RECEITA
PARA FAZER O AZUL
Se
quiseres fazer azul,
pega
num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que
possas levar ao lume do horizonte;
depois
mexe o azul com um resto de vermelho
da
madrugada, até que ele se desfaça;
despeja
tudo num bacio bem limpo,
para
que nada reste das impurezas da tarde.
Por
fim, peneira um resto de ouro da areia
do
meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se
quiseres, para que as cores se não desprendam
com
o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás
desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali
o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na
superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até
à altura dos olhos, e compare-la com o azul autêntico.
Ambas
as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas
distinguir entre uma e outra.
Assim
o fiz - eu, Abraão bem Judá Ibn Haim,
iluminador
de Loulé - e deixei a receita a quem quiser,
algum
dia, imitar o céu.
Nuno Júdice, Meditação
sobre Ruínas. Lisboa, Quetzal, 1994
Indica as várias fases do processo de criação da cor azul, segundo o poema.
Exemplo de resposta esperada:
- Colher o céu – Pegar num pedaço de céu e colocá-lo numa panela grande.
- Aquecer no horizonte – Levar a panela
ao lume do horizonte.
- Misturar o vermelho da madrugada – Mexer o azul
com restos de vermelho até dissolver.
- Filtrar as impurezas – Despejar a
mistura num bacio limpo para eliminar resíduos da tarde.
- Adicionar ouro do meio-dia – Peneirar
partículas douradas da areia até fixar a cor.
- Fixar a cor com um caroço de pêssego – Queimar um
caroço de pêssego para evitar desbotamento.
- Comparar com o azul autêntico – Verificar se o
tom criado se assemelha ao céu verdadeiro.
Cria uma receita poética inspirada no texto, escolhendo um dos títulos abaixo:
- Receita para fazer um professor de Português
- Receita para fazer um professor de Matemática
- Receita para fazer um professor de História
- Receita para fazer um professor de Inglês
- Receita para fazer um amigo de verdade
Exemplo (Receita para fazer uma
professora de Português):
"Se quiseres fazer uma professora de Português,
pega num verso de Camões e une-o a um suspiro de Florbela Espanca;
depois, amassa tudo com a paciência das estações,
até que as palavras se tornem mel na boca.
Tempere com um pouco de loucura de Pessoa
e deixe repousar sob o luar das gramáticas antigas.
Por fim, adicione um punhado de histórias sem fim,
para que nenhum aluno se perca no caminho das letras."
Critérios de avaliação sugeridos:
✔ Originalidade – Uso de
metáforas e elementos criativos.
✔ Estrutura – Seguimento
do formato do poema (instruções em versos).
✔ Coerência temática –
Relação clara com o título escolhido.
Adaptado de: #EstudoEmCasa. Leitura e Escrita 5.º ao 6.º ano Bloco n.º 12.
Disponível em: https://estudoautonomo.dge.mec.pt/sites/default/files/inline-files/Leitura%20e%20escrita%2056%20%2812%29.pdf

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