quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Procelária, Sophia Andresen

Procelária, Paz Mera, 2013 (adaptado)



 

PROCELÁRIA

 

É vista quando há vento e grande vaga

Ela faz o ninho no rolar da fúria

E voa firme e certa como bala

 

As suas asas empresta à tempestade

Quando os leões do mar rugem nas grutas

Sobre os abismos passa e vai em frente

 

Ela não busca a rocha o cabo o cais

Mas faz da insegurança sua força

E do risco de morrer seu alimento

 

Por isso me parece imagem justa

Para quem vive e canta no mau tempo

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

GEOGRAFIA, 1.ª ed., 1967, Lisboa, Edições Ática • 2.ª ed., 1972, Lisboa, Edições Ática • 3.ª ed., 1990, Lisboa, Edições Salamandra, ilustrações de Xavier Sousa Tavares • 4.ª ed., revista, 2004, Lisboa, Editorial Caminho. • 1.ª edição na Assírio & Alvim (5.ª ed.), Lisboa, 2014, prefácio de Frederico Lourenço

 

Poema “Procelária”, de Sophia, dito por Pedro Lamares, in Literatura Aqui, IV, 11, 2018-04-03. Disponível em https://www.rtp.pt/play/p4370/e339493/literatura-aqui


 

A tensão entre a espessura do mal e a «imaginária linha»

Quando o sujeito é confrontado com a realidade do mal e com a falta de liberdade, o «inaudito» bate à sua porta, levando-o a pôr em causa o seu mundo habitual e a procurar a reconstrução de um outro mundo (ideal). E, de facto, nos escritos de Sophia encontramos uma tensão permanente entre dois mundos: o mundo circunstancial e histórico, marcado por grandes injustiças, e o mundo intemporal e eterno, recriado pelos versos da poetisa. Aliás, como já vimos no capítulo anterior, «a reconstrução do mundo» é o grande ofício da poetisa, sendo no limite entre estes dois mundos que a poetisa vive e escreve, fazendo da «insegurança a sua força» e do «risco de morrer seu alimento», como nos dá a entender a metáfora da «Procelária», que é uma imagem justa «Para quem vive e canta no mau tempo». […]

Desta forma, podemos concluir que foi o confronto com uma situação de extrema injustiça, de violência e de mentira a que o povo português estava sujeito, por um regime totalitário opressor, que levou Sophia a instaurar na sua poesia «um percurso permanente de quem sempre procura a verdade e a justiça»774, como escreve Helena Langrouva. A procura de rigor, de justiça e de verdade assume-se desta forma, citando novamente Helena Langrouva, como «a espinha dorsal» da obra de Sophia, particularmente patente na antologia Grades. Missão que pode conduzir à própria destruição daquele que luta, bem simbolizada na alegoria da «procelária», que é imagem justa de quem ousa lutar, arriscando-se permanentemente a ser destruído:

Por isso me parece imagem justa

Para quem vive e canta no mau tempo

 

Emanuel Sousa, Poesia e Transcendência: Uma leitura teológica da obra de Sophia de Mello Breyner Andresen. Porto, Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, 2010.

 

 

A poesia e a política

Nomear a nação em meio a um contexto sociopolítico conturbado é, de facto, uma função que não se configura como fácil para Sophia Andresen. Em uma correspondência a Jorge de Sena, datada de 1961, a autora afirma que sente aumentar a presença da raiva nas ruas de Portugal, pois as pessoas olham os escritores com ódio nas “grossas mãos fascistas” (ANDRESEN, S.; SENA, J., 2010, p. 51). Além disso, havia o cerceamento ideológico causado pela censura e pelo controle sistemático dos meios de comunicação, o que impedia drasticamente o debate político entre a sociedade e a formação de um senso crítico mais apurado em relação ao que se vivia. Essa limitação ainda era intensificada pela atmosfera de medo e ameaça que predominava no país. É nesse cenário que surge o poema “Procelária”.

Publicado no livro Geografia, de 1967, ele aparece como o primeiro poema da seção homónima. Na antologia Grades, ele é inserido após o ensaio Arte Poética III. O título do poema, o qual, aliás, não volta a ser citado no corpo do texto, refere-se a uma ave comum nas regiões oceânicas. Sua descrição é familiar para aqueles que costumam andar à beira-mar: de porte médio, a ave tem penas acinzentadas, mas o dorso branco e uma cauda alongada, assemelhando-se a um leque. Sua imagem é parte indissociável das paisagens marítimas.

O termo procelária vem do latim procellae, que significa “tempestade no mar”. A palavra aproxima-se de “procela”, a qual, por sua vez, nomeia as intensas tempestades no oceano, com ventos muito fortes e ondas muito grandes, as famosas e temíveis tormentas. As procelárias são assim nomeadas, pois são pássaros que voam na ventania, as quais geralmente antecedem a chuva. O voo delas é bem próximo ao mar, e, como elas têm uma envergadura média, definida por asas compridas e estreitas, conseguem se locomover com facilidade mesmo no mau tempo. Em consequência dessa habilidade de voo e do hábito pelágico304, as procelárias são conhecidas, na cultura popular, como um aviso de tempestades. Para os marinheiros, o pássaro costumava ser sinal de má sorte, justamente porque sua presença alertava-os da chuva iminente.305

Essa descrição do termo, contudo, parece quase dispensável quando iniciamos a leitura do poema, o qual apresenta onze versos divididos em três trípticos e um dístico ao final. Logo na primeira estrofe, a voz poética apresenta a procelária como a ave que vive na instabilidade da natureza: é um animal das ventanias e da grande vaga, ou seja, onda. Não somente vive nesse espaço agitado como também “faz o ninho no rolar da fúria”. O ninho é uma estrutura elaborada para receber os ovos, mas é frágil, feito de pedacinhos de madeira e folhas secas. O ninho da procelária, porém, é feito no “rolar da fúria”, uma imagem antitética. Nesse sentido, temos a imagem do animal unida, ao mesmo tempo, à fragilidade e à força.

De certa forma, a imagem da procelária também indica essa oposição: em um primeiro momento, a ave é uma imagem de calma e de leveza. Mas esse ser aparentemente sereno vive na tensão da ventania e da força do oceano. O seu voo é firme, pois aquele que anda na instabilidade não pode se deixar levar, precisa ser objetivo, certeiro “como uma bala” para conseguir continuar seu caminho.

A segunda estrofe segue o esquema da anterior na aproximação da ave à instabilidade do ambiente em que vive. Novamente, a voz poética aproxima uma imagem de fragilidade comum aos pássaros a um caráter de força e determinação, em um tom antitético. Aqui, enquanto os leões marinhos – cuja imagem é robusta, forte – estão abrigados em grutas, rugindo diante do mau tempo e da violência das águas, a procelária – apesar de uma aparente fragilidade – encara a ventania e empresta à tempestade suas asas. Enfrenta o abismo, vai adiante.

A imagem da procelária é, ao longo do poema, descrita por meio de mais oposições: um pássaro que faz do risco sua sobrevivência e “faz da insegurança a sua força”. Ele vive na instabilidade e torna-se forte exatamente por isso. Não busca abrigo: ao contrário, vive do arriscar-se. Para a voz poética, a procelária é a imagem justa para quem vive e canta no mau tempo. A ave canta, o poeta também. E o poeta do tempo de Sophia Andresen é aquele que “vive e canta no mau tempo”, por isso a procelária parece para a voz poética imagem justa.

Diferentemente dos leões marinhos que se abrigam da tempestade, a voz lírica abandona seu abrigo e o que lhe é conhecido para poder, de fato, sobreviver no mundo e assim, como as procelárias, faz da ventania sua força de vida: “E aprendi a viver em pleno vento” (Poema “Para atravessar contigo o deserto do mundo”. In: ANDRESEN, S., 2011, p. 417). Os leões marinhos podem ser lidos, se recuperarmos o contexto ditatorial, como os políticos, que “rugem”, salvos e seguros em suas grutas, ou seja, expressam-se livremente escondidos pela proteção que o poder político oferece. Assim, em “Procelária”, «A imagem do poeta ou do escritor comprometido regressa aqui de forma veemente, quase épica, contrapondo-se à dupla metáfora que animaliza uma vez mais os políticos, transformando-os em leões do mor que ‘rugem nas grutas’ como verdadeiros leões mamíferos» (MALHEIRO, H., 2008, p. 101).

Os leões do mar podem também ser lidos como aqueles indivíduos coniventes, que refutam a ocupação do medo e da ameaça que ocorre em seu país. No poema “Porque”, publicado originalmente em Mar Novo, de 1958, a voz lírica também traz a oposição, na estrofe final, daqueles que se abrigam do perigo e daqueles que o enfrentam, mostrando que o esquivar é o que torna o indivíduo enfraquecido:

[...]

Porque os outros são os túmulos calados

Onde germina calada podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.

[...]

Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.

 

O momento da tempestade é também, conforme Sophia Andresen explica em entrevista a Maria Arminda Passos, um momento em que a autora tomou consciência da necessidade dos outros, como vimos no início deste capítulo. Na violência da tempestade, a imagem dos pescadores que lutavam por suas vidas e por seu retorno a terra inspirava na autora uma ideia de força e de salvação.

Como ocorre em outro famoso poema selecionado por Sophia Andresen para a antologia Grades, temos em “Procelária” uma ave como elemento central da metáfora criada, aumentando o conjunto de animais que aparece na coletânea. Em “O velho abutre”, como visto anteriormente, o pássaro também aparece em uma possível analogia a Salazar. Nesse poema, a autora cria uma relação metafórica a partir da personificação, ou seja, ela dá ao abutre traços dados ao homem, misturando-os com elementos do animal.

O abutre é sábio (qualidade dada aos homens), alisa suas penas (ação praticada pelo animal), a podridão lhe agrada (o abutre é um animal que se alimenta de carniça e dejetos) – ambivalência de sentidos: a podridão denotativamente agrada ao abutre, pois é dela que ele se alimenta, agradando o abutre metafórico, Salazar, cujos discursos “têm o dom de tornar as almas mais pequenas”. Em “Procelária”, contudo, a construção metafórica mantém-se mais implícita. Apesar de Sophia Andresen elaborá-la, a voz lírica indica a comparação de forma clara apenas no dístico final, quando afirma explicitamente que a imagem da ave é justa para aquele que canta e vive no mau tempo.

Nas três primeiras estrofes, a voz lírica apresenta a condição da procelária, de uma forma quase narrativa. Diferentemente de “O velho abutre”, há somente no quarto verso a personificação da ave, mas o recurso é desenvolvido de forma muito sutil: a ave empresta suas asas à tempestade. Essa imagem é muito visual, dá ao leitor a ideia de movimento – tanto da ventania como da própria ave. O movimento do animal funde-se ao do ambiente. Porém, essa fusão é ambígua: arrisca-se para viver. É essa tensão que oferece para a voz poética a possibilidade de comparação: da mesma forma que, em momentos de tormenta, a maioria das pessoas busca abrigo, há aqueles que fazem do risco, do perigo e do medo o único caminho de sobrevivência e superação.

Podemos pensar nos outros animais que aparecem em Grades. Além do abutre, encontramos, na terceira estrofe no poema “Esta Gente”, mais alguns animais que são metáforas para comportamentos e defeitos ligados a personalidades do contexto político:

[...]

Faz renascer meu gosto

De luta e de combate

Contra o abutre e a cobra

O porco e o milhafre

[...]

A cobra pode ser lida no excerto como imagem da traição e de falsidade, pois é um animal que engana sua presa ao dar o bote. Já o porco, por seu habitat, pode ser relacionado, muitas vezes, à sujeira, à imundície. O milhafre, por sua vez, pode ser ligado à ideia de perspicácia e da corrupção, uma vez que o animal, uma espécie de gavião ou de águia, é uma ave caçadora de voo alto, golpe certeiro, que “rouba” suas presas. Está ligada também ao orgulho e a opressão em razão de aparecer em diversos símbolos imperiais, sendo assim, “a perversão do poder” (CHEVALIER, J., 1986, p. 61.). O tempo que as vozes poéticas desses poemas relatam é, assim, repleto de aspetos que sugerem a ameaça, o controle, a corrupção e a mentira.

Temos, assim, abutres, chacais, porcos, cobras e milhafres que representam aqueles que detêm o poder, e esse discurso opõe-se à presença da procelária na coletânea. O bestiário de animais vistos por seu aspeto mais negativo são inseridos “para denunciar de forma violenta e agressiva a ditadura dos poderosos e a miséria física e moral de um povo recalcado e humilhado” (MALHEIRO, H., 2008, p. 101), como observa Malheiro. Por sua vez, a procelária rompe com esse recurso, sendo a imagem do poeta que denuncia, resiste e ousa cantar um país ocupado pelo medo e pelo terror. Nesse sentido, «a imagem de ‘resistência’ e de ‘combate’ resulta poeticamente perfeita neste alegorismo prosopopeico... [...] A estrutura metafórica que expressa a prepotência instigadora das forcas adversas ao sujeito, opostas à liberdade do seu ‘canto’, surge neste poema [...] intimamente ligada a um bestiário imagístico redutível aos traços sémicos da irracionalidade e da violência [...]» (PEREIRA, Luís Ricardo. Inscrição da Terra. Lisboa: Instituto Piaget, 2003, p. 80, apud MALHEIRO, H., op. cit, p. 101).

Essa característica da procelária – ou seja, de viver nas fúrias das ventanias e na incerteza do mar aberto – é uma qualidade valorizada para a voz poética, sendo a imagem adequada para aquele que canta no mau tempo, porque, assim, como a ave, deve passar sobre os abismos e seguir em frente. Tal valentia é anteriormente marcada pela voz poética: a ave joga-se no vai-e-vem das ondas e do vento ao invés de buscar um lugar seguro para estar: “Ela não busca a rocha o cabo o cais / Mas faz da insegurança a sua força”. Observam-se, nos versos, dois recursos importantes: primeiramente, a enumeração não pontuada, comum aos poemas de Sophia, que dá força e intensidade à ação de não buscar refúgio, levando à valorização desse traço da ave. A repetição, em decorrência da ausência de vírgula, cria para a leitura uma afirmação mais direta e incisiva.

Em seguida, a voz poética intensifica essa impressão por meio da oração adversativa unida pelo “mas”. Diferentemente daqueles que, vendo a tempestade se aproximar, procurariam por proteção, a procelária fortalece-se pela instabilidade e não segurança oferecida pelos ventos e pela tempestade. Por meio da oração coordenada adversativa e da enumeração direta, a voz poética permite uma leitura que reconhece o feitio corajoso da ave, valorizando-o ao relacioná-los àqueles que também tornam-se mais bravios no mau tempo.

A descrição da vivência da ave chama atenção para a concretude da imagem. De fato, a riqueza dos detalhes no desenvolvimento do poema exprime ao leitor uma ideia objetiva da procelária no mar, como uma tela ou um filme. Temos diferentes substantivos concretos que constroem a imagem do pássaro, e, assim como em “Pátria”, eles imprimem aos olhos de quem lê o poema a realidade da procelária. Essa imagem muito concreta da ave que vive no tempo das tormentas nos leva a compreender a comparação criada nos versos finais sem que haja a necessidade de falar mais de quem “vive e canta no mau tempo”.

Assim como a ave necessita das tempestades para viver, o poeta necessita da poesia. Porém, no contexto em que a autora está inserida, o fazer poético é cerceado, diferentemente da procelária. Se para o animal o perigo vem da ventania e do mar, para os escritores vem da ameaça da censura, da PIDE e de um Estado que não lhes oferece a possibilidade de fazer do seu canto parte da sociedade sem que haja pavor e coerção. Por isso cantam em tempos ruins. Para os homens da nação portuguesa, a violência, a opressão e a miséria são riscos às suas vidas, mas eles voltam seus rostos para o dia claro, pois são iguais ao Sol e ao vento, como vimos em “Regresso” e “Pátria”. É desses perigos que os homens tiram força para viver e, assim como o pássaro, fortalecem-se nas condições mais instáveis à sua vivência.

Há ainda o adjetivo “justa” – que qualifica o termo imagem –, o qual pode ser lido de duas maneiras distintas. Temos, inicialmente, a ideia de “adequação”, afinal a procelária, como metáfora do poeta, é uma imagem justa, adequada, para representá-lo. Em um segundo momento, podemos ir além da ideia de justeza e pensar na noção de justiça: a imagem da ave que canta no mau tempo é justa – no sentido de equidade – para aquele que deve cantar em tempos sombrios. O poeta é aquele que está implicado no mundo, e nesse caso no “mau tempo”, e tem a necessidade de cantar essa realidade. É por meio do seu canto que ele busca a justiça em momentos obscuros, assim como a ave busca sua sobrevivência nas tormentas. A necessidade de poesia da qual fala Sophia Andresen em Poesia e Realidade é também essa busca pela justiça. Por isso sua luta não é somente por sua sobrevivência, mas pela verdade, justiça e liberdade de seu país.

Além da antítese fundamental que orienta o poema, ou seja, o ser aparentemente frágil, mas forte na realidade, que consegue, assim, viver no perigo, podemos perceber que, no âmbito da composição do poema e do tema por ele abordado, há também uma oposição. As palavras usadas por Sophia Andresen são, como vimos, claras e objetivas. Os versos são curtos, formados por períodos divididos de forma simples. Há três períodos compostos por subordinação e três períodos compostos por coordenação e somente um período simples. Ainda assim, a linguagem é muito simples, de uma clareza que permite a objetividade do discurso. A pontuação é ausente, o que torna a leitura ainda mais fluida. Toda essa clareza, objetividade e fluidez do poema contrastam com o conteúdo mais tenso da vivência da procelária, criando, assim, uma espécie de antítese entre forma e temática.

 

Nathália Macri Nahas, Grades: uma leitura do projeto po-ético de Sophia de Mello Breyner Andresen. São Paulo, USP-FFLCH, 2015

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304 Pelágico: que vive em alto-mar, só vindo a terra no período da reprodução (diz-se de aves marinhas, como os albatrozes e pardelas). In: Dicionário Eletrônico Houaiss.

305 BEJCEZ, Vladimír; STASTNY, Karel, Enciclopédia das aves: as várias espécies e seus habitats. Florianópolis: Livros e Livros, 2002. CASTRO, Peter; HUBER, Michael E., Biologia Marinha. 8.ª ed. São Paulo: AMGH Editora, 2012.

 


 

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“Procelária, Sophia Andresen”, José Carreiro. Folha de Poesia, 2022-11-03. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/11/procelaria-sophia-andresen.html



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