o Grande Poeta, que este movimento gerará, deslocará para segundo plano a figura até aqui principal de Camões. Quem sabe se não estará para um futuro multo próximo a ruidosa confirmação deste deduzíssimo asserto? []

Tenhamos fé. Tornaremos esta crença, afinal, lógica, num futuro mais glorioso do que a imaginação o ousa conceber, a nossa alma e o nosso corpo, o quotidiano e o eterno de nós. Dia e noite, em pensamento e acção, em sonho e vida, esteja connosco, para que nenhuma das nossas almas falte à sua missão de hoje, de criar o supra-Portugal de amanhã.»

Fernando Pessoa, A Nova Poesia Portuguesa (1912)

 

     Nas transcrições de excertos de dois sonetos do conjunto intitulado Passos da Cruz é notória a linha ideológica de que o poeta cumpre ordens superiores, é agente de Alguém, o que está de acordo com o que vem repetindo em muitos poemas de Mensagem:

«Venho de longe e trago no perfil

Em forma nevoenta e afastada,

O perfil de outro ser que desagrada

Ao meu actual recorte humano e vil..

[]

Hoje sou a saudade imperial

Do que já na distância de mim vi...

Eu próprio sou aquilo que perdi...

 

E nesta estrada para Desigual

Florem em esguia glória marginal

Os girassóis do império que morri...»

 

Fernando Pessoa, Passos da Cruz

 

«Emissário de um rei desconhecido

Eu cumpro informes instruções de além,

[]»

Fernando Pessoa, Passos da Cruz

 



“Escrevo meu livro à beira-mágoa - Terceiro aviso na Mensagem, de Fernando Pessoa” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 02-01-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/01/noite-mensagem-fernando-pessoa.html



domingo, 1 de janeiro de 2023

António Vieira - Segundo Aviso na Mensagem, de Fernando Pessoa


Mensagem, Fernando Pessoa
Terceira Parte - O Encoberto
II - Os Avisos 



Segundo
António Vieira






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O céu 'strela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.

31-7-1929

Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934

 

I - Linhas de leitura do poema “Segundo: António Vieira”, de Fernando Pessoa:

Da obra de Vieira nada se refere na Mensagem, para além daquilo que importa a Pessoa. Ao padre jesuíta defensor dos escravos, ao grande pregador, ao embaixador de Portugal não dedica o autor da Mensagem um verso. Interessou-o, pelo contrário, o Mestre da língua portuguesa e o profeta do Quinto Império que Vieira foi, i. e., como a Torga (in Poemas Ibéricos, 1995, p. 60) mais tarde, o «Misto de génio, mago e aventureiro» que o habitou e a alma irrequieta que sonhava, em A História do Futuro, «O homem lusitano / À medida do mundo».

Neste poema, o sujeito da enunciação traça o elogio do sujeito do enunciado[1], refere a visão que este teve de D. Sebastião e interpreta essa visão como a madrugada do Quinto Império.

Por outras palavras: O elogio é justificado por duas razões: o P° António Vieira foi o "Imperador da língua portuguesa", o seu grande mestre; foi também o visionário profético que, interpretando certos passos bíblicos apocalípticos, sobretudo o sonho de Nabucodonosor, e interpretando as profecias do Bandarra, criou a esperança do Quinto Império. Profetizou, na Carta que escreveu a D. André Fernandes, bispo do Japão, a ressurreição de D. João IV como futuro imperador do Quinto Império; no seu livro "História do Futuro", insiste no advento do Quinto Império, o Último, o Universal, que terá em Cristo o chefe supremo. Para Portugal, está reservado por Deus o papel de criador desse Império.

O elogio de António Vieira é realizado através de duas metáforas (e hipérboles): "Imperador da língua portuguesa" e "um céu", facto que permite equacionar a escrita como factor de revelação, de desocultação.

Não é também de desprezar o domínio do verso decassilábico como forma de glorificar a personagem.

É verdade que a «grandeza», a «fama» ou a «glória» são atributos do herói, mas estes distinguem sobretudo o herói-alma, sacralizado, que vive como arquétipo[2] na memória colectiva: «Imperador da língua portuguesa, / Foi-nos um céu também

Uma caracterização que as estrofes seguintes retomam, insistindo em palavras e expressões ligadas ao plano astral: «imenso espaço», «constelado», «céu amplo de desejo», de inspiração ocultista, como o é também a apresentação da profecia.

Note, finalmente, como o Quinto Império nos é dado em mistério: pertence à esfera do «etéreo», do divino, e o seu começo é «madrugada irreal». Se não ficamos a saber em que consiste precisamente, fica, contudo, clara a sua ligação a D. Sebastião (o que é uma recriação pessoana do mito, que este não é, como se sabe, o Rei-salvador do Mundo na teorização de Vieira), e a ideia de que ele resulta do «imenso meditar» e do sentido visionário do herói[3], que, «no céu amplo de desejo», sonhou português em português. Da universalidade que ao Quinto Império se atribui fica, para além da sua inspiração divina, a alusão vaga de que «Doira as margens do Tejo», ponto de partida das naus.

Na última estrofe, o sujeito poético procede a uma interpretação gradativa da visão do Pe António Vieira:

o luar —> a luz —> o dia —> a madrugada do Quinto Império.

A originalidade de António Vieira foi ter juntado os dois mitos (o do Encoberto e o do Quinto Império) num grande mito nacional e universal.

A Vieira chama Torga «aluno do Bandarra» e «mestre de Fernando Pessoa», o que bem pode ser entendido como uma leitura dos três poemas que integram os «Avisos» e que vêm exactamente por esta ordem: «Bandarra, «António Vieira» e um poema sem título onde o sujeito poético alude à sua obra: «Screvo meu livro à beira-mágoa.». O Bandarra é Portugal, António Vieira é Portugal em português, feito sonho, que a Mensagem, a que o terceiro poema alude, dá voz. Une-os a profecia do Quinto Império sonhado.

Todavia, lendo o poema consagrado a Vieira não se encontra aparentemente qualquer ligação ao Bandarra, a não ser no cruzamento temático que une os três «Avisos»[4]. Não é, porém, assim. Sabe-se que a doutrinação de Vieira deve muito às Trovas do sapateiro de Trancoso. Recorde-se, também, que o próprio Bandarra, segundo crê Pessoa, profetiza o aparecimento de António Vieira numa das suas trovas:

Vejo, mas não sei se vejo;

O certo é que me cheira

Que me vem honrar à beira

Um Grande do do Tejo.

(apud Pessoa, 1987:160)

Não há, na Mensagem, qualquer referência explícita a esta profecia, mas não deixe de notar que os últimos dois versos de «António Vieira» acabam justamente assim:

A madrugada irreal do Quinto Império

Doira as margens do Tejo.

Coincidência? Os desígnios dos poetas também são, por vezes, impenetráveis.

 

Bibliografia:
Aula Viva. Português A. 12.º Ano, J. Guerra e J. Vieira. Porto Editora, 1999.
Dicionário da Mensagem, Artur Veríssimo. Porto, Areal Editores, 2000, pp. 143-144.



[1] Entenda-se: do objeto (António Vieira).

[2] Arquétipo é, em sentido geral, o mesmo que modelo, protótipo, paradigma, exemplo a imitar, acontecimento exemplar.

[3] A visão aconteceu no meio de profunda meditação; novamente o valor do sonho.

[4] Note a gradação: sinalprenúncioânsia do regresso iminente. Três são os avisos: a interpretação profética tem sempre três feições.


https://purl.pt/13965/1/P121.html


I – Questionário sobre o poema “Segundo: António Vieira”, de Fernando Pessoa:

Responda as questões, utilizando frases completas e contextualizadas.

1. Ao longo deste poema, perpassa um intenso elogio a António Vieira.

1.1. Identifique os segmentos textuais que traduzem os elogios feitos.

1.2. Indique os motivos/as razões que justificam esses elogios.

2. A palavracéu” associa-se conotativamente à idealização, ao sonho preconizados na Mensagem.

2.1. Comprove a afirmação feita, apoiando-se nas referências textuais.

2.2. Demonstre a utilização de palavras relacionadas com “luz” ao longo do poema.

2.3. Explique a funcionalidade do articulador que inicia a terceira estrofe.

3. Na última estrofe, o sujeito poético relaciona claramente António Vieira com o “Quinto Império”.

3.1. Caracterize esteQuinto Império” recorrendo às referências textuais dessa estrofe.

4. Justifique a inserção deste poema na estrutura global da Mensagem.

Fonte: Das palavras aos actos: português: 12.º ano, ensino secundário, Ana Maria Cardoso et alii. Porto, Asa, 2005

 

Tópicos de resposta:

1.1. Destacar os segmentos “teve a fama e à glória tem” (2), “Imperador da língua portuguesa” (3), “foi-nos um céu” (4) bem como o seu meditar caracterizado por ser “Constelado de formas e de visão” (6).

1.2. Razões centradas no plano do meditar, do pensar, do intelecto, pela construção do ideal do Quinto Império; no plano da utilização da língua e da construção de uma referência cultural (o imperador da língua portuguesa).

2.1. O céu marcado positivamente (“strela”, “grandeza”, v.1) é associado ao próprio António Vieira (metaforicamente tratado como um céu) pela sua grande capacidade intelectual (o meditar), criadora de um mito, de um ideal (Quinto Império).

2.2. Destacar as palavras/expressões “strela” (1); “Constelado” (6); “claro luar” (7); “luz do etéreo” (9); “dia” (10); “madrugada” (11); “Doira” (12).

2.3. Articulador adversativo – contraria, retifica a informação da estrofe anterior; não é o luar que Vieira visiona; é uma luz portadora do ideal, da perfeição; o nascer do dia, simbolizando o nascer de um tempo novo, sonhado, transcendendo, por isso, o real – o nascer do Quinto Império.

3.1. Este “Quinto Império” surge do desejo, do sonho, do divino, do intelecto; constrói-se no plano do inteligível, não do sensível ou material. Daí associar-se ao plano do “irreal’ Trata-se ainda de um império que focaliza, dá brilho, enaltece Portugal (“Doira as margens do Tejo”, v.12).

4. Inserção do poema na Terceira Parte, intitulada “O Encoberto” o que se anuncia e que, não sendo concreto/percetivelmente definido, trará a luz, como anunciavam as profecias (entre elas, as de António Vieira). Daí pertencer à subparte de “Os Avisos” (a par de Bandarra e do ‘eupresente no poema Terceiro), que preparam essa “Paz nas alturas

 

 

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“António Vieira – Segundo aviso na Mensagem, de Fernando Pessoa” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 01-01-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/01/antonio-vieira-segundo-aviso-na.html