Mensagem, Fernando Pessoa
Terceira Parte: O Encoberto
II: Os Avisos
Primeiro
O Bandarra
Sonhava,
anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi
nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal
28-3-1930
Mensagem. Fernando
Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934
O
Bandarra
Nascido por volta de 1500,
Gonçalo Anes, de alcunha «O Bandarra», famoso sapateiro da Vila de Trancoso
(Beira Alta), foi autor de trovas, largamente divulgadas, não raras vezes
refundidas, interpretadas ou modificadas à medida dos anseios do momento,
sobretudo em épocas de crise. Pode dizer-se que a obra do famoso sapateiro
beirão, perdida a independência nacional, e desafiando os rigores da Inquisição
(o próprio Bandarra havia sido objecto de um processo em 1541), não só gozou de
enorme prestígio, como depressa se transformou no evangelho do sebastianismo.
Sobre o Bandarra e as suas profecias
discorre Pessoa abundantemente em Sobre Portugal.
A reter, por agora, é a importância que o poeta da Mensagem lhe consagra, seja pelo que ele representa dessa «voz do Povo português», que grita a «existência sagrada de Portugal», seja pelo que nele existe de impulsionador do «nosso sentimento imperial». Um Bandarra que é «um nome colectivo», pois inclui os que se lhe seguiram, e que, «servindo-se do seu tipo de visão e da sua forma literária, buscaram legitimamente o anonimato designando as suas trovas como sendo do Bandarra também» (Pessoa: 1981, 175). É, em parte, como eco dessa apropriação colectiva que o Bandarra nos é definido na Mensagem como aquele «cujo coração foi / Não português mas Portugal».
Dicionário da Mensagem, Artur Veríssimo. Porto, Areal
Editores, 2000, pp. 16-17
https://purl.pt/13965/1/P119.html |
Questionário sobre o poema “Primeiro: O
Bandarra”, de Fernando Pessoa:
1. Explicite a ideia transmitida pelo verso 2 “O Império por
Deus mesmo visto,”.
2. Demonstre como, na primeira estrofe, o poeta homenageia a
figura de Bandarra.
3. Refira como é reconhecida a heroicidade da figura apresentada
pelo poeta, apesar da negação formulada no verso 5.
4. Explique o verso final, relacionando-o com os anteriores.
(Prova Escrita de
Conhecimentos Específicos de Português, Instituto Politécnico de Leiria, 20-06-2020.
Disponível em: https://www.ipleiria.pt/academicos/wp-content/uploads/sites/51/2021/02/Enunciado-da-prova-de-Portugues_20062020.pdf)
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- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
- e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
“O Bandarra -
Primeiro Aviso na Mensagem, de Fernando Pessoa” in Folha de Poesia, José
Carreiro. Portugal, 31-12-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/o-bandarra-primeiro-aviso-na-mensagem.html
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