O CANÁRIO DE OIRO
Se deixo entrar este canário de oiro
Que me espreita e debica
(Eu que sou ossos ‑ a gaiola,
Débil passarinho loiro!
Eu, professor ‑ como um menino de escola!)...
Pois sim... Canta. Fica!
E então, para que tudo em mim se honre e execute
(Voz, penas e dejectos
Do canário),
Dou-lhe, seus passeadores, os meus afectos,
As minhas veias duras para grades:
Dentro delas, contrário,
Ele se embeleze e lute.
Ah, que o canário é o meu sangue talvez!
Mas então isto que é?! Que violino engoli?
Que frauta rude aveludou a minha noite?
Em que prato de cobre bateu o nó do açoite?
Tão exacto, meu Deus, só vibrado por ti!
Musical, todo fogo, em mim me vou e expando,
Cada lágrima cai de mim como harmonia:
De quatro em quatro, vão a minha dor jogando
Essas lágrimas vãs no tapete do dia.
Que sérias são estas coisinhas de soar,
Poetas que vos is,
Soldados velhos,
Escolhendo na morte uma farda e um lugar!
Somos aqueles imbecis
Desenvolvidos nos espelhos,
Ai, nos espelhos paralelos
Da sala onde um de nós é sozinho a cantar!
Estamos fumados, amarelos,
De tanto ler e delirar.
Inúteis fôssemos, poetas;
Quero dizer: como as cascas cor de laranja ou alvas de ovo,
Que não são laranja nem ovo:
Ainda se havia de ver
Se as podridões quietas
Não são o sal e o renovo.
Que águia trouxe do céu meu diapasão de ferro?
Que milhafre criou minha carne em seu bico?
A mão qual foi que me rasgou no erro,
Mulher, o coração que te dedico?
Quem era aquele de quem tirei o sangue forte,
Esta pequena música corrente?A veia mamou-a a morte,
Que engorda à custa da gente!
Quem era aquela mulher de branco
Que tinha os seios fortificados
E o ventre puro de onde arranco
E os altos olhos separados?
A de fogo e de fel, reclusa e encordoada?
A que nunca toquei porque estava selada?
E o anjo bravo, só lume, o outro sujeito,
Em que chama tocou sua asa desabrida?
Que maçarico foi que lhe platinou o peito
E o deixou em ferida?
Perguntaria,
Se esfinges mais houvesse,
Em que sal se tornou a que se deu por Maria
E me prometeu o que eu quisesse?
Ah! Aves de parabólica plumagem!
Anjos de matéria nenhuma e de toda a arrogância,
Mulheres e homens de que sou a última viagem
Começada no mar que me salgou a infância!
Ah, ovo que deixei, bicado e quente,
Vazio de mim, no mar,
E que ainda hoje deve boiar, ardente
Ilha!
E que ainda hoje deve lá estar!
Ah, Sete Espadas, minhas primas!
Estrelas nítidas e diversas!
Piões, pombas, baraças, e até as Sras. Simas
Todas quatro alteando as suas toucas perversas!
Onde? quando? já? outra vez? ou ainda não?
O tempo gasta a minha voz como se fosse o seu pão.
É ele, é ele o que tem tudo escondido,
Ele o que A desviou e A violou no vento,
Ele o que fez de mim o menino perdido
E me deu a navalha com que me fiz violento!
Ele leva para o alto as cordeiras e come-as,
Ele esconde no vale os lobos reduzidos,
Ele pede-nos as coisas emprestadas e some-as,
Ele gasta-nos a voz, os olhos e os ouvidos.
Tempo, ladrão, dá-me conta do fardo:
As saudades práli! As promessas práli!
O que te vale é o escuro: Eu ainda ardo;
Minhas estopas são embebidas por ti.
Ai, a cordeira preta, a do velo maior,
Um palmo de gemido, onde a terias posto?
Tinha os galhinhos entre a lã: é melhor
Desenriçá-Ios do meu desgosto.
Tempo, molde de todos os lugares,
Pegada de quem desaparece,
Esquema de bocejos e de esgares,
Frio de tudo o que arrefece.
Tempo que levas meu Pai morto,
Com catorze cavalos, todos de músculo solar,
E, para o ano, quinze! e crescendo! e ele absorto!
E os cavalos cada vez mais empinados! Morto…
Com que jarrete ou asa o hei-de eu alcançar?
Ele o que A desviou e A violou no vento,
Ele o que fez de mim o menino perdido
E me deu a navalha com que me fiz violento!
Ele leva para o alto as cordeiras e come-as,
Ele esconde no vale os lobos reduzidos,
Ele pede-nos as coisas emprestadas e some-as,
Ele gasta-nos a voz, os olhos e os ouvidos.
Tempo, ladrão, dá-me conta do fardo:
As saudades práli! As promessas práli!
O que te vale é o escuro: Eu ainda ardo;
Minhas estopas são embebidas por ti.
Ai, a cordeira preta, a do velo maior,
Um palmo de gemido, onde a terias posto?
Tinha os galhinhos entre a lã: é melhor
Desenriçá-Ios do meu desgosto.
Tempo, molde de todos os lugares,
Pegada de quem desaparece,
Esquema de bocejos e de esgares,
Frio de tudo o que arrefece.
Tempo que levas meu Pai morto,
Com catorze cavalos, todos de músculo solar,
E, para o ano, quinze! e crescendo! e ele absorto!
E os cavalos cada vez mais empinados! Morto…
Com que jarrete ou asa o hei-de eu alcançar?
Vitorino Nemésio, O Bicho Harmonioso (1938)
TEXTOS DE APOIO
TEXTO 1
De O Bicho Harmonioso direi, como o próprio símbolo diz: É esse meu duplo lírico, animal fabuloso, que me elucida das minhas aspirações profundas: amores, cuidados,sonhos, o mundo perdido da infância – o «ovo que deixei, bicado e quente / Vazio de mim, no mar / E que ainda hoje deve boiar, ardente / llha, / E que ainda hoje deve lá estar!».
A esse respeito, creio que o poema central do livro e, em grande parte, do que, não sem tal ou qual ênfase, poderei chamar toda a minha obra poética, é «O canário de oiro»: ainda e sempre bicho harmonioso, bestíola de fábula, como o Iicorne ou a fénix.
Vitorino Nemésio, «Da Poesia», Prefácio à 1.ª edição conjunta de Lo Voyelle Promise, O Bicho Harmonioso e Eu, Comovido a Oeste.
TEXTO 2
Considerado pelo próprio poeta e pela crítica o poema central de toda a obra poética de Vitorino Nemésio «O Canário de Oiro» é, segundo David Mourão Ferreira,«um trecho capital na poesia da segunda geração modernista, tal como a «Ode Triunfal» de Álvaro de Campos ou «A Cena do Ódio» de Almada Negreiros o são em relação à primeira».
«O Canário de Oiro» é um poema-quase-jogo em que o poeta·se deixa conduzir livremente por associações muito livres de sentidos.
*
Nemésio, fazendo emergir, na sua imagística, o «Mito da Ilha Perdida», fá-lo não só como a projecção de um conflito, mas como uma proposta de solução: ancorado na sua crença religiosa, o Poeta vislumbra o reduto seguro que o aguarda no fim de seus dias sobre a terra, o qual representa a reprodução-síntese do útero materno que o gerou e do seu mar da infância, fechando-se, assim, o ciclo de sua vida.
Lúcia Cechin, A Imagem Poética em Vitorino Nemésio, Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1983
TEXTO 3
«O Canário de Oiro», que Vitorino Nemésio considera o «poema central» de OBicho Harmonioso e, de um modo geral ‑ «não sem tal ou tal ênfase», confessa ‑, de todo o seu pensamento poético, é um poema algo extenso, um tanto dispersivo nos temas que aborda, mas que pode ser lido à luz da metáfora que lhe dá o título. Na sua condição de «bestíola de fábula», de animal que canta, Nemésio celebra neste poema a condição do poeta que extrai da experiência vivida e do espaço geográfico ilhéu, agora tornados real verdadeiramente novo, matéria para o seu trabalho poético, mas sem se esquecer de integrar tudo isso num plano mais amplo onde questões várias são problematizadas.
Poeta e processo lírico são aqui representados de modo original e bem nemesiano, tanto na riqueza imagética como na posição humilde e ironicamente assumida. Não adoptando a posição solene do vate ciente da sua excepcionalidade, o escritor brinca com o estatuto do poeta (o seu e o dos outros), deixando do mesmo uma imagem frágil, aparentemente sem grande nobreza, porém séria e útil. Séria, porque, excluído o tom humorístico, que também não deve ser literalmente interpretado, é com convicção que afirma serem sérias «estas coisinhas de soar» e que confia na capacidade do poeta para actuar no mundo. Actuação que nada tem a ver com militância verbal ou politicamente empenhada, mas se opera discretamente noutros sentidos. É a nível subliminar, de raízes, que uma discreta fecundidade ou um indispensável poder de conservação se insinuam. Assim, a identificação de partida faz-se com os desperdícios «as cascas cor de laranja ou alvas de ovo») e a de chegada com aquilo que impede a deterioração ou que é sinal de rejuvenescimento («o sal e o renovo», respectivamente).
Condição humana (recortada neste poema à superfície do quotidiano, mas oferecendo-se a uma abstractização que dele se afasta) e condição poética cruzam-se e complementam-se. Aliás, de origem certa e determinada, as experiências pessoais, na sede de conhecimento que as acompanha, e na inusitada expressão verbal que reclamam, voam em direcções que bem podem deixar intranquilos os leitores, na suspeita de que tudo aquilo que se diga fica sempre muito aquém do que esta poesia promete. O próprio Nemésio, hermeneuta perspicaz, tanto na auto como na heterocrítica, nos alimenta a desconfiança, ao recordar que «a poesia desafia a sagacidade do intérprete, mesmo no caso em que este se confunda com o autor» («Evocação», in Críticas sobre Vitorino Nemésio, Lisboa, Bertrand Editora, 1974, p. 62). Mas é de outra ordem a preocupação acima referida. E isto porque, salvaguardando aquela fracção de sentido que o texto sempre esconde, casos há em que, do diálogo entre texto e intérprete, fica a consciência crítica, se não totalmente satisfeita, pelo menos um pouco serenada, na esperança de ter alcançado uma parcela mínima de significação. Mas é isso que este «Canário de Oiro» parece recusar-nos. Basta atentarmos nos aspectos morfossintácticos, aí numa estreita relação de motivação com os temas veiculados, para nos darmos conta de uma oscilação ‑ a percorrer todo o poema ‑ entre afirmações peremptórias, como a revelar pleno conhecimento do que é enunciado, e as frases dubitativas que inquietam e perturbam as asserções que nelas se intercalam ou de que as mesmas são a moldura. A complementá-lo, temos ainda várias interpelações, normalmente sem sequência na ideia que se esperava virem a desenvolver, a indiciar um raciocínio que não resiste à convocação do implícito e do enigmático.
Abrindo já com uma condicional não completada por uma subordinante explícita, o poema cria, desde logo, uma indefinição semântica que, de certo modo, perturba a leitura e suscita a dúvida: trata-se de uma condição ou de disfarçada resposta a uma insistência, serenada na aquiescência para cantar e ficar? Aquiescência que dá sobretudo a impressão de conformada submissão ou de forçado consentimento «Pois sim: Canta. Fica» ‑ v. 6).
Dominantemente estruturado segundo uma alternância de proposições exclamativas e interrogativas, o poema vai revelando uma oscilação entre a vontade de afirmar, de exprimir (designadamente afectos), e a de interrogar, que é uma forma de questionação do próprio processo poético que se vai desenvolvendo bem como o lugar (incerto? pré-determinado?) que ao poeta é destinado. Aliás, essa hesitação é corroborada pelas figuras de retórica escolhidas para a aproximação entre canário, gaiola, poeta e voz. De gaiola que alberga (e prende) o animal que canta, feita dos ossos e das «veias duras» do poeta, sai, por contraste, a beleza do canto em harmonia.
Todavia, porque nenhuma das constatações parece ser a definitiva, porquanto o poema vai vivendo das questões que a si próprio vai colocando, o canário acaba por se identificar, embora dubitativamente, com o sangue do poeta, sendo igualmente uma extensão (ou o receptáculo) dos seus afectos. A partir daqui, o poema desenvolve-se segundo quatro vectores fundamentais:
1) a relação ora metafórica ora metonímica entre canário e poeta;
2) a consciência de uma força superior que, dominando o poeta, o faz exprimir em canto o impensado, a surpresa, a imprevista maravilha do canto («Mas então isto que é? Que violino engoli? // Que frauta rude aveludou a minha noite?» ‑ vv.15-16);
3) a emergência de um passado que, sem motivação aparente, irrompe, trazendo à sintaxe do poema a desconexão ‑ provocada, quem sabe, por inexpressas motivações internas, não legíveis na respectiva estrutura externa nem por ela esperadas;
4) o tempo, que, menos do que trazer o afago do passado uma ou outra vez tornado presente, assume o rosto da morte e da destruição, porque modifica os seres e as coisas, rouba e gasta: gasta a voz, modifica, para pior, a natureza do menino, leva-lhe os objectos queridos (aqui consubstanciados num dócil animal de estimação, a cordeira), e transporta, finalmente, o pai morto.
Como justificação para a falta de unidade (já mencionada) que a uma primeira leitura se apresenta, parece deduzir-se uma lógica subterrânea que talvez só o poeta conheça ou, então, que ignora, mas que o impele à escrita. É o que parece dizer-nos a estruturação deste «canário de oiro» (que, de resto, não é chamado, mas deixado entrar). Na sequência desta biunívoca deslocação de atributos de um para outro, canário e poeta, surge o espanto pela poesia deste saída; e, como noutros poemas de Nemésio, este como que tem pudor em atribuir-se os méritos da excelência do canto, remetendo-os antes para um Outro (neste caso, Deus: «Tão exacto, meu Deus, só vibrado por ti» ‑ v. 18). Desta vibração solta-se, portanto, a voz de um outro, espécie de duplo lírico, um outro musical, capaz de transformar a mágoa em canto e as lágrimas em harmonia.
Entre interrogações e exclamações se vai, pois, insinuando uma referencialidade difusa, como se o poeta fosse incapaz de uma inequívoca clarificação, como que a dizer-nos que o processo de criação poética o ultrapassa. Não espanta tal atitude vinda de Vitorino Nemésio, por ele ser também um dos que acreditam ser o acto poético uma submissão ao mistério da esfinge, sendo, efectivamente como interrogação à(s) esfinge(s) que o poema maioritariamente se estrutura (cf. vv. 57-60). E, como nas perguntas endereçadas àquela, a resposta tem o nome de silêncio e Nemésio sabe-o. E porque o sabe, só suspende as interrogações quando não há mais nenhuma esfinge a que possa recorrer, o que significa deixar não só as respostas em suspenso como em suspenso ficam outras perguntas que gostaria ainda de formular. Foi ele mesmo que escreveu, em «Da Poesia», que «tanto os poetas como os metafísicos, estão igualmente sujeitos ao império da Esfinge, que exige daqueles, pelo menos, um tributo constante de efabulações que a saciem, e destes um sistema de explicações que a aquietem» (inPoesia (1935-1940), pp. 14-15).
Indo buscar elementos que têm o ar de retirados de uma experiência vivida, eles surgem já integrados num imaginário poético onde se não destrinça com nitidez o que pertence à vida vivida e o que é do domínio da vivência na (pela) poesia. Uma das ideias centrais é, certamente, a da mítica Ilha (vv. 65-69) de que se separou. O «mar que [lhe] salgou a infância» nesta viagem realmente empreendida, e simbolicamente representada de múltiplas formas no universo poético nemesiano, constitui também um elo de ligação entre o que partiu e o que ficou. A semelhança da casa/concha (no poema «A Concha»), espaço vazio e desprotegido, vulnerável às intempéries, o ovo vazio fica a boiar no mar, a dizer uma presença ausente, marca de quem partiu, mas não completamente. Presença recordada pelo próprio que bicou o mesmo ovo para dele se libertar. E neste abandono se congrega tudo o que da Ilha se perde e que na memória dela se ganha (piões, pombas, baraças, mas também pessoas) e onde o que parece anódino ganha alturas de dignidade poética.
Memória nublada, de eu comovido, é como se apresentam estas imagens nemesianas; daí que um tempo in-situado seja o que mais afecta a recuperação do que foi. O desgaste (que não é só da voz) suscita então novas dúvidas: «Onde? quando? já? outra vez? ou ainda não?» (v. 74). Mas ainda aqui se nos afigura que a premência da interrogação não tem correspondente na urgência da resposta, até porque raramente se trata de perguntas dirigidas especificamente a alguém: ou são mero pretexto de auto-reflexão ou de dúvidas espalhadas aos ventos (cf. vv. 15-17 e 39-42). Mesmo se esporadicamente o eu poético se dirige a um tu, este ocupa o lugar de um destinatário sem designação nem referência espácio-temporal que o situem, o que o envolve numa certa aura de mistério: é a mulher a quem dedica o coração (v. 42), aquela outra «de branco», a intocada «porque estava selada» (v. 52), etc.
Directa e reiteradamente interpelado é, pelo contrário, o tempo (disforicamente marcado, como se viu), o qual ocupa parte considerável do texto, e que, na sua dimensão poético-metafísica, faz parte dos temas dominantes da obra nemesiana. É ele que, novamente em jeito de interrogação sem resposta à vista, encerra o poema, a insinuar a impossibilidade de qualquer fórmula mágica para alcançar o tempo que (nos) foge.
Nemésio pode, com certeza, ajudar-nos a concluir, definindo os temas que, comuns à poesia e à metafísica, dominam a sua obra poética: «o Ser, o Nada, o Tempo, a Morte». Mesmo se nem todos estão igualmente representados, eles espreitam já neste emblemático «canário de oiro», texto complexo, elíptico, que simultaneamente oculta e desvela (poder que o autor afirma ser conferido à Poesia), através da simbolização e da figuração retórica. O seu autor conhecia, como poucos, os segredos do verbo e soube tirar deste o melhor partido. No caso presente, como noutros («O Bicho Harmonioso», «Canção do Búzio Velho», «O Bicho e a Rosa», «O Paço do Milhafre», «Fábula da Serpente»), o bestiário foi-lhe uma excelente fonte de inspiração, aglutinador de todos os outros temas. Pode ser que, na lúcida autocrítica do escritor, OBicho Harmonioso, onde todos estes poemas se inserem, seja um «cantor menor», se comparado com Nem Toda a Noite a Vida, O Pão e a Culpa ou O Verbo e a Morte. Mas não deixa de, com poemas como «O Canário de Oiro», se insinuar como promessa de alto canto: «ainda e sempre bicho harmonioso», como o canário, seu duplo lírico, que entra, canta e fica.
Rosa Maria Goulart, Século de Ouro. Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do Século XX. Organização de Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra. Braga / Coimbra / Lisboa, Angelus Novus / Cotovia, 2002.
QUESTIONÁRIO
1. Leia com atenção todo o poema “O canário de oiro” e assinale as passagens onde os seguintes temas são abordados:
- poesia associada à música e ao som;
- interioridade e subjectividade como matéria poética;
- criação poética como acto doloroso;
- evocação da infância;
- desgosto de amor;
- acusação ao tempo como origem do mal.
2. Nas estrofes 1 a 8 o eu poético metaforiza-se, desejando aprisionar a voz e o canto, representados pelo canário de oiro.
2. 1. Faça o levantamento de vocábulos que remetem para a ideia de aprisionamento.
2.2. O que representa o canário de oiro?
2.3. Relacione as ideias de embelezamento e luta com o fazer poético em Vitorino Nemésio.
2.4. Explique o sentido do verso que constitui a 3ª estrofe.
2.5. Comprove que há uma certa degradação da sonoridade na 4ª estrofe.
2.6. Como é que a interioridade marcada pelo sofrimento é transposta para a poesia, na 5ª estrofe?
2.7. Destaque, na estrofe seguinte, as invectivas dirigidas aos poetas pelo eu lírico.
2.8. Em que consiste a matéria que compõe o poema? (Note o jogo de oposições, na 7ª estrofe: dejectos e matéria renovadora.)
2.9. Interprete a gradação oiro (1 ª estrofe), cobre (4ª estrofe) e ferro (8ª estrofe).
3. Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário que se segue sobre as estrofes 9 a 15 do poema “O canário de oiro”:
3.1. Pronuncie-se sobre as referências a águia, milhafre e mulher, relacionando-as com a noção de frustração amorosa.
3.2. Surpreenda, nas estrofes dez a doze:
- o triângulo amoroso;
- a impossibilidade amorosa.
3.3. Relacione as noções de ruptura e retorno, tendo em conta:
- as dimensões temporais;
- a caracterização do ovo/ Ilha.
4. Relativamente à estrofe 16 em diante, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem:
4.1. De que modo a problemática do tempo é introduzida no poema?
4.2. Refira as consequências do fluir irremediável do tempo.
4.3. Indique a figura de estilo que acentua as ideias de obsessão e de perturbação.
Ser em Português 12, coord. A. Veríssimo, Porto, Areal Editores, 1999.
5. Elabore um comentário do poema que integre o tratamento dos seguintes tópicos:
• a estrutura formal: a liberdade estrófica e métrica; a rima;
• a discursividade da linguagem que estabelece relações mais simbólicas do que lógicas;
• as imagens inesperadas, surrealistas; a livre associação de imagens;
• o «canário de oiro», duplo do poeta: antinomia corpo-gaiola-prisão ≠ canto-poesia-liberdade;
• o tempo e o espaço de referência: a memória marítima e rural;
• as metáforas fundamentais: ave, ilha, ovo;
• «voz, pena, dejectos» : o sublime e o abjecto;
• o tempo, esse responsável por todas as violências, todos os abandonos, todas as perdas, todos os desgastes, pela morte;
• a incorporação de um tom coloquial e de um registo popular;
• a expressividade das reticências, das interrogações retóricas, das exclamações.
Plural 12, E. Costa, V. Baptista, A. Gomes, Lisboa Editora, 1999.
SUGESTÕES DE LEITURA
► Retrato do Pai.
► Apresentação crítica, seleção, notas e linhas de leitura de textos de Vitorino Nemésio
► Apresentação crítica, seleção, notas e linhas de leitura de textos de Vitorino Nemésio
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/11/CanarioDeOiro.aspx]
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