Eme Line, tremor de terra em Itália, 2012 |
O tempo e a paciência
Se alguém
me perguntar o que é o tempo, declaro logo a minha ignorância: não sei. Agora mesmo
ouço o bater do relógio de pêndula, e a resposta parece estar ali. Mas não é
verdade. Quando a corda se lhe acabar, o maquinismo fica no tempo e não o mede:
sofre-o. E se o espelho me mostra que não sou já quem era há um ano, nem isso
me dirá o que o tempo é. Só o que o tempo faz.
Que me
sejam perdoadas estas falsas profundezas. Nada em mim se dispunha a coxear atrás
do Einstein se não fosse aquela notícia de França: no rio Saône toda a fauna se
extinguiu por ação de produtos tóxicos acidentalmente derramados nele, e cinco
anos serão necessários para que essa fauna se reconstitua. O mesmo tempo que
envelhece, gasta, destrói e mata (boas noites, espelho), vai purificar as
águas, povoá-las pouco a pouco de criaturas, até que cinco anos passados o rio
ressuscite da fossa comum dos rios mortos, para glória e triunfo da vida. (E
depois casaram, e tiveram muitos afluentes.)
Não iria
longe esta crónica se não fosse a providência dos cronistas, a qual é (aqui o confesso)
a associação de ideias. Vai levando o rio Saône a sua corrente envenenada, e é
neste momento que uma gota de água se me desenha na memória, como uma enorme pérola
suspensa, que devagar vai engrossando e tarda tanto a cair, e não cai enquanto
a olho fascinado. Rodeia-me um fantástico amontoado de rochas. Estou no
interior do mundo, cercado de estalactites, de brancas toalhas de pedra, de
formações calcárias que têm a aparência de animais, de cabeças humanas, de
secretos órgãos do corpo – mergulhado numa luz que do verde ao amarelo se
degrada infinitamente.
A gota de
água recebe a luz de um foco lateral e é transparente como o ar, ali suspensa sobre
uma forma redonda que lembra um bolbo vegetal. Cairá não sei quando, da altura de
seis centímetros, e vai escorregar na superfície lisa, deixando uma infinitesimal
película calcária que tornará mais breve a próxima queda. E porque nós parámos
a olhar a gota de água, o guarda de Aracena disse: «Daqui a duzentos anos as
duas pedras estarão juntas.»
É esta a
paciência do tempo. Na gruta imensa, o tempo está aproximando duas pedras insignificantes
e promete a silenciosa união para daqui a duzentos anos. À hora a que escrevo, pela
noite dentro, a caverna está decerto em escuridão profunda. Ouve-se o pingar
das águas soltas sobre os lagos sem peixes – enquanto em silêncio a montanha
verte a gota vagarosa da promessa.
A
paciência do tempo. Duzentos anos a fabricar pedra, a construir uma pequena
coluna, um mísero toco em que ninguém reparará depois. Duzentos anos de
trabalho monótono e aplicado, indiferente às maravilhas que cobrem as paredes
altíssimas da gruta e fazem rebentar flores de pedra do chão. Duzentos anos
assim, só porque assim tem de ser.
Falo do
tempo e de pedras, e, contudo, é em homens que penso. Porque são eles a verdadeira
matéria do tempo, a pedra de cima e a pedra de baixo, a gota de água que é sangue
e é também suor. Porque são eles a paciente coragem, e a longa espera, e o
esforço sem limites, a dor aceite e recusada – duzentos anos, se assim tiver de
ser.
José
Saramago, A Bagagem do Viajante, 8.ª ed., Alfragide, Editorial Caminho,
2010, pp. 223-225
A Bagagem do Viajante, Crónicas (Lisboa, Futura, 1973, 1.ª edição) |
I
– Texto de apoio: Crónicas de José Saramago
On n’est pás écrivain
pour avoir choisi
de dire certaines choses
mais pour avoir
choisi de les dire
d’une certaine façon. (Jean-Paul Sartre)
As crónicas dizem tudo (e provavelmente mais do que a obra que veio depois).
(José Saramago)
As publicações, Deste Mundo e do Outro26 e A Bagagem
do Viajante27, reúnem as crónicas escritas
por José Saramago para os jornais
A Capital (1968/1969) e Jornal do Fundão (1971/1972), num total de 120 textos. O autor havia já escrito e publicado o romance Terra do Pecado (Lisboa, Minerva, 1947) e os livros de poemas,
Os Poemas Possíveis (Lisboa, Portugália, 1966)
e Provavelmente Alegria (Lisboa, Horizonte, 1970). Seguiu-se a publicação dos editoriais escritos para o Diário de Lisboa, As opiniões que o DL teve (Lisboa,
Seara Nova/Futura, 1974), do conto/poema O Ano de
1993 (Lisboa, Futura, 1975) e d’Os Apontamentos (Lisboa, Seara Nova, 1976), mais
uma compilação de editoriais, estes escritos para o Diário de Notícias.28 Parece-nos importante situar, no vasto panorama da obra de Saramago,
a publicação das suas crónicas, já que esta será uma forma de melhor
entendermos a sua escrita
e o seu processo evolutivo. Consideramos significativo, o facto das crónicas
surgirem (publicadas em livro e não apenas nos jornais a que se destinaram) logo após a publicação do 1.º romance de Saramago
(Terra do Pecado, que o autor sempre considerou uma experiência menor, mas onde é já possível encontrar – apesar de traços que revelam
uma forte influência das leituras
dos românticos – laivos do que viria a constituir o tom
único de Saramago29) e de dois livros de poemas (também aqui, Saramago desvalorizou sempre as suas “qualidades poéticas”; no entanto,
no conjunto da sua obra, esta sua “experiência” não pode ser menosprezada, não cabendo, porém, neste espaço, uma sua análise),
para logo se lhes seguir O Ano de 1993, objeto literário de difícil classificação no quadro dos cânones teóricos,
misto de conto e fábula assente
numa estrutura poética.
Porque o nosso objetivo é a análise das crónicas de Saramago,
não nos alongaremos sobre este aspeto da sua obra, mas não deixamos de apontar,
para além do fator evolução, a perceção
de uma vontade do autor em experienciar diferentes modos narrativos, como que colocando-se a si mesmo (e à sua criatividade) à prova, bem como a constância temática bem vincada nestes primeiros
momentos do seu trabalho e que, ao
longo dos anos de produção
literária, irá transformar-se e consolidar o estilo de José Saramago.
Regressemos pois às crónicas.
Estamos em finais da década de 60, inícios da de 70, do séc. XX. Vive-se
ainda, em Portugal, o período
do Estado Novo e, se desde já o salientamos, é unicamente para situarmos
autor e obra, uma vez que, destas crónicas, parece-nos afastada
a vertente política,
ou melhor, Saramago
não deixa de aludir (pela ironia
e com recurso
a metáforas) a determinadas situações que são o reflexo de um regime ditatorial, mas interessa-lhe muito mais contar uma história,
fixar um detalhe importante
do que o rodeia, chamar a atenção do leitor para uma matéria específica, dar-lhe a conhecer quem é, do que, propriamente, usar este espaço para uma crítica política
sistemática. Dir-se-á
que não poderia
tê-lo feito, dada a existência da censura30, fator, certamente, de peso. Todavia,
é nossa opinião que, para Saramago, a crónica
representava antes um espaço privilegiado de estabelecimento de fortes
laços com o leitor,
um caminho de preparação dos seus romances (se quisermos, uma história
com romances dentro), i.e., um pré-texto e, simultaneamente um pretexto
para o testemunho (veja-se a epígrafe
em Deste Mundo e do Outro, Crónicas, que são? Pretextos
ou testemunhos?), um dever para com a sociedade que é a sua e para consigo mesmo, uma noção muito lúcida acerca do tempo (repare-se na epígrafe
d’A Bagagem do Viajante, Um dia tinha de chegar em que contaria estas coisas). Seria,
aliás, interessante – e contribuiria, certamente, para uma análise mais profunda
ao nível da relação da crónica
com o real – confrontar o texto de cada crónica
com os acontecimentos que o jornal onde a mesma foi publicada noticiou nesse dia. Tendo em conta
que Saramago não datou nenhum dos textos individualmente, podemos também pensar se tal não terá sido intencional: o tempo das crónicas
nem sempre terá sido o tempo
do jornal, como se comprova
através da leitura das mesmas que, muitas
vezes, são claras ao identificar o momento
(tempo) que o autor a elas dedicou e porquê (Às vezes a manhã ajuda, Três horas
da madrugada,
Noite de Verão, etc).
Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante, já aqui foi referido, têm como subtítulo Crónicas. Não há pois que duvidar: a intenção
do autor é clara quanto
ao modo como estes textos devem ser lidos e apreendidos31. Também os títulos comportam
informação importante: Deste Mundo e do Outro leva-nos a intuir um conjunto
de textos que tanto podem ter como referente
a realidade que cerca o autor, como transportar-nos para um outro tipo de mundo; que mundo será esse? Só a leitura o trará consigo. Já com A Bagagem do
Viajante, intuímos
não só a temática da viagem, cara a Saramago, como tudo aquilo que ela acarreta se do ponto de vista
da viagem/vida. A bagagem será, então, aquilo que o autor transporta consigo, os seus traços de personalidade, aqui revelados ao leitor:
este sou eu, aquele que escreve
sobre o seu tempo para dele prestar testemunho. Várias são, aliás, as crónicas
de forte pendor autobiográfico, o que evidencia a relação homem-escritor de que falávamos
anteriormente O diálogo,
a memória, a leitura
da atualidade, a interpelação do leitor, a interrogação face à existência humana, mas também face ao próprio ato da escrita
e à palavra, a intertextualidade (diálogo com autores e suas obras, sobretudo portugueses), a crítica,32 são constantes nas crónicas de Saramago.
É como se, no momento em que escreve, o Outro também ali estivesse, apenas um pouco mais distraído do que o autor que, por isso mesmo, o faz atentar em pormenores da realidade
que lhe poderiam, doutro modo, passar distantes. Por outro lado, esta é também uma forma de estabelecer uma relação
próximo com um leitor específico, o seu leitor.
Constantes são ainda alguns dos temas que, na obra literária
de Saramago, virão a ser desenvolvidos e objeto de pensamento aprofundado: muros e muralhas,
portas e portões,
solidão e silêncio,
o deserto na cidade, na terra,
a vida, o pensamento e o tempo,
a humanidade, as palavras,
o autor, o passado,
a literatura portuguesa, o mundo, o ceticismo
e a verdade. As crónicas
de Saramago são fragmentos dos seus romances e apelos à reflexão. Constantes, por último, ao nível da linguagem, são o recurso à ironia,
à sátira, à alegoria e à metáfora, que encontraremos sabiamente aplicados nos seus romances.
[…]
Arrisquemos agora um salto no tempo do autor,
no tempo das crónicas, para uma abordagem
a uma das últimas crónicas (estamos certos de que a seleção e fixação dos textos teve o seu grau cronológico e de intencionalidade) de A Bagagem
do Viajante: O tempo e
a paciência34.
Se alguém me perguntar o que é o tempo, declaro logo a minha ignorância: não sei. Agora mesmo ouço o bater do relógio
de pêndula, e a resposta
parece estar ali. Mas não é verdade.
Quando a corda se lhe acabar,
o maquinismo fica no tempo e não o mede: sofre-o. E se o espelho me mostra que não sou já quem era há um ano, nem isso me dirá o
que o tempo é. Só o que
o tempo faz.
Assim tem início a crónica.
Aqui, aparentemente, não se vai contar
uma história, mas refletir em torno do tempo, assumindo
o autor um modo narrativo
na primeira pessoa,
ou seja, este sou eu e as minhas preocupações, que desejo partilhar convosco.
Dizemos aparentemente porque, no desenrolar
da escrita – e desenrolar parece-nos o termo adequado
à escrita da crónica,
que o próprio Saramago
encara
como “associação de ideias”
– constatamos que esta é também uma história: a história
do tempo e dos homens,
afinal, as grandes colunas da arquitetura literária de Saramago.
O tempo que mata e destrói,
o tempo que envelhece
os homens, o tempo necessário para criar vida, o tempo da memória, “como uma enorme pérola suspensa,
que devagar vai engrossando e tarda tanto a cair, e não cai enquanto
a olho fascinado.”
A memória
que “tarda tanto a cair”,
a evocação do passado, daquilo que o autor foi e viu. Mas será que “foi e viu”? De repente, somos levados para um mundo fantástico, entramos com o autor num espaço que, pela descrição, se assemelha a uma gruta (ou caverna,
outro dos temas centrais
em Saramago), na qual paira ainda a gota de água da memória,
que lhe abriu o espaço da imaginação. Mas falamos de imaginação ou de memória? Que memória é
esta, afinal, onde nos levam as palavras
do autor?
Ao tempo e à sua paciência, nome que vulgarmente classifica uma atitude
humana e que Saramago empresta ao tempo e à memória,
graças à qual lhe chega o que um dia ouviu
dentro de uma gruta: “Daqui a duzentos
anos as duas pedras estarão juntas.”
Lá longe, bem distante da secretária do escritor
e, no entanto, tão próximo da sua memória,
duas rochas vão caminhando
uma em direção à outra, pacientemente.
A paciência
do tempo. Duzentos anos
a fabricar pedra,
a construir uma pequena coluna, um mísero
toco em que ninguém
reparará depois. Duzentos anos de trabalho monótono
e aplicado, indiferente às maravilhas que cobrem as paredes altíssimas
da gruta e fazem rebentar flores de pedra no chão. Duzentos anos assim, só porque assim tem de ser.
Paciente, pois, mas também fatal,
indiferente e soberbo.
Falo do tempo e de pedras, e, contudo, é em homens que penso. Porque são eles a verdadeira
matéria do tempo, a pedra de cima e a pedra de baixo, a gota de água que é sangue e é também suor. Porque são eles a paciente coragem, e a longa espera, e o esforço sem limites, a dor aceite e recusada – duzentos anos, se assim tiver de ser.
A gruta pode até existir, o autor pode ter estado
lá e ouvido a frase acerca do tempo, cada um interpretará a seu modo e acreditará se quiser;
mas tudo isto pode não passar também de
uma alegoria que transporta uma elegia
ao homem e um aviso:
vocês homens
são pacientes e corajosos, sabem esperar mas, “se assim tiver de ser”, não esqueçam aquelas duas pedras que, no silêncio
escuridão da gruta, se vão aproximando ao longo de duzentos anos. Quantos levará a humanidade a (re)aproximar-se daquele tempo que a memória nos diz ter sido um tempo de paciência? Tempo da infância
do homem ou da infância da História, será sempre um
tempo purificador.
Recordando o que já apresentámos atrás, se se pretender fazer
uma leitura ideológica destas crónicas de Saramago,
só poderá ser, a nosso ver, uma leitura do “não dito”, ou seja, a existir algum tipo de ideologia nas palavras do autor, ela ter-lhe-á servido como matéria-prima desencadeadora da imaginação e não como conteúdo.
Nas palavras do próprio
José Saramago:
Claro que eu penso aquilo que penso e sou aquilo que sou e do ponto de vista político,
ideológico e filosófico isso está muito claro nos meus livros. Mas sem que eu tivesse de preocupar-me com uma frase do Engels
– e o Engels
não era qualquer pessoa! – há uma carta em que
ele
responde a uma jovem escritora que lhe
pedia conselhos e em que diz: ‘Quanto
menos se notar a ideologia
melhor’. Essa frase podia-me ser aplicada.[…]
A questão tem de estar lá, no poder de sugestão
que a história tenha, que permita
ao leitor ir mais além do que aquilo que parece estar dito, porque naquilo que está escrito há implícito uma quantidade de coisas a que o leitor, que é inteligente, é capaz de
chegar por sua própria conta. (Entrevista a João Céu e Silva, Uma Longa Viagem com José Saramago35, p.53)
Sobre
as crónicas de José Saramago, ler mais em: Crónica:
Literatura de Compromisso ou a Urgência da Palavra,
Maria de Fátima Palmela de Faria Roque.
Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,
2011
_____________
Notas:
26 Saramago, José, Deste
Mundo e do Outro, Crónicas, Editorial
Caminho S.A., Lisboa,
janeiro de 1999. A 1.ª edição data de 1971 (Lisboa,
Arcádia).
27 Saramago, José, A Bagagem do Viajante, Crónicas, 6.ª edição,
Editorial Caminho
S.A., Lisboa, janeiro de 1999. A 1.ª edição data de 1973 (Lisboa,
Futura).
28 De acordo com a cronologia bibliográfica publicada
na obra de João Marques
Lopes, Biografia, José Saramago, 1.ª edição, Autor, Guerra e Paz, Editores S.A. e Edições Pluma Unipessoal, Lda., Janeiro de 2010.
29 A matriz da ‘Terra do Pecado’ reside muito mais na versão lusa do naturalismo zoleano… do que nos lineamentos
do romance praticado no século
XX – seja o que
levou ao desenvolvimento do neorrealismo, seja aquele vinculado às derivas do experimentalismo literário do modernismo
internacional. Se tudo isto torna transparente o anacronismo do Saramago estreante,
também não deixa de, só por si, evidenciar
a independência do escritor em relação ao contexto literário português. In Costa,
Horácio, A construção da personagem de ficção
em Saramago: da ‘Terra
do Pecado’ ao ‘Memorial
do Convento. In Revista Colóquio/Letras.
Ensaio, n.º 151/152,
janeiro 1999, p. 205-217.
30 Segundo João Marques
Lopes, autor de José Saramago,
Biografia (1.ª edição,
Autor, Guerra e Paz, Editores S.A. e Edições
Pluma Unipessoal, Lda., janeiro de 2010, p. 46), José Saramago também viu textos seus serem censurados.
Assim a crónica ‘As Palavras’, escrita para o número de 17 de maio de 1968 de ‘A Capital’, foi truncada, pois os censores terão considerado que frases como ‘Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina,
observa, pesa e
analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob
a luz solar’ seriam uma crítica velada ao cerceamento da liberdade
de expressão então imperante entre nós… o mesmo aconteceu com o texto ‘Esta palavra
esperança’…
31 Para Carlos
Reis, O título
funciona, aliás, em José Saramago, como afirmação de um paradigma discursivo, ou até, nalguns
casos, como explícita
regência de género… A dominância do título trabalhado
como alusão paradigmática não significa, contudo, uma sujeição
passiva a géneros
pré- estabelecidos; ela pode trazer
consigo
(e é isso
que
normalmente
ocorre)
a revisão
ou
mesmo a
subversão dos géneros
e dos campos institucionais… In Reis, Carlos,
Diálogos com José Saramago, Editorial Caminho,
Lisboa, 1988, s.p., texto disponível na página da Internet
da Fundação Saramago, em www.josesaramago.org.
32 Diz Maria Alzira
Seixo: Porque uma certa distensão
epidérmica no modo de narrar ou de descrever de José Saramago não consegue esconder
a violência da crítica (a sua crónica é quase sempre
crítica), reflexiva, moralista
ou satírica (campos do registo discursivo por onde se expande). Com uma agravante: a da integração e ‘exposição’ do sujeito da escrita
em muitos dos seus textos,
integrando-o nesses raciocínios e tensões, englobando-o em todos esses mundos… e fazendo
mesmo dele matéria discursiva primeira. In Seixo, Maria Alzira,
O essencial sobre José Saramago, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, novembro, 1987, p. 18.
34 In Saramago,
José, A Bagagem do Viajante, Crónicas, 6.ª edição,
Editorial Caminho
S.A., Lisboa, Janeiro de 1999, p. 221.
35 Silva, João Céu e, Uma Longa Viagem com José Saramago, 1.ª edição, Porto Editora,
Lda., Março de 2009.
Salvador Dali, A Persistência da Memória (1931) |
II
- Releia a crónica de José Saramago e responda ao questionário. (As linhas encontram-se
numeradas no texto que se segue).
1.
As
referências ao relógio parado e à imagem refletida no espelho (linhas 1 a 5)
(A)
aludem a formas de medição do tempo.
(B)
exemplificam efeitos da passagem do tempo.
(C)
esclarecem as dúvidas do autor sobre o tempo.
(D)
revelam o significado intrínseco do tempo.
2.
Através
do recurso à palavra «coxear» na expressão «coxear atrás do Einstein» (linhas 6
e 7), o autor alude à
(A)
necessidade imperiosa de aproximação à ciência.
(B)
dificuldade em estudar o efeito do tempo no Saône.
(C)
distância que separa o seu pensamento do de Einstein.
(D)
intenção inequívoca de seguir os passos de Einstein.
3.
A
associação de ideias estabelecida, a partir da linha 13, entre a água do rio
Saône e a gota de água da gruta evidencia
(A) o
ciclo natural da água existente no planeta.
(B) o
ritmo do tempo ao transformar o mundo.
(C) a
beleza das formas que a água proporciona.
(D) a
efemeridade da vida humana no planeta.
4.
No
último parágrafo do texto, o autor acentua
(A) a
lentidão que caracteriza a evolução da humanidade.
(B) a
beleza dos processos naturais de criação das rochas.
(C) a
insignificância do homem face à imensidão da natureza.
(D) a
morosidade na formação de novas pedras calcárias.
5.
Nas
linhas 13 e 15, a palavra «se» é
(A) uma
conjunção em ambos os casos.
(B) um
pronome em ambos os casos.
(C) um
pronome e uma conjunção, respetivamente.
(D) uma
conjunção e um pronome, respetivamente.
6.
O
complexo verbal «está aproximando» (linha 26) tem um valor aspetual
(A)
genérico.
(B)
pontual.
(C)
iterativo.
(D)
durativo.
7.
No
último parágrafo, são utilizados vários recursos estilísticos, entre os quais
(A) a
sinestesia e a anáfora.
(B) a
ironia e a sinestesia.
(C) a
anáfora e a hipérbole.
(D) a
hipérbole e a ironia.
8.
Identifique
a função sintática desempenhada pela expressão «o rio Saône» (linha 14).
9.
Indique
o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente na linha 16.
10.
Classifique
a oração introduzida por «em que» (linha 32).
Chave
de correção:
1.
(B);
2. (C); 3. (B); 4. (A); 5. (D); 6. (D); 7. (C).
8.
Sujeito.
9. (Valor) explicativo.
Nota: Além da
resposta (valor) explicativo, admitem-se
as respostas em que:
– se classifica a oração como explicativa;
– se refere, claramente, a existência de uma explicação;
– se substitui o termo explicativo por apositivo ou não restritivo.)
10.
(Oração)
subordinada (adjetiva) relativa (restritiva)
Fonte: Exame
Nacional do Ensino Secundário n.º 639 (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho).
Prova Escrita de Português - 12.º Ano de Escolaridade. República
Portuguesa-Educação/IAVE- Instituto de Avaliação Educacional, 2016, 2.ª Fase (versão 1)
Salvador Dali, A Desintegração da Persistência da Memória (1952-1954) |
CARREIRO, José. “O tempo e a paciência - crónica de José Saramago”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 21-04-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/04/o-tempo-e-paciencia-cronica-de-jose.html
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