Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada!
Deixa esquecer.
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda esta viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz...
Não digas nada.
23-8-1934
Poesias
Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.)
Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990). - 167.
Disponível
em: http://arquivopessoa.net/textos/460
Intertextualidade
Faz-me o favor de não dizer
absolutamente nada!
Supôr o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor — muito melhor! —
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espêlho se vê.
Mário
Cesariny Vasconcelos,
O Virgem Negra, Assírio & Alvim, 1989
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Carreiro.
In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
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