sábado, 20 de julho de 2024

As rosas amo dos jardins de Adónis, Ricardo Reis

 


As rosas amo dos jardins de Adónis1,

Essas volucres2 amo, Lídia, rosas,

Que em o dia em que nascem,

Em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porque

Nascem nascido já o sol, e acabam

Antes que Apolo3 deixe

O seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,

Inscientes4, Lídia, voluntariamente

Que há noite antes e após

O pouco que duramos.

Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 13-14.

 

NOTAS:

1 Adónis – jovem da mitologia grega, símbolo de beleza masculina.

2 volucres – efémeras.

3 Apolo – deus grego do sol.

4 Inscientes – ignorantes.

 

Questionário

1. Explicite a importância da referência aos elementos da natureza para o desenvolvimento do pensamento do sujeito poético.

2. Explique os quatro últimos versos do poema, tendo em conta o ideal de vida defendido pelo sujeito poético.

3. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.

No poema apresentado, constata-se o classicismo da poesia de Ricardo Reis, nomeadamente através do recurso à metonímia / perífrase / hipérbole, nos versos 7 e 8.

O carácter moralista da poesia deste heterónimo pessoano é indiciado pelo uso de verbos conjugados na primeira pessoa do modo conjuntivo, como ocorre no verso 1 / 9 / 12.

 

Explicitação dos cenários de respostas:

1. Explicita a importância da referência aos elementos da natureza para o desenvolvimento do pensamento do sujeito poético, abordando, adequadamente, os dois tópicos de resposta, ou outros igualmente relevantes:

as rosas representam a beleza e, simultaneamente, são comparáveis, na sua efemeridade, à vida humana (vv. 3 e 4);

o curso diurno do sol representa a duração da vida: para a rosa, um dia; para o ser humano, uma duração sempre limitada e efémera («O pouco que duramos» v. 12).

 

2. Explica, tendo em conta o ideal de vida defendido pelo sujeito poético, os quatro últimos versos do poema, abordando, adequadamente, os dois tópicos de resposta, ou outros igualmente relevantes:

Face à constatação da efemeridade da vida, o sujeito poético aconselha Lídia a que, tal como ele próprio (e à semelhança das rosas dos «jardins de Adónis» v. 1):

viva o momento presente («Assim façamos nossa vida um dia» v. 9), de acordo com o princípio epicurista do carpe diem (único caminho para a felicidade e para a ausência de dor), assumindo uma atitude de indiferença face à passagem do tempo, num esforço de autodisciplina;

assuma uma atitude deliberada de aceitação da efemeridade da vida e da inevitabilidade da morte («há noite antes e após / O pouco que duramos» vv. 11-12).

 

3. No poema apresentado, constata-se o classicismo da poesia de Ricardo Reis, nomeadamente através do recurso à perífrase, nos versos 7 e 8.

O carácter moralista da poesia deste heterónimo pessoano é indiciado pelo uso de verbos conjugados na primeira pessoa do modo conjuntivo, como ocorre no verso 9.

 

Fonte: Exame Final Nacional de Português | Prova 639 | 2.ª Fase | Ensino Secundário - 12.º Ano de Escolaridade | República Portuguesa – Educação, Ciência e Inovação / Instituto de Avaliação Educativa, I. P. (IAVE), 2024 (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho; Decreto-Lei n.º 62/2023, de 25 de julho) – VERSÃO 1


 

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ANÁLISE DO POEMA:

Episódio 76 - Análise do poema "As rosas amo dos jardins de Adónis" de Ricardo reis. Disponível em: http://discursodirecto.podomatic.com/entry/2006-05-01T16_09_58-07_00

 


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