A M.C.
Pôs-te Deus sobre a fronte a mão piedosa:
O que fada o poeta e o soldado
Volveu a ti o olhar, de amor velado,
E disse-te: «vai, filha, sê formosa!»
E tu, descendo na onda harmoniosa,
Pousaste neste solo angustiado,
Estrela envolta num clarão sagrado,
Do teu límpido olhar na luz radiosa...
Mas eu... posso eu acaso merecer-te?
Deu-te o Senhor, mulher! o que é vedado,
Anjo! deu-te o Senhor um Mundo à parte.
E a mim, a quem deu olhos para ver-te,
Sem poder mais... a mim o que me há dado?
Voz que te cante e uma alma para amar-te!
Antero de Quental
Antero canta os seus amores, espiritualizados como os de Petrarca. Neles não há sensualidade à vista, como nas poesias de Anastácio da Cunha ou Garrett; há de preferência uma adoração abnegada do Eterno Feminino.
António Barreiros, História da Literatura Portuguesa
Analise o poema, tendo em conta os elementos seguintes:
• o tom narrativo das duas quadras; o tom dramático dos dois tercetos;
• o destinatário:
- percurso de raiz platonizante;
- caracterização conforme à origem divina (beleza, excecionalidade, luz – “Anjo”);
• programa de relacionamento possível estabelecido pelo sujeito poético:
- os olhos/visão;
- a voz/canto;
- a alma/amor.
• recursos estilísticos e sua expressividade.
E. Costa, V. Baptista, A. Gomes, Plural 12, Lisboa Editora, 1999
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► Apresentação
crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de textos de Antero
de Quental, por José Carreiro. In: Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da
língua portuguesa no mundo, 2021 (3.ª edição) <https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/Lit-Acoriana/antero-de-quental>
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/04/04/amc.aspx]
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