As rosas amo dos jardins de Adónis1,
Essas volucres2 amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo3 deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes4, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela
Parreira da Silva,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 13-14.
NOTAS:
1 Adónis – jovem da mitologia grega,
símbolo de beleza masculina.
2 volucres –
efémeras.
3 Apolo – deus grego do sol.
4 Inscientes –
ignorantes.
Questionário
1.
Explicite
a importância da referência aos elementos da natureza para o desenvolvimento do
pensamento do sujeito poético.
2.
Explique
os quatro últimos versos do poema, tendo em conta o ideal de vida defendido
pelo sujeito poético.
3.
Complete
as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
No poema
apresentado, constata-se o classicismo da poesia de Ricardo Reis, nomeadamente
através do recurso à metonímia
/ perífrase / hipérbole, nos versos 7 e 8.
O
carácter moralista da poesia deste heterónimo pessoano é indiciado pelo uso de
verbos conjugados na primeira pessoa do modo conjuntivo, como ocorre no verso 1 / 9 / 12.
Explicitação dos cenários de respostas:
1. Explicita
a importância da referência aos elementos da natureza para o desenvolvimento do
pensamento do sujeito poético, abordando, adequadamente, os dois tópicos de
resposta, ou outros igualmente relevantes:
− as rosas representam
a beleza e, simultaneamente, são comparáveis, na sua efemeridade, à vida humana
(vv. 3 e 4);
− o curso diurno do sol
representa a duração da vida: para a rosa, um dia; para o ser humano, uma duração
sempre limitada e efémera («O pouco que duramos» ‒ v. 12).
2. Explica, tendo em conta o ideal
de vida defendido pelo sujeito poético, os quatro últimos versos do poema,
abordando, adequadamente, os dois tópicos de resposta, ou outros igualmente
relevantes:
Face
à constatação da efemeridade da vida, o sujeito poético aconselha Lídia a que,
tal como ele próprio (e à semelhança das rosas dos «jardins de Adónis» ‒
v. 1):
− viva o momento
presente («Assim façamos nossa vida um dia» ‒ v. 9), de acordo com
o princípio epicurista do carpe
diem (único caminho para a felicidade e para a
ausência de dor), assumindo uma atitude de indiferença face à passagem do
tempo, num esforço de autodisciplina;
− assuma uma atitude
deliberada de aceitação da efemeridade da vida e da inevitabilidade da morte
(«há noite antes e após / O pouco que duramos» ‒ vv. 11-12).
3. No poema apresentado, constata-se
o classicismo da poesia de Ricardo Reis, nomeadamente através do recurso à perífrase, nos versos 7 e 8.
O
carácter moralista da poesia deste heterónimo pessoano é indiciado pelo uso de
verbos conjugados na primeira pessoa do modo conjuntivo, como ocorre no verso 9.
Fonte:
Exame Final Nacional de Português | Prova 639 | 2.ª Fase | Ensino Secundário - 12.º
Ano de Escolaridade | República
Portuguesa – Educação, Ciência e Inovação / Instituto de Avaliação Educativa,
I. P. (IAVE), 2024 (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho; Decreto-Lei n.º
62/2023, de 25 de julho) – VERSÃO 1
Também poderá gostar de
ANÁLISE DO POEMA:
Episódio 76 - Análise do poema "As rosas amo dos jardins
de Adónis" de Ricardo reis. Disponível em: http://discursodirecto.podomatic.com/entry/2006-05-01T16_09_58-07_00
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