CORTE E DOBRA
Toda superfície cria mistério.
O muro divide, proíbe, estanca,
não passa,
ou bloqueia: é tumba, é campa,
é tampa - não desce e não sobe.
Esse não permanente
aguça e lança:
e além? e embaixo?
e em cima? e dentro? e fora?
Cria o prazer de romper,
atravessar,
conquistar o outro lado
o ar, o ver
e amanhecer no mesmo horizonte.
Quando corto e dobro
uma chapa de ferro
ou somente corto
pretendo
abrir um espaço
ao amanhecer na matéria bruta
luz que vela e revela
a comunhão do opaco
com o espaço dos astros
espaço
que descobre o renascer
redimindo a matéria pesada
na intenção de voar
O muro divide, proíbe, estanca,
não passa,
ou bloqueia: é tumba, é campa,
é tampa - não desce e não sobe.
Esse não permanente
aguça e lança:
e além? e embaixo?
e em cima? e dentro? e fora?
Cria o prazer de romper,
atravessar,
conquistar o outro lado
o ar, o ver
e amanhecer no mesmo horizonte.
Quando corto e dobro
uma chapa de ferro
ou somente corto
pretendo
abrir um espaço
ao amanhecer na matéria bruta
luz que vela e revela
a comunhão do opaco
com o espaço dos astros
espaço
que descobre o renascer
redimindo a matéria pesada
na intenção de voar
Amilcar de Castro
Em “Corte e dobra”, Amilcar de Castro (1978) define a sua arte: a de poetizar e a de esculpir.
Para melhor entender a sua arte, Maria Heloísa Martins Dias “busca estabelecer relações homológicas entre algumas peças da escultura de Amílcar de Castro e seu poema «Corte e Dobra», com o objetivo de analisar o diálogo entre as duas linguagens colocado em jogo pelo próprio artista, um dos mais instigantes representantes da moderna produção plástica brasileira. A íntima relação entre o verbal e o plástico se estabelece graças a singulares procedimentos de construção criados por Amílcar, os quais revelam resoluções estéticas situadas no ponto de ruptura com paradigmas convencionais de percepção, o que põe em relevo uma arte a solicitar a intensa participação do observador / leitor.”
Maria Heloísa Martins Dias desenvolve a análise em dois textos:
“Escultura poética ou poema-escultura?” inhttp://pendientedemigracion.ucm.es/info/especulo/numero37/escultu.html
“O texto literário como objeto: acesso ao prazer” in Apagando o quadro negro, São Paulo, Editora Unesp, 2011, pp. 56-58.
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2013/12/06/corte.e.dobra.aspx]
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