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Mestre, são
plácidas |
Ricardo Reis, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000
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1
incautos: sem cautelas, sem preocupações.
2 quasí:
forma arcaizante de quase.
3
deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre: referência ao deus
grego Cronos,
cujo nome significa em português Tempo; este deus devorava os filhos ao nascer.
Saturno devorando um filho, Goya, 1818-1823 |
Apresente, de
forma bem estruturada, as suas respostas ao questionário.
1. Caracterize a
relação entre «nós» e o «Tempo».
2. Explicite um
dos efeitos de sentido produzidos pelas formas verbais «saibamos» (vv. 10 e
28), («Colhamos» (v. 37) e «Molhemos» (v. 38).
3. Interprete o
valor simbólico das referências às «flores» (vv. 6 e 37), aos «Girassóis» (v.
43), aos «rios» (v. 40).
4. Refira a
importância, no texto, do vocabulário relativo à ideia de calma.
5. Sintetize a
filosofia de vida expressa no poema.
Explicitação
de cenários de resposta
1. O sentido da
relação entre «nós» e o «Tempo» está simbolizado na referência à figura
mitológica de Cronos, o deus que devora os filhos: o «Tempo» é assim definido
como o pai e, simultaneamente, o devorador, o aniquilador de «nós».
A consciência do carácter inelutável desse facto
exige a aprendizagem da sua total aceitação por parte do «nós», de modo a saber
conformar-se às leis do tempo (ao devir da vida, à inscrição do tempo em «nós»
- «Envelhecemos.»).
2. O uso das
formas verbais «saibamos» (w. 10 e 28), «Colhamos» (v. 37) e «Molhemos» (v. 38)
– na 1.ª pessoa do plural do modo conjuntivo, com valor imperativo/optativo -
produz, entre outros, os seguintes efeitos de sentido:
- constrói um
sentido exortativo, dirigido a um «nós»;
- contribui para
a formulação de máximas que encerram ensinamentos de vida;
- confere ao
texto o estatuto de proposta de uma filosofia geral de vida;
- …
3. Os elementos
«flores», «Girassóis» e «rios» presentificam a «Natureza» como a realidade com
que o «nós» se identifica, convocando ainda cada um deles valores simbólicos
próprios. Assim, as «flores» representam a beleza perecível; os «Girassóis»
(que mudam de orientação, acompanhando o movimento do Sol), a vida iluminada e
regida pera luz do Sol; os «rios», a passagem das «horas», do «Tempo».
4. Os adjetivos
«plácidas» (v. 1), «Tranquilos» (vv. 14 e 46), «plácidos» (v. 14), «calmos» (v.
40) e os nomes «Calma» (v. 42) e «descanso» (v. 23) tornam recorrente no poema
a ideia de calma e de serenidade. Contribuem, assim, para afirmar a
centralidade do tema do sossego absoluto, sem qualquer perturbação, entendido
como o ideal a atingir na vivência do «Tempo».
5. A filosofia de
vida expressa no poema é a defesa da arte de viver sem envolvimento emocional
com o presente e sem expectativas de futuro, por forma a chegar à morte sem
sobressalto e com o mínimo de sofrimento («Não a viver» - v. 12; «tendo / Nem o
remorso / De ter vivido» - vv. 46-48). O sujeito poético aspira a «decorrê-la»
[à vida], isto é, a atingir a sensação elementar de existir, aceitando
voluntariamente o seu destino, aprendendo a viver em conformidade com as leis
da «Natureza», aceitando, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de
todas as coisas, recusando «tristezas» e «alegrias», na busca da indiferença à
dor, ao desprazer, a qualquer sentimento extremo.
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Fernando Pessoa - Apresentação crítica,
seleção, notas e sugestões para análise literária da obra de Fernando Pessoa,
por José Carreiro.
- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
- e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
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