POEMA 12
Lembro o que perco. Estranho
Que meu regaço vá vazio.
Já enche o monte o meu rebanho
E, chega o inverno, tenho frio.
Se o mar que tive o sal me nega,
Como me posso conservar?
Minha saudade só despega
Quando não vê para cavar.
Abri agora o meu piano.
Que imprópria música desprende!
Mofo e tristeza de ano
Seus tendõezinhos prende.
Mas toco. Junta-se gente:
São os retratos da sala,
Que o ar da noite acentua.
A minha mão lhes fala
Da sua vida ausente
Naquela parede nua.
Que exacta, a minha mão
No seu mover, chamando
A música remota!
Sérios, os mortos vão
Seus lugares retomando
Enquanto a noite se esgota.
Lembro o que perco. Estranho
Que meu regaço vá vazio.
Já enche o monte o meu rebanho
E, chega o inverno, tenho frio.
Se o mar que tive o sal me nega,
Como me posso conservar?
Minha saudade só despega
Quando não vê para cavar.
Abri agora o meu piano.
Que imprópria música desprende!
Mofo e tristeza de ano
Seus tendõezinhos prende.
Mas toco. Junta-se gente:
São os retratos da sala,
Que o ar da noite acentua.
A minha mão lhes fala
Da sua vida ausente
Naquela parede nua.
Que exacta, a minha mão
No seu mover, chamando
A música remota!
Sérios, os mortos vão
Seus lugares retomando
Enquanto a noite se esgota.
Vitorino Nemésio, Eu, Comovido a Oeste (1940)
LINHAS DE LEITURA
Faça o comentário do poema, tendo em conta as seguintes linhas:
• o sentimento de perda, de vazio, de frio;
• a memória;
• a saudade do mar, insistente;
• as imagens de raiz rural e as imagens de raiz marítima;
• o piano: a música a convocar o passado, os mortos;
• a consciência do tempo que passa, o inverno e a noite chegados.
Plural 12, E. Costa, V. Baptista, A. Gomes, Lisboa Editora, 1999.
SUGESTÕES DE LEITURA
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/23/poema12.aspx]
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