As três donzelas vinham cantando pela margem do rio uma cantiga que uma delas, de repente, começara de improvisar; e as vozes das três juntavam-se para repetir variada cada estrofe que a primeira primeiro cantava. Os passos delas mal se sentiam, não fora os vestidos que roçagavam leves a verdura, e elas seguravam na ponta dos dedos.
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Num leve espadanar de nuvens pálidas que da verdura se elevavam com seus passos, as três deusas, pois se via que eram elas, vinham vindo nuas, de cabelos soltos, e os seios delas devagar dançavam rijos, enquanto as coxas alternavam de róseo brilho a cada lado dos negros triângulos, e os braços se erguiam, ondulantes, mostrando o doce côncavo sombrio.
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Nisto, a primeira, que vinha um pouco adiantada, tremeu da voz, e calou-se num ciciado sopro e, silenciando as outras com um gesto, com outro gesto apontou. As três ficaram a olhar aquele jovem resplandecente, cuja pele era de mármore sombreado de pêlos que, na cabeça, eram uma suave cabeleira loira. E, vendo-o suspirar, entreolharam-se e desviaram de pudor os olhos ante maravilha tal, em que tudo era mais e maior que uma donzela se atrevia a imaginar.
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De súbito, as deusas pararam e fitaram-no risonhas, e, com os olhos brilhando como fogo, mediam-no deitado, da cabeça aos pés. Um cálido tremor o percorreu, e um anseio opresso lhe ocupou o peito: suspirou.
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Mas logo o pudor delas se lhes transformou num afogueado fascínio. E os olhos que se haviam desviado perscrutaram em volta, a ver se ele estava só. E aproximaram-se um pouco mais. O cavalo, que ficara fitando-as, sacudiu a cabeça e relinchou de leve.
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As deusas, sorrindo do suspiro dele, avançaram mais. E era como que uma ardência o olhar delas, que pelo seu corpo se pregava, e a que o corpo, palpitando, correspondia pouco a pouco. Cupidinhos esvoaçaram tocando flautas.
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Elas estremeceram, e pararam, como congeladas, no medo que ele despertasse. Mas ele apenas respirou mais fundo, entrecortadamente, como se outro respirar do sangue, convergindo, interferisse no exalar opresso.
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E as deusas tremularam na neblina que as envolvia agora, com os olhos incitando-o a que se não movesse. E ele apenas se espreguiçou, para que o corpo se expusesse mais, no torpor violento que o invadia.
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sexta-feira, 9 de setembro de 2011
O FÍSICO PRODIGIOSO (Jorge de Sena)
sábado, 13 de agosto de 2011
POEMA-MONTAGEM (Raul Brandão/José Carreiro)
Oswaldo Guayasamín, El grito II, 1983 |
domingo, 8 de maio de 2011
CINE-FICHA
A ARTE DE SER ESPECTADOR
Aparentemente, nada há de mais natural do
que ser espectador. Salvo se se for cego, parece que basta colocar-se no
local apropriado, abrir os olhos e... ver. E, no entanto, as coisas são bem
mais complicadas. Bastará pensar neste exemplo simples: não apreendemos todos
as mesmas coisas, apesar de vermos possivelmente o mesmo. Além disso, a
representação (no sentido da encenação e de re-presentação, de voltar a tornar
presente) que o cinema é, pressupõe do seu espectador uma formação acerca dos
seus códigos, das suas linguagens e dos seus contextos. E esta formação alarga
e enriquece o acto de ver. Em conclusão, nada de menos natural do que ser
espectador.
Manuel Pinto e António Santos, O Cinema e a Escola,
Cadernos PÚBLICO na Escola, 1996, p. 41.
Diante de um filme, há que ver e ouvir
cada plano e cada sequência como unidades que se sucedem sem parar. Há que
fixar-se em todos os detalhes que compõem um plano: como se movimentam as
personagens que o preenchem e que expressões assumem; como evoluciona a câmara,
se é que se movimenta, e o que é que nos mostra em cada momento; o que é que
quer dizer quando se ergue por cima do olhar ou quando passa a focar um
pormenor, seja um objecto ou um aspecto de um rosto; como intervêm a música ou
os ruídos para definir o clima que se quer transmitir; como é que, graças à
montagem, se passa a outra cena ou situação distinta e como se encadeiam numa
linha narrativa contínua, etc.
Joaquim Romaguera y
Ramió, El Lenguage Cinematográfico.
A CRÍTICA
CINEMATOGRÁFICA
Que devemos esperar de uma crítica de cinema? Pela minha parte,
poderia sintetizar a resposta em três pontos:
Em primeiro lugar, procuro que um crítico de cinema me leve a ver
num filme um certo número de pontos e de aspectos que me tinham passado
despercebidos; e, em última instância, que tenha sobre a obra em questão
uma perspectiva interpretativa original que me obrigue a repensar a minha
própria experiência de espectador.
Gostaria também que o crítico fosse o agente de cultura, capaz de
me situar o filme de que se ocupa no espaço contemporâneo da história, da
política, da arte e do pensamento.
Por fim, gosto dos críticos que afirmam as suas paixões, que têm
os “seus” autores, que são capazes de dialogar com eles e que, de certo modo,
participam teoricamente no próprio processo de criação artística.
Eduardo Prado Coelho, Público,
13/03/1995.
Clique na imagem para ampliar numa nova janela:
“A excepção e a regra”, crónica de Eduardo Prado Coelho para o suplemento Leituras do jornal Público. Sábado, 18 de março de 1995, p. 12. |
LEITURA CRÍTICA DE UM FILME
Mariolina
Gamba, num artigo publicado na revista Cinema, no número 20, de Maio de 1992, propõe
uma sequência de dez pontos para análise de um filme:
1.
Divisão do filme em episódios (sequências ou capítulos). Procura das cenas principais
(a cena caracteriza-se por uma unidade ambiente).
2.
Individualização das personagens que aparecem no filme. (Entende-se por
personagem todo o ser que tem uma acção individual no filme. Como tal, pode ser
uma pessoa, um animal, uma coisa, um grupo).
3.
Individualização do protagonista (elemento central do filme a nível narrativo,
à volta do qual se desenrola a história. Pode coincidir com uma personagem ou,
em casos extremos, ser uma relação entre personagens).
4.
Conclusão da análise narrativa – o filme é a história de...
5.
Procura das características das personagens, das relações entre si e com a
protagonista, com o fim de individualizar os aspectos técnicos do filme.
6.
Formulação do “tema” do filme, aquilo que o autor quis comunicar-nos através da
obra.
7.
Reflexão sobre o conteúdo do filme. O tema central e outros eventuais temas
serão válidos ou discutíveis? Consideração dos comportamentos das personagens e
do protagonista.
8.
Reflexão sobre os aspectos linguísticos e estéticos (unidade do filme ou sua
falta, uso da linguagem das imagens, interpretação dos actores, música, etc.).
Consideração estética – como se exprime o tema central do filme e outros
eventuais temas. Há harmonia no filme relativamente ao emprego dos diversos
elementos da linguagem cinematográfica?
9.
Confronto entre o que o filme exprime e a própria experiência pessoal e social.
10. Outras
considerações julgadas oportunas (sociais, políticas. históricas.
educativas...).
Manuel Pinto e António
Santos, O Cinema e a Escola,
Cadernos PÚBLICO na
Escola, 1996., p.74.
CINE-FICHA
(apreciação de filmes)
- Título
- Título original
- Realizador
- Argumentista
- Género
- País de origem
- Data
- Actores principais
- Actores secundários
- Contextualização histórica,
política e social
- Espaço(s) de acção
- Breve síntese (“O filme é a
história de...”)
- Procura das características
das personagens, das relações entre si e com a protagonista, com o fim de
individualizar os aspectos técnicos do filme.
- Formulação do “tema” do
filme, aquilo que o autor quis comunicar-nos através da obra.
- Reflexão sobre o conteúdo do
filme. O tema central e outros eventuais temas serão válidos ou discutíveis?
Consideração dos comportamentos das personagens e do protagonista.
- Reflexão sobre os aspectos
linguísticos e estéticos (unidade do filme ou sua falta, uso da linguagem das
imagens, fotografia, música, caracterização e interpretação dos actores,
guarda-roupa, etc.). Consideração estética – como se exprime o tema central do
filme e outros eventuais temas. Há harmonia no filme relativamente ao emprego
dos diversos elementos da linguagem cinematográfica?
- Aspectos que mais apreciei
- Aspectos que menos apreciei
- Balanço crítico