VARIAÇÕES SOBRE CANTARES DE D. DINIS
Ramo verde florido,
florido de bela flor,
do meu amor tão querido,
onde está o meu amor?
Diz-me aonde ele está,
aonde está o meu amor,
p'ra que eu buscá-lo vá
florido de bela flor.
Ramo verde tão querido,
tão querido do meu amor,
de belas flores florido,
florido de bela flor...
...Diz-me aonde ele está,
florido de bela flor,
p'ra que eu buscá-lo vá
aonde ele está, o meu amor.
Ramo verde florido,
florido de bela flor,
do meu amor tão querido,
tão querido do meu amor.
17/5/1938
Jorge de Sena, 40 Anos de Servidão,
Lisboa: Moraes Editores, 1979;
2.ª edição, Lisboa: Edições 70, 1989, p. 21
Jorge de
Sena — um Trovador da Modernidade
[…] um
dos primeiros poemas de inspiração cancioneiril data de 1938, ou seja, antecede
a estreia literária de Sena, ocorrida por altura dos seus 19 anos. É
interessante salientar que este poema da juventude vai abrir uma obra póstuma,
organizada por Mécia de Sena "como um raminho de flores de campo na porta
duma casa senhorial, uma cantiga de amigo" (Picchio, 1984:226,227),
inspirada nas do verde pinho" do rei trovador, intitulada "Variações
sobre Cantares de D. Dinis".
Esta
composição de estrutura paralelística recorre ao dobre e aos jogos quiasmáticos,
à variação sinonímica, ao estrofismo popularizante da quadra aliada ao metro da
redondilha maior. Além disso, a enunciação feminina, a voz da donzela que questiona
o ancestral ramo verde florido/florido de bela de flor" pelo seu amor
também aproxima o poema à cantiga de amigo dionisíaca. Porém, como vimos, Jorge
de Sena não se limita a um decalque replicativo: inversamente, subverte o tom
inocente da cantiga, numa exploração simbólica do erotismo e da virilidade,
como salienta Luciana Stegnano Picchio: “que a Tradição popular em que
ele saudosamente, ironicamente, se insertava, mais do que ao pino do amigo
da tradição poética ilustre, com todas as suas implicações freudianamente
eróticas, se cingiria ao correlato deste pinheiro longínquo, dentro da convenção
do paralelismo galego-português: se cingiria ao ramo do amado. O pinheiro,
solidariamente, orgulhosamente, olha para o céu com suas flores não desabrochadas." (Picchio, 1984: 230,231)
Un Chant Novel: A
inspiração (neo)trovadoresca na poética de Jorge de Sena, Sílvia Marisa dos Santos Almeida Cunha. Universidade
de Aveiro- Departamento de Línguas e Culturas, 2008.
Ligações externas com sugestões de leitura:
Cantigas medievais
galego-portuguesas – projeto Littera: a presente base de
dados disponibiliza, aos investigadores e ao público em geral, a totalidade das
cantigas medievais presentes nos cancioneiros galego-portugueses, as respetivas
imagens dos manuscritos e ainda a música (quer a medieval, quer as versões ou
composições originais contemporâneas que tomam como ponto de partida os textos
das cantigas medievais)
Poesia trovadoresca galego-portuguesa: síntese didática
Un Chant Novel: A inspiração
(neo)trovadoresca na poética de Jorge de Sena, Sílvia
Marisa dos Santos Almeida Cunha. Universidade de Aveiro- Departamento
de Línguas e Culturas, 2008.
LUSOFONIA Plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/
CARREIRO, José. “Variações sobre cantares de D. Dinis, por Jorge de Sena”. Portugal, Folha de Poesia, 07-05-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/05/variacoes-sobre-cantares-de-d-dinis-por.html
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