quarta-feira, 20 de julho de 2022

Maria Campaniça, Manuel da Fonseca

Figura de ceifeira, Roque Gameiro

 

Maria Campaniça

 

Debaixo do lenço azul com sua barra amarela

os lindos olhos que tem!

Mas o rosto macerado

de andar na ceifa e na monda

desde manhã ao sol-posto,

mas o jeito

das mãos torcendo o xaile nos dedos

é de mágoa e abandono...

Ai Maria Campaniça,

levanta os olhos do chão

que eu quero ver nascer o sol!

 

Manuel da Fonseca, Aldeia Nova. Lisboa, Caminho, 1984

 

 



 

Questionário:

 

1. Nomeia o destinatário deste poema.

 

2. Destaca no poema as expressões que remetem para o sofrimento desse destinatário.

 

2.1. Refere a causa desse sofrimento.

 

3. Explicita o pedido que o sujeito poético endereça ao seu destinatário.

 

3.1. Caso o destinatário concretize esse pedido, explicita o que acontecerá e o que isso simboliza.

 

Fonte: lição n.º 53 de Português – 7.º e 8.º anos (Projeto #EstudoEmCasa), sobre "Descalça vai para a fonte", de Luís de Camões. "Maria Campaniça", de Manuel da Fonseca, 2021-05-25.

► Assistir à aula da Professora Tereza Cadete Sampainho, em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7828/e546784/portugues-7-e-8-anos (inicia no minuto 20’ 37’’).

 





Poderá também gostar de:

 

► Nota biográfica sobre a alegada origem de Maria Campaniça:



Maria Campaniça, camponesa, campaniça, da aldeia de Salvada, militante do P.C.P desde que se lembrava, trazia pregado na roupa, todo o ano, o emblema do partido em que acreditava.

Aguardava reformas, concretizações.

Morreu nova quando ainda tinha coisas importantes em que pensar, maiores lutas para travar, galeras para subir, manifestações onde erguer o punho, as paredes da sua aldeia para caiar, 4 homens em casa para cuidar, modas alentejanas para cantar.

(Adaptação do texto do blogue Pelos olhos de Caterina, apud https://bxalentejo.blogspot.com/2005/08/maria-campania.html)


Cante alentejano "Maria Campaniça" in À Descoberta, Grupo  Seara Nova. Lisboa, Ovação - Comércio e Indústria de Som, Lda, 1998:




Campaniça e Aldeia Nova: um retrato da paisagem alentejana à luz do neo-realismo e da geografia cultural, Elieser Santos. Rio de Janeiro, UERJ, 2008.

 

Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de textos de Manuel da Fonseca, por José Carreiro. In: Folha de Poesia, 2018-05-04, disponível em https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/manuel-da-fonseca.html




CARREIRO, José. “Maria Campaniça, Manuel da Fonseca”. Portugal, Folha de Poesia, 20-07-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/07/maria-campanica-manuel-da-fonseca.html



sexta-feira, 8 de julho de 2022

Nunca encontrei um pássaro morto na floresta, José Gomes Ferreira

 

Pássaro, Aleksandar Makedonski


V

(Encontrei na Brasileira do Rossio o Manuel Mendes – a primeira pessoa a quem li estes versos.)

 

Nunca encontrei um pássaro morto na floresta.

 

Em vão andei toda a manhã

a procurar entre as árvores

um cadáver pequenino

que desse o sangue às flores

e as asas às folhas secas...

 

Os pássaros quando morrem

caem no céu.

 

José Gomes Ferreira, Poeta Militante I,

 

 

O autor de O Irreal Quotidiano mostrava-se deveras espantado por nunca ter descoberto um pássaro morto no meio da floresta. Certa vez, andara toda a manhã "a procurar entre as árvores/ um cadáver pequenino/ que desse o sangue às árvores/e asas às folhas secas...". Nada viu. E foi nessa mesma manhã que a metáfora (metáfora de uma morte limpa) vem em seu socorro, e dissipa o mistério o atormentava: "Os pássaros quando morrem/caem no céu".

A partir da espantosa descoberta, os pequeninos seres alados encontraram para sempre abrigo poético nas suas palavras. E o "poeta militante", tão feliz com o achado, entraria "no café com um rio na algibeira". Ele próprio conta o que de extraordinário a seguir se passou: "Depois, encostado à mesa, /tirei da boca um pássaro a cantar/ e enfeitei com ele a Natureza/ das árvores em torno/a cheirarem ao luar/ que eu imagino".

 

Francisco Mangas, https://www.dn.pt/gente/os-passaros-quando-morrem-nao-caem-no-ceu-1751726.html, 2011-01-08

 

 






 

1. Indica o que preocupa o sujeito poético.

2. Transcreve os versos que comprovam a sua crença na regeneração da vida.

 

Fonte: Projeto #ESTUDOEMCASA, aula 57 de Português – 9.º ano, sobre os poemas "O menino da sua mãe", de Fernando Pessoa; Nunca encontrei um pássaro morto", de José Gomes Ferreira, 2021-06-07. Disponível em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7822/e549496/portugues-9-ano,  inicia ao minuto 19’50’’

 





CARREIRO, José. “Nunca encontrei um pássaro morto na floresta, José Gomes Ferreira”. Portugal, Folha de Poesia, 08-07-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/07/nunca-encontrei-um-passaro-morto-na.html


terça-feira, 5 de julho de 2022

Tinha deixado a torpe arte dos versos, Gastão Cruz




Tinha deixado a torpe arte dos versos

e de novo procuro esse exercício

de soluços

 

Devo agora rever a noite que te oculta

como pude esquecer que de tal modo

teria de exprimir

 

tudo o que já esquecera e sopra sobre

mim

como numa planície o crepúsculo

 

Tinha esquecido a arte dos tercetos

e toda a

outra

mas fechaste-te nela e eu descubro

no seu esse veneno esse discurso

 

Devo pois ver de novo como muda

como os sinais da voz a noite que perdura

tu deitas-te eu ensino à minha vida

esse extinto exercício

 

Gastão Cruz, Teoria da Fala. Coleção «Cadernos de Poesia» nº 24.
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1972

 

Síntese esquemática da leitura do poema “Tinha deixado a torpe arte dos versos”



Fonte: Projeto #ESTUDOEMCASA, aula 54 de Português – 9.º ano, sobre os poemas “Escrever”, de Irene Lisboa, e “Tinha deixado a torpe arte dos versos”, de Gastão Cruz, 2021-05-24. Disponível em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7822/e546369/portugues-9-ano, inicia ao minuto 47’40’’

 

Questionário sobre a leitura do poema “Tinha deixado a torpe arte dos versos”

 

1. Distingue os dois momentos temporais referidos no poema.

2. Indica o que mudou de um momento para o outro.

3. Transcreve uma comparação presente no poema.

3.1. Explica a que se refere essa comparação.

 

Fonte: Projeto #ESTUDOEMCASA, aula 54 de Português – 9.º ano, sobre os poemas “Escrever”, de Irene Lisboa, e “Tinha deixado a torpe arte dos versos”, de Gastão Cruz, 2021-05-24. Disponível em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7822/e546369/portugues-9-ano, inicia ao minuto 47’40’’

 

 

   Gastão Cruz  (Faro, 1941 - Lisboa, 2022)

 

O poeta e crítico literário Gastão Cruz, fotografado em 2015© Gerardo Santos / Global Imagens


 

Gastão Santana Franco da Cruz nasceu no dia 20 de Julho de 1941, no número 20 da Rua de Portugal, em Faro. Com perto de 20 anos publica o seu primeiro livro, A Morte Percutiva (Poesia 61). Após cerca de vinte livros de poesia, revisitaria a infância e a (já desaparecida) casa onde nasceu, numa obra a que deu precisamente o nome de Rua de Portugal (2002), e pela qual foi distinguido com o Grande Prémio de Poesia da APE.

A poesia acompanha-o desde muito novo. O pai recitava, em casa ouvia-se ópera, e o lirismo foi despontando, levando-o a iniciar-se muito cedo na crítica de poesia, em despiques por escrito com um amigo de infância. Pela mesma altura em que rumou a Lisboa para cursar Filologia Germânica (1958), na Faculdade de Letras – onde David Mourão- Ferreira foi seu professor –, começou a colaborar com poemas e artigos sobre poesia em diversos jornais e revistas, entre os quais os Cadernos do Meio-Dia, publicados em Faro, sob a direcção de António Ramos Rosa e Casimiro de Brito.

À data de saída das cinco plaquettes que constituíram a publicação colectiva Poesia 61 (que reuniu Gastão Cruz, Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta), Gastão Cruz era o único do grupo inédito em livro. Poesia 61, uma das principais contribuições para a renovação da linguagem poética portuguesa na década de 60, foi já várias vezes descrita pelo próprio Gastão Cruz como, «em grande parte, uma reunião de conveniência editorial».

Ainda nos tempos de universidade, e após ter sido preso no auge das greves académicas de 62, o autor foi um dos organizadores da Antologia de Poesia Universitária (1964), dando a conhecer poemas de Manuel Alegre, Eduardo Prado Coelho, António Torrado, José Carlos Vasconcelos, Luísa Ducla Soares ou Boaventura Sousa Santos, entre outros. Este importante papel de Gastão Cruz na divulgação, promoção e crítica da poesia e da literatura em geral, bem como do teatro e da música, prolonga-se até hoje, quer colaborando com textos na imprensa (muitos deles reunidos no livro A Poesia Portuguesa Hoje) e na organização de antologias, quer na direcção de recitais, já desde os tempos da Faculdade. Actualmente, é um dos directores da Fundação Luís Miguel Nava e da revista Relâmpago, por ela editada.

Da amizade com Fiama, com quem foi casado, nasceu a paixão pelo teatro. Estiveram ambos na génese do Grupo Teatro Hoje, no início dos anos 70, e do qual ele foi director desde 1991 até à sua extinção, em 1994. Ali encenou peças de Crommelynck, Strindberg, Camus, Tchekov ou uma adaptação sua de Uma Abelha na Chuva (1977), de Carlos de Oliveira. Algumas delas foram, pela primeira vez, traduzidas para português pelo poeta.

O percurso literário de Gastão Cruz inclui a tradução de nomes como William Blake, Jean Cocteau, Jude Stéfan e Shakespeare. As Doze Canções de Blake que traduziu fazem, aliás, parte da sua bibliografia poética, porque «só vale a pena traduzir poesia, se da tradução resultar um poema português de um poeta português».

É professor do Ensino Secundário desde 1963 e, entre 1980 e 1986, exerceu as funções de Leitor de Português na Universidade de Londres (King's College), onde além de Língua Portuguesa, leccionou cadeiras de Poesia, Drama e Literatura Portuguesa.

«Chama-se Escassez um grupo de quinze poemas que publiquei em 1967. Poderia ser esse o título de toda a minha poesia, que é antiexplicativa, antidescritiva», explicou o autor em 1972, voltando frequentemente à questão que os críticos lhe lançam desde essa altura. «Penso que tenho caminhado no sentido de tornar a minha poesia mais legível, pela necessidade de me libertar da classificação de hermético ou difícil», disse mais recentemente.

Esta é uma poesia marcada por forte intensificação do valor da palavra e grande precisão formal, mas sempre num registo extremamente contido, nítido e rigoroso («a procura do peso certo para cada palavra»). Frequentemente, a reflexão sobre a poesia e a linguagem, que caracteriza os seus textos teóricos, é transportada para o interior do próprio poema. Gastão Cruz revela-se um grande conhecedor da tradição poética portuguesa, existindo nos seus poemas uma profunda intertextualidade, tanto relativa a poetas portugueses como estrangeiros, principalmente de língua inglesa.

As quatro recolhas de toda a sua poesia e a antologia que até à data organizou (1974, 1983, 1990/1992, 1999), acabam por corresponder ao encerrar de determinadas fases temáticas. A morte e o corpo – Manuel Gusmão fala de uma tensão permanente entre Eros e Thanatos – são duas das metáforas mais usadas pelo poeta, correspondendo a significados tão diferentes quanto a esperança, o desespero, o amor e o sexo, o caos, o próprio País, a opressão ou a fugacidade.

 

Centro de Documentação de Autores Portugueses, 06/2004. Biografia disponível em: http://livro.dglab.gov.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=10151

 

   Poderá também gostar de ler:

 

 

 



CARREIRO, José. “Tinha deixado a torpe arte dos versos, Gastão Cruz”. Portugal, Folha de Poesia, 05-07-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/07/tinha-deixado-torpe-arte-dos-versos.html



quinta-feira, 30 de junho de 2022

Monotonia, Irene Lisboa

Vittorio Matteo Corcos, Sonhos, 1896

 

Monotonia

 

Começar, recomeçar, interminamente1 repetir um

monótono romance, o romance da minha vida.

Com palavras iguais, inalteráveis, semelhantes,

insistir sobre o cansaço e a pobreza disto de viver...

Andar como os dementes pelos cantos a repisar

o que já ninguém quer ouvir.

Levar o meu desprecioso tempo à deriva.

Queixar-me, castigar e lamentar sem qualquer

esperança, por desfastio2.

Pôr a nu uma miséria comum e conhecida,

chãmente3, serenamente, indiferente à beleza dos temas

e das conclusões.

Monotonamente, monotonamente.

 

Monotonia. Arte, vida...

Não serei ainda eu que te erigirei4 o merecido

altar.

Que te manejarei5 hábil e serena.

Monotonia! Gume6 frio, acerado7, tenaz8, eloquente.

Sino de poucos tons, impressionante.

Mas se te descobri não te vou renegar.

Tu ensinas-me, tu insinuas-me a arte da verdade,

a pobreza e a constância.

Monotonia, torna-me desinteressada.

 

LISBOA, Irene – "Monotonia". In Um Dia e Outro Dia… Outono Havias de Vir: Volume I, Poesia I. Editorial Presença, 1991.

 

___________

1 Interminamente: interminavelmente.

2 Por desfastio: para evitar o tédio.

3 Chãmente: singelamente, de modo simples, franco.

4 Erigirei: levantarei, erguerei.

5 Manejarei: mover com a mão, manobrar.

6 Gume: lado do fio de um objeto cortante.

7 Acerado: que corta, afiado; mordaz (no sentido figurado).

8 Tenaz: resistente; persistente (no sentido figurado).

 


 


Questionário sobre a leitura do poema “Monotonia”, de Irene Lisboa:

1. Identifica o “romance” que o sujeito poético descreve.

1.1. Indica os adjetivos que caracterizam o romance e as suas palavras.

1.2. Destaca as características do “viver” transposto nesse romance.

1.3. Identifica a comparação que sugere o desinteresse de tal romance.

2. Atenta, agora, nos assuntos que constituem a “matéria” dessa escrita.

2.1. Enumera-os.

2.1.1. É essa matéria exclusiva da experiência pessoal do sujeito poético? Justifica.

3. Identifica o verso em que o sujeito poético insinua que nem a arte escapa à monotonia da vida.

4. A monotonia é sugerida também pelos recursos expressivos utilizados.

4.1. Refere as metáforas associadas à monotonia e explicita o seu valor.

4.2. Identifica outros recursos expressivos que sugiram o tom monótono. Fundamenta a tua resposta com exemplos textuais.

5. O poema começa num tom desolador, mas termina com uma descoberta.

5.1. Quais são, pois, as dádivas da monotonia?

5.2. Na tua opinião, por que motivo o sujeito poético suplica à monotonia que o torne desinteressado?

6. Relaciona o título do poema com o título da obra a que pertence.

 

(Para)textos 9: português, 9º ano,Ana Miguel de Paiva [et al.]; rev. cient. Maria Antónia Coutinho. - 1ª ed. - Porto: Porto Editora, 2013.

Respostas esperadas:

1. Trata-se do romance da sua vida.

1.1. Esse romance caracteriza-se como “monótono”, sendo as suas palavras “iguais”, “inalteráveis”, “semelhantes”.

1.2. O “viver” é marcado pelo “cansaço” e pela “pobreza”.

1.3. “Andar como os dementes pelos cantos a repisar/o que já ninguém quer ouvir” (vv. 5-6).

2.1. Compõem a “matéria” da escrita o “desprecioso tempo à deriva” do sujeito poético, o seu queixar-se, castigar e lamentar, exercidos “sem qualquer esperança”, meramente “por desfastio”.

2.1.1. Essa matéria não é exclusiva do sujeito poético, pois trata-se de uma miséria “comum e conhecida”, logo extensiva aos outros, ao ser humano em geral.

3. “Monotonia. Arte, vida…” (v. 14).

4.1. A metáfora está presente em “Gume frio, acerado, tenaz, eloquente. / Sino de poucos tons, impressionante.“ (vv. 18-19) – nestes versos, a monotonia é associada ao “Gume” e ao “sino” (e às respetivas características). Ao ser associada ao “gume” de uma espada “frio, acerado, tenaz, eloquente”, a monotonia é comparada a algo que causa sofrimento, incómodo, perturbador. O mesmo carácter perturbador é sugerido pela metáfora do “sino” – já que este, embora de poucos tons, como convém à monotonia, é “impressionante”, marca, perturba.

4.2. Os recursos expressivos são a aliteração e a assonância de sons nasais (“interminamente repetir um/monótono romance, o romance da minha vida”, vv. 1-2), a enumeração (“Queixar-me, castigar e lamentar”, v. 8), o assíndeto (“Começar, recomeçar, interminamente repetir”, v. 1), a repetição (“Monotonamente, monotonamente.”, v. 13) e a pontuação, nomeadamente as reticências, que marcam a suspensão do pensamento (vv. 3-4) e o ponto final a substituir a vírgula (v. 14). Esses recursos expressivos, pelo seu carácter repetitivo, marcam uma cadência melancólica, que transmite a ideia de monotonia expressa no poema.

5.1. Segundo o sujeito poético, a monotonia proporcionou-lhe “a arte da verdade”, a “pobreza” e “a constância”. Esses dons têm uma aceção positiva – sendo conotados com a autenticidade, a ausência de importância dada aos bens materiais e a perseverança/firmeza.

5.2. Resposta pessoal.

Sugestão de resposta:

Sendo a monotonia a instância a que o sujeito poético apela, não admira que este peça o desinteresse, a indiferença perante o que ocorre, perante todo o tipo de entusiasmos…

6. O poema “Monotonia” adapta-se ao título da obra Um dia e outro dia, pois remete para um quotidiano cinzento, monótono, habitual.

     Poderá também gostar:

 

  • “Cai um pássaro do ar, devagar, muito devagar”, de Irene Lisboa. In Guia de aprendizagem. Disciplina de Português. Unidade 4. Ensino Secundário Recorrente; Lisboa, Ministério da Educação – Departamento do Ensino Secundário, 1997. Apud “Lisboa” in Folha de Poesia, José Carreiro, 2013-07-04.

 

 




CARREIRO, José. “Monotonia, Irene Lisboa”. Portugal, Folha de Poesia, 30-06-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/06/irene-lisboa-monotonia.html



quarta-feira, 29 de junho de 2022

Shakespeare: De ti me separei na primavera

 

Soneto 98

 

De ti me separei na primavera:

quando o risonho abril, ao sol voando,

em cor e luz, a plenas mãos, cantando,

nova alegria entorna1 pela esfera2

 

No viridente3 bosque até dissera

o pesado Saturno4 ver folgando5

Porém nem cor vistosa ou cheiro brando

Lograram6 incender7 minha quimera8.

 

A brancura dos lírios, não a vi…

O vermelhão das rosas desmaiava…

Eram fantasmas só… ao pé de ti

– o seu modelo – quanto lhes faltava!

 

Par’cia inverno; e eu, a viva alfombra9,

Só pude imaginá-la a tua sombra.

 

“Soneto XCVIII”, William Shakespeare, trad. Luís Cardim,

Rosa do mundo, 2001 poemas para o futuro,

Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, p. 915

 

Notas:

1.     Entorna – verte, derrama.

2.    Esfera – Terra.

3.    Viridente – verdejante, viçoso.

4.    Saturno: personificação mitológica do Tempo. O deus romano Saturno refugiou-se no Lácio, onde fez florescer a idade de ouro, transmitindo ao Homem os segredos da agricultura.

5.    Folgando – brincando, divertindo-se.

6.    Lograram – conseguiram.

7.     Incender – incendiar, atear, inflamar, abrasar.

8.    Quimera – ilusão, sonho, fantasia, coisa resultante da imaginação.

9.    Alfombra – erva, tapete de verdura, chão arrelvado.




Questionário sobre a leitura do Soneto 98 de Shakespeare.

1. No Soneto 98 de Shakespeare, o sujeito poético recorda um acontecimento da sua vida. Indica de que acontecimento se trata. Esclarece também por que razão é expressiva a antítese entre esse acontecimento e a estação do ano em que tal ocorreu.

2. Refere a forma como a Natureza é caracterizada nas três primeiras estrofes e identifica o recurso expressivo presente nessa caracterização.

3. Justifica a utilização do advérbio “porém”, no verso 7.

4. Apresenta a forma como o sujeito poético vê a natureza na terceira estrofe, justificando a sua perceção.

5. Refere o recurso expressivo presente na expressão “Par’cia inverno” e justifica esta afirmação final.

6. Identifica o tema do texto.

 

Correção:

1. O sujeito poético recorda que a separação da mulher amada ocorreu na estação do ano menos prevista, visto que a primavera é frequentemente associada ao impulso da vida, ao início de um ciclo de prosperidade e, por conseguinte, à vida amorosa que também deve florescer e crescer dentro de nós.

2. Através da personificação do mês de abril, o sujeito poético realça uma natureza alegre, luminosa, dinâmica, verdejante, despreocupada e brincalhona.

3. O advérbio conetivo «porém», usado no início do verso 7, marca um contraste entre a realidade descrita atrás, associada à felicidade, e o que sucedeu ao sujeito poético, relacionado com a tristeza e a deceção.

4. A natureza não tem beleza para o sujeito lírico: os lírios não têm a brancura normal e o vermelho das rosas era ténue. A natureza é vista desta forma porque o sujeito lírico não está perto da mulher amada, que é para ele o modelo em que a natureza se inspira para ser bela. A natureza reflete os sentimentos do sujeito lírico.

5. Ao utilizar a comparação, o sujeito lírico sente que vive no inverno, porque não consegue sentir-se em sintonia com a primavera e mesmo o que a natureza ainda possui de belo só poderá ser, para ele, uma sombra da beleza da mulher amada.

6. O tema do poema é sobre os efeitos que a separação da amada provocam no sujeito poético.

 

Bibliografia:

Conto Contigo 8, Conceição Monteiro Neto et al. Porto, Areal Editores, 2013.

Contos & Recontos 8, Carla Marques e Inês Silva. Lisboa, ASA, 2014.

P8, Ana Santiago e Sofia Paixão. Lisboa, Texto Editores, 2014 (2.ª ed.).

(Para)textos 8, Ana Paiva et al. Porto, Porto Editora, 2014.




CARREIRO, José. “Shakespeare: De ti me separei na primavera”. Portugal, Folha de Poesia, 29-06-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/06/shakespeare-de-ti-me-separei-na.html