segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Conheço o sal, Jorge de Sena


Conheço o sal da tua pele seca

depois que o estio se volveu inverno

da carne repousada em suor nocturno.

 

Conheço o sal do leite que bebemos

quando das bocas se estreitavam lábios

e o coração no sexo palpitava.

 

Conheço o sal dos teus cabelos negros

ou louros ou cinzentos que se enrolam

neste dormir de brilhos azulados.

 

Conheço o sal que resta em minhas mãos

como nas praias o perfume fica

quando a maré desceu e se retrai.

 

Conheço o sal da tua boca, o sal

da tua língua, o sal de teus mamilos,

e o da cintura se encurvando de ancas.

 

A todo o sal conheço que é só teu,

ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,

um cristalino pó de amantes enlaçados.

  

Jorge de Sena, Madrid, 16 de março de 1973.

 


CARREIRO, José. “Conheço o sal, Jorge de Sena”. Portugal, Folha de Poesia, 10-08-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/08/conheco-o-sal-jorge-de-sena.html


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