Se um dia alguém
Perguntar por mim
Diz que vivi
Para te amar
Antes de ti
Só existi
Cansado e sem nada p’ra dar
Meu bem
Ouve as minhas preces
Peço que regresses
Que me voltes a querer
Eu sei
Que não se ama sozinho
Talvez devagarinho
Possas voltar a aprender
Se o teu coração
Não quiser ceder
Não sentir paixão
Não quiser sofrer
Sem fazer planos
Do que virá depois
O meu coração
Pode amar pelos dois
Perguntar por mim
Diz que vivi
Para te amar
Antes de ti
Só existi
Cansado e sem nada p’ra dar
Meu bem
Ouve as minhas preces
Peço que regresses
Que me voltes a querer
Eu sei
Que não se ama sozinho
Talvez devagarinho
Possas voltar a aprender
Se o teu coração
Não quiser ceder
Não sentir paixão
Não quiser sofrer
Sem fazer planos
Do que virá depois
O meu coração
Pode amar pelos dois
Luísa Sobral
Salvador Sobral - Amar Pelos Dois (Thought of You by Ryan Woodward)
"Luísa Sobral embrulhou emoção q.b. numa balada de piano-bar com bom fumo. As notas certas, os intervalos certos. o tempo exato para que o espaço que vai dos graves aos agudos deixasse todos à espera do verso seguinte. Como se faz num argumento bem feito para conquistar audiências em quantidade, “Amar pelos Dois” deixa o ouvinte pendurado, à espera da boa desgraça romântica que a letra vai confessar a seguir, e depois, e depois."
Rita Cipriano e Tiago Pereira
http://observador.pt/2017/05/14/salvador-e-luisa-a-sobralvisao-ganhou-por-todos/
http://observador.pt/2017/05/14/salvador-e-luisa-a-sobralvisao-ganhou-por-todos/
Salvador Sobral e Luísa Sobral cantam "Amar pelos dois":
Tributo à prestação portuguesa no Festival da Canção Eurovisão 2017:
Español
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English
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Si un día alguien
te pregunta por mí, dile que viví para amarte. Antes de ti, solo existía cansado y sin nada que ofrecer. Mi amor, escucha mis oraciones. Te pido que regreses, que me vuelvas a querer. Sé que no se ama en soledad, quizás puedas volver a quererme poquito a poco. Si tu corazón no quiere ceder, no quiere enamorarse, no quiere sufrir, sin planificar lo que vendrá después, mi corazón puede amar por los dos. |
If someday someone
Asks about me Tell them I lived To love you Before you I only existed Tired and with nothing to give My love Hear my prayers I ask you to come back To want me again I know It takes two to love Maybe slowly You can learn again If your heart Doesn't want to give in Doesn't feel the passion Doesn't want to suffer Without making plans For what will come next My heart Can love for the both of us |
Français
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Deutsch
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Si un jour quelqu'un
Me demande Dîtes que j'ai vécu Pour t'aimer Avant toi Je n'ai qu'existé Fatigué et sans rien à donner Chérie Entends mes prières Je demande que tu reviennes Que tu me veuilles à nouveau Je sais Que l'on ne peut aimer seul Peut-être lentement Tu apprendras de nouveau Si ton coeur Ne veux pas ceder Ne veux pas sentir la passion Ne veux pas souffrir Sans faire de plans Que viendrait-il ensuite Mon coeur Peut aimer pour deux |
Wenn eines
Tages jemand
nach mir fragt sag ihm, ich lebte dich zu lieben vor dir existierte nur ich allein müde und ohne alles Schatz höre mein Gebet ich bitte dich, komm zurück sag dass du mich liebst ich weiß, dass du dich nicht allein lieben kannst vielleicht kannst du langsam alles wieder lernen wenn dein Herz nicht zu mir will keine Leidenschaft fühlt nicht mehr leiden will ohne Pläne was als nächstes geschieht dann kann mein Herz lieben für zwei |
PORQUE NÃO É BOM AMAR PELOS DOIS
Quem não gosta - mesmo que o negue até ao limite - de uma boa canção de amor? De que falamos quando falamos de uma “boa” canção de “amor” e, já agora, dos critérios que a colocam num patamar em que é apreciada e partilhada por uma maioria, que com ela se identifica e sonha?
Uma boa canção de amor tem um toque de virtude e encanto, não raras vezes associado a doses de altruísmo, abnegação e sacrifício sem precedentes. Há maior prova de amor do que dar sem pedir nem esperar reciprocidade, como nas relações ideais, ou suficientemente boas, entre pais e filhos? Ou dar sem olhar a meios, com grandeza e heroísmo, à semelhança do que sucede nas histórias de amor romântico?
Há uma inegável poesia em tudo isto. Um cheirinho a Florbela Espanca nessa atitude de “ser mendigo e dar como quem seja rei do reino de aquém e de além dor”. Mas, será isto amor? E porque é que amar assim tem, quase sempre, a ingratidão como certa por parte do outro?
AMAR DEMAIS
Chama-se a isto amar demais. Não sou eu que o digo, é uma senhora americana que cunhou a expressão, em 1985, quando publicou Mulheres Que Amam Demais. Dois anos mais tarde, o livro de auto-ajuda converteu-se num bestseller à escala mundial e a californiana, hoje com 71 anos, viu a sua obra ser traduzida em 30 línguas e com mais de três milhões de cópias vendidas.
Quando o livro foi publicado em Portugal, questionei a designação, já que o amor não se mede em quilos, nem noutra unidade do género, sendo por isso um tanto ou quanto impreciso considerar que é demais ou de menos. Por outro lado, sendo cada humano dotado de uma cabeça e um coração, não deixa de soar um tanto ou quanto invasiva a ideia de pensar ou de amar por dois. Ou por três, e por aí fora. A menos que se seja ingénuo, masoquista ou mártir. Amar demais refere-se a um síndroma, a uma espécie de doença a que se convencionou chamar codependência. Trata-se de alguém que alimenta a dependência de outro para satisfazer carências próprias, ainda que nem sempre tenha consciência disso. Se tivesse, não ficaria atrelada a um relacionamento assente numa assimetria que só pode correr mal e acabar pior.
CODEPENDER É SOFRER
Amar por terceiros é uma adição, um vício. Codependência não é interdependência (que implica paridade e reciprocidade). Quando uma das partes precisa da outra para exercer sobre ela alguma forma de controlo, ainda que mascarada de dedicação, é o princípio do fim. E porquê? Porque é negar o que o outro sente, diz ou dá a entender. É acreditar que querer é poder e que quando um quer, o outro não precisa de concordar para algo acontecer e permanecer. É uma forma de omnipotência, uma ilusão insustentável a médio prazo, que acabará por desfazer-se com estrondo, quando a parte que deixa de ter voz decide tomar medidas drásticas e bater com a porta, de forma a não deixar margem para dúvidas.
A partir desse momento, é a neura total, o abatimento, o vazio insuportável. No pico da depressão, surge a oportunidade para questionar tudo, uma e outra vez, e compreender o que não estava certo desde o início: fazer tudo, literalmente tudo, por alguém, e viver exclusivamente em função desse alguém, como a única forma de não sentir-se abandonado. Ou abandonada, já que este tipo de situação parece ser mais comum no sexo feminino. Não foi por acaso que serviu de tema de eleição para o filme Ele Não Está Assim Tão Interessado, dos argumentistas de O Sexo e a Cidade, Greg Behrendt e Liz Tuccillo, lançado em 2009: se a norma for interpretar os sinais emitidos pelo sexo oposto, nas cenas de sedução, como um “sim”, ou se “dourar a pílula” é um modo de vida, tal dá azo a situações caricatas, que levam a rir para não chorar.
LIBERDADE SEM MEDO
Amar demais - ou amar por terceiros - pode parecer uma prova de amor infinita, mas esconder um profundo desespero. Quando essa atitude é manifestamente “em excesso” face a alguém, ela pode revelar precisamente o oposto: o amar-se “em débito”, o não ser capaz de gostar suficientemente de si e de respeitar as suas próprias necessidades, fazendo impossíveis em nome de um imaginário bem maior.
Como sair do ciclo vicioso, do padrão repetitivo que, quase sempre, é aprendido na infância, com aqueles de quem se depende completamente para poder sobreviver? Quantas vezes é preciso reviver, noutros relacionamentos, o mesmo medo - terror, até - do abandono, para se perceber que o amor genuíno não se compra nem se impõe e, menos ainda, se sobrepõe ao de um semelhante? A codependência afetiva supera-se, mas pode implicar ajuda profissional, sob a forma de psicoterapia ou outra, em que a pessoa se sinta segura e se permita ensaiar outras maneiras de relacionar-se, consigo em primeiro lugar. Sem medo de ficar sozinha, sem receio de ser rejeitada por ser como é, ou sentir que a sua auto estima ou valor pessoal só depende daquilo que dá, e que é a moeda de troca para ser acolhida, aceite ou simplesmente tolerada pelo outro.
Clara Soares (jornalista e psicóloga)
http://visao.sapo.pt/opiniao/psicologia-quotidiana-clara-soares/2017-05-30-Porque-nao-e-bom-amar-pelos-dois
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