Mostrar mensagens com a etiqueta Escrita Criativa / Recreativa / Lúdica. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Escrita Criativa / Recreativa / Lúdica. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 24 de maio de 2018

poema coletivo


Hoje cheguei a casa da escola e disse à minha mãe que gostava muito de escrever e ela disse que eu precisava porque dava muitos erros.
Eu disse-lhe que não era esse escrever, mas ela não percebeu.

Ensinar a Poesia, Teresa Guedes, Edições Asa, 1990.



SE EU FOSSE UM POEMA

Se eu fosse um poema
não poderia ter medo
nadaria em mar de memórias
seria lido sem parar.

A esperança reinava
viveria a vida sem arrependimento
seria um amor sem destino
doaria as minhas palavras.

Não me agarraria à solidão
estaria pleno de amor
brilharia sem parar
daria todo o meu tempo
vivendo a vida com sentimento.

Poema coletivo criado pela turma 8.º E da professora Graça Vaz

Alverca do Ribatejo, Escola Básica Pedro Jacques de Magalhães, maio de 2018




“poema coletivo” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 24-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/poema-coletivo.html


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Felizmente há luar!



Felizmente Há Luar!
em versão rap


Na Escola Secundária D. Dinis, em Chelas, Lisboa, os alunos são incentivados de maneira original a interessarem-se pelo Português.

"Esta turma de 12º ano da Escola Secundária D. Dinis, em Chelas, Lisboa, transforma obras literárias em canções de rap. Foi a estratégia encontrada pela professora Carmo para combater a falta de interesse dos alunos pelas aulas de Português".
«RAP Literário» reportagem de Rita Fernandes para a Antena 1, 2017-05-24 https://www.rtp.pt/noticias/reportagem/rap-literario_a1003824


Poderá também gostar de:

Luís de Sttau Monteiro, "Hoje tive sorte" - Poema dactilogafado em papel timbrado de "Luiz de Sttau Monteiro", duas páginas., não assinado, nem datado. Desconhece-se se inédito e se o seu o autor foi o próprio Sttau Monteiro. À venda em http://www.doutrotempo.com/livros/poema---20%E2%82%AC/3712/ por Adelino Correia-Pires, Torres Novas.





segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Más Leituras


     Partindo de dois versos sugestivos de um dos poemas da obra Chuva de Época, «Escrever e ler/é escrever mal e ler mal», o título do projeto Más Leituras corresponde a uma subversão provocatória do significado de «mal»/«má»: aqui, uma «má leitura» consiste numa proposta de recriação apolínea de itinerários possíveis, suscitados pela receção de cada um dos seis textos selecionados. No conjunto, as «más leituras» deste projeto são experiências de apreensão daquilo que o poeta José Maria de Aguiar Carreiro designa por “riqueza multiplicada/ que sai esbaforida” dos textos e que se constitui como reduto privilegiado do/a leitor(a).

Eduarda Maria da Silva Ribeiro Mota, Más Leituras - Projeto Final do Seminário de Materialidades da Literatura II, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, julho de 2011.




DA RETICÊNCIA AO FACTO

Da reticência ao facto
tudo é repetição, segmento deposto,
correcção.

Escrever e ler
é escrever mal e ler mal.

O facto é sempre o que se vê:
letras de lua e de sol
gavião que sai de feridas e se interpreta

o primor da fala, a sabedoria poética.

Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005.


praia da Ribeira Quente, ilha de São Miguel, Açores, 2006. José Carreiro



AUSÊNCIA 

À luz gelada do amanhecer
ele toma a direção da praia
a força do mar arrima-o um pouco
ao imo prestado pelos elementos
observa a fúria da areia que voa
açoita a cara empurrando-o
a procurar abrigo.
Sim, que ausência.

Rolam tumultuosas mas lentamente
as letras para sua própria ordem
por imposição incendiária de montanhas
de rios e de cidades.
Sim, muitos deixam as ilhas
areias cristais e buscam continuamente
forma onde repousar.

– Sim, dir-me-ás tudo isso
mas eu não sei o que quero nem o que faço

para que tudo se represente igual sempre igual a si mesmo.

Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005.



“Má Leitura” como processo (in)voluntário de colagem.


Pretende-se realçar que cada leitor(a) encerra em si mesmo(a) um conjunto quase infinito de potenciais atualizações de um arquivo individual em devir. Aqui a leitura é construída por meio da convergência de duas componentes do arquivo do/a leitor(a): a biblioteca e a música popular açoriana pós-autonomia.


INSULARIDADES

“Mãe-Ilha”, de Natália Correia
“Ilhas de Bruma”, de Manuel Medeiros Ferreira

à luz gelada do amanhecer
da ilha que me deram e eu não quis

toma a direção da praia
a tosca ilhoa
seu gesto, cãibra de garça interrompida

só o vento ecoa mundos na lonjura

sim, muitos deixam as ilhas
de bruma
onde as gaivotas vão beijar a terra

e buscam continuamente
forma onde repousar

parti p’rás índias do meu estranho caso
mas trago o mar imenso no meu peito

nas veias corre-me basalto negro
ao pasto e à onda me unirei sincera
para que tudo se represente igual
sempre igual a si mesmo


Eduarda Maria da Silva Ribeiro Mota, Más Leituras - Projeto Final do Seminário de Materialidades da Literatura II, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, julho de 2011.



praia do Porto Formoso, ilha de São Miguel, Açores, 2009. José Carreiro.



MÃE ILHA

I

Limão aceso na meia-noite ilhada,
O relógio na torre da Matriz
Põe o ponteiro na hora atraiçoada
Da ilha que me deram e eu não quis.

Mas, ó de alvos umbrais Ponta Delgada!
Meu prefixo de pastos, a raiz
É de calhau e de onda encabritada:
Um triz de hortênsia e estala-me o verniz.

Atamancada em fama a tosca ilhoa,
Só na praça e no prelo é de Lisboa,
Seu gesto, cãibra de garça interrompida.

No mais, o osso campesino e duro
É fervor, é fogo e fé que juro
Ao lume e às flores da Graça recebida.

II

No coração da ilha está um vaso
Cheio das pérolas que p’ra mim sonhaste,
Ó mãe completa da manhã ao ocaso,
Pastora dos meus sonhos, minha haste.

Parti p’rás Índias do meu estranho caso
– ó danos que dos versos sois o engaste! –
E com maus fados se entendem ao acaso
Lírios e feras do meu vão contraste.

Ave exausta, o retorno quem me dera,
Vou no canto dos órfãos soletrando
O âmbar da manhã que ali me espera.

Feridas asas, enfim ali fechando
Ao pasto e à onda me unirei sincera,
Ilha no manso azul de mãe esperando.

Natália Correia, Sonetos Românticos, 1990


Fotografia de José Carreiro. Ribeira Grande, 2014-01-04

ILHAS DE BRUMA

Ainda sinto os pés no terreiro
Que os meus avós bailavam o pezinho
É que nas veias corre-me basalto negro
E na lembrança vulcões e terramotos

Se no falar trago a dolência das ondas
O olhar é a doçura das lagoas
É que trago a ternura das hortênsias
E no coração a ardência das caldeiras

Trago o roxo a saudade esta amargura
Só o vento ecoa mundos na lonjura
Mas trago o mar imenso no meu peito
E tanto verde a indicar-me a esperança

É que nas veias corre-me basalto negro
No coração a ardência das caldeiras
O mar imenso me enche a alma
E tenho verde, tanto verde a indicar-me a esperança

Por isso é que eu sou das ilhas de bruma
Onde as gaivotas vão beijar a terra (Refrão)

Letra de Manuel Medeiros Ferreira



sexta-feira, 27 de maio de 2016

Fala! Alexandre O'Neill



Ilustração de Marta Madureira, 2012.


F A L A !

Fala a sério e fala no gozo
fá-la p’la calada e fala claro
fala deveras saboroso
fala barato e fala caro

Fala ao ouvido fala ao coração
falinhas mansas ou palavrão

Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Fala franciú fala béu-béu

Fala fininho e fala grosso
desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar
fala com elegância muita e devagar.

Alexandre O'Neill, Abandono Vigiado. Lisboa, Guimarães Editores, 1960. Coleção “Poesia e Verdade”.

Audição do poema dito por Luís Gaspar (Estúdio Raposa, 2012-01-08).
Linhas de leitura:
- No poema “Fala!” de Alexandre O’Neill, o sujeito poético dirige, anaforicamente, sucessivos apelos ao destinatário, para que este atue através da palavra e faça da sua capacidade de falar uma ação tão natural como a capacidade de andar (“Fala como se falar fosse andar”).
- Identifica as palavras homófonas da primeira estrofe do poema “Fala!” de Alexandre O’Neill e procede à sua transcrição fonética.
- Repara na variedade de sentidos que envolvem o verbo “falar” nas seguintes expressões idiomáticas:
  • “fala claro”: falar de forma percetível sem deixar dúvidas sobre o que se diz (falar claro);
  • “fala barato e fala caro”: falar muito e despropositadamente (fala-barato) / falar com registo cuidado (falar caro);
  • “Fala ao ouvido fala ao coração”: falar baixinho com alguém para que mais ninguém ouça (falar ao ouvido) / falar tentando despertar sentimentos de boa vontade em alguém (falar ao coração);
  • “Fala fininho e fala grosso”: falar com medo ou muito respeito (falar fininho) / falar de forma agressiva (falar grosso).

(Adaptado de P8 Português – 8.º Ano, Ana Santiago e Sofia Paixão, Texto Editora, 2012)






A década de 60 pode ser considerada o momento mais produtivo da carreira literária do autor português. Neste período foram lançados livros de poesia, antologias de outros poetas e traduções. A partir da publicação de No reino da Dinamarca, a poesia de O’Neill assume um caráter político, recusando a ordem estabelecida por meio da provocação, da sátira, do escárnio, da blasfêmia e do divertimento poético. Suas poéticas são voltadas para a libertação do homem e da palavra.
[…] em Abandono vigiado, de 1960, uma contradição se faz evidenciar já no título, que constitui um paradoxo, e remete a um programa de escrita que é ao mesmo tempo abandonada e vigiada. Trata-se, aqui, da relação de Alexandre O’Neill com a poética surrealista e com uma poesia de outra ordem, voltada para a resistência política […].
[…]as atitudes do sujeito lírico são centradas na provocação e na blasfêmia, opondo-se ao amor e ao lirismo, assim como se nota o humor como meio de denúncia; a escrita é vista como uma forma de resistência. Essa postura poética não se centra apenas em uma perspectiva de crítica individual, mas, sim, na projeção de uma visão satírica de Portugal.

Graciele Batista Gonzaga, O pensar poético: Alexandre O’Neill em diálogo com João Cabral, Belo Horizonte, Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, 2015

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O homem-mãe (Cesariny)





Linhas de leitura:

- Pronuncia repetidamente em voz alta a frase seguinte: ‑ Ó mãe!

- Lê agora o título do poema de Mário Cesariny de Vasconcelos e explica as associações que se estabelecem entre as duas palavras que o compõem.
Apesar de serem palavras graficamente diferentes, a sua pronúncia aproxima-as.

- Observa o poema e verifica se essas palavras são recuperadas.
As palavras são recuperadas na sua totalidade, ou aparecem divididas em sílabas e sons.

- Apresenta várias formas de ler este poema.
A primeira estrofe pode ler-se horizontalmente, da esquerda para a direita. Já a segunda estrofe permite, por vezes, uma leitura horizontal e vertical (de baixo para cima e de cima para baixo).

- Que efeitos são conseguidos com a mudança do uso de letras minúsculas para letras maiúsculas?
As letras maiúsculas sugerem a leitura do poema em voz mais alta do que no caso das minúsculas.

- Identifica as sensações que tens que associar para entenderes este texto.
Visuais e auditivas.

Proposta de escrita recreativa, expressiva e lúdica:

Escreve um poema que ative um ou vários sentidos. Pode ser um poema:

- visual: por exemplo, jogos de palavras, experiências em vídeo, poemas tridimensionais;

- auditivo: por exemplo, jogos de sonoridades registadas em suporte áudio;

- comestível: por exemplo, poema feito de biscoitos.

Nota: sugere-se a visualização de exemplos de poesia experimental, particularmente a poesia animada por computador.

(in P8 Português – 8.º Ano, Ana Santiago e Sofia Paixão. Lisboa, Texto Editora, 2012)




Poderás também gostar de: