http://www.miguelclaro.com/wp/?portfolio_category=azores-nightsky |
Noite, matéria da morte,
Acostuma-me a ti;
Dispõe de sul a norte
A Barra que eu perdi.
O vaso de mistério
Que o dia apaga ‑ põe-o
A mim cheio e evidente:
Coisas que são do sonho,
Que não as veja gente.
Meu sono cava, ó casta e sossegada,
Como se fosse a tua horta.
Na terra humana tudo pega,
Até silêncio!
Planta sossego à minha porta.
E cresça do sossego
Então minha alma nova,
Como a rosa, que é só decência e apego
A uma modesta cova.
Vitorino Nemésio, Eu, Comovido a Oeste (1940)
LEITURA ORIENTADA
1. Releve as expressões textuais que integram o campo lexical da «noite».
2. Atente na relação eu/noite.
2.1. Indique, relevando marcas textuais, a função da linguagem que melhor exprime essa relação.
2.2. Relacione a função aludida em 2.1. com o estado de espírito do eu poético.
2.3. Do apaziguamento trazido pela noite, espera o eu poético renascer.
2.3.1. Destaque os elementos textuais que reenviam para a ideia de apaziguamento» e de «renascer».
2.3.2. Em que consiste o desejo de renascer do eu poético?
2.3.3. O que é preciso ao eu poético para «renascer»?
CHAVE DE RESPOSTAS
1. Noite: «matéria da morte»; «de sul a norte» (= da vida para a morte), «vaso de mistério»; «sono», «casta e sossegada».
2.1. A função apelativa está em destaque no poema, bem patente no recurso à apóstrofe («Noite», v. 1); «Ó casta e sossegada») e à frase imperativa: «acostuma-me a ti»: «põe-o»; «que as não veja gente», «meu sono cava»; «planta sossego».
2.2. A função apelativa serve a expressão da súplica de um eu que busca apaziguamento.
.3.1. apaziguamento: «Meu sono cava»; «Planta sossego à minha porta»; renascer: «cresça do sossego/[...] minha alma nova.».
2.3.2. Consiste na aceitação humilde e resignada da sua condição de mortal, dada pela imagem da rosa que só pode crescer presa a uma «modesta cova».
2.3.3. Que se habitue à ideia da sua finitude (cf. v. 2) e que abdique do sonho (cf. vv. 8-9), condições indispensáveis ao apaziguamento que procura.
Novo Ser em Português 10, coord. A. Veríssimo, Porto, Areal Editores, 2007.
SUGESTÃO
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/22/Noite.Materia.Da.Morte.aspx]
Sem comentários:
Enviar um comentário