Este
poema de amor não é lamento
nem tristeza distante, nem saudade,
nem queixume traído nem o lento
perpassar da paixão ou pranto que há de
transformar-se em dorido pensamento,
em tortura querida ou em piedade
ou simplesmente em mito, doce invento,
e exaltada visão da adversidade.
É a memória ondulante da mais pura
e doce face (intérmina e tranquila)
da eterna bem-amada que eu procuro;
mas tão real, tão presente criatura
que é preciso não vê-la nem possuí-la
mas procurá-la nesse vale obscuro.
Jorge de Lima,
Livro de Sonetos.
Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1949
Linhas de leitura:
- Que
imagens ou sentimentos amorosos o poema rejeita logo no início?
- Como é
descrita a figura amada ao longo do soneto?
-
Qual
é a relação entre o sujeito poético e essa figura: é de posse, de lamento, ou
de busca?
-
Que
significado pode ter a ideia de “não vê-la nem possuí-la”?
-
Que
efeito provoca a metáfora final do “vale obscuro”?
-
O
que este poema sugere sobre a natureza do amor verdadeiro?
O LIVRO
DE SONETOS, de Jorge de Lima, compõe-se de 78 sonetos, sendo 74 em versos
decassílabos, 3 em versos quadrissilábicos e 1 em versos de sete sílabas.
Segundo informa José Fernando Carneiro em sua APRESENTAÇÃO DE JORGE LIMA,
editada pelos “Cadernos de Cultura”, de Simeão Leal, o livro foi escrito “em
estado de hipnagoge, no espaço de dez dias apenas, Jorge de Lima levantando-se
às vezes de madrugada e compondo de uma vez dois a três sonetos”. Sabe-se
ainda, segundo a mesma “Apresentação”, que o livro, originariamente, devia
conter cerca de cem sonetos (103 ao certo), deixando o poeta de incluir 25
entre eles, por motivos que não se esclarecem no referido comentário. Nossa
impressão é a de que Jorge de Lima tenha querido fazer o livro compor-se de 77
sonetos (número sabidamente cabalístico) e o próprio Fernando Carneiro menciona
este como sendo o número das composições enfeixadas na OBRA POÉTICA;
entretanto, conforme tivemos a curiosidade de verificar, tanto no LIVRO DE
SONETOS, editado em 1949 pela “Livros de Portugal”, quanto na OBRA POÉTICA,
organizada em 1950 por Otto Maria Carpeaux, o número encontrado foi 78.
Ler mais: “De uma possível
continuidade no Livro de Sonetos, de Jorge de Lima”, Ivo Barroso. In
Gaveto do Ivo, 12-12-2014. Disponível em: https://gavetadoivo.wordpress.com/2012/12/14/de-uma-possivel-continuidade-do-livro-de-sonetos-de-jorge-de-lima/


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