quinta-feira, 22 de maio de 2025

A febre do que me suponho, Fernando Pessoa

 


A febre do que me suponho

Tolda-me a fronte de o pensar.

Mas, se penso, somente sonho,

Porque a febre me faz sonhar.

 

Num intervalo de mim mesmo

Durmo desperto sem razão,

E sou um encontrar-me a esmo

Entre silêncios em desvão.

 

Delírio de quem o não tem,

Sonho que não me faz dormir –

Isto não é nem mal nem bem,

Não é pensar nem é sentir.

 

[15-9-1934]

Fernando Pessoa, Poesia 1931-1935 e não datada, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, Assírio & Alvim, 2006

 


Fernando Pessoa para exame - 12.º Ano. Guia Prático de Preparação para o Exame Nacional - 12.º Ano, Andreia Sousa e Regina Carvalho. Areal Editores, 2020. Recurso disponível em: https://recursos.portoeditora.pt/recurso?id=24517312




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