Confidência do itabirano, Carlos Drummond de Andrade
CONFIDÊNCIA
DO ITABIRANO
Alguns anos vivi em
Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Porisso
sou triste, orgulhoso:
de ferro.
Noventa porcento
de ferro nas calçadas.
Oitenta porcento
de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é
porosidade e comunicação.
A vontade de amar,
queme
paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suasnoites brancas, semmulheres e semhorizontes.
E o hábito de sofrer,
quetantome diverte,
é doceherança
itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas queorate ofereço: esteSão
Benedito do velhosanteiro
Alfredo Duval; estecouro de anta, estendido no sofá
da sala de visitas; esteorgulho,
esta cabeçabaixa...
Tive ouro, tive gado,
tive fazendas. Hoje sou funcionáriopúblico.
Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mascomo
dói!
Carlos Drummond de Andrade, O Sentimento do Mundo,
1940
Questionário sobre o poema “Confidência do itabirano”:
1.
O sujeito poético autocaracteriza-se.
1.1
Identifique os seustraços
caracterizadores.
1.2Como os justifica?
2
«Tive ouro, tive gado,
tive fazendas» (v. 15)
2.1
Refira as figuras de estilopresentes
na expressão e explique o seuvalorexpressivo.
3.Quesentimentos
dominam o «eu» no tempopresente?
4.Você está de acordocom o título?
Porquê?
5.
Mostre que, no poema,
o passado alterna com
o presente.
5.1.
Justifique essa alternância.
6.
Explicite a razãopelaqual a palavra
Itabira se repete ao longo do texto, sendo também
substituída pelo adjetivo gentílico
«itabirana».
6.1
Identifique as formasverbais da 1.ª pessoaque se repetem.
6.1.1 Justifique a repetição.
Chave de correção:
1.1Triste, orgulhoso,
duro, solitário,
carente de afecto, sofredor, sentimentalista, crente,
tímido, saudoso
da suaterranatal e de tudo
o que possuiu.
1.2.Como «produto»
das características da terraonde nasceu e viveu algunsanos.
2.1.
É a repetição anafórica e enumeração. Consiste na reiteração da ideia de posse. Esta reiteração intensifica a valorização da perdaque se
reflecte no presente.
3.Nostalgia de umpassado de quesóresta
«uma fotografia na parede».
4.Sim. Porque
o texto é autobiográfico,
é um registo da identificação
do «eu» poético com
o espaçoonde
nasceu.
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