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1 Elegia: poema de assunto
triste ou de lamentação.
Elabore um comentário do poema que integre o tratamento dos seguintes
tópicos:
-
importância das referências temporais;
-
valor simbólico dos elementos da natureza;
-
aspetos formais e recursos estilísticos relevantes;
-
descrição do estado de espírito do «eu».
Observação: Relativamente
ao terceiro tópico, são exigidos dois aspetos formais e dois recursos
estilísticos.
Explicitação de cenários de resposta
Importância das
referências temporais
A
importância das marcas de tempo é visível no poema, na medida em que:
- o
uso de formas verbais no pretérito imperfeito do indicativo («era», «Falavas»,
«havia», «dizias» - vv. 1, 2, 3 e 7), no pretérito perfeito do indicativo
(«trouxe», «mudou», «passou», «quebraste» - vv. 6, 12, 15 e 18) e, também, no
presente do indicativo («passa», «não se demora», «sabemos», «somos», «é», «não
é», «não é», «Não estamos», «traz», «não bebem»-w. 9, 11, 13, 15, 16, 17, 21, 22
e 25), marca a oposição passado/presente como um dos tópicos centrais do texto;
-
as referências de tempo, ao longo do poema («Às vezes», «Maio [...] outrora»;
«cada hora», «Ainda», «agora», «já não», «já não», «juventude», «setembro [...]
ainda», «já não» - w. 1, 6, 8, 11, 13, 16, 17, 20, 22 e 25). sublinham, de modo
sistemático, a consciência do sujeito de que a sua relação com o «tu» se
encontra em progressiva degradação, evidente num «agora» marcado pelo envelhecimento,
desprovida de encantamento e de fulgor. (De facto, a «harmonia» e a «plenitude»
associadas ao tempo passado estão circunscritas, no presente, apenas aos sinais
residuais dessa relação-vv.11-15 e w. 22-23);
- …
Valor simbólico dos
elementos da natureza
No
poema, a natureza é representada pelos seguintes elementos: «frutos»,
«animais», «cravos», «ramos», «fruto», «as aves e os ventos» (w. 5, 6, 20, 23 e
24). Assim se configura, simbolicamente, a presença de alguns dos elementos
primordiais: Terra («frutos», «animais», «ramos», «fruto») e Ar («as aves e os
ventos»); note-se que também o Fogo (sugerido por «cravos morenos» e «ardor» -
w. 7 e 18) e a Água («bebem» -v. 25) convergem nesta figuração simbólica.
Por
outro lado, os elementos da natureza estabelecem, ainda, uma oposição simbólica
entre:
- a
natureza que se renova («Maio trouxe cravos como outrora» -v. 6) e a plenitude
da vida, que já não se recupera;
- a
paixão inicial e plena (associada à «harmonia», à floração primaveril dos «cravos»
e a «Maio») e a situação de perda atual (representada pelos «ramos partidos» e
pelo «fruto» de «setembro», já outonal, indiciando o fim de um ciclo).
Aspetos formais e recursos
estilísticos relevantes
De
entre os recursos estilísticos presentes neste poema, salientam-se os
seguintes:
-
personificação do tempo («Maio trouxe», «cada hora / passa e não se demora»,
«setembro traz ainda / um fruto em cada mão» - vv. 6, 8-9, 22-23), associando o
amor aos temas da mudança e do ritmo cíclico das estações;
-
metáforas / imagens («cravos morenos», «ao partires um a um / os ramos todos da
tua juventude», «os homens, as aves e os ventos / já não bebem em ti a direção»
- vv. 7, 19-20, 24-25), contribuindo para a representação da perda;
- antítese
(«na tristeza das nossas alegrias» - v. 10) ou formulações antitéticas («um
novo gesto é igual ao que passou» -v. 15), salientando o carácter paradoxal das
emoções;
-
estruturas paralelísticas, marcando ora uma ligação entre o tempo passado e o
presente («Como outrora, / [...]como tu dizias»; «somos agora mais lentos,/
mais amargos» - vv. 6-7, 13-14), ora a associação entre poesia e erotismo («Um
verso já não é a maravilha, I um corpo já não é a plenitude» - w. 16-17);
- adjetivação
(«modos naturais», «cravos morenos», «mais lentos,/ mais amargos,/ um novo
gesto é igual» - vv. 2, 7, 13-15), descrevendo a perceção disfórica da mudança;
-
uso reiterado do advérbio de negação («não» - com cinco ocorrências), o qual,
conjugado com outras expressões adverbiais e conjuncionais de valor contrastivo
ou restritivo («Só», «já», «Mas»), acentua a tendência disfórica geral;
-
recurso aos dois pontos (w. 2, 12 e 21), reforçando a intenção explicativa do
discurso (de tom evocativo e intimista);
- …
Relativamente a aspetos
formais, temos, por exemplo:
-
composição constituída por cinco quintilhas;
-
esquema rimático variado, com presença de rima Interpolada, emparelhada e
cruzada, e ainda de versos brancos;
-
grande diversidade métrica, com versos que variam entre três e doze silabas;
- …
Nota - Para a atribuição
da cotação referente ao conteúdo deste tópico, é considerada suficiente a apresentação
de quatro elementos, sendo obrigatoriamente indicados dois recursos estilísticos
e dois aspetos formais.
Descrição do estado de espírito
do «eu»
O
sujeito poético mostra-se:
-
nostálgico, ao evocar um tempo de harmonia plena, associado ao «tu» e aos seus
«modos», similares aos da natureza;
-
amargamente consciente da perda do tempo edénico da relação, substituído por um
tempo presente disfórico, ao inventariar os fatores que eliminaram a plenitude:
a «tristeza» das próprias «alegrias», o passar inelutável de «cada hora», a
adulteração das vozes e dos gestos, a rotina que toma «um novo gesto [...]
igual ao que passou», a incapacidade de sentir a «maravilha» da poesia e a «plenitude»
erótica, a perda da «juventude»;
-
infeliz, ao realçar a sensação pessoal de perda, embora reconheça ainda os vestígios
de uma relação que persiste (cf. 3.ª estrofe e vv. 21-23);
-
lúcido, ao reconhecer a precariedade, a fragilidade do relacionamento, não se
mostrando esperançoso, antes sugerindo que antevê a aproximação inevitável do
fim (pois o «tu» deixou de ser o polo que irradia o fulgor necessário ao «eu»);
- …
(Fonte: Exame Nacional do Ensino
Secundário. 12.º Ano de Escolaridade (Dec.-Lei nº 286/89, de 29 de agosto).
Curso Geral – Agrupamento 4. Prova Escrita de Português
A nº 138 e respetivos critérios de classificação. Portugal, GAVE [IAVE], 2003, 2.ª
fase)
Eugénio de Andrade por Carlos Carneiro (1953) |
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- “A metáfora em Eugénio de Andrade” - apresentação crítica,
seleção, notas e sugestões para análise literária da lírica de Eugénio de
Andrade, por José Carreiro. In Folha de Poesia, 2018-04-23.
Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/04/a-metafora-em-eugenio-de-andrade.html
CARREIRO, José. “Às vezes era bom que tu viesses, elegia de Eugénio de Andrade”. Portugal, Folha de Poesia, 05-05-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/05/ainda-sabemos-cantar.html
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