Mensagem, Fernando Pessoa
Segunda Parte
- Mar Português
VI
OS COLOMBOS
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
2-4-1934
Mensagem. Fernando Pessoa.
Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed.
1972). - 65.
Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/2393
Cristóvão Colombo
Nascido em Génova, de
família modesta, viaja pelo Mediterrâneo como agente comercial. Esteve na Madeira,
onde casou com a filha de um dos capitães donatários. Viajou numa caravela
portuguesa até à Mina, e ofereceu-se ao rei português D. João II para levar por
diante a ideia que formulara de descobrir a rota ocidental para a Índia.
Como o rei português não
aceitou, ofereceu-se aos Reis Católicos de Castela, que hesitaram, mas de quem finalmente,
em 1492, recebeu plenos poderes para empreender a viagem.
Para a viagem de
descobrimento foram postos à disposição de Colombo três pequenos navios, entre
os quais se contava a «Nina» (caravela de 17 metros de comprimento).
Colombo pisou o solo da
América a 12 de outubro de 1492, sendo recebido com cordialidade e espanto pelos
habitantes.
Após longos anos de espera
e de privações, ao cabo de uma arriscada viagem rumo ao desconhecido, Colombo
viu, com a descoberta da América, o seu projeto ambicioso tornar-se realidade.
Ao regressar, a Corte espanhola recebeu-o triunfalmente em Barcelona. Como
vice-rei das terras recém-descobertas, foi-lhe concedido sentar-se ao lado dos
Reis Católicos.
Após a morte, em 1504, de
Isabel, a Católica, sua protetora, Colombo perdeu todos os privilégios inerentes
aos cargos de almirante e de vice-rei. Esquecido pelos seus contemporâneos,
morreu a 21 de maio de 1506 em Valladolid. Até à sua morte, Colombo sempre
acreditou que descobrira a Índia. (O novo continente tomou o nome de outro
navegador, o italiano Américo Vespucci, que fez parte de numerosas expedições à
América do Sul.)
in Homens que Transformaram o Mundo, coord. Roland
Gook; trad. Elsa Teixeira Pinto. - 2.ª ed.- [Lisboa]: Círculo de Leitores, 1978
Sob o signo
de Virgem
Virgem (23 de agosto - 24 de setembro) é o símbolo da diferenciação,
bem explicito no confronto outros/nós:
Outros haverão de ter / O que houvermos
de perder.
(“Os Colombos”, Mensagem)
«Mercúrio é o seu planeta regente: no tempo das colheitas e do enceleiramento, em que o resultado se pesa e se calcula, nós estamos com efeito, num mundo que se diferencia, se particulariza, se seleciona, se restringe, se reduz, se despoja, determina para si certos limites.» (cf. Chevalier/ Gheerbrant, 698). Não é o que se faz em «Os Colombos» quando se distingue, pesados os resultados, o que a «eles» é permitido e o que «nós» nos toca? «Outros poderão achar na seara que nos pertence o que nos foi dado colher ou abdicar «segundo o destino dado». Mas estabelece-se que o limite para a glória dos Colombos é essa «justa auréola dada/Por uma luz emprestada».
in Dicionário da Mensagem, Artur Veríssimo. Porto, Areal Editores,
2000, p. 149
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Artur
Veríssimo, Ler a Mensagem de Fernando Pessoa – curso n.º 21/2001 do
Centro de Formação de Associação de Escolas de S. Miguel e Santa Maria |
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Fernando Pessoa
- Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da
obra de Fernando Pessoa, por José Carreiro.
- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
- e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
***
Compositor italiano descobre em Pessoa chave para a crise
"São 44 poesias
para ser lidas e interiorizadas, porque dentro delas está o código do futuro
para Portugal", afirma Mariano Deidda.
É sentado na cadeira preferida por Fernando Pessoa, no café
Martinho da Arcada, em Lisboa, que o compositor e cantor italiano, Mariano
Deidda, divaga com o Expresso por dez anos de união da sua música à obra
literária pessoana. "Mensagem", apresentada no III Congresso
Internacional de Fernando Pessoa, que decorreu em Lisboa no final de novembro,
é mais um dos seus trabalhos dedicados à metamorfose da literatura do poeta.
Entre versos e acordes, Deidda, revela "o código do futuro de
Portugal" que, diz, vai ajudar a sair da crise. O seu trabalho é composto
de 44 poemas, que afirma essenciais para enfrentar o futuro em Portugal.
O que é que Pessoa nos ensina perante a crise?
São 44 poesias para ser lidas e interiorizadas, porque dentro
delas está o código do futuro para Portugal. Só uma pessoa jovem pode
descodificá-lo. Acredito que sobretudo uma poesia chamada "Os
Colombos" tem a chave para um futuro próximo: "Outros haverão de ter/
O que houvermos de perder./ Outros poderão achar/ O que, no nosso encontrar,/
Foi achado, ou não achado,/ Segundo o destino dado". Estas linhas são o
código para o futuro da sociedade. Cada um de nós tem de fazer a sua parte. Nos
anos 60 e 70 era o Estado que construía. Hoje, o Estado não existe. Temos de o
fazer nós, e precisamos de pessoas inteligentes para isso. A palavra
fundamental é a competência. A nossa sociedade é muito sofisticada e o futuro será
belíssimo, estou seguro.
Mas para isso é necessário que haja essa mudança de mentalidades...
A tecnologia ajuda muito. Há 50 anos, as pessoas trabalhavam no
carvão, hoje temos satélites que trabalham para nós. É perfeito, porque um
satélite raramente falha. O homem falha muito mais. Esta mudança só se pode dar
com uma geração culturalmente desenvolvida e são poucas as pessoas incultas.
Daqui a 20 anos serão menos ainda e quem não usar a cabeça, é excluído do jogo
da vida.
Num mundo em que, como diz, são cada vez menos pessoas a trabalhar
com as mãos e é privilegiado o trabalho "com a cabeça", qual o papel
das artes e do belo?
Com a cabeça ou com a fantasia. É necessário talento e
imaginação. Até para organizar um supermercado é preciso ser original. Tal como
quando um engenheiro constrói uma metrópole, tanto precisa de inteligência como
de imaginação. Porque é necessário que esta seja confortável mas também bela.
Eu penso que a crise que atravessamos é, por um lado, económica, mas sobretudo
uma crise de ideias. As pessoas têm medo de fazer coisas diferentes e só pensam
no que não têm, porque o primeiro pensamento está no materialismo. O belo e a
arte tem um papel muito importante. Até uma horta de um agricultor é uma obra
de arte. O essencial é fazer, inventar. A mensagem de Einstein presente no meu
álbum aborda isso mesmo.
Porque decidiu incluir essa citação no álbum?
Porque a "Mensagem" é isso. No fundo, o significado
das 44 poesias, é resumido nessa citação. A mensagem de Einstein diz-nos que a
crise acontece quando as pessoas chegam a um nível de vida mais ou menos
estável, acreditando que têm tudo o que precisam. Mas a sociedade muda e nós
ficamos desorientados.
A universalidade da sua escrita. Fernando Pessoa foi um
futurista e é difícil encontrar uma escrita tão moderna. Há poemas que se
projetam muitos anos à frente do tempo em que ele viveu. Acredito que o
expoente máximo deste autor não está no nosso tempo, mas está ainda por vir.
A "Mensagem" é para si uma espécie de Bíblia de
ensinamentos?
Sim, porque Fernando Pessoa escreveu sobre todas as coisas
relacionadas com a vida. Passando pela psicanálise, esoterismo, escreveu também
quadras populares para fazer rir. Foi todas as coisas.
E também foi todas as pessoas, desdobrando-se em vários
heterónimos...
Pessoa tinha poucos amigos. Inventou-os, porque naquela altura
haviam poucos homens culturalmente altos.
Como lhe surgiu a ideia de unir a literatura de Fernando Pessoa à música?
Primeiro é preciso ler. Antes de musicar os poemas de Pessoa, havia já lido a sua obra durante muitos anos. Comprava discos de outros cantores e as palavras ficavam pobres. Faltava conteúdo. Então, pensei em Fernando Pessoa e na sua obra vasta e universal. Comecei há dez anos. É um projeto inovador, porque junta a música à literatura e pouca gente o faz. Existem alguns músicos portugueses a fazê-lo, mas pontualmente. Alguns adulteram as letras para conseguirem a métrica perfeita.
E o mariano não o faz...
Não, toda a poesia inteira, exatamente como escreveu Fernando Pessoa. A tradução é obra de António Tabucchi, que morreu o ano passado. É uma pena não ter aqui uma foto dele [olha para as paredes do Martinho da Arcada], que este é o café de Pessoa, mas também dele.
Foi a partir do escritor que teve acesso à poesia de Fernando
Pessoa...
Sim, fui muito amigo de António Tabucchi, no meu concerto do III
Congresso Internacional de Fernando Pessoa, no Teatro Aberto, em 3 dias, eu fui
o único a lembrar a morte dele. Levantamo-nos todos para o homenagear com
muitas palmas, mas eu fui o único a lembrá-lo. Se pessoa cresceu muito no
mundo, é também pelo mérito de António Tabucchi.
É um paradoxo, mas, penso, que em Portugal. Eu sou estrangeiro,
mas trabalho com o poeta mais importante do país. Em Itália nós adoramos
Pessoa. E não só em Itália. Eu tenho o pressentimento de que Portugal não tem
ideia do valor deste poeta no mundo. Ele inventou algo totalmente novo: os
heterónimos. Há muitos, dentro da arca há 70 ou 80, cada um com uma caligrafia
diferente.
Tem algum heterónimo de estimação?
O mestre, Alberto Caeiro. Mas também gosto muito de Álvaro de Campos. E claro, o poema que diz: "Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./ À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." Basta colocar esta frase no contexto da crise. Temos tudo em nós. Basta ligar a cabeça, como quem liga um interruptor da luz. Iluminar. Porque o homem é uma máquina perfeita e pensar que entramos em crise porque temos poucos recursos económicos é um erro. O ser humano conquistou imensas coisas e perdê-las leva-o à loucura. Já não conseguimos viver sem o telemóvel. A conquista da tecnologia é esta. Para além disso, entrámos num ciclo vicioso em que os que perdem o trabalho são os mesmos que o tiram aos outros. Por exemplo, quem não tem dinheiro para comprar CD, tira a música da internet sem pagar. Eu, que sou músico, faço isso. O mesmo se passa com a crise do cinema. Ou, por exemplo, quando encomendamos um voo pela internet. Isso gera desemprego, e cada um de nós contribui um pouco para a crise.
Como artista, o que sugere para solucionar esse ciclo vicioso, de forma a que a arte tenha o lucro necessário para funcionar?
São as indústrias culturais que dão o dinheiro para investir em
discos como o meu, e a partir daí pode correr bem ou não. Um jovem artista
precisa apostar na qualidade e novidade do projeto. Estas são duas componentes
essenciais.
Mas quando o Estado não investe na cultura, os artistas não podem
evoluir, ou então têm de emigrar...
O Estado não investe na cultura, e por isso é necessário que
toda a gente a reivindique. Por exemplo, estou aqui no café e se o empregado me
disser que posso escolher entre um café ou um bolo, eu digo: não, quero isto!
[aponta para "A Mensagem" em cima da mesa] Isto é cultura. Toda a
gente deveria fazer deste modo. Quando o Estado mostra talkshows e telenovelas
na televisão, podemos desligar e dizer: não quero ver isto. Eu quero um filme,
eu quero um bom espetáculo, uma boa leitura.
A crise, como disse, não é apenas económica, mas quando existe uma
crise económica as pessoas tendem a abstrair-se da cultura...
Todas as coisas devem partir de nós. O povo é que faz uma nação.
Quantas vezes se faz uma greve para pedir cultura? É raro, e são os estudantes
que vemos nas ruas. As outras pessoas não pedem cultura porquê? Querem o
Ronaldo? O Ronaldo cria algum avanço na economia, mas a cultura verdadeira é
mais necessária.
Para o futuro, que projetos tem em mente?
Estou a pensar fazer um quinto álbum ligado a Pessoa. Estou
a trabalhar nisso. Isto porque, um dia, António Tabucchi pediu-me para
não parar com este projeto. E também porque sou o único no mundo a ter um
trabalho tão vasto sobre um poeta. Tenho quatro discos em estúdio e um ao vivo,
só para Pessoa. É muita literatura.
O meu primeiro disco foi com palavras minhas. Parei aí. Há muitas
palavras lindíssimas neste livro ["Mensagem"], não preciso inventar.
Ana Marques Francisco, “Compositor italiano descobre em
Pessoa chave para a crise” in Expresso, 06-12-2013. Disponível em: https://expresso.pt/cultura/compositor-italiano-descobre-em-pessoa-chave-para-a-crise=f844970
“Os Colombos
(Mensagem, Fernando Pessoa)” in Folha de Poesia, José Carreiro.
Portugal, 24-12-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/os-colombos-mensagem-fernando-pessoa.html
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