XXXIV
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Acho |
Alberto Caeiro, «O Guardador de
Rebanhos», in Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas ao questionário
sobre o poema “XXXIV
- Acho tão natural que não se pense”, de Alberto Caeiro:
1. Explicite as
2. Analise os
3. Atente na
4. Refira os
5. «E
Explicitação de cenários de respostas:
1.
Segundo a primeira estrofe, o «eu» caracteriza-se como alguém que:
- considera o ato de não pensar como seu
traço constitutivo;
- se sente distanciado da «gente que pensa»;
- tem, por vezes, um sentimento tão forte do
absurdo que constitui «haver gente que pensa», que se põe «a rir [...]
sozinho»;
- …
2.
O verso «E então desagrado-me, e incomodo-me» exprime o descontentamento do
«eu» consigo mesmo por se ter surpreendido a perguntar-se «cousas», isto é, a
pensar, o que significa ter-se traído, por momentos, a si próprio, caindo no
erro que critica nos outros. Mesmo que momentânea, esta contradição
provoca-lhe, ao aperceber-se dela, um desagrado e um desconforto quase físicos (cf.
v. 9).
3.
A frase interrogativa «Que me importa isso a mim?», encerrando o discurso sobre
a hipótese inverificável de as coisas terem pensamento, marca a distância do
sujeito poético em relação a esse tipo de problemática. Depois de negar
categoricamente essa hipótese (v. 11) e de manifestar a sua indiferença perante
a eventualidade de a «terra» pensar (vv. 12-13), o sujeito poético, através desta
última interrogação, prescinde de todas as interrogações, à imagem da própria
natureza.
4.
Pelas suas características oralizantes - vocabulário simples e corrente,
repetições, frases curtas, frases interrogativas, reticências, recurso a
perguntas e respostas - o discurso poético aproxima-se da fluidez coloquial da
fala, recriando o aspeto de uma linguagem despojada de artifícios, coerente com
a simplicidade comunicativa das ideias que apresenta.
5.
O verso «E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.» surge formulado como a
conclusão do poema e, em particular, da argumentação iniciada no verso 15,
relativa ao que o sujeito poético perderia se «pensasse» e ao que ganha não
pensando. Assim, pensar significaria deixar de ver a realidade para «ver só» as
construções abstratas dos «pensamentos», que se interporiam, como uma cortina,
entre o «eu» e «as árvores», «as plantas» e a «Terra», deixando-o «às escuras».
Pelo contrário, não pensando, nada se interpõe entre o seu olhar e a realidade
das coisas do mundo; em suma, não pensar é libertar de subjetividade a visão do
real, é restituir ao olhar a capacidade de ver o mundo na sua plenitude, é
sentir-se dono da «Terra» e do «Céu».
Proposta de resolução da Associação de
Professores de Português:
1. O
“eu” caracteriza-se como alguém que se ri sozinho dos que pensam, pois para
ele, o natural será não pensar. Existe uma recusa em pensar e um certo
afastamento dos outros que pensam.
2.
Esse verso exprime sentimentos de descontentamento e mal-estar pois o poeta ,
quando toma consciência de que poderá eventualmente pensar, sente-se
“incomodado”.
3.
Esta frase mostra o afastamento de tudo aquilo que possa conduzir ao “pensar”.
O poeta, ao referir que para ele não é importante que “outros” pensem, está a
tomar uma atitude de total indiferença.
4. O
discurso oral presente no poema sugere uma linguagem simples e objetiva, que
está de acordo com as ideias expressas no poema.
5.
Enquanto conclusão do texto, esse verso reforça mais uma vez a importância do
“não- pensar”. O poeta, se pensasse, deixaria de ver a realidade do mundo pois
o pensamento impedi-lo-ia de olhar para a Natureza. Assim, como ele não pensa,
consegue ver tudo o que o rodeia, quer seja a Terra, quer seja o Céu.
17-06-2002
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