terça-feira, 21 de agosto de 2012

SENHOR, NAS MINHAS VEIAS (Vitorino Nemésio)



EX06 (untitled). Artist:  Tomasz Alen Kopera. Movement:  magical realism. Type:  oil on canvas. Dimensions:  100x120cm / 39x47in. Year:  2021





Senhor, nas minhas veias
Trago a morte medida.
Sou lâmpada de pobre:
Nem toda a noite a vida,

Já meu sangue estremece;
Veio uma asa ao lago.
Minha mão arrefece
Nestas coisas que afago.

Que maneira de amor
Fui, no menino ido!

Agora, seja o que for
Já no homem cumprido.

Até ao último fio
Poupei o dote divino.
O homem de Deus perdi-o;
Só salvei o menino.

Esse me leva e enche
Como uma onda do mar:
Minhas fraquezas preenche,
Que a grande força é brincar.

Já vai escurecendo;
O sangue pára de arder.
Agora, o que digo acendo
Para me não perder.

Vitorino Nemésio, Eu, Comovido a Oeste

Pavel Dolsky, Ícaro, 2004



      
ICARUS, Bogdan Goloyad, 2015



      
LEITURA ORIENTADA
       
1. Analise o texto, tendo em conta as seguintes dicotomias:
- morte / vida;
- escuridão / luz;
- frio / calor;
- perdição / salvação;
- pecado / inocência;
- adulto / criança;
- indiferença ou abandono/ réstia de esperança.

2. Caracterize a atitude do eu poético perante Deus, ilustrando a sua resposta com citações.

3. Tendo em conta o mito de Ícaro, interprete os versos: "Já meu sangue estremece; /Veio uma asa ao lago".

4. Segundo José Martins Garcia, Eu, comovido a Oeste encerra o ciclo da demanda da «poesia prometida». Complete as frases que se seguem com citações do poema:
o poema fecha-se com circularidade; retoma-se a ideia de "veias" («________________________») e de escuridão: «________________________»
Feito o percurso, o que resta como salvação possível no momento presente é a poesia como luz intermédia («lâmpada de pobre») que evita a escuridão absoluta e a perdição: «________________________».

5. Faça a análise da estrutura formal do poema (estrofes, métrica e rima).
         
Ser em Português 12, coord. A. Veríssimo, Porto, Areal Editores, 1999.
       

File:Johan Jongkind - Clair de lune à Overschie.jpg
Johan Barthold Jongkind, Clair de lune à Overschie, 1855

       

SUGESTÕES DE LEITURA
      

[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/21/Senhor.Nas.Minhas.Veias.aspx]

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