«Hoje no dia Internacional da Poesia, deixo-vos o poema de Alexandre O’Neill,
Há palavras que nos beijam...», por Diogo Infante.
Há palavras que nos beijam...», por Diogo Infante.
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O’Neill (1924-1986)
***
«Neste dia, da poesia, de todos nós», por Aurelino Costa.
é
comovente a tua poesia
chego
a ter pena de ti e à vezes medo
ardes-me
na mão como uma brasa ao rubro
e
eu sinto-a e apetece-me levá-la à boca, queimar-me.
adorava
que me visitasses mais vezes
tens
um quarto cá em casa, louceiro, agasalho
e
pão, ainda fresco, coberto com um pano, na masseira de pinho
aguardarei
todos os dias, enquanto pascerei vacas até que venhas
e
ordenharei úberes brancos, de leite branco e espumoso, meu poeta.
não
te esqueças, às vezes tenho fome, muita fome e o jejum mata-me.
Aurelino Costa, Domingo
no corpo, Porto, Deriva Editores, 2013
«De Domingo no Corpo, e de quem o assina, se quisermos homenagear a sobredita "refracção" que lhe estrutura a natureza caleidoscópica, concluiremos por reconhecer que na lama de que nos fabricamos é que as estrelas se reflectem, e que de matéria igual é que o Universo se constitui.» (Mário Cláudio)
«A escrita de Aurelino enraiza-se na escuta poética da natureza. É preciso reconhecer que a antiga aliança foi quebrada. Na "relevância" - na pertinência e na actualidade da psico(pato)logia - onde a "coisa em si" é o ser humano. E é exactamente uma escrita elegíaca e melancólica.» (Alexandre Teixeira Mendes)
***
No
dia mundia da poesia, Valter Hugo Mãe lê o poema «Faz-se tarde» de José
Agostinho Baptista, Epílogo [Poesia reunida], Lisboa, Assírio & Alvim, 2019.
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Poema
«Mar» de Jorge Luís Borges lido por Rosa Alice
MAR
Antes
do sonho (ou o terror) tecer
Mitologias
e cosmogonias,
Antes
que o tempo se cunhasse em dias,
O
mar, o sempre mar, já estava e era.
Quem
é o mar? Quem é esse violento
E
antigo ser que rói estes pilares
Da
Terra, e é um e muitos mares
E
abismo e resplendor e acaso e vento?
Quem
o contempla o vê pla vez primeira,
Sempre.
Com o espanto que as perfeitas coisas
Elementares
deixam, as formosas
Tardes,
a lua, o fogo da fogueira.
Jorge Luis Borges, O
Outro, o Mesmo, 1964.
Nova Antologia Pessoal, Quetzal Editores, 2017
CARREIRO, José. “Dia Internacional da Poesia, em confinamento”. Portugal, Folha de Poesia, 21-03-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/03/dia-internacional-da-poesia-em.html
LUSOFONIA Plataforma de apoio ao estudo da
língua portuguesa no mundo https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/
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