OS
QUE SOBEM
Era
operário vulgar
Mas
dos tais que a trabalhar
Julgam
descer à ruína;
Falador
mas animado
Censurava
em todo o lado
Os
colegas de oficina
Censurava-os
de cobardes
Só
porque eles sem alardes
Cumpriam
ganhando o pão
E
então era dos primeiros
A
arrastar os companheiros
Na
guerra contra o patrão!
E
ele que tinha ideais
Doutrinas
várias das tais
De
ferir matar às cegas
Foi
de repente elevado
Ao
posto de encarregado
P’ra
mandar nos seus colegas!
Ficou
doido radiante
Era
o ponto culminante
De
alguém que lhe dava a mão,
E
então, cheiinho de engodos
Passou
a ser pera todos
Muito
pior que o patrão!...
Sei
de muitos idealistas
Que
são assim, dão nas vistas
Por
forma vaga, imprecisa;
Mas
em chegando o momento
Mudam
logo o pensamento
Como
quem muda a camisa!...
Carlos Conde
Original no Museu do Fado, em Lisboa. Disponível
em linha: https://www.museudofado.pt/colecao/repertorio/os-que-sobem-carlos-conde-1945
Carlos Conde (N. 22
novembro, 1901 - M. 13 julho, 1981)
Carlos Augusto Conde, filho de Maria
Antónia da Silva Conde e de Manuel José Conde, nasceu no dia 22 de Novembro de
1901 na povoação do Monte, Murtosa, distrito de Aveiro. Casou-se com Laura dos
Santos em 18 de Setembro de 1936 e desse casamento nasceram três filhas,
Noémia, Maria de Lourdes e Flora. Mais tarde mudam-se para Lisboa, fixando-se
na Praça das Amoreiras e nestes primeiros anos de transição para a cidade, Carlos
Conde emprega-se como chefe de escritório na firma F.H. de Oliveira.
Se antes deste seu percurso profissional,
Carlos Conde já escrevia os primeiros versos, a história do fado veio a
consagrá-lo como destacado poeta popular, autor de inúmeros
repertórios de fados e textos de cegadas, musicados ao longo das décadas de 20
e 30 do século passado. Quando questionado pela revista “ABC” sobre as
temáticas dos seus versos dirá: “O amor, as mulheres, o campo. Adoro as flores,
as águas claras, o sol, a luz, a natureza. Tudo o que tenha vida, que tenha
alma.” (cf. “Revista ABC”, 23 de Janeiro de 1931). Dono de um talento imenso, a
sua pena fixou o imaginário de Lisboa, descrevendo costumes, personalidades,
recantos, becos, vielas, festividades e outros temas do quotidiano da capital.
Em 1924 o jornal “A Alma de Portugal”
dava destaque a Carlos Conde, caracterizando o jovem poeta: “Carlos Conde
pertence a essa plêiade de novos que nos últimos tempos se tem evidenciado, na
sua bagagem literária encontram-se produções de merecimento (…) Carlos Conde
não sendo contudo um consagrado é no entanto um novel com inspiração, a sua
obra encontra-se espalhada nas mãos dos mais competentíssimos cantadores e
dispersa nas colunas dos inúmeros jornaes onde tem colaborado com proficiente
estudo.” (cf. “A Alma de Portugal”, 1ª Quinz. de Setembro de 1924). A
notoriedade de Carlos Conde foi muitas vezes referenciada pelos periódicos de
fado, que surgiram ao longo das décadas de 20, 30 e 40 do passado século,
fulcrais na legitimação e divulgação desta expressão musical.
Dada a impossibilidade de nomearmos todos
os textos de cegadas que Carlos Conde escreveu destacamos os títulos: “O Crime
Daquela Noite” (1946) com música de Alfredo Silva, “Homem ao Mar” (1950) música
de Casimiro Ramos, “Quatro Contos a Mais” (1959), música de Albertino Vilar,
entre muitos outros textos. Estas e outras cegadas tinham lugar nas
colectividades, clubes e festas que povoavam a cidade de Lisboa e arredores.
A paixão pela escrita leva Carlos Conde a
participar e a concorrer em numerosos concursos poéticos alcançando, na maioria
das vezes, os primeiros prémios e menções honrosas. Destaque para a vitória
alcançada, em 1966, com a letra para o “Hino da Força Aérea”, reforçando os
méritos entretanto já atribuídos ao poeta ao longo de outras décadas.
Profundamente acarinhado pelo universo do
fado, os seus poemas foram cantados na voz dos grandes vultos do fado : Ada de
Castro, Adelina Ramos, Amália Rodrigues, Argentina Santos, Ercília Costa,
Fernanda Maria, Lucília do Carmo, Maria Amélia Proença, Maria da Fé, Alfredo
Duarte Júnior, Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo, Fernando
Maurício, Gabino Ferreira, João Ferreira Rosa, Raul Pereira, Rodrigo, Vítor
Duarte, entre muitos outros.
Carlos Conde foi autor de centenas de
letras de Fado, e revelam-no como um dos expoentes máximo na área. Esses fados,
traduziram-se em verdadeiros sucessos nas vozes de muitos fadistas: “A mulher
que já foi tua”, “Baile dos Quintalinhos”, “Bairros de Lisboa”, “Um resto de
Mouraria”, “O Fado da Bica”, “Não sou ciumenta”, “Rapsódia de fado antigo”,
“Trem desmantelado”, “Não passes com ela à minha rua”, “Fins do século
passado”, entre muitos outros…
Paralelamente à sua projecção como poeta,
Carlos Conde foi alvo de um grande número de homenagens, com especial destaque
para o almoço comemorativo do seu 50º aniversário, e que teve lugar no dia 22
Novembro de 1951, na Adega Mesquita, com a presença de Francisco Radamanto,
Felipe Pinto, Dr. Amaro de Almeida, Amália Rodrigues, Teresa Nunes, Alfredo
Marceneiro, entre outros. Outras festas de homenagens ocorreram contando com a
presença de muitos nomes do universo artístico da rádio, do teatro e do fado e
que souberam enaltecer a grandiosidade da sua obra poética e humana.
Vítima de um trágico acidente de viação,
Carlos Conde viria a falecer em Julho de 1981.
Em 2001 a Câmara Municipal de Lisboa,
presta ao poeta uma última homenagem, ao atribuir o seu nome a uma das artérias
da cidade situada na zona de Campolide.
Paulo Conde, neto de Carlos Conde, lançou
em Setembro de 2001 o livro “Fado, Vida e Obra do Poeta Carlos Conde”.
Tratando-se de um inesgotável tributo ao seu avô, Paulo Conde revê toda a vida
e consequente obra literária daquele que é hoje considerado como uma referência
na poesia de fado.
Fontes: “Alma de Portugal”, 1ª
Quinzena de Setembro de 1924. “A Canção do Povo”, 26 de Setembro de 1926.
“Guitarra de Portugal2, 17 de Abril de 1926. “Guitarra de Portugal”, 10 de
Agosto de 1928. “ABC”, 23 de Janeiro de 1931. “Guitarra de Portugal”, 15 de
Março de 1948. Cartaz promocional da “Festa de Homenagem ao poeta popular
Carlos Conde”, 29 de Março de 1958. “República”, 21 de Junho de 1966. Conde,
Paulo (2001) “Fado, Vida e Obra do Poeta Carlos Conde”, Lisboa, Garrido
Editores. “Correio da Murtosa”, 28 de Novembro de 2007. Adaptação de biografia
gentilmente cedida por Paulo Conde.
Verbete biográfico
disponível em: https://www.museudofado.pt/fado/personalidade/carlos-conde.
Consultado em 2025-05-20
- “Poesia útil e literatura de resistência” (A literatura como arma contra a ditadura e a guerra colonial portuguesas), José Carreiro






