Quatro coisas são
precisas
Ao amor para durar:
Firmeza, galantaria,
Ter pena, saber chorar.
Ó mar, dá-me uma moreia!
Ó silva, dá-me uma amora!
Ó meu amor, dá-me a vida!
Que a morte não se demora...
Bate, coração de ferro,
O maior que houve em mulher!
Ama contra tudo e todos,
E seja o que Deus quiser...
Quando a flor da faia abriu
Passámos rente do muro.
«Juras que és minha?» disse eu;
E tu disseste-me: «Juro!»
Quando morrermos, meu Deus,
Faz pão co ela e comigo;
Pàdeja os bons namorados
Como um punhado de trigo!
Ao amor para durar:
Firmeza, galantaria,
Ter pena, saber chorar.
Ó mar, dá-me uma moreia!
Ó silva, dá-me uma amora!
Ó meu amor, dá-me a vida!
Que a morte não se demora...
Bate, coração de ferro,
O maior que houve em mulher!
Ama contra tudo e todos,
E seja o que Deus quiser...
Quando a flor da faia abriu
Passámos rente do muro.
«Juras que és minha?» disse eu;
E tu disseste-me: «Juro!»
Quando morrermos, meu Deus,
Faz pão co ela e comigo;
Pàdeja os bons namorados
Como um punhado de trigo!
Vitorino
Nemésio, Festa Redonda, Livraria Bertrand, 1950
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
1. Selecione, do texto, palavras do campo lexical de «amor».
2. Identifique as «Quatro coisas» necessárias para o «amor durar».
3. Refira a figura de estilo presente no terceiro verso da segunda quadra, salientando o seu valor expressivo.
4. Transcreva, da terceira estrofe, o elogio e o desafio à «mulher».
5. Localize no tempo e no espaço as juras de amor trocadas entre o sujeito poético e a amada.
6. Na quarta estrofe, o texto apresenta características do modo narrativo. Identifique-as.
7. Explique de que modo o sujeito poético expressa o desejo de eternizar o seu amor.
8. Analise o poema sob o ponto de vista formal: tipo de estrofe, esquema rimático, tipos de rima, métrica.
9. O poema apresenta características da poesia popular. Fundamente a afirmação.
CHAVE DE RESPOSTAS
1. Palavras do campo lexical de «amor»: «coração»; «ama»; «namorados».
2. Persistência, delicadeza, compaixão e sensibilidade.
3. É uma apóstrofe. O amor correspondido dá sentido à vida.
4. Elogio: «coração de ferro, / O maior que houve em mulher!»; desafio: «Ama contra tudo e todos».
5. Localização no tempo: «Quando a flor da faia abriu», na Primavera. Localização no espaço: «Rente ao muro».
6. Características do modo narrativo presentes na quarta estrofe:
Personagens: eu/tu. Localização no tempo: «Quando a flor de faia abriu».
Localização no espaço: «Rente ao muro».
Diálogo entre personagens (eu-tu): «Juras que és minha?» «juro» (discurso directo).
7. O sujeito poético expressa o desejo de eternizar o seu amor através de uma comparação. O sujeito poético pede a Deus que, depois da morte, o una à amada para sempre, como se fossem pão, isto é, uma massa homogénea derivada dos grãos de trigo transformados em farinha.
8. O poema é constituído por 5 quadras. O esquema rimático é ABCB; DEFE. As rimas são cruzadas, ricas e pobres. Quanto à métrica, é utilizada a redondilha maior.
9. Construção paralelística; repetição vocabular; linguagem popular («E seja o que Deus quiser…», «Pádeja», «punhado de trigo»); forma: o uso da quadra e do verso de redondilha maior.
Página Seguinte 10, Lisboa, Texto Editora, 2010 (adaptado)
SUGESTÕES DE LEITURA
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/13/QuatroCoisas.aspx]
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