"Admirável gado novo", José Carreiro (Feteira Grande, 30-05-2011) |
Belas letras resistem como podem
Sem intuitos de publicação, a escrita poética surgiu-lhe em meados dos anos 90. Os textos que sobreviveram à passagem do tempo e da lima vieram a lume em 2005, quando já tinha 35 anos. Esta é a história do início de carreira de José Maria de Aguiar Carreiro, jovem poeta micaelense.
O escritor afirma preferir ver-se como “um leitor, mais do que aquele que escreve. Creio que a composição de poesia se intensificou quando me apercebi de que aquilo que criara me havia ultrapassado. Num dos poemas chego mesmo a constatar que os textos têm vida própria:”
Apascentados textos alimentam-se
são levados à água, à quantidade necessária.
Por vezes puxados, regressam teimosos
e seguem à frente, a meio ou atrás,
cansados, distraídos consigo.
Os animais-textos são queridos, amados mesmo,
por vezes feridos como exemplo de certas implicações.
Mas quem os escreve já não participa da riqueza multiplicada
que sai esbaforida de si.
E tornam-se maiores, disparados em muitas dimensões
para maior ou menor gáudio de seu criador,
o homem pequeno que solve.
Até ao momento, José Maria de Aguiar Carreiro já publicou um livro, Chuva de Época, com o apoio da Direcção Regional da Cultura. Entretanto, participou numa Antologia de Poesia Açoriana, publicada na Letónia, e tem colaborado em revistas com índole literária, como por exemplo: Arte & Manhas (Angra do Heroísmo), Magma (Lajes do Pico), Arraianos (Santiago de Compostela), Big Ode (Almada), Seixo Review Artes & Letras (Canadá) e da revista Neo, da Universidade dos Açores.
Como principal óbice ao trabalho dos escritores açorianos, o poeta aponta o facto de “estarem longe dos centros de decisão e influência, pois as barreiras editoriais e de distribuição são altas”. Sobre o momento da literatura açoriana, José Carreiro diz que “dos Açores há vários escritores a publicar quer no Arquipélago quer no continente ou mesmo no estrangeiro. À semelhança de momentos anteriores, parece-me que as ‘belas letras’ resistem como podem”. Em termos futuros, e logo que possível, o autor afirma que “os animais-textos que escaparem a Cronos verão a luz do dia”.
Editoras privadas são bem vindas
Um dos maiores problemas que se coloca aos autores açorianos é a falta de apoios para publicaram os seus trabalhos. Sobre este tema, José Maria de Aguiar Carreiro diz que “nas ilhas, entidades públicas como a Direcção Regional da Cultura, o Instituto Açoriano de Cultura e as câmaras municipais têm um quê de mecenatismo. A nível privado, as recentes editoras sediadas nos Açores são bem vindas. Desejo-lhes prosperidade e vida longa”.
Entrevista ao jornal Expresso das Nove, 19 de Fevereiro de 2010
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2010/02/19/animaistextos.aspx]
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