Alberto Caeiro, O Guardador de
Rebanhos
XX
O
Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêm em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro, Poemas Completos, Comp.
José Aguilar, Rio de Janeiro, 1972
Questionário sobre o poema “XX - O Tejo é mais belo que
o rio que corre pela minha aldeia”, de Alberto Caeiro
l. No início
do poema afirma-se em sequência:
"O Tejo é mais
belo..." (v. l) "
"... o Tejo não é
mais belo ..." (v. 2)
1.1. Com base na leitura do texto, apresente as razões
desta mudança da forma afirmativa para a forma negativa.
2. "E
navega nele ainda, (v. 5) / [...] A memória das naus. (v. 7)"
2.1. Comente
o valor expressivo desta afirmação.
3. "...
aqueles que veem em tudo o que lá não está ..." (v. 6)
3.1. Explicite
o sentido desta expressão.
4. No
texto afirma-se que "o rio da minha aldeia" é mais livre e maior
(v. 15).
4.1. Refira o significado desta afirmação, neste
contexto.
5. Todo
o poema é atravessado pela comparação entre o Tejo e "o rio da minha
aldeia".
5.1. Indique o grau em que se encontram os adjetivos
que estabelecem essa comparação. Exemplifique.
6. Dos
rios referidos no poema, um é nomeado com um substantivo próprio, o outro com
um substantivo comum.
6.1. Justifique esta afirmação com transcrições do
texto.
6.2. Relacione essa diferente nomeação com o
significado que cada um dos rios assume no poema.
7. Há
um momento do texto em que o Tejo surge associado à procura de uma vida melhor.
7.1. Aponte esse momento e selecione as palavras que
melhor exprimem essa associação.
8. "Quem
está ao pé dele está só ao pé dele." (v. 22)
8.1. Analise o processo de construção do sentido
presente neste verso.
9. Refira
marcas características da poesia de Alberto Caeiro presentes no poema.
Sugestões de correção:
1.1. O sentido de cada uma das expressões assenta numa perspetiva
diferente:
- o Tejo é considerado mais belo, na medida
em que é mais conhecido, mais famoso, um lugar com mais história;
- o Tejo não é considerado mais belo, na
medida em que não suscita uma relação tão intima de afetividade, de
proximidade; é mais distante.
2.1. Ao estabelecer-se a relação direta de "memória das
naus" com "navega" (sujeito/predicado), torna-se mais expressiva
a ideia de permanência do passado.
3.1. Por exemplo: aqueles que sobrepõem o conhecimento e a memória,
afinal a cultura, simples perceção do real.
4.1. A liberdade do "rio da minha aldeia" é menos afetada
e o domínio de si próprio é maior, devido ao facto de ser menos conhecido.
5.1. Grau comparativo de superioridade. Qualquer um dos seguintes
exemplos: "mais belo"; "mais livre"; "maior".
6.1. Tejo é um nome próprio.
Rio é um nome comum.
6.2. · O rio da minha aldeia é nomeado por um nome
que se aplica a todo e qualquer elemento da mesma espécie. O Tejo tem nome
próprio. Esta diferente nomeação radica no diferente grau de notoriedade de
cada um. O Tejo tem uma nomeação geográfica e um sentido histórico a nível
nacional.
7.1. Os três primeiros versos da 4.a estrofe. "América" e "fortuna".
8. No
verso transcrito, verifica-se a presença da repetição de "está ao pé
dele", reforçada pelo advérbio de exclusão "só".
9. Entre
outras*, podem considerar-se as seguintes marcas:
-
simplicidade da linguagem (caráter repetitivo do léxico e da morfossintaxe);
-
versilibrismo;
-
apreensão direta da natureza;
-
predomínio da perceção visual.
Fonte:
Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 139. 12.º Ano de Escolaridade
(Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de agosto). Cursos de Caráter Geral e Cursos
Tecnológicos. Prova Escrita de Português B. Portugal, GAVE, 1997, 2.ª fase
______
*
São marcas características da poesia de Alberto Caeiro:
- recusa de pensar;
- visão objetiva da natureza;
- aceitação do mundo;
- simplicidade de estilo [comparação,
polissíndeto, repetições];
- relação de harmonia com a Natureza;
- aparente simplicidade e natureza
argumentativa do discurso poético, visível no recurso a uma linguagem corrente;
- a natureza como valor essencial;
- verso livre;
- irregularidade métrica e estrófica;
- linguagem próxima da prosa.
Uma análise literária pelo ChatGPT
Análise
literária do poema “XX - O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha
aldeia”, de Alberto Caeiro solicitada ao ChatGPT,
O poema XX de
Alberto Caeiro, pertencente ao livro "O Guardador de Rebanhos", é uma
reflexão sobre a relação entre a beleza e a proximidade afetiva. O poema
compara o Tejo, um rio conhecido e famoso, com o rio da aldeia do poeta, menos
conhecido e próximo dele.
Os primeiros
versos estabelecem a comparação entre o Tejo e o rio da aldeia, afirmando que o
Tejo é mais belo, mas não é mais belo do que o rio da aldeia, que é mais
próximo e afetivamente ligado ao poeta. A partir dessa comparação, o poema
explora as diferentes perspetivas em relação aos dois rios e o que eles
representam.
O Tejo é
apresentado como um rio de grande importância histórica, com grandes navios a
navegar nele e uma memória de navegação que perdura. Essa característica torna-o mais conhecido e famoso, mas também menos livre e próximo. Por outro
lado, o rio da aldeia é menos conhecido, mas mais livre e maior, permitindo uma
relação mais íntima com ele.
A referência à
América e à fortuna na quarta estrofe é uma alusão à ideia de que o Tejo é um
rio que leva as pessoas para lugares desconhecidos e, possivelmente, mais
prósperos. Por outro lado, o rio da aldeia não sugere essa possibilidade, mas é
valorizado pela sua simplicidade e pelo facto de que quem está perto dele está
só com ele, sem influências externas.
Em relação às
características da poesia de Alberto Caeiro, o poema apresenta uma linguagem
simples e repetitiva, com versos curtos e uma predileção pela perceção visual.
A ideia de apreensão direta da natureza também está presente, pois o poeta
compara os rios com base em suas características reais, e não em ideias
pré-concebidas ou estereótipos. A repetição do nome do rio da aldeia com um
termo genérico ("rio") em vez de um nome próprio também sugere uma
aproximação mais natural e menos carregada de história e simbolismo.
ChatGPT Feb 13 Version. Disponível em https://chat.openai.com/chat. Resposta
solicitada em 15-02-2023
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- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
- e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
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