quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Alberto Caeiro

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

XX




 


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêm em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.

Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

 

Alberto Caeiro, Poemas Completos, Comp. José Aguilar, Rio de Janeiro, 1972

 

 

Questionário sobre o poema “XX - O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia”, de Alberto Caeiro

 

l. No início do poema afirma-se em sequência:

"O Tejo é mais belo..." (v. l) "

"... o Tejo não é mais belo ..." (v. 2)

1.1. Com base na leitura do texto, apresente as razões desta mudança da forma afirmativa para a forma negativa.

2. "E navega nele ainda, (v. 5) / [...] A memória das naus. (v. 7)"

2.1. Comente o valor expressivo desta afirmação.

3. "... aqueles que veem em tudo o que lá não está ..." (v. 6)

3.1. Explicite o sentido desta expressão.

4. No texto afirma-se que "o rio da minha aldeia" é mais livre e maior (v. 15).

4.1. Refira o significado desta afirmação, neste contexto.

5. Todo o poema é atravessado pela comparação entre o Tejo e "o rio da minha aldeia".

5.1. Indique o grau em que se encontram os adjetivos que estabelecem essa comparação. Exemplifique.

6. Dos rios referidos no poema, um é nomeado com um substantivo próprio, o outro com um substantivo comum.

6.1. Justifique esta afirmação com transcrições do texto.

6.2. Relacione essa diferente nomeação com o significado que cada um dos rios assume no poema.

7. Há um momento do texto em que o Tejo surge associado à procura de uma vida melhor.

7.1. Aponte esse momento e selecione as palavras que melhor exprimem essa associação.

8. "Quem está ao pé dele está só ao pé dele." (v. 22)

8.1. Analise o processo de construção do sentido presente neste verso.

9. Refira marcas características da poesia de Alberto Caeiro presentes no poema.

 

 



Sugestões de correção:

1.1. O sentido de cada uma das expressões assenta numa perspetiva diferente:

- o Tejo é considerado mais belo, na medida em que é mais conhecido, mais famoso, um lugar com mais história;

- o Tejo não é considerado mais belo, na medida em que não suscita uma relação tão intima de afetividade, de proximidade; é mais distante.

 

2.1. Ao estabelecer-se a relação direta de "memória das naus" com "navega" (sujeito/predicado), torna-se mais expressiva a ideia de permanência do passado.

 

3.1. Por exemplo: aqueles que sobrepõem o conhecimento e a memória, afinal a cultura, simples perceção do real.

 

4.1. A liberdade do "rio da minha aldeia" é menos afetada e o domínio de si próprio é maior, devido ao facto de ser menos conhecido.

 

5.1. Grau comparativo de superioridade. Qualquer um dos seguintes exemplos: "mais belo"; "mais livre"; "maior".

 

6.1. Tejo é um nome próprio.

       Rio é um nome comum.

 

6.2. · O rio da minha aldeia é nomeado por um nome que se aplica a todo e qualquer elemento da mesma espécie. O Tejo tem nome próprio. Esta diferente nomeação radica no diferente grau de notoriedade de cada um. O Tejo tem uma nomeação geográfica e um sentido histórico a nível nacional.

 

7.1. Os três primeiros versos da 4.a estrofe. "América" e "fortuna".

 

8. No verso transcrito, verifica-se a presença da repetição de "está ao pé dele", reforçada pelo advérbio de exclusão "só".

 

9. Entre outras*, podem considerar-se as seguintes marcas:

- simplicidade da linguagem (caráter repetitivo do léxico e da morfossintaxe);

- versilibrismo;

- apreensão direta da natureza;

- predomínio da perceção visual.

 

Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 139. 12.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de agosto). Cursos de Caráter Geral e Cursos Tecnológicos. Prova Escrita de Português B. Portugal, GAVE, 1997, 2.ª fase

 

______

* São marcas características da poesia de Alberto Caeiro:

- recusa de pensar;

- visão objetiva da natureza;

- aceitação do mundo;

- simplicidade de estilo [comparação, polissíndeto, repetições];

- relação de harmonia com a Natureza;

- aparente simplicidade e natureza argumentativa do discurso poético, visível no recurso a uma linguagem corrente;

- a natureza como valor essencial;

- verso livre;

- irregularidade métrica e estrófica;

- linguagem próxima da prosa.

 

 

Uma análise literária pelo ChatGPT

 

Análise literária do poema “XX - O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia”, de Alberto Caeiro solicitada ao ChatGPT, com base na resolução do questionário do exercício anterior.

 

O poema XX de Alberto Caeiro, pertencente ao livro "O Guardador de Rebanhos", é uma reflexão sobre a relação entre a beleza e a proximidade afetiva. O poema compara o Tejo, um rio conhecido e famoso, com o rio da aldeia do poeta, menos conhecido e próximo dele.

Os primeiros versos estabelecem a comparação entre o Tejo e o rio da aldeia, afirmando que o Tejo é mais belo, mas não é mais belo do que o rio da aldeia, que é mais próximo e afetivamente ligado ao poeta. A partir dessa comparação, o poema explora as diferentes perspetivas em relação aos dois rios e o que eles representam.

O Tejo é apresentado como um rio de grande importância histórica, com grandes navios a navegar nele e uma memória de navegação que perdura. Essa característica torna-o mais conhecido e famoso, mas também menos livre e próximo. Por outro lado, o rio da aldeia é menos conhecido, mas mais livre e maior, permitindo uma relação mais íntima com ele.

A referência à América e à fortuna na quarta estrofe é uma alusão à ideia de que o Tejo é um rio que leva as pessoas para lugares desconhecidos e, possivelmente, mais prósperos. Por outro lado, o rio da aldeia não sugere essa possibilidade, mas é valorizado pela sua simplicidade e pelo facto de que quem está perto dele está só com ele, sem influências externas.

Em relação às características da poesia de Alberto Caeiro, o poema apresenta uma linguagem simples e repetitiva, com versos curtos e uma predileção pela perceção visual. A ideia de apreensão direta da natureza também está presente, pois o poeta compara os rios com base em suas características reais, e não em ideias pré-concebidas ou estereótipos. A repetição do nome do rio da aldeia com um termo genérico ("rio") em vez de um nome próprio também sugere uma aproximação mais natural e menos carregada de história e simbolismo.

 

ChatGPT Feb 13 Version. Disponível em https://chat.openai.com/chat. Resposta solicitada em 15-02-2023

 

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