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Julga-me a
gente toda por perdido, |
Luís de
Camões, Rimas, ed. de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994
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cuidado (v. 2): pensamento.
tratos (v. 4): convívio.
calma (v. 11): calor do sol.
gesto (v. 14): rosto.
Apresente,
de forma estruturada, as suas respostas ao questionário.
1. Atente nas duas quadras do poema.
1.1. Com base na primeira quadra, indique três traços que
caracterizam o modo como «a gente toda» vê o sujeito poético.
1.2. Analise as relações de sentido que aquelas duas estrofes
estabelecem entre si.
2. Explicite um dos efeitos
expressivos produzidos pela enumeração «a terra, o mar e o vento» (v. 9).
3. Comente o sentido do verso «que
eu só em humilde estado me contento» (v. 12) no contexto dos dois tercetos.
Explicitação de cenários de resposta:
1.1.
De
acordo com a primeira estrofe, «a gente toda» (v. 1) vê o sujeito poético como
um indivíduo:
–
«perdido» (v. 1), ou louco;
–
ensimesmado («tão entregue a meu cuidado» – v. 2);
– sempre
à margem, evitando deliberadamente a convivência com as outras pessoas (v. 3);
–
desprendido de todas as regras do convívio em sociedade (v. 4).
1.2.
A
adversativa «Mas» instaura uma contraposição de sentido entre as duas quadras.
Assim:
– à
representação, na primeira estrofe, da aparência do «eu», tal como é visto pela
«gente toda», sucede-se, na segunda, a expressão de uma profunda
autoconsciência do «eu», que lhe permite classificar como errada a visão dos
outros sobre si e sobre o mundo (vv. 7-8);
– na
segunda quadra, o que parece aos outros loucura é apresentado como uma opção
consciente e deliberada do «eu» que, conhecendo (vv. 5-6) e desprezando (v. 7)
o «mundo», afirma a vivência interior do seu «mal» como o único modo válido de
engrandecimento pessoal (v. 8).
2.
A
enumeração, incidindo na busca dos outros, produz diversos efeitos expressivos,
tais como:
–
assinala o carácter global dessa busca (convocando três dos elementos, Terra,
Água e Ar);
– define
tal busca como incessante e sem limite que a detenha;
– atribui
à referida busca um carácter insaciável e insano, pois pretende sair do espaço
humanamente mais controlável (a Terra) para o mar;
– cria
uma impressão de movimento, num crescendo de dinâmica ascensional (da Terra-Mar
para o Vento);
– sugere
uma grande agitação, um desmesurado dispêndio de energia;
– …
3.
O
verso «que eu só em humilde estado me contento» apresenta, na relação com o
primeiro terceto, entre outros, os seguintes sentidos:
–
constitui a afirmação, por parte do sujeito poético, de uma opção de vida
simples («em humilde estado me contento»), oposta à daqueles que buscam, por
todo o lado, «riquezas»;
– marca o
desinteresse do «eu» pelos bens materiais, colocando-se acima dos que são
movidos por tais objetivos;
– ...
Na
articulação com os versos finais do soneto, o verso 12 apresenta, entre outros,
os seguintes sentidos:
– produz
uma clarificação do significado de «humilde estado», revelando-o como o
sentimento de dedicação amorosa que domina o sujeito lírico;
– é
expressão da autoconsciência do sujeito relativamente à grandiosidade do
sentimento que o domina, de entrega total ao ser amado e à contemplação da
beleza deste, inscrita para sempre dentro de si («me contento, / de trazer
esculpido eternamente / vosso fermoso gesto dentro n’alma» – vv. 12-14);
–
constitui a afirmação da vivência interior da beleza e do amor como os valores
da vida do «eu»;
–
contribui para a enfatização do desprendimento do «eu» face aos bens materiais
e da sua opção por um bem simbólico perene;
– …
Nota – Para a atribuição do máximo da cotação referente aos aspetos
de conteúdo, considera-se suficiente a explicitação de duas articulações de
sentido do verso indicado, sendo obrigatoriamente uma delas relativa ao
primeiro terceto e a outra aos versos finais do soneto.
Fonte: Exame
Nacional do Ensino Secundário n.º 734.
Prova Escrita de Literatura Portuguesa. 10.º/11.º anos ou 11.º/12.º anos de
Escolaridade (Decreto-Lei n.º
74/2004, de 26 de março). Lisboa, GAVE-Gabinete de Avaliação
Educacional, 2007, 2.ª Fase
CARREIRO, José. “Julga-me a gente toda por perdido, Camões”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 27-03-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/03/julga-me-gente-toda-por-perdido-camoes.html
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