Mensagem, de
Fernando Pessoa
Primeira Parte -
Brasão
I - Os Castelos
D. João I, por João Vaz de Carvalho |
Sétimo (I)
D. JOÃO O PRIMEIRO
|
O
homem e a hora são um só |
12-2-1934
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria
António Maria Pereira, 1934
________
1 Ara: altar.
Linhas de leitura do poema “D. João o Primeiro”, de
Fernando Pessoa
A noção de herói involuntário:
- D. João I, «Mestre sem o saber», integra a linha do herói involuntário que age por instinto patriótico («O homem e a hora são um só / Quando Deus faz e a história é feita» - expressão idêntica a: Quando “Deus quer… a obra nasce”, in “O Infante”).
A exemplaridade do herói vista através do que defende
- Ele vale exclusivamente pelo símbolo que a sua atitude representa.
- Sendo um dos Castelos, é também fonte de procura e de inspiração, validada no seu gesto exemplar de defender Portugal. Não de um Portugal-território, mas de um Portugal «feito ser», v.6 (essência)..
- Repare-se na subtil ligação Templo – Portugal-ser e na sacralização do gesto que a seguir se explicita: o de «o defender». Mas é à defesa do Templo transfigurado em Portugal e este em ser nacional, e não à defesa da Pátria enquanto espaço territorial e político que o poeta se refere, o que coerentemente se liga à ideia de Império espiritual que atravessa a Mensagem.
- D. João I é celebrado, porque defende, de forma exemplar, o ideal de ser português. Daí vem a sua «glória» e não da vitória material sobre Castela. É o «Mestre» (Mestre de Avis, sacerdote do Templo, mestre espiritual) e o seu nome não poderá ser extinto («eterna chama», 11) da nossa devoção («na ara da nossa alma», 10) colectiva, pois jamais será esquecido («sombra eterna», 12).
- Despojado da glória terrena e dos referentes históricos que lhe dão forma, a figura de D. João I torna-se incorpórea, espiritualiza-se à medida do Portugal de Pessoa. O herói, agora sacralizado, torna-se pelo seu gesto exemplar, um mito inspirador, imune à «sombra eterna» (v.12) do esquecimento, porque jamais deixará de ser «eterna chama» (v. 11), no altar que lhe foi erigido pela «nossa alma interna» (v. 10).
- As batalhas, as conquistas pertencem à nossa alma externa; a Pessoa interessa o que no «eu» colectivo participa do divino e do que é eterno, em suma, o que constitui a nossa alma interna.
- A alma é o templo do divino.
O sentido de «eterna chama» e «sombra eterna»
- CHAMA – símbolo do espírito e da transcendência, elemento purificador, a chama é, como o mito ou a lenda, na Mensagem, uma potência do invisível, uma manifestação do divino e do oculto. Chama é a que arde no Templo, que é «Portugal feito ser», iluminando o herói paradigma da defesa do ideal português – D. João o Primeiro.
- SOMBRA – esquecimento.
(Adaptado do Dicionário da Mensagem, Artur Veríssimo. Porto, Areal Editores, 2000)
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- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição) e Folha de Poesia, 17-05-2018.
- Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
“D. João I, O homem e a hora são um só (Mensagem, Fernando Pessoa)” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 13-12-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/d-joao-i-o-homem-e-hora-sao-um-so.html
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