terça-feira, 13 de outubro de 2020

Os Açores nos Versos dos Seus Poetas


 

APRESENTAÇÃO

por Olegário Paz

 

os AÇORES nos versos dos seus poetas - é o quê?

É a fixação em livro dos versos de açorianos que colhi e divulguei via e-mail ao longo de muitos anos a um elevado número de interessados. A iniciativa chamou-se PorqueHojeEhSabado, teve como subtítulo "Açorianidade" e pretendeu dar a conhecer o que da vida e cultura açorianas é dito em verso por gente natural dos Açores, esteja onde estiver, e por não açorianos que cantam ou cantaram as nossas ilhas como se delas fossem naturais, seguindo o critério 'um autor um poema'. Juntei intencionalmente poetas consagrados e versejadores, por uma razão muito simples: eruditos ou do povo, cada qual revela à sua maneira traços culturais que nos caracterizam, merecendo, por isso, igual atenção.

 

O que 'cantam' os poetas dos Açores?

A Ilha - falésia, magma, rocha, basalto, lava, vulcão, sismos...

O Mar - oceano, azul, cais, barcos, lapas, búzios, medos...

O Campo - paisagens, montanha, hortas, quintais; árvores - cedros, figueiras, criptomérias, loureiros, araucárias; flores - madressilva, rosas, lírios, camélias, hortênsias; animais - cão, grilo, milhafre, gaivota, garça, peixes, golfinhos; culturas - milho, espigas, vinho de cheiro…

A Natureza - as quatro estações, chuva e vento, dia e noite, sol, sombras, lua, luar, estrela...

O Tempo - passado, presente, futuro; atmosférico; relógio...

As pessoas - infância, adolescência, adulto, mulher, velhice; camponês, empregado, senhor; corpo, alma, vida, pão, pobre, doença, dor, sofrimento, amargura, fome, morte, holocausto; amor, ternura, olhar, ilusão, sonho, solidão, saudade, evasão...

A Sociedade - denúncia de injustiças, de cunhas; religião, festas, natal, arraiais, romeiros, Espírito Santo, lendas; música - piano, modas; palavra, poesia, poetas...

A Emigração - América, viagem, despedidas; dores e alegrias...

 

Quem são os 'cantores'?

Advogados, animadores culturais, arquitetos, artistas plásticos, assistentes sociais, atores, bancário, biblistas, bispos, cientistas, comerciantes, cozinheiros, diplomatas, dramaturgos, economistas, emigrantes, empregados do comércio, empregados de escritório, empresários, engenheiros, escritores, escriturários, estudantes, funcionários públicos, informáticos, jornalistas, juízes, lavradores, livreiros, médicos, militares, museólogos, padres, pescadores, pintores, polícias, políticos, professores, psicólogos, sociólogos, técnicos de biblioteca, violeiros…

 

Quê de fontes? Quê de apoios?

Para a recolha dos versos, socorri-me de alguma documentação pessoal, da Internet e da Biblioteca Nacional de Portugal, mas fico a dever à disponibilidade de um enorme grupo de amigos e conhecidos, que não identifico porque com certeza iam ficar de fora muitos deles, os imprescindíveis apoios no tocante à descoberta de açorianófilos e de versejadores e poetas das várias ilhas, à trabalhosa localização de detentores dos direitos de autor e necessária concessão de licenças para divulgação dos respetivos versos em suporte papel e, por fim, à meticulosa e persistente leitura e correção dos erros e gralhas que sempre nos escapam. 

Bem hajam! 

Mora, 22 de julho de 2020 

Olegário Paz


Os Açores nos versos dos seus poetas. Coletânea (400 poemas - 400 poetas), Ponta Delgada, Letras Lavadas edições, agosto 2020. ISBN 978-989-735-284-3



Olegário de Sousa da Paz nasceu na Beira, Ilha de São Jorge, Açores, em 1941. Estudou no Seminário de Angra, cidade onde trabalhou dois anos como padre e professor, e em Ponta Delgada no então Seminário-Colégio durante oito. Em 1975 estabeleceu-se em Lisboa, frequentou a Universidade Clássica onde fez as licenciaturas de História e de Estudos Portugueses. Professor aposentado do Ensino Secundário, é Mestre em Literatura Oral e Tradicional pela Universidade Nova de Lisboa.

É autor dos ensaios: “Subsídios para a História do Serviço Doméstico em Portugal”, “Empregadas Domésticas Mulheres em Luta”, “Loas a Nossa Senhora do Cabo”; “Um releitura de Don Quijote“, “Presença do Romanceiro Hispânico no D. Quixote de la Mancha, “Repercussão das Descobertas e Expansão no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende”; “Miguel Torga e os Escritores Portugueses – Juízos de valor” in Diário, “Transformações do discurso poético de Ronald Carvalho”; “Facetas da vida e da cultura popular picoense na obra de Dias de Melo”, “Os poetas açorianos e os seus versos”; “Os poetas jorgenses e os seus versos”, entre outros. Colaborou no Grande Dicionário de Termos Literários e coordenou a coleção de livros didáticos “Para uma Leitura de” da Editorial Presença. É  coautor de Ler para Ser, manuais escolares; Dicionário Breve de Termos Literários; Dicionário Breve de Os Lusíadas; Casa Santa, Mimosa… Olhares sobre o Seminário de Angra (1950-1970).

https://www.letraslavadas.pt/poesia/os-acores-nos-versos-dos-seus-poetas/


"Ausência", José Carreiro
Os Açores nos versos dos seus poetas. Coletânea (400 poemas - 400 poetas), p. 346



PREFÁCIO - OU SETE ANOS DE LABOR...

 

por Onésimo Teotónio Almeida

 

Abro esta introdução prefaciai com uma afirmação categórica e sem reservas. Não conheço nenhuma antologia de poesia com as características desta: um poema de cada um de todos os autores de uma Região, ou de autores que escreveram sobre a mesma Região. Acontece ser sobre os Açores, onde, diz com graça o poeta Vasco Pereira da Costa, há mais poetas do que vacas. E quem quer que esteja familiarizado com estas ilhas sabe que as vacas abundam nas suas verdejantes terras de viçosas pastagens. Tornou-se até proverbial a frase de um Presidente da República que, de passagem pelo arquipélago, ao contemplá-las nesse cenário bucólico tão típico dos Açores, lhes chamou "vacas felizes".

Não poderá dizer-se o mesmo dos poetas, porque há essa ideia-cliché (embora não meramente convencional pois respira muita verdade) que coloca os poetas no mais inconformado, desadaptado, menos contente dos grupos humanos, criadores de versos muitas vezes por sentirem necessidade de ultrapassar as barreiras das estruturas conformizantes que os constrangem.

Não merecerá muito a pena determo-nos nestas considerações ainda que, por sinal, não sejam de todo descabidas entre os conhecedores da cena literária dos Açores e da Madeira. Com efeito, circula há muito a interrogação sobre as causas da existência de tanto poeta nos Açores, quando comparado com o arquipélago vizinho. As explicações produzidas em tertúlia de café e serões de amigos sugerem o lado melancólico, sombrio, pouco exuberante, introvertido mesmo da paisagem açoriana, em contraste com o soalheiro, vigoroso e de animadas cores quentes, relevo madeirense.

O melhor será deixarmos mesmo esta sorte de especulações que parecem escapar, por impossibilidade natural, a qualquer tentativa de teste empírico e regressarmos a esta antologia e aos seus méritos.

Ela começou pelo despreocupado envio semanal de um poema açoriano a um pequeno grupo de patrícios, vários deles dispersos nas duas margens do Atlântico. O Olegário Paz, que foi solista barítono no orfeão do Seminário de Angra e ainda hoje mantém bem expressivo o timbre da sua voz, para mitigar a saudosa ausência de solos, achou que poderia continuar a mantê-lo afinado lendo poemas em voz alta e gravando-os para benefício dos amigos. "Porque Hoje É Sábado" começou pois a surgir regularmente nos nossos ecrãs e, aos poucos, também no de açorianófilos espalhados pelo globo porque, por contágio, outros se foram juntando à lista de interessados em receber esse mimo semanal. Infalivelmente ao sábado de manhã, ano após ano, o Olegário foi-nos remetendo de Lisboa ou de Mora, no Alentejo, onde condivide o seu tempo livre de aposentadoria, os poemas de sua escolha, interrompendo-se apenas por curta temporada no pino do Verão.

A partir de certa altura, porque as reações dos recebedores da generosa oferta o estimulavam a continuar, passou a recorrer à sua outra veia, a de investigador. Empenhou-se então profundamente no alargamento do seu rol, fechando -se na Biblioteca Nacional e não só, na peugada de livros dos quais obtivera, aqui e ali, indireta, leve, vaga ou mesmo nebulosa referência. Amigos diversos colaboraram remetendo poemas de autores desconhecidos, ignorados, ou de obra dificilmente localizável, ou enviando-lhe pistas que ele depois seguia quase sempre com êxito. Assim, o projeto foi engrossando, e os poemas surgindo regular e ininterruptamente nos ecrãs dos nossos computadores, garantindo-nos um raio de luz em cada manhã de final de semana, fosse ele ensolarado ou açorianamente nublado e chuvoso.

Antigamente, classificava-se de paciência beneditina um esforço tão denodado, persistente e insistente, esmerado e minucioso. Quem conhece o Olegário sabe que são exatamente essas as características que, em cada primavera fazem florescer na sua horta e pomar alentejanos deliciosos vegetais e frutos. Já era assim também que, nos seus tempos de professor, ele marcava para sempre gerações de alunos que, guiados por olhos e saber experientes, aprenderam a conhecer e amar a sua língua materna através da obra dos seus melhores escritores e poetas. Aplicando os mesmos princípios de professor e agricultor intuitivo, mas também conhecedor, conseguiu uma inigualável colheita de poemas nesse rico "viveiro" açoriano, como Nemésio gostava de chamar às suas férteis ilhas. Desde o início fez questão de ser abrangente, incluindo poetas tanto eruditos, como populares, bissextos, curiosos e ocasionais.

Tão abundante colheita não seria de ficar apenas armazenada nos computadores dos contemplados pela sua semanal oferta. Impunha-se assegurar para essa vasta coletânea uma sobrevivência mais sólida, que só um livro à antiga, de papel tangível e folheável consegue fazer perdurar. Os incentivos para que esse passo fosse dado vieram de todos os lados, e as vozes mais conhecedoras do meio editorial insular foram concordantes: a Letras Lavadas seria a porta a bater com possibilidades de se abrir à ideia. E foi. Em pouco tempo, o projeto se pôs a caminhar em terreno seguro, permitindo assim o usufruto deste grosso volume de páginas repletas de poemas, se calhar o mais volumoso livro de poesia publicado em Portugal. A afirmação pode perdurar até ser posta em causa pela edição de outro maior.

Toda a gente sabe o complexo, delicado e melindroso que é lidar hoje com autores e editoras quando se procura obter direitos de publicação. O Olegário teve de lidar. com uma lista imensa de indivíduos e suspeita-se que tenha tido de enfrentar problemas vários, pois não pode ter fugido à regra. Todavia ninguém nunca se lhe ouviu uma única queixa. É essa outra das suas virtudes a juntar-se à lista que explica o êxito de todo este seu labor.

O leitor tem agora nas mãos o produto final. Nem o seu coordenador nem ninguém alguma vez imaginou que a lista dos poetas iria crescer tanto, a ponto de a leitura e envio periódico de textos ter acabado durando mais de sete anos. O facto é que durou. Sete anos de poemas. Caso para parafrasear Camões: Sete anos de pastor de poetas Olegário serviu... E mais servira se não fora.... a dificuldade de ir embrenhar-se pelos arquivos e bibliotecas dos Açores e pelas páginas de jornais, só disponíveis para quem tem acesso aos exemplares quase únicos, emedados em prateleiras esquecidas e poeirentas por essas ilhas fora.

Continuando a valer-me de Camões, fica o voto: que não lhe seja curta a vida, pois tão longo amor servirá para o nosso colecionador prosseguir ressuscitando poemas de poetas mortos, mas também estimulando os novos a manterem produtivo o viveiro insular, assim ampliando este impressionante volume. 

Providence, 6 de maio de 2020, Onésimo T. Almeida


Os Açores nos versos dos seus poetas.

400 autores, 400 textos:

 

Ilha do Corvo

Introdução de João Saramago (Corvino)

1

Palmira Jorge (1872-1956)

Meu aniversário

 

 

 

 

Ilha das Flores

Introdução de Nuno Álvares Vieira (Florense)

2

Agostinho Serpa (1963-)

Quimeras

3

Alfred Lewis (1902-1977)

À noitinha

4

Carlos Mesquita (1870-1916)

O ceu de perola velado

5

Fátima Vasconcelos (1954-)

To (be) a Whale [Para (ser) uma boleia]

6

Gabriela Silva (1953-)

Apetece beber a água que escorre pelas tuas ravinas

7

Gustavo de Fraga (1922-2003)

Ser e ter ou a hora das ilhas

8

João Silveira (1912-1980)

As lavadeiras

9

José Camões (1777-1827)

Elegia

10

José Serpa (1937-)

Exílio

11

José Silveira (1914-2005)

Almas das coisas

12

Luís Serpa (1907-1964)

Ansiedade atlântica

13

Maria Tomaz (1912-1970)

A ilha das Flores

14

Nuno Cabral (1979-)

Oh mar quem és tu?

15

Pedro da Silveira (1922-2003)

Poemas da antemanhã

16

Roberto de Mesquita (1871-1923)

Remember

17

Valério Florense (1901-1986)

Trabalhos do linho e da lã

 

 

 

 

Ilha do Faial

Introdução de Maria Inês Vargas (Faialense)

18

Adelina Nunes (1892-1977)

Trindades

19

Alzira Silva (1955-)

Um sopro de música

20

Amílcar Goulart (1910-1994)

(Poema branco)

21

Ângela Almeida (1959-)

A Ricardo Reis

22

Cordélia de Sousa (1781-1845)

[Ó, fregueses]

23

Dalila Vargas (1975-)

A Queda

24

Eduarda Rosa (1947-)

Âncora lançada, âncora levantada

25

Fátima Toste (1941-)

Empresta-me as tuas asas

26

Fernando de Sousa (1867-1914)

Primaveras

27

Frances Dabmey (1856-1918)

[O tremoceiro]

28

Francisco Goulart (1758-1830)

[Quando os astros descendo ao mar inflamado)

29

Garcia Monteiro (1859-1913)

Talento burocrático

30

Heitor Silva (1954-)

Sombras da vida

31

Helena Rodrigues (1870-1949)

As nove musas

32

Iracema (1877-1973)

Nostalgia

33

Jácome Armas (1985-)

Carta 1 – Da natureza para o Homem

34

João de la Cerda (1777-1850)

[Fradalhão, altanado carmelita]

35

José Sebag (1936-1989)

[O poeta… tossindo]

36

Júlio de Andrade (1896-1978)

Carta Décima Terceira

37

Luiza de Melo (1926-2002)

Recordações da infância

38

Manuel de Arriaga (1840-1917)

A Liberdade

39

Manuel de Sousa (1739-1801)

Ode Anacreôntica

40

Manuel Dias (1852-1930)

[Moisés, octogenário, ia com passo incerto]

41

Manuel Greaves (1878-1956)

O São João

42

Mário Fraião (1952-2010)

A pesada porta

43

Osório Goulart (1868-1960)

No Campo

44

Roberto Reis (1967-)

Numa ilha

45

Silva Peixoto (1915-2000)

Apelo

46

Sílvio (1737-1818)

A Alcipe

47

Simão da Silveira (1910-1939)

O lírio

48

Street de Arriaga (1828-1894)

Adeus!

49

Thomás da Soledade (1758-1823)

Mote – Da tua mão um mendinho

Mote – Sem falar mudo de cor

50

Vitaliano da Silveira (1768-1816)

[Nasce na manhã clara o belo Apolo]

 

 

 

 

Ilha do Pico

Introdução de Manuel Goulart Serpa

51

António Mar (1928-2013)

Signo

52

Bernardo Maciel (1874-1917)

A balada

53

Cândido Lacerda (1848-?)

A minha terra

54

Dias de Melo (1925-2009)

Na noite silenciosa

55

Ernestina Avelar (1849-1887)

O meu Pico

56

Fátima Madruga (1955-)

Intemporal alhures

57

Hernâni Candeias (1948-2015)

Contemplação

58

José Macedo (1934-)

A rosa

59

José Simplício (1937-)

Evocação

60

Judite Jorge (1965-)

[Pés na lama, cabeça nas estrelas]

61

Manuel Dias (1867-1902)

Andar à moda

62

Manuel Nunes (1926-2011)

Já tudo tem chafariz

63

Manuel Tomás (1950-)

Existir

64

Martins Garcia (1941-2002)

Assim seja

65

Olga Sousa (1935-)

Tela

66

Pereira da Silva (1892-1974)

Tábuas do meu berço - I

67

Rui Goulart (1974-)

A noite

68

Terra Garcia (1954-)

Minha ilha, meu povo

69

Tomás da Rosa (1921-1994)

Andorinha dos Ramos Floridos

70

Urbano Bettencourt (1949-)

Antero

 

 

 

 

Ilha de São Jorge

Introdução de Frederico Maciel (Jorgense)

71

Anónimo (recolha de Manuel d’Azevedo da Cunha, 1861-1937)

Retrato da namorada

72

António Ramiro (1892-1949)

Entardecer

73

Armando Narciso (1890-1948)

Terra Açoreana

74

Artur Goulart (1937-)

Ilha

75

Belmira de Andrade (1844-1921)

A uma violeta

76

Correia de Melo (1909-1993)

Romaria de amor

77

Fernando de Lemos (1934-1982)

Outono

78

Filomena Serpa (1861-1930)

Saudade

79

Gilberto Remador (1916-1993)

[Bem-haja, ó luz do sol]

80

João Caetano (1829-1913)

Ao expirar do ano 1895

81

João de Bettencourt (1945-)

Poema em plena faina para Vitorino Nemésio

82

João de Matos (1889-1915)

[Ai que saudades que eu tenho]

83

Jorge Cacete (1950-)

Barquinhos das ilhas

84

Jorge Machado (1939-)

Valor oculto

85

José Alves (1934-)

Fajã da Caldeira de Santo Cristo (São Jorge – Açores)

86

José de Lacerda (1861-1911)

“Sons”

87

José Soares (1927-2004)

[Quando o homem fez, um dia]

88

Leocádia Regalo (1950-)

Esses ares

89

Lígia (Lídia?) Barros (séc. XX)

Sou gente

90

Luísa Soares (1940-)

Insularidade

91

Moisés da Silveira (1960-)

A maresia da minha ilha

92

Olávia Vieira (1928-2011)

Minha Vila

93

Samuel Amorim (1901-1989)

Canção do cavador

94

Silveirinha (1901-1982)

Recordações da pátria

95

Teresa Blayer (1943-)

O último sorriso

96

Vital Cardoso (1945-)

Aos cantores populares

 

 

 

 

Ilha Graciosa

Introdução de Victor Rui Dores (Graciosense)

97

António Gil (1846-1883)

Só Deus é grande

98

Humberta Araújo (1959-)

[Aldeão]

99

José Berto (1938-1999)

[Poemas]

100

Manuel Lobão (1951-)

[sinto na pele o frio]

101

Rui de Mendonça (1896-1959)

No exílio

102

Victor Dores (1958-)

Declaração de amor à cidade da Horta

 

 

 

 

Ilha Terceira

Introdução de Álamo Oliveira

103

Adelaide Sodré (1903-1982?)

Romantismo

104

Álamo Oliveira (1945-)

[ninguém sabe o malefício dos anos]

105

Alexandre Borges (1980-)

e deste lugar (com bactérias-da-guarda e anjos-nocturnos)

106

Angélica Borges (1989-)

Mar

107

Ângelo Ribeiro (1886-1936)

[Minha alma é de criança]

108

António DaCosta (1914-1990)

[Varanda da minha infância]

109

Azoriana (1964-)

O triunfo outonal das cores

110

Bernardete Falcão (1924-)

Sonho de ilhéu

111

Borges dos Santos (1920-2002)

Tédio

112

Borges Martins (1947-)

Sentado no Epicentro das Palavras

113

Cabral de Mello (1740-1824)

[Não emparelha com João Trajano]

114

Canto e Castro (1903-

Ilha Terceira

115

Carina Fortuna (1979-)

Fragmentos

116

Carla Félix (1976-)

Palavras

117

Carla Tavares (1977-)

“O meu mundo cabe dentro de um abraço”

118

Carlos Enes (1951-)

[O tempo indizível caiu num saco de escorbuto]

119

Carlos Ornelas (1968-)

[quando te encontrei no cais]

120

Catarina Valadão (1986-)

[a noite abateu-se]

121

Chica Ilhéu (1950-)

[Se fosse pintora de tela]

122

Coelho de Sousa (1924-1995)

Ilha do mar

123

Cunha Ribeiro (1957-1994)

Algures, no Mundo

124

Das Dores Beirão (1940-)

Lenda das modas

125

Duarte Pinheiro (1963-)

Ritual

126

Emanuel Félix (1939-2004)

Para Joana

127

Félix Rodrigues (1962-)

A poesia é imortal

128

Fernando Mendonça (1947-)

Eu! Amo!

129

Ferraz da Rosa (1954-)

Sem pôr nem tirar

130

Gervásio Lima (1876-1945)

Ilha de Amores

131

Helena Martins (1961-)

Esconso de mim

132

Ivo Machado (1958-)

Antiquíssimas criptomérias

133

Joana Félix (1955-)

O baleeiro

134

João Afonso (1923-)

No Pego do Mar

135

João Borges (1778-1846)

À morte de M. M. Barbosa du Bocage

136

João Ilhéu (1896-1979)

Carta da América

137

João M. do Rego (1944-)

Fui nada num vulcão

138

João Melo (1987-)

O lado selvagem

139

João Rodrigues (1957-)

Visita

140

Joaquim Esteves (1908-1993)

Os Noivos

141

Joaquim Mendes (1861-1890)

A poesia

142

Jorge Morais (1958-)

[comigo trago]

143

José A. Afonso (1964-)

Quebra-mar

144

José da Costa (1896-1979)

Tempestades da alma

145

José Ferreira (1971-)

[Tenho-te fugido por entre os dedos]

146

José Sampaio (1852-1914)

Ao Luar

147

José Severim (1830-1865)

A tempestade

148

José Silva (1793-1871)

[Feliz, feliz do tempo, em que vivia]

149

José Simões (1949-1990)

Menino Ilha

150

Luís Borges (1977-)

Nós

151

Luís Costa (1983-)

Fica

152

Luís Nunes (1966-)

Outono

153

Luísa Ribeiro (1960-)

[O meu caminho é o meu ninho]

154

Lurdes Branco (1976-)

Ser Ilhéu

155

Machado Lourenço (1908-1984)

Casas da Aldeia

156

Maduro Dias (1904-1986)

Ponto

157

Manuel Lino (1865-1927)

[Parti cedo, em busca da ventura]

158

Marcolino Candeias (1952-)

Crepúsculo na ilha

159

Maria do Céu (1904-1980)

Tu e Eu

160

Mariavelar (1900-1980)

Castelos na areia

161

Mário Cabral (1963-)

Tratado de astrologia

162

Mateus das Neves (1907-1984)

O leiteiro

163

Moniz Bettencourt (1847-1905)

Naufrágio do Lidador

164

Norberto Ávila (1936-)

Discurso de despedida a uma mala de viagem

165

Paula Teixeira (1971-)

S. João

166

Ricarda Hilária (1975-)

Telefone

167

Rui Machado (1966-)

[Quero viver eternamente no princípio da noite]

168

Rui Rodrigues (1951-2004)

Lamúria de um sargento das índias

169

Sandra Fernandes (1979-)

Barco da poesia

170

Santos Barros (1946-1983)

Reflexões campesinas

171

Sónia Bettencourt (1977-)

Contemplação

172

Turlu (1907-1987)

[Quando na aurora da vida]

173

Válida (1981-)

Maré de poesia

174

Vasco da Costa (1948-)

Coro dos velhos do Corvo

175

Vitorino Nemésio (1901-1978)

O pão e a culpa

 

 

 

 

Ilha de São Miguel

Introdução de Maria João Ruivo (Micaelense)

176

Adelaide Freitas (1949-2018)

Eu me (te) digo

177

Adriana Bessone (1932-2012)

Toada

178

Albano Cordeiro (1914-1964)

À noitinha

179

Ana Franco (1945-)

O canto das rãs nas Sete Cidades

180

Ana Pimentel (1940-)

Caldeiras da minha vida

181

Ana Viveiros (1934-2013)

[Quando a cidade acende]

182

Aníbal Raposo (1954-)

Poema para o meu amor

183

Antero de Quental (1842-1891)

No templo

184

António de Araújo (1566-1632)

Encantos…

185

António Macêdo (?-1887)

Ella

186

António Moniz (1945-)

A caminho do hospital

187

António Moreno (1876-1946)

Rosa desfolhada

188

António Rego (1941-)

As prendas dos Magos

189

António Silva (1950-)

Somos filhos de sereias

190

António Teves (1954-)

[De rosas]

191

António Torres (1856-1936)

Soneto Prólogo

192

António Vallacorba (1940-)

Peito Insular

193

Armando Moreira (1954-)

Rumor das hortências

194

Aurora de Moraes (1861-1902)

Passeio à beira-mar

195

Bento Viana (1794-1823)

[Tyranos ferros quebrei]

196

Cândido Pimentel (1961-)

Ritual poético

197

Carlos Wallenstein (1925-1990)

Ecologia

198

Carmo Lima (1945-)

[Manhã de Chuva]

199

Carolina Matos (1945-)

Fome

200

César Brazídio (1979-)

Luana

201

César Rodrigues (1858-1946)

Et omnia vanitas

202

Clarisse Nunes-Dorval (1979-)

Até à lua

203

Cláudia Martins (1990-)

Inertes

204

Côrtes-Rodrigues (1891-1971)

Romeiros

205

Cristovam de Aguiar (1935-)

Luar da minha terra

206

Cristóvão de Aguiar (1940-)

Resolução

207

Daniel de Sá (1944-2013)

Natividade pátria

208

Decq Mota (1925-2004)

Invernia

209

Denis da Luz (1915-1988)

Névoa

210

Duarte de Viveiros (1897-1937)

Miragem

211

Eduardo de Andrade (1932-)

Homenagem à minha professora

212

Eduíno de Jesus (1928-)

Estudo para um retrato de memória (com mar ao fundo)

213

Egídio da Costa (séc. XIX-XX)

[Foi Santa Cruz da Vila da Lagoa]

214

Emanuel Botelho (1950-)

[Vou-me embora, disseste]

215

Emanuel de Sousa (1941-2018)

[As uvas colhem-se no arame farpado]

216

Escolástica Cordeiro (1945-)

Natal

217

Espínola de Mendonça (1891-1944)

Música

218

Ezequiel Silva (1893-1974)

Marinheiros do Pico

219

Faria e Maia (1853-1930)

O Figueiredo

220

Fátima Ribeiro (1950-)

Aquela que sou

221

Felipe do Quental (1824-1892)

A Esperança

222

Félix Horta (1890-1961)

As Horas

223

Fernando da Silva (1931-2016)

Não me ofereças flores

224

Fernando Mota (1947-)

Senhora da minha vida

225

Gabriel Cabral (1939-)

Água Retorta

226

Gabriel Ferreira (1909-1977)

A minha terra

227

Galvão de Carvalho (1903-1991)

Sol-Pôsto

228

Gaspar Frutuoso (1522-1591)

[Ou com o seco frio o sacro Tormes]

229

Humberto Bettencourt (1875-1963)

À memória de Antero

230

Inês Botelho (2004-)

Um gato invulgar

231

Irene Dias (1920-)

[Para os lados da Bretanha]

232

Isabel Quental (1887-1970)

O dia

233

Jacinto de Albergaria (1928-1981)

Poema

234

Jacome Correa (1792-1822)

Ode aos Autores do movimento político-Micaelense do dia 1.º de março de 1821

235

Jacome Rapozo (1730-1805)

Almena e Sylvano

236

João Anglin (1894-1975)

Pôr-do-Sol

237

João Soares Cordeiro (18??-19??)

A minha Deusa

238

João de Medeiros (1941-)

O repouso da garça

239

João de Melo (1949-)

Aqui onde o mar

240

João Loução (1895-1961)

Outono

241

João Macedo (1943-)

[A minha vida é um poema]

242

João Mendonça (1947-2004)

A Verdade do Poeta

243

João Peixoto (1803-1891)

Elvira

244

João Porto (1984-)

A Casa da Açafroa

245

Jonas Negalha (1933-2007)

Holocausto

246

José Arruda (1904-)

Cantadores da minha aldeia

247

José Bem-Saúde (1835-1922)

Jeovah

248

José Maria de Aguiar Carreiro (1970-)

Ausência

249

José da Costa (1881-1963)

Apresentação

250

José da Luz (1879-1965)

Versos

251

José da Silva (1952-)

Cancioneiro pós-moderno

252

José Duarte (1955-)

Ao compasso da viola e do mar

253

José F. Costa (1946-)

Miolo da figueira

254

José Lopes (1957-)

A paz eterna

255

José Machado (1913-1979)

Horas Antigas

256

José Ponte (1849-1924)

Rachel

257

José Raposo (1950-)

Cais da solidão

258

José Resende (1849-1896)

Lamúrias dum eleitor

259

José Tavares (1891-1986)

Pastoril

260

Júlio Oliveira (1999-)

[Esta chuva que me chega]

261

Laudalina Rodrigues (1954-)

Anoiteceu no teu corpo

262

Laureano Almeida (1937-)

[Ave Maria]

263

Leonardo Sousa (1994-)

Invocação – diagnóstico dos escombros

264

Leonilde Carreiro (1929-)

Que saudades, mãe

265

Lima Araújo (1886-1970)

Primavera arisca

266

Lopes de Araújo (1919-1993)

Anseio

267

Lúcia Melo (1942-)

Balada para uma sereia morta

268

Lourdes Cordeiro (1939-)

Recordações

269

Machado Ribeiro (1938-)

Na gruta

270

Madalena Férin (1929-2010)

Mensagem

271

Manuel Barbosa (1905-1991)

Revolta

272

Manuel Botelho (1910-1977)

Minha aldeia

273

Manuel de Amaral (1862-1942)

Vindimas

274

Manuel de Melo (1898-1986)

«Sobre o nosso Nordeste»

275

Manuel Pimentel (1939-2004)

Quem és tu?

276

Manuel Vasconcelos (1786-1844)

Maria

277

Margarida de Sousa (1945-)

Ilha do Pico

278

Maria Damião (1940-)

Casa Micaelense

279

Maria Esteves (1949-)

«…parece uma ave da Terra Nova…»

280

Marta Furtado (1976-2004)

Curriculum Vitae

281

Martin Maia (1911-1982)

Trovas Açorianas

282

Mercês Cardoso (1881-1956)

Outono

283

Miguel Alvim (1882-1915)

Quis es?

284

Natália Correia (1923-1993)

Alegram-se as velhas amigas em novos cantares de amigo

285

Nelson Moniz (1961-)

Lagoa do Fogo

286

Nuno Dempster (1944-)

Inventário

287

Nuno Costa Santos (1974-)

Primeira separação

288

Oliveira San-Bento (1893-1975)

Ansia

289

Pedro Paulo Câmara (1980-)

A ilha, os outros, tu e eu

290

Ramiro Dutra (1931-)

Eco cinzento

291

Raposo de Amaral (1897-1987)

Alma açoriana

292

Raposo de Lima (1905-)

A árvore e o ninho

293

Raposo de Oliveira (1881-1933)

No mar da vida

294

Rebelo Bettencourt (1894-1969)

A canção da fonte

295

Renata Botelho (1977-)

A árvore e as raízes

296

Resendes Ventura (1936-2013)

Canção do mar

297

Ricardo Cabral (1962-)

Engolir

298

Ricardo Tavares (1974-)

[Enquanto sonhava alto, ouvi gritos no céu]

299

Rolando de Viveiros (1882-1956)

Nocturno

300

Rui Peixoto (1953-2015)

Lenda das hortenses

301

Sacuntala de Miranda (1934-2008)

Evocação

302

Sidónio Bettencourt (1955-)

Bailarina

303

Sivnório (Onésimo T. Almeida, 1946-)

Placidez

304

Susana Rodrigues (1965-)

Evasão

305

Tavares de Melo (1954-)

Latitude

306

Teóphilo Braga (1843-1924)

O masthodonte

307

Teresinha Pimentel (1932-)

[A Menina na “Pragana”]

308

Tiago Rodrigues (1979-)

Insónia

309

Vasconcelos César (1906-1991)

[Dia de festa; alegria]

310

Virgílio de Oliveira (1901-1967)

Idealismo

311

Viriato de Resendes (1915-1994)

Carroça de mão

312

Vital Ferrão (1954-)

A Poesia

313

Y Not (António M. C. Arruda, 1946-)

Natal de Ontem… e de Hoje!...

314

Zeca Medeiros (1951-)

Cantiga da terra

315

Zeca Soares (1973-)

[A ti, Andorinha que és livre sem querer]

 

 

 

 

Ilha de Santa Maria

Introdução de Manuel J. Chaves

316

António Frias (1909-1992)

Os tempos que já lá vão

317

Armando Monteiro (1938-)

Crisol

318

Fernando Monteiro (1935-1995)

À velocidade do amor

319

Serafim Chaves (1904-1985)

O encanto da aldeia

 

 

 

 

Açorianófilos

Introdução de Miguel Real

320

Acácio Januário (1921-2000)

Soledade

321

Adriano de Faria (1929-)

Bairro das Angústias

322

Alice Moderno (1867-1946)

Partiu

323

Almeida Firmino (1934-1977)

O rumo é este instante

324

Américo Moreira (1953-)

A Vitorino Nemésio

325

Ana Amaral (1956-)

Feitos de lava

326

Ana Inácio (1966-)

A mulher de 17

327

Ana Leite (1954-)

Inverno na ilha

328

André Moa (1939-2011)

Arco-Íris do sonho

329

Andre Siganos (1948-)

Nus

330

Aníbal Pires (1956-)

S. Jorge, a ilha

331

António Barreto (séc. XX-XXI)

[Vai pelo mar fora]

332

António Névada (séc. XX-XXI)

[E arrastaram os botes]

333

António Silva (séc. XX-XXI)

[Deitei o teu nome na superfície]

334

Aranda e Silva (1957-)

Sonhos do Mar

335

Arsénio de Carpo (1792-1869)

Saudades de San-Miguel

336

Artur Lobato (1920-1986)

Ilha

337

Avelina da Silveira (1959-)

[Tu que nas manhãs de sol]

338

Carlos Bessa (1967-)

locus amoenus

339

Carlos de Castro (1934-)

Terceira – S. Jorge

340

Carlos Faria (1929-2010)

São Jorge – Pico

341

Catarina Dantas (1991-)

[O dia chega nos pés daqueles]

342

Cecília Meireles (1901-1964)

Ilha de Nanja

343

Coelho da Rocha (1958-2009)

Príncipes dilectos marinhos – Allegro com grazia

344

Couto Viana (1923-2010)

Ilha de São Miguel

345

Daniel Gonçalves (1975-)

[suportei o inverno mais longo de sempre]

346

Deka Purim (1962-)

Reciclagem

347

Dora Gago (1972-)

Insularidades

348

Eduardo Bettencourt Pinto (1954-)

Pergunto pelo inverno adormecido

349

Eleonora Marino Duarte (1969-)

Adeus

350

Ernesto Rebelo (1842-1890)

A ilha de São Miguel

351

Fátima Maldonado (1941-)

O dragoeiro

352

Fátima Quadros (1958-)

Queijo de São Jorge

353

Fátima Silveira (1929-2003)

Recordações

354

Fernando Martinho Guimarães (1960-)

Ponta Delgada

355

Fernando Reis (1946-2012)

Instantâneos

356

Francisco Vasconcelos (1960-2011)

Açores

357

Frank Gaspar (1946-)

Torrão natal

358

George Monteiro (1932-2019)

Serviços

359

Guilherme Cabral (1821-1897)

Hymno do Espirito Santo

360

Henrique Levy (1960-)

Comíamos Pão Junto ao Mar

361

Henrique Segurado (1930-)

Na rota de Nemésio

362

Hugo Ramires (1922-2008)

Prenda

363

Humberta Araújo (1961-)

Poema (em andamento) no rasto da minha Língua

364

Isabel Pulquério (1929-2014)

Natal

365

Isabel Rodrigues (1950-)

[Deste lado fica a ilha]

366

Ivone Chinita (1949-1938)

S. Mateus, por exemplo

367

João Barreiros (1970-)

“[Eu sou ilha]”

368

João T. de Medeiros (1901-1994)

Franqueza política

369

João Miguel Fernandes Jorge (1942-)

Ecce homo

370

José Barbosa (1893-1972)

Milhafre

371

José C. Francisco (1951-)

Sobre um tema de Vitorino Nemésio

372

José González (1937-2000)

Açores

373

José Soares (1763-1845)

[Cupido, já não temo tuas settas]

374

Josefina Amarante (1907-2008)

Ia chegar o Espôso: (Mat. 25:1-13)

375

Klauss-Kaffa Gil (1924-2018)

Edelweiss

376

Laura Lima (1930-)

Canção para o novo ano

377

Leons Briedis (1949-)

Repetição

378

Luís Moniz (1993-)

Sorte companheira do azar

379

Luiz Leite (1828-1898)

Também ama

380

Lurdes Simões (1956-)

A canção da escola

381

Manuel Alegre (1936-)

Código

382

Martha de Mesquita (1895-1980)

Relembrando

383

Morão Correia (séc. XX)

Poema do Homem das Ilhas de Bruma

384

Orquídea Abreu (1964-)

[há de haver sempre]

385

Osmar Pisani (1936-)

Breve canto

386

Paula Lima (1962-)

Homenagem a Ricardo Reis

387

Paulo Bacedônio (1974-)

quatro poemas açorianos

388

Paulo Freitas (1974-)

[Cheiro caminhos de terra, em vento vago]

389

Pedro Mendonza (1974-)

[Quando comecei a escrever]

390

Pedro Monteiro (1966-)

Bendita Maldição

391

Raquel Oliveira (1947-)

Lembranças felizes

392

Ribeira Sêca (Luís Côrtes-Rodrigues, 1914-1991)

Poesia

393

Rodolfo Begonha (1965-)

Nove sorrisos de liberdade

394

Rogério Apresentação (1948-)

Pétalas ao vento

395

Semy Braga (1947-)

[Sobre os legados]

396

Senna Freitas (1808-1872)

Desengano

397

Silva Duarte (1918-2011)

Rosário dos portos do mar

398

Sophia Andresen (1919-2004)

Açores

399

Teresa Machado (1954-)

Ilha-Mulher

400

Virgílio Vieira (1960-)

O Vigia de baleia




Poderá também gostar de:

  •  Literatura Açoriana (os autores, o conceito de açorianidade, a questão e alguns estudos sobre a Literatura Açoriana). In: Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo, José Carreiro, 2021 (3.ª edição).



CARREIRO, José. “Os Açores nos Versos dos Seus Poetas”. Portugal, Folha de Poesia, 13-10-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/10/os-acores-nos-versos-dos-seus-poetas.html



sábado, 10 de outubro de 2020

Louise Glück, Prémio Nobel da Literatura de 2020


 

O Poder de Circe

Nunca transformei ninguém em porco.
Algumas pessoas são porcos; faço-os
parecerem-se a porcos.

Estou farta do vosso mundo
que permite que o exterior disfarce o interior.

Os teus homens não eram maus;
uma vida indisciplinada
fez-lhes isso. Como porcos,

sob o meu cuidado
e das minhas ajudantes,
tornaram-se mais dóceis.

Depois reverti o encanto,
mostrando-te a minha boa vontade
e o meu poder. Eu vi

que poderíamos ser aqui felizes,
como o são os homens e as mulheres
de exigências simples. Ao mesmo tempo,

previ a tua partida,
os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando
o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas

que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,
toda a feiticeira tem
um coração pragmático; ninguém

vê o essencial que não possa
enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter
podia ter-te aprisionado.

*Poema publicado originalmente na coletânea Meadowlands (1996), com o título “Circe’s Power”. Editado em Portugal na antologia Rosa do Mundo. 2001 Poemas Para o Futuro (2001), da Assírio & Alvim, numa tradução de José Alberto Oliveira. A antologia encontra-se atualmente esgotada

Paisagem/3

Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono

fora muito seco; o campo
ardeu como palha.

Depois não sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.

Nada havia para colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –

Onde está o campo, parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.

Ninguém sabe responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.

É como perder um ano de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?

Mais tarde regressas ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.

Pensas: como pude viver aqui?

Mas na altura era diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.

Um único fósforo foi quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.

O campo crestado, seco –
a morte já a postos
por assim dizer.

*Terceira parte do poema “Landscape”, de Averno (2006), traduzido por Rui Pires Cabral. Os versos foram publicados no n.º 12 da revista Telhados de Vidro, da editora Averno, em maio de 2009 

Disponível em: https://observador.pt/2020/10/08/leia-aqui-o-poema-o-poder-de-circe-de-louise-gluck-premio-nobel-da-literatura-de-2020




Nobel para Louise Glück: uma poesia da desolação e do milagre

O nome da norte-americana Louise Glück foi anunciado pela Academia Sueca esta quinta-feira ao meio-dia como Nobel da Literatura 2020, numa cerimónia transmitida online a partir de Estocolmo.  O júri escolheu-a pela “sua inconfundível voz poética, que com austera beleza torna universal a existência individual”. Actualmente a viver em Cambridge, Massachussetts, nos EUA, Louise Glück, de 77 anos, é professora de Língua Inglesa na Universidade de Yale.

O secretário permanente da academia, Mats Malm, disse que Louise Glück ficou “surpreendida e feliz” quando lhe telefonaram bem cedo para os EUA a dar a notícia. A sua poesia é caracterizada por “uma busca de claridade”, justificou a academia, com temas que passam pela infância, pela vida familiar e pelo relacionamento com pais e irmãos.

“Nos seus poemas ‘o eu’ escuta o que resta dos seus sonhos e ilusões e ninguém é mais duro ao confrontar as suas próprias ilusões. Mas ainda que Glück nunca tenha negado a relevância do contexto autobiográfico, não deve ser encarada como um poeta confessional. Glück almeja o universal, e nessa procura inspira-se nos mitos e nos temas clássicos presentes na maior parte dos seus trabalhos. As vozes de Dido, Perséfone e Eurídice – as abandonadas, as castigadas, as traídas – são máscaras para ‘um eu’ em transformação, tão pessoal quanto universalmente válido”, justifica o presidente do Comité do Nobel Anders Olsson. 

“Com as antologias The Triumph of Achilles (1985) e Ararat (1990), Glück encontrou uma audiência crescente nos Estados Unidos e no estrangeiro”, diz Olsson, observando que em Ararat se “reúnem três características que se tornarão recorrentes em livros posteriores: o tópico da vida familiar, uma inteligência austera e um refinado sentido de composição que marca o livro no seu conjunto”.

 Lembrando que a própria Glück referiu ter “descoberto nesses poemas como utilizar a dicção comum na sua poesia”, o presidente do Comité do Nobel sublinha o carácter “deceptivo” desse seu “tom naturalista”: “Deparamo-nos com imagens nítidas e quase brutais de dolorosas relações familiares, descritas com candura e sem vestígio de ornamento poético”. Olsson vê ainda “um traço muito revelador da sua própria poesia” quando Glück, nos seus ensaios, “cita o tom urgente em Eliot, a arte da escuta interior em Keats ou o silêncio voluntário em George Oppen”. Mas “na sua própria severidade e recusa em aceitar simples premissas de fé, ela parece-se mais com Emily Dickinson do que com qualquer outro poeta”, acrescenta.

Há muito radicada em Cambridge, no Massachussets, Louise Glück nasceu em Nova Iorque em 1943 numa família de emigrantes judeus vindos da Hungria (o seu pai, Daniel Glück, inventou com um cunhado, nos anos 30, a lâmina x-acto) e foi criada em Long Island, tendo-se debatido com problemas de anorexia nervosa nos anos finais do liceu. Frequentou depois o Sarah Lawrence College e a Universidade de Columbia, onde teve como influente mentor o poeta Stanley Kunitz, mas não chegou a licenciar-se, o que não a impediu de ensinar poesia em diversas escolas e universidades, após alguns anos a sustentar-se com um emprego de secretária.

Glück estreou-se em 1968 com um livro adequadamente intitulado Firstborn, tendo desde então publicado mais onze volumes de poesia, sendo o mais recente, Faithful and Virtuous Night, de 2014. Desde a publicação dos seus primeiros livros que a crítica a vem reconhecendo como um dos nomes centrais da actual poesia norte-americana. The Wild Iris trouxe-lhe um prémio Pulitzer em 1993, no mesmo ano em que foi eleita para a Academia Americana das Artes e Ciências. Em 2004 sucedeu a Billy Collins como “poeta laureado” nos Estados Unidos, e recebeu ainda vários outros prémios, incluindo o National Book Award, atribuído a Faithful and Virtuous Night.

Ela própria contou ter tido um bloqueio criativo após a publicação do livro de estreia, que só conseguiu resolver quando começou a ensinar poesia – “no momento em que comecei a ensinar, comecei a escrever: foi um milagre” – e que justifica o hiato de sete anos até à publicação de The House on Marshland, em 1975. Este segundo livro foi bem acolhido por vários críticos, que nele reconheceram uma voz singular que a autora ainda não teria verdadeiramente encontrado no primeiro. E esta quinta-feira, ao telefone com a Academia Sueca, quando lhe pediram que indicasse por onde deviam os novos leitores que o Nobel da Literatura decerto lhe irá trazer entrar na sua obra, ela mesma avisou que não deveriam começar pelo seu livro de estreia.

Numa entrevista ao PÚBLICO, durante o passado mês de Maio, o escritor Teju Cole revelava que andava ler a poesia de Louise Glück. E no ano passado, também ao PÚBLICO, a escritora Lisa Halliday dizia que a poesia de Louise  Glück tinha enformado o seu tom e contagiado o seu ritmo na escrita de Assimetria.

A par da sua obra poética, Louise Glück publicou também colectâneas de ensaios sobre poesia, a última das quais – American Originalityt: Essays on Poetry – saiu em 2017. No anterior Proofs and Theories, de 1994, dá-nos uma chave para a sua poesia ao sublinhar que “escrever não é decantar a personalidade” e que “a verdade, na página [de um livro], não precisa de ter sido vivida, mas é antes tudo o que pode ser contemplado”. E quando recebeu a nomeação oficial de “poeta laureado”, atribuída pela Biblioteca do Congresso, e lhe pediram que escolhesse uma amostra da sua poesia, destacou os cinco versos finais de um poema do livro The Seven Ages, de 2001: “Immunity to time, to change. Sensation/ of perfect safety, the sense of being/ protected from what we loved—// And our intense need was absorbed by the night/ and returned as sustenance.”

Profunda conhecedora do cânone, são muitas as vozes – de Homero ou Dante a poetas contemporâneos como T.S. Eliot ou Wallace Stevens – que ecoam nesta poesia. Mas sem abdicar da complexidade da sua visão, esta é também uma poesia que não abdica de ser comunicante e quer poder ser lida com proveito pelo leitor não especializado.

É uma poesia atravessada pelo sofrimento e pela desolação, “familiarizada com a escuridão”, como escreveu o poeta e crítico Peter Campion no New York Times numa recensão de 2014 a Faithful and Virtuous Night.  Mas o mesmo Campion observa que uma razão para Glück se ter confirmado, ao longo das últimas décadas, como “um nome tão central na poesia Americana (…) é o seu notável talento para recapturar o milagre”. Apesar de toda a sua “desabusada austeridade”, argumenta Campion, é “um grande poeta da renovação”. Mas adverte que “não se trata de optimismo”, já que “para Glück e para os que falam nos seus poemas, a mera sobrevivência é já um quase inacreditável milagre”.

O modo como a sua poesia por vezes emerge da desolação e da treva para lugares mais luminosos foi também notado pelo presidente do Comité Nobel, que sugeriu que “o decisivo instante de mudança é muitas vezes marcado por um humor cortante”, como acontece nos versos finais do livro Vita Nova (1999), título que alude ostensivamente à Vita Nuova de Dante: “I thought my life was over and my heart was broken./ Then I moved to Cambridge.”

Não há livros de Glück editados em Portugal, mas um dos seus poemas, O Poder de Circe (do livro Meadowlands, de 1996), foi traduzido pelo poeta José Alberto Oliveira para ser incluído na colectânea Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o futuro, organizada pelo editor Manuel Hermínio Monteiro e editada pela Assírio & Alvim em 2001. O poema abre com estes versos: “Nunca transformei ninguém em porco./ Algumas pessoas são porcos; faço-os/ parecerem-se a porcos.// Estou farta do vosso mundo/ que permite que o exterior disfarce o interior”. Mais tarde, em 2009, o poeta, artista plástico e tradutor Rui Pires Cabral publicou no n.º 12 da revista Telhados de Vidro dois poemas de Glück do livro Averno, de 2006, incluindo o extenso Paisagem (Landscape), em seis partes, e Um Mito de Devoção, no qual a poetisa norte-americana revisita o mito de Perséfone e que se inicia com estas estrofes: “Decidido a amar aquela rapariga/ Hades construiu-lhe um duplicado da terra,/ tudo igual, até o prado,/ mas com uma cama no meio.// Tudo igual, incluindo a luz do sol,/ pois não seria fácil a uma rapariga nova/ passar tão bruscamente da luz intensa à completa escuridão”. 

"Uma grande honra"

Num ano especial por causa da pandemia de Covid-19, já se sabe que não irá acontecer o habitual banquete organizado para os laureados em Estocolmo. Segundo o jornal sueco The Local, a cerimónia em que os vencedores recebem das mãos do rei Carlos Gustavo o prémio Nobel, geralmente agendada para 10 de Dezembro em Estocolmo, será substituída por uma cerimónia transmitida digitalmente nesse mesmo dia, com os premiados a receberem os prémios nos seus próprios países. Os vencedores deste ano serão convidados para uma cerimónia a realizar-se em 2021 onde poderão comemorar ao lado dos laureados do próximo ano, assumindo que a crise pandémica já estará resolvida por essa altura. 

A escolha da poetisa norte-americana não foi uma surpresa total, já que se esperava que o vencedor fosse uma mulher, muitos apostavam que 2020 assinalaria o regresso da poesia, e o nome de Louise Glück surgia nas listas de favoritos das casas de apostas, ainda que em lugar modesto, muito atrás de candidatas como a guadalupense Maryse Condé, a canadiana Anne Carson, a russa Lyudmila Ulitskaya ou a ficcionista americana de origem caribenha Jamaica Kincaid. Se o poeta mais recentemente galardoado – caso exceptuemos Bob Dylan – tinha sido o sueco Tomas Tranströmer em 2011, é preciso recuar 24 anos, até 1996, para encontrarmos a última poetisa que tinha recebido o prémio: a polaca Wisława Szymborska.

Depois de o Nobel da Literatura ter causado polémica em 2016, quando foi atribuído a Bob Dylan, de ter estado suspenso em virtude de uma sucessão de escândalos em 2018, e de no ano passado ter voltado a gerar controvérsia com a escolha de Peter Handke, acusado de simpatias pró-sérvias na guerra dos Balcãs, Louise Glück pode bem ser considerada uma aposta segura, ao mesmo tempo que parece marcar a vontade da Academia Sueca de mostrar que não se sente obrigada a satisfazer as pressões contemporâneas que exigem ver distinguidos autores que não sejam homens, brancos e ocidentais.

Numa entrevista telefónica disponibilizada esta tarde pela Academia Sueca, Louise Glück, ainda atarantada com a notícia e sem ter tomado café, disse que não tinha nenhuma ideia sobre o que significava para ela ter sido galardoada com o Prémio Nobel da Literatura. Confessou que um dos seus primeiros pensamentos foi o de que ia perder todos os seus amigos, porque a maior parte deles são escritores. Ainda sem saber muito bem o que significa estar entre os que já receberam este prémio, reconheceu que é “uma grande honra” recebê-lo, apesar de entre os premiados haver alguns que não admira. “Mas depois penso naqueles que admiro, alguns premiados muito recentemente”, concluiu. 

Em termos práticos, regozijou-se com o facto de o dinheiro do prémio (dez milhões de coroas suecas, correspondentes a um pouco menos de um milhão de euros) lhe ir permitir comprar uma casa em Vermont. Mas o que verdadeiramente a preocupa é o impacto que a visibilidade deste prémio possa ter na vida das pessoas que a rodeiam e que ela ama e cuja intimidade ela gostaria que fosse preservada.

com Isabel Coutinho

https://www.publico.pt/2020/10/08/culturaipsilon/noticia/-premio-nobel-literatura-2020-1934431



CARREIRO, José. “Louise Glück, Prémio Nobel da Literatura de 2020”. Portugal, Folha de Poesia, 10-10-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/10/louise-gluck-premio-nobel-da-literatura.html



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Cancioneiro Popular Português, Teófilo Braga

Cancioneiro Popular Portuguez,

Theophilo Braga, 1911 (2.ª ed. ampliada).


Propostas de atividades para o ensino da literatura popular na sala de aula 

Por: Anamarija Marinovic


Esta série de quadras foi escolhida aleatoriamente e estruturada assim para ter uma história. Organizei-as desta forma para tentar ver de que maneiras poderia ser explorada a literatura popular na sala de aula.

Estas quadras poderiam ser dadas no [ensino básico] para as crianças conhecerem um pouco da sua literatura oral, mas também na escola secundária para se ver que alguns autores cultos recorriam ao uso de motivos e temas folclóricos nas suas obras. Devido ao facto de não conhecer bem o sistema escolar português, não sei dizer para que anos estes conteúdos seriam adequados. A introdução da literatura popular na sala de aula pode ajudar a que os alunos se lembrem de alguns provérbios e dos valores que ensinam. Pode também ser útil para desenvolver a criatividade e imaginação dos alunos, e para ser um primeiro passo que os conduza às obras de autores eruditos. Proponho algumas atividades para esta matéria ser tratada na sala de aula. 


Lê atentamente as cantigas que se seguem e depois responde às perguntas:


Pus-me a chorar saudades

Ao pé de uma sepultura

Uma voz me respondeu:

“Mal de amores não tem cura!”

 

Mal de amores não tem cura?

Mal de amores cura tem!

Juntem-se dois amores

E o mal de amores cura-se bem.

 

A ausência tem uma filha

Que se chama Saudade,

Eu sustento uma e outra

Bem contra a minha vontade

 

Se as saudades matassem

Muita gente morreria

Mas as saudades não matam

Se não no primeiro dia.

 

Amei, fui desgraçado,

Jurei nunca mais amar,

Fizeram-me esses teus olhos

As minhas juras quebrar.

 

Amar e saber amar

Amar e saber a quem

Amar a luz dos teus olhos

E não amar mais ninguém.

 

Amar e escolher amores

Ensinou-me quem podia

Amar foi a natureza

Escolher foi a simpatia.

 

Palavra de Deus não mente

Ouve o que digo eu

Ouvi uma voz do céu:

“José, tu has-de ser meu!”

 

Ana quero, Ana amo,

Ana trago no sentido,

Quando me falam em Ana

Falam-me no meu alívio

 

José quero, José amo,

José trago no sentido,

Por causa de ti José

Eu trago o sono perdido.

 

Quem tem amores não dorme

Se não com olhos abertos,

Eu durmo com os meus fechados,

Que os meus amores estão certos.

 

Esta noite sonhei eu

Contigo, minha beleza,

Acordei, achei-me só:

Nos sonhos não há firmeza.

 

O açúcar para ser doce

Deve ser de além-mar,

A mulher para ser boa

Ana se há-de chamar.

 

A rosa para ser rosa

Deve ter folha e pé,

O amor para ser firme

Há-de se chamar José.

 

Amor com amor se paga

Nunca vi coisa mais justa.

Paga-me contigo mesma,

Meu amor, pouco te custa.

 

Amor com amor se paga,

Tem cuidado, meu amor,

Olha que Deus não perdoa

A quem é mau pagador!

 

Meu amor, anda daí

À igreja dar a mão

Calar as bocas do mundo,

Descansar o coração.

 

Tu és peixe mais lindo

Que anda na funda lancha,

Só quando contigo casar

É que meu coração descansa.

 

1) Darias algum título a esta série de cantigas? Justifica.

 

2) Quais são os elementos que fazem com que esta história tenha um fio condutor e uma estrutura narrativa?

 

3) Em que se assemelham estas quadras às cantigas de desafio?

 

4) Qual é a imagem habitual que a literatura tradicional dá sobre os papéis do homem e da mulher na sociedade e sobre os seus comportamentos amorosos? Nestas cantigas a imagem corresponde ao estereótipo?  Por que razão?

 

5) Encontra provérbios nestas cantigas.

 

6) Qual é o tema dominante desses provérbios? Em que situações se aplicam?

 

7) Encontra outras frases com o tom moralizador no texto.

 

8) Quando é que os protagonistas das cantigas ganham uma identidade? Por que razão?

 

9) Quais são as características que o José e a Ana têm em comum?

 

10) Caracteriza o José e a Ana separados, ao longo das cantigas.

 

11) Qual é a posição do José e da Ana em relação à saudade?

 

12) Qual é a posição do José e da Ana em relação ao dormir/sonhar e dormir/estar acordado?

 

13) Tenta organizar estas quadras por outra ordem. Qual seria então o desenvolvimento desta história: acrescenta mais personagens, mais nomes e mais cantigas.

 

14) Escreve esta história como se fosse um conto.

 

15) Em que esta história se assemelha a um conto tradicional?

 

16) Nem todas destas cantigas foram recolhidas por Teófilo Braga. Nos cancioneiros que conheces procura outras quadras e faz uma história organizando-as pela ordem que te parecer melhor.

 

17) Escreve um poema ou um conto que tenha por título um dos provérbios citados nas cantigas.

 

18) Encontra contrastes, comparações e metáforas nas cantigas aqui transcritas.

 

19) Encontra paralelismos que se referem ao José e à Ana.

 

20) Qual é a função das vozes do além que os protagonistas ouvem?

 

21) Que sabes sobre Teófilo Braga?

 

22) Faz um desenho que tenha por tema a Primeira República Portuguesa.

 

23) O que sabes sobre este acontecimento?

 

24) Encontra nos cancioneiros de Teófilo Braga três provérbios que falam sobre ciúmes?

 

25) Qual é a visão que as cantigas políticas oferecem sobre algumas figuras da história portuguesa? Por que?

 

26) Explica com as tuas palavras o provérbio “quem desdenha quer comprar?”

 

27) Faz um desenho em que ilustres o provérbio “quem desdenha quer comprar?”

 

28) Explica o provérbio “Cantigas-leva as o vento”. Qual é o papel dos jovens para o vento do esquecimento não levar as vossas lindas cantigas, contos e provérbios?

 

29) Que santo popular se menciona mais nas cantigas do cancioneiro? Sabes explicar por que?

 

30) Encontra nos cancioneiros de Braga provérbios que tenham esta estrutura:

 

   QBQ SP___________________________

   QCSME, __________________________

   OHF HF___________________________

 

31) Escreve um conto ou poema inspirado na seguinte cantiga:

 

“Foste pedir-me ao meu pai

Sem saber o querer meu

O pai em tudo governa

Mas nisso governo eu”

 

32) Escreve um conto ou poema inspirado num dos seguintes provérbios:

a) Só não muda a amizade que se funda na virtude

b) quem nesta vida não ama noutra não se salvou

c) Deus do céu é que nos conhece

 

33) Conheces um provérbio parecido com “tanto dá a água na pedra que a faz amolecer”? Explica o seu significado.

 

34) Depois de teres lido várias cantigas, escreve uma

 

35) As cantigas amorosas são as mais bonitas da poesia popular portuguesa. Aprende de cor e declama pelo menos três.

 

36) Dedica uma cantiga a alguém muito especial para ti.

 

37) Qual é a opinião que a sabedoria popular exprime sobre o “amor primeiro”? Conheces alguma cantiga ou provérbio que falem sobre isso. Qual é a tua opinião?

 

38) Conheces alguma cantiga ou provérbio com os meses do ano?

 

39) Desenha um provérbio sobre os meses.

 

40) Conheces alguma cantiga do cancioneiro sagrado? O que te ensina?

 

41) Qual é a visão que o povo tem de Deus nos seus provérbios? Conheces alguns?

 

42) Escreve um conto ou poema sobre “madrasta-o nome lhe basta”. A madrasta é mesmo sempre má? Pensa nisso.

 

43) Informa-te um pouco com a ajuda dos teus pais, avós ou livros sobre Teófilo Braga e escreve algumas frases sobre ele.

 

44) Conheces alguma expressão idiomática ou frase feita em português? Consegues explicá-la?

 

45) Encontra nos cancioneiros de Teófilo Braga algumas cantigas sobre a saudade. Escreve um conto ou poema com este tema

 

46) Completa os provérbios com as palavras que faltam:

     O amor  que é entendido__________________________

     Quem___________sempre_________________________

     Não há__________que por_______________não venha

 

47) O primeiro provérbio faz-te lembrar um outro mais conhecido? Explica-º

 

48) Completa a cantiga: “Não há sol como o de Maio....”

 

49) com que flor se igualam as raparigas e com que os rapazes nas cantigas populares portuguesas?

 

50) O provérbio “correcto” é “quem tem amores não dorme“. O que significa? Qual seria o seu significado se fosse conhecido como: “Quem tem amores dorme bem e sonha melhor”?

 

51) No cancioneiro de Teófilo Braga há cantigas com erros gramaticais. Lê com atenção e corrige-os.



Fonte: Teófilo Braga e a Poesia Popular. Análise linguística, estilística, literária e proverbial do Cancioneiro Popular Portuguez e dos Cantos Populares do Arquipélago Açoriano, Anamarija Marinović. Portugal, Edição de Autor, 2015. ISBN: 978-989-20-6109-2

Esta obra pretende focar os aspectos políticos, literário, etnográfico e paremiográfico do trabalho de Teófilo Braga, com um olhar especial para a poesia popular, reunida no Cancioneiro Popular Portuguez e nos Cantos populares do Arquipélago Açoriano.

A figura de Teófilo Braga é importante em Portugal não apenas como um dos Presidente da República Portuguesa, mas também como pessoa que se dedicou à recolha e preservação de uma parte do património imaterial português. 

Através da análise de questões relativas ao estilo, linguagem e material fraseológico e proverbial, pretendemos aproximar os públicos (o académico e o mais geral) do tesouro da língua portuguesa e sua cultura popular e fazê-los reflectir sobre os valores universais que nelas se encontram e que através dela são transmitidos.




CARREIRO, José. “Cancioneiro Popular Português, Teófilo Braga”. Portugal, Folha de Poesia, 11-09-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/09/cancioneiro-popular-portugues-teofilo.html