AUTOGÉNESE
Nascitura estava
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Esquema Rítmico: 5 (acentos na 3ª e 5ª)
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sem faca nos dentes
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E. R.: 5 (2-5)
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cómoda e impura
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E. R.: 5 (1-5)
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de não ter vontade
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E. R.: 5 (3-5)
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de bater nas gentes.
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E. R.: 5 (3-5)
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Nasce-se em setúbal
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E. R.: 5 (1-5)
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nasce-se em pequim
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E. R.: 5 (1-5)
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eu sou dos açores
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E. R.: 5 (5)
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(relativamente
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E. R.: 5 (5)
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naquilo que tenho
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E. R.: 5 (2-5)
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de basalto e flores)
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E. R.: 5 (3-5)
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mas não é assim:
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E. R.: 5 (3-5)
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a gente só nasce
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E. R.: 5 (2-4-5)
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quando somos nós
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E. R.: 5 (3-5)
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que temos as dores;
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E. R.: 5 (2-5)
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pragas e castigos
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E. R.: 5 (1-5)
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foram-me gerando
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E. R.: 5 (1-5)
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por trás dos postigos
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E. R.: 5 (2-5)
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e fórceps de raiva
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E. R.: 5 (2-5)
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me arrancou toda
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E. R.: 5 (3-5)
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em sangue de mim.
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E. R.: 5 (2-5)
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Nascitura estava
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E. R.: 5 (3-5)
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sorria e jantava
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E. R.: 5 (2-5)
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e um beijo me deste
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E. R.: 5 (2-5)
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tu Pedro ou Silvestre
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E. R.: 5 (2-5)
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turvo namorado
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E. R.: 5 (1-5)
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do verão ou de outono
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E. R.: 5 (3-5)
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hibernal afeto
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E. R.: 5 (3-5)
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casca azul do sono
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E. R.: 5 (1-3-5)
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sem unhas do feto.
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E. R.: 5 (2-5)
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Eu nasci das balas
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E. R.: 5 (3-5)
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eu cresci das setas
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E. R.: 5 (3-5)
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que em prendas de sala
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E. R.: 5 (2-5)
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me foram jogando
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E. R.: 5 (2-5)
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as mulheres poetas
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E. R.: 6 (3-6)
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eu nasci dos seios
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E. R.: 5 (3-5)
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dores que me cresceram
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E. R.: 6 (1-6)
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pomos do ciúme
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E. R.: 5 (1-5)
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dos que os não morderam;
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E. R.: 5 (3-5)
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nasci de me verem
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E. R.: 5 (2-5)
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sempre de soslaio
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E. R.: 5 (1-5)
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de eu dizer em junho
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E. R.: 5 (3-5)
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e eles em maio
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E. R.: 5 (2-5)
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de ser como eles
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E. R.: 5 (2-5)
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às vezes por fora
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E. R.: 5 (2-5)
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mas nunca por dentro
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E. R.: 5 (2-5)
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perfil de uma estátua
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E. R.: 5 (2-5)
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que não sou de frente.
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E. R.: 5 (3-5)
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Nascitura estava
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E. R.: 5 (3-5)
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e mais que imperfeita
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E. R.: 5 (2-5)
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de ser sorte ou dado
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E. R.: 5 (3-5)
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que qualquer mão deita.
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E. R.: 5 (3-4-5)
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Eu nasci de haver
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E. R.: 5 (3-5)
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os bairros da lata
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E. R.: 5 (2-5)
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do dedo que escapa
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E. R.: 5 (2-5)
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dos sapatos rotos
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E. R.: 5 (3-5)
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da fome que mata
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E. R.: 5 (2-5)
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o que quer nascer
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E. R.: 5 (3-5)
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e que o sábio guarda
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E. R.: 5 (3-5)
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em frascos de abortos;
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E. R.: 5 (2-5)
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eu nasci de ver
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E. R.: 5 (3-5)
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cheirar e ouvir
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E. R.: 5 (2-5)
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dum odor a mortos
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E. R.: 5 (3-5)
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(judeus enlatados
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E. R.: 5 (2-5)
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para caberem mais
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E. R.: 6 (4-6)
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mas desinfetados)
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E. R.: 5 (1-5)
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pelas chaminés
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E. R.: 5 (1-5)
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nazis a sair
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E. R.: 5 (2-5)
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de te ver passar
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E. R.: 5 (3-5)
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de me despedir
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E. R.: 5 (5)
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de teus olhos tristes
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E. R.: 5 (3-5)
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como se existisses.
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E. R.: 5 (1-5)
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Nascitura estava
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E. R.: 5 (3-5)
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tom de rosa pulcra
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E. R.: 5 (1-3-5)
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eu me declinava
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E. R.: 5 (1-5)
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vésper em latim:
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E. R.: 5 (1-5)
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impura de todos
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E. R.: 5 (2-5)
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gostarem de mim.
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E. R.: 5 (2-5)
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Natália Correia, de “O Diário de Cynthia”, in O Vinho e a Lira, Lisboa: Fernando Ribeiro de Mello, 1966; O Sol nas Noites e o Luar nos Dias I, Lisboa: Projornal/Círculo de Leitores, 1993, pp. 319-321; Poesia Completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999, pp. 241-243)
Poema recitado pela autora (in EP "Natália Correia Diz Poemas de Sua Autoria", col. A Voz e o Texto, Decca/VC, 1969; CD "A Defesa do Poeta", EMI-VC, 2003)
Contrastante, por exemplo, com a posição aparentemente impessoal do eu lírico de João Cabral em versos como “Saio de meu poema/ como quem lava as mãos”, de “Psicologia da composição” (1973, p. 248), a obra da poeta portuguesa parece destoar desse distanciamento, por deixar claro um traço da valorização da vocação lírica, aspeto importante para a literatura portuguesa, segundo Eduardo Lourenço (1999, p. 38): “da nossa mitologia cultural – mas igualmente a opinião daqueles que nos estudaram – faz parte a ideia de que a pulsão central e, mesmo obsessiva, da cultura portuguesa é sua vocação lírica”.
Não se torna forçado relacionar a poesia de Natália com a visão de Eduardo Lourenço, porque escrever poemas, para a autora – embora às vezes influenciada intensamente por lembranças do momento histórico pelo qual passava, no caso do poema a ser apresentado a seguir, a Segunda Guerra Mundial –, funciona como um olhar para a génese, especialmente para a génese do indivíduo – daí a ligação, em parte, com o Romantismo. Isso ocorre nos poemas conduzidos pelo narcisismo, como “Autogénese” (1993, v. 1, p. 319) da obra O vinho e a lira (1966): “Autogénese”.
A condição do eu poético é a de ser vista “sempre de soslaio” e em desacordo consigo própria: “perfil de uma estátua/ que não sou de frente” (sexta estrofe), obliquidade presente também no poema “De perfil” (1993, v. 1, p. 438), a ser analisado em momento oportuno, no terceiro capítulo.
Nas estrofes de “Autogénese”, predominantemente em redondilha menor, esse eu, ao revoltar-se contra o momento da Segunda Guerra, volta-se para si mesmo e revela um distanciamento entre exterioridade e interioridade, quando, na estrofe mencionada, afirma ter nascido “de ser como eles/ às vezes por fora/ mas nunca por dentro”. Isso significa que embora seja europeia e, portanto, do mesmo continente que os alemães, obcecados pela raça ariana pura, ela, o eu lírico, jamais se identifica com eles em relação ao sentimento de aniquilação de povos como os judeus.
Apesar da temática da Segunda Guerra, o eu poético, na última estrofe, expressa narcisismo: “impura de todos/ gostarem de mim”. E, nesse momento, depreende-se que a voz feminina associa a realidade injusta da guerra aos contextos literário e mitológico, aproveitando para destacar, na quinta estrofe (“pomos do ciúme”), sua situação diante das “mulheres poetas”, que, por ciúmes (ou inveja), jogaram-lhe setas, remetendo à parte da história do desencadeamento da Guerra de Tróia, no qual Afrodite (ou, sob o nome romano, Vênus, a deusa da beleza e do amor) foi escolhida entre Palas Atena (ou Minerva, a deusa da sabedoria) e Hera (ou Juno, a deusa do casamento) para receber a maçã de ouro com a inscrição “para a deusa mais bela”4. O narcisismo do eu lírico de Natália é equivalente, desse modo, ao da disputa pelo pomo de ouro.
A preferência poética de Natália de que o eu lírico deve exibir-se no texto vem ao encontro da noção de Lourenço de que o poeta português acaba por impregnar-se de traços de ser da sensibilidade portuguesa. No entanto, há uma diferença entre o que diz Lourenço e o que faz Natália: tal sensibilidade, em sua poesia, não está voltada para o mundo exterior e sim para o eu, no caso, feminino, e um eu sobretudo rebelde, para o qual “a poesia é a mais certa maneira de ser portuguesa”, conforme expressa, na última estrofe, o eu lírico do poema “Errância imóvel” (1993, v. 1, p. 288-289) da obra Inéditos(1961-1966):
E se fui à Ilha Encoberta
Foi só para ter a certeza
De que a poesia é a mais certa
Maneira de ser portuguesa.
Foi só para ter a certeza
De que a poesia é a mais certa
Maneira de ser portuguesa.
Ficcionalizada pela linguagem poética na criação de um simulacro, a “Ilha Encoberta” a que se refere o poema é, possivelmente, a Ilha de São Miguel, terra natal da poeta.
No capítulo “Da literatura como interpretação de Portugal” (1991, p. 81), Eduardo Lourenço chama a atenção para o facto de que a pessoalização da pátria portuguesa vem especificamente desde Camões, porque, antes dele, quando os autores glosavam o destino português, em termos épicos ou apologéticos, raras vezes em termos críticos, o seu “eu” pessoal não se encontrava envolvido, implicado na evocação. Já em Natália, essa evocação é crítica, e o eu envolve-se até demasiadamente na questão nacional, identitária, defendendo, ao afirmar a poesia como “a mais certa maneira de ser portuguesa”, uma relação intrínseca entre o país e a literatura.
Discurso crítico e posicionamento lírico em Orides Fontela e Natália Correia, Priscila Pereira Paschoa.
São José do Rio Preto, Universidade Estadual Paulista - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, 2006, pp. 65-69.
___________________
(4) Para a mitologia grega, segundo Thomas Bulfinch (2001, p. 254), o que gerou a Guerra de Tróia foi um conflito ocorrido durante o casamento de Peleu e Tétis no Olimpo. Éris, a deusa da discórdia, enfurecida por não ter sido convidada, por vingança, atirou entre os convivas um pomo ou maçã de ouro com a inscrição: “para a deusa mais bela”. Hera, Afrodite e Palas Atena atracaram-se para cima da maçã, fazendo de tudo para obtê-la. Zeus, o rei do Olimpo, percebendo a briga, desceu à Terra, à procura de um mortal bastante observador para escolher a deusa mais bela. Encontrou então Páris, um camponês ideal para o cargo.
O pastor apascentava seus rebanhos no Monte Ida, para onde foram as três deusas. Páris recebeu a maçã de ouro, e a escolha ficou por conta dele. Cada deusa ofereceu uma gratificação em troca da maçã: Hera disse que, se fosse a escolhida, ele seria o homem mais rico e poderoso do mundo. Já Palas Atena prometeu-lhe glória e fama na guerra e, Afrodite, que ele teria o amor da mulher mais linda da Terra (Helena, mulher do rei de Esparta, Menelau). Páris escolheu Afrodite e partiu para Esparta, sem poder imaginar o que o esperaria: raptaria Helena, dando início à Guerra de Tróia.
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► Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise
literária de textos de Natália Correia, por José Carreiro. In: Lusofonia
– plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo. Disponível
em: https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/europa-galiza-e-portugal-continental-e-ilhas/Lit-Acoriana/Natalia_Correia,
2021 (3.ª
edição).
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/03/07/autogenese.aspx]
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