IMAGEM
Todas as tardes levo a minha sombra a beber
Como uma nuvem ao mar de que saiu o meu ser.
Não é mais doce a sombra do cavalo
Aberta pelo luar, e o dono a acompanhá-lo.
Levo essa sombra que destinge
Da minha alma e conserva uma mancha de mágoa;
Triste vestido que me cinge,
Deixou a cor no fundo da água.
Eu, cortado de mim como uma flor (e tenho
Vergonha de sentir a flor), as mãos embebo
Nessa água que leva a visão de onde venho,
E é para a não perder que, bebendo-a, me bebo.
Todas as tardes levo a minha sombra a beber
Como uma nuvem ao mar de que saiu o meu ser.
Não é mais doce a sombra do cavalo
Aberta pelo luar, e o dono a acompanhá-lo.
Levo essa sombra que destinge
Da minha alma e conserva uma mancha de mágoa;
Triste vestido que me cinge,
Deixou a cor no fundo da água.
Eu, cortado de mim como uma flor (e tenho
Vergonha de sentir a flor), as mãos embebo
Nessa água que leva a visão de onde venho,
E é para a não perder que, bebendo-a, me bebo.
Vitorino Nemésio, o Bicho Harmonioso (1938)
LEITURA ORIENTADA
Comenta o poema, tendo em conta os seguintes elementos:
• o sujeito poético e seu duplo ‑ a sombra;
• o regresso às origens ‑ ao mar;
• o significado da mancha (da cor que destinge e se perdeu);
• as metáforas, as comparações.
Plural 12, E. Costa, V. Baptista, A. Gomes, Lisboa Editora, 1999.
SUGESTÃO
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/16/imagem.aspx]
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