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Antes
de nós nos mesmos arvoredos |
Ricardo Reis, Odes,
Lisboa, Edições Ática, 1994
Apresente, de forma bem estruturada, as
suas respostas aos itens que se seguem.
1. Explicite a relação que se
estabelece entre «nós» e os elementos da Natureza referidos na primeira
e
na segunda estrofes do poema.
2. Explique o sentido da
terceira estrofe, tendo em conta uma das ideias filosóficas em que assenta a
poesia
de Ricardo Reis.
3. Apresente uma justificação
para o uso de um sujeito plural nas quatro primeiras estrofes do poema
e
para o aparecimento da primeira pessoa do singular na última quadra.
4. Refira o valor expressivo
da interrogação retórica presente na última estrofe.
Explicitação de cenários de resposta
1. A relação que se
estabelece entre «nós» e os elementos da Natureza é caracterizada por:
– uma similitude de
condições que decorre da participação da mesma realidade perene («Antes de nós
nos mesmos arvoredos / Passou o vento, quando havia vento, / E as folhas não falavam
/ De outro modo do que hoje.» – vv. 1-4; «Não fazemos mais ruído no que existe
/ Do que as folhas das árvores / Ou os passos do vento» – vv. 6-8);
– uma dissimilitude de
condições que decorre da finitude e da transitoriedade que caracterizam o homem
e a sua consciência do tempo («Passamos» – v. 5) e da consciência da
inutilidade do esforço humano («agitamo-nos debalde» – v. 5).
2. A terceira estrofe contém
uma exortação à fruição calma do momento, à serenidade epicurista do contacto
direto com a Natureza («Tentemos pois com abandono assíduo / Entregar nosso esforço
à Natureza» – vv. 9-10), e ao desejo único de identificação com ela («E não
querer mais vida / Que a das árvores verdes.» – vv. 11-12), numa indiferença à
perturbação causada pela ameaça inelutável do Fatum.
Nota: A resposta pode conter outros conceitos do
conhecimento dos examinandos, tais como carpe diem, aurea mediocritas,
ataraxia, estoicismo, …
3. Nas quatro primeiras
estrofes do poema, refere-se um destino comum a todos os homens, através do
recurso a um sujeito plural («nós» – v. 1, «Passamos» – v. 5, «agitamo-nos» –
v. 5, «Não fazemos» – v. 6, «Tentemos» – v. 9, «nosso» – v. 10, «parecemos» –
v. 13, «nós» – v. 14, «Nos» – v. 15, «nos» – v. 16).
Na última quadra, evoca-se
a situação particular do «eu» e refere-se a experiência direta da fugacidade da
vida e da passagem inexorável do Tempo, através do recurso a um sujeito
singular de primeira pessoa («o meu indício» – v. 17).
4. Toda a última estrofe é
constituída por uma interrogação retórica que remete para a consciência que o
«eu» possui da fugacidade da vida e que releva o fosso existente entre a
pequenez humana («Se aqui, à beira-mar, o meu indício / Na areia o mar com
ondas três o apaga,» – vv. 17-18) e a vastidão e a inexorabilidade do Tempo
(«Que fará na alta praia / Em que o mar é o Tempo?» – vv. 19-20).
Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º
639 (Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de março). Prova Escrita de Português -
12.º Ano de Escolaridade. Portugal, GAVE-Gabinete
de Avaliação Educacional, 2009, 2.ª Fase
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- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
- e Folha de Poesia,
17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
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